Love Is Waiting escrita por Gabriela Rodrigues


Capítulo 14
Capítulo 14




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Acordei esperando que as notícias do dia anterior (assim como ele todo) não passassem de um enorme pesadelo. A manhã estava cinzenta e nem um raio de sol escapava da enorme camada de nuvens que pairava sobre a cidade. Totalmente desmotivada, fui à cozinha tomar um copo de leite sem nem trocar de roupa.

- Que cara é essa? – Luke perguntou quando passei pela porta.

- Não mexe com ela que ela é vampira! – Ed berrou ao entrar correndo no aposento seguido de perto por Fred.

Sem ânimo até para rir ou responder, continuei comendo, fingindo ser a única ali até que um aroma característico fez-me virar.

- Dormiu bem? – Jake perguntou sentando-se ao meu lado na cozinha agora vazia exceto por nós dois.

- Sim. – menti.

- O que quer fazer hoje?

Olhei a hora e constatei que eram quase duas da tarde. Eu perdera metade do meu dia dormindo.

- Nada.

- Nada mesmo?

Fingi um espirro.

- E se eu te convidasse pra ir ao shopping? Amanhã é o aniversário do Ed, lembra? Queria comprar um presente pra ele e preciso de ajuda. Não sei do que ele gosta.

- Não precisa dar nada.

- Sei que não preciso, mas eu quero. E queria passar o resto do dia contigo.

Suspirei, mas assenti.

- Só vou trocar de roupa.

- Pegue um casaco. Vai esfriar hoje.

Fui me arrastando até o banheiro mais próximo e tomei meu banho calmamente esfregando a esponja por todo meu corpo mais devagar que uma tartaruga com preguiça. Só quando fui me enxugar que reparei: cadê a toalha?

- Mãe! – chamei ensopada com a boca quase pregada à porta.

Nada. Tentei de novo.

- Mãe! – outra vez nada.

- MÃE!

- O que houve? – uma alma caridosa finalmente respondeu do outro lado da porta, mas...

- Jake?!

- Sim, o que foi? Ta tudo bem?

- Ta. Cadê minha mãe?

- Saiu com os outros, por quê?

Ai caramba.

- Zoey? Algum problema? Abre a porta.

- NÃO! – não era minha intenção gritar.

- Pode me dizer o que aconteceu?

- Eu... Eu me esqueci de pegar a toalha. – confessei.

Ouvi-o xingar baixinho do outro lado.

- E o que você quer que eu faça?

- Não sei, mas eu to ficando com frio.

- Você tinha que esquecer justo a toalha?

Olhei em volta desesperada e percebi outro pequeno lapso.

- Não foi só a toalha.

- Como assim?

- Não peguei roupa limpa.

- AAHHHHHH!! – Jake gritou do outro lado. Eu que estava com frio e ele que gritava.

- Cadê? – ele perguntou.

- Cadê o que? – meus dentes já estavam rangendo de frio e eu abraçava meu corpo numa tentativa inútil de me esquentar.

- A toalha, droga! Cadê a toalha?

- Sei lá! Pega outra! Uma limpa!

- Não... Vou pegar a toalha do cachorro e te dar. – a voz dele era sarcasmo puro.

- Tanto faz! Só anda logo que eu to com frio.

Dois minutos depois, uma batida na porta.

- Não achei tua toalha, mas peguei outra.

- Vou abrir um pouco a porta e você passa a talha pra dentro.

- Ta.

A transação foi feita o mais rápido possível e eu abri o pano que estava todo dobrado.

- JAKE!! – berrei. Meu primo não podia ser tão tapado.

- O que foi agora? – pela rapidez da resposta ele ainda estava no mesmo lugar de antes.

- Me responde, sua besta, qual o tamanho da toalha que você usa pra se enxugar.

- Como assim, Zoey?

- Nada não – falei, irada – é só que, ou eu to muito gorda ou você me entregou uma TOALHA DE ROSTO!

- Ah, caramba, se enxuga com ela, mesmo.

- Sim, eu posso até me enxugar, mas como eu vou sair do banheiro enrolada NUMA TOALHA QUE MAL COBRE A MINHA BARRIGA? Esqueceu que eu não peguei minha roupa?

- Poe o pijama de novo e troca de roupa no quarto!

- Ta. – grunhi.

- E anda logo que o tempo ta fechando cada vez mais e eu quero sair de casa antes dessa chuva que ta ameaçando cair.

Vesti meu pijama às pressas e corri para o quarto. Meia hora depois eu estava pronta, com um par de botas da minha prima e um vestidinho quadriculado básico até pouco acima dos joelhos. Uma meia calça da cor da pele aquecia minhas pernas e peguei o primeiro sobretudo que vi pela frente.

- Já? – Jake perguntou impaciente.

- Sim. Vamos acabar logo com isso.

Do lado de fora o vento açoitava meu rosto e alguns pingos nos atingiam. Mal viramos a esquina, a tempestade arriou e eu não enxergava praticamente nada da rua. Um caminhão nos cortou na pista e quase nos fez bater, mas fora isso a ida ao shopping foi tranqüila.

Ouvimos música quase todo o caminho, porém nada me animava. Só conseguia pensar no fim das férias e na saudade que sentiria de tudo o que eu estava passando. Nem vi quando chegamos ao nosso destino final; foi a atitude de Jake que chamou minha atenção.

- Eu sei como é. – ele disse de repente.

Encarei-o sem entender.

- Eu to gostando dessa situação tanto quanto você, acredite. Acha que não vou sentir tua falta depois desse mês?

Confesso: além de assustada eu estava pasma.

- Esse mês foi o melhor mês de férias que eu já tive, mas ainda não acabou e você ta agindo como se fosse o fim. Eu fiz planos pro resto de julho todinho, só que não vai dar pra fazer nem a metade do que eu planejei se você continuar nessa fossa. Te anima! De nós dois a palhaça sempre foi tu. Não joga isso pra cima de mim que eu não vou dar conta.

Ele me fitou sério e acrescentou:

- Eu nunca fui tão pateta quanto você.

Se a intenção dele era me fazer rir, bom, ele conseguiu.

- É disso que eu to falando. – Jake me puxou para um beijo surpresa ainda no estacionamento.

Eram três e pouco quando entramos na primeira loja de brinquedos.

- Você guia. – Jake deu as ordens.

- Bom... Você quer presentear o Ed de acordo com a idade física ou mental dele?

Ele fingiu pensar um pouco.

- Comecemos pela mental.

- Por aqui, então. – dei uma de guia e levei meu primo até a sessão de mordedores e chocalhos.

- Ele não é assim tão bebezão. – Jake conseguiu dizer quando parou de rir.

- Você queria o que? Que eu te levasse pra livraria na sessão de física quântica?

- Não é pra tanto. Ele tem vídeo-game?

- Um PS2.

- Vem comigo.

Ele me conduziu até uma livraria enorme. Imagine uma C&A da vida com seus três pisos e coloque dezenas de prateleiras entupidas de livros. Agora você tem uma vaga idéia da imensidão daquele lugar.

- Quer um lencinho? Você ta babando.

Dei um tapa de leve no ombro dele, mas minha cara de tacho com o tamanho da livraria não saiu do lugar.

- Zoey?

- Me deixa admirar um pouco! – o repreendi.

- Vem. – meu primo me puxou.

Aquela livraria tinha de tudo: lanchonete, dezenas de estantes abarrotadas de livros organizados em ordem alfabética e, finalmente, quando eu pensei que já não tivesse mais o que andar (e depois de todas as minhas paradinhas para secar um livro que faltava em uma das minhas coleções) chegamos à ala de brinquedos.

Aquilo era simplesmente um labirinto de videogames de todos os estilos, DVDs, CDs, quebra cabeças... Em suma: meu sonho de consumo.

- Ele gosta de qual? –Jake perguntou após colocar uma fileira de jogos dos mais diversos estilos.

- Algo sangrento, mas que não seja mortal combate, porque ele já tem a coleção completa.

- Nesse caso... – ele descartou metade da pilha - Que tal corrida?

- Boa idéia. Skate e moto são os ideais.

- Ótimo. Vai ser esse.

Não consegui ver o preço. Por mais que o presente não fosse pra mim ele não me deixou chegar perto da nota fiscal nem da sacola com os três jogos.

- Você mima o Ed demais.

- A gente tem que fazer um pouco da vontade dos cunhados.

Rimos.

- Quer ir a mais algum lugar?

- Não sei... Acho que seria legal andar um pouco, mas não aqui.

- A praça que fica lá perto de casa é bem tranqüila. – ele sugeriu.

- Perfeito.

Já era noite e estava tudo deserto. Americana é uma cidade pequena, com índice de criminalidade quase nulo, então não vimos problema em estacionar o carro naquela ruela escura e caminhar até o calçado coberto de árvores. Fora os casais que só faltavam se engolir nos bancos éramos os únicos ali.

- Quer sentar? – Jake perguntou quando terminamos de contornar a pracinha.

- E tem banco vago?

- Acho que não. – ele parecia sem jeito.

- Quer ir embora?

- Você quer ir?

Ele sempre devolvia minhas perguntas e usava minhas respostas como se fossem suas. Isso não ia funcionar hoje.

- Eu perguntei pra ti. Você sempre faz o que eu quero. – lembrei-me do que Mariana havia dito - Me deixa inverter os papéis pelo menos hoje.

- Muito bem, então. Quero jantar na Bob’s.

- Ótimo. – já estava começando a ficar com fome.

Voltamos ao carro. Não sabia exatamente o que fazer, então fiquei calada. Jake não falou muito nos primeiros três quarteirões, mas depois desembestou:

- Tudo bem? Quer ir pra casa?

- Que? Não.

- Ta calada...

- Pensativa. É diferente.

- Posso saber no que?

- O que?

- No que você ta pensando.

- Nada específico. Só acho que amanhã o dia vai ser cansativo.

Meu primo me deixou raciocinando sozinha até estacionar e depois me cutucou para que eu acordasse do meu transe.

- Zoey, chegamos.

Desci do carro, mas minha mente estava no automático. O mesmo quando pedi meu sanduíche e o comi. Jake não me pressionou a falar e também comeu em silêncio. Eu estava diferente e podia sentir que ele achava o mesmo. Só não sabia o que era.

Quando acabei de comer ele perguntou:

- Podemos conversar?

Assenti e esperei, fitando-o.

- Tem algo errado?

- Como?! – onde ele queria chegar?

- Não sei... Mas você ta distante. É como se só o teu corpo tivesse aqui.

- Bom eu... Sinceramente nem percebi. Desde quando?

- Desde que... Desde que você decidiu sair com Tom. E percebi que piorou quando aquela tua amiga te ligou.

Fiquei quieta.

- Sabe... Uma vez eu ouvi não sei aonde, uma coisa que eu nunca mais esqueci e que acho que se aplica perfeitamente agora. “O passado é história, o futuro um mistério e o agora uma dádiva. Por isso se chama presente”. Pensa nisso.

Ele se levantou e foi para o carro sem dizer mais nada. Minha cabeça rodava de tanta coisa que passava por ela ao mesmo tempo, mas a mantive erguida durante todo o trajeto de volta à casa. Não me lembro de muito mais coisa depois disso. Basicamente nossas mães perguntaram o porquê de tanta demora e se não queríamos jantar.

Ed e Fred fizeram cara feia quando contamos que jantamos fora e um deles reclamou que passávamos tempo demais juntos fazendo coisas legais que nossas mães nunca os deixavam fazer. Foi nessa hora que eu gelei.

Por falar em nossas mães... Elas também tinham algo a acrescentar:

- Jake? – foi minha tia quem o chamou.

Meu primo a olhou, esperando.

- Ligaram da agencia perguntando se teria como você cobrir o turno da manhã no lugar do seu pai. Você vai ter a tarde livre, não se preocupe. E vamos mesmo precisar de ajuda. Tem algumas coisas de última hora que nos esquecemos de comprar para amanhã à noite.

- Acho que não vai dar. – ele me olhou de canto de olho.

- Você não vai precisar sair amanhã de manhã pra nenhum outro lugar Jake. A Zoey não vai sair de casa. Ela vai ficar aqui comemorando o aniversário do Ed com ele. – minha mãe me lançou um olhar incisivo.

Droga.

- Não é, minha filha? – ela pressionou.

Ed prendia o riso e fazia caretas de deboche. Era uma das primeiras vezes que minha mãe não me deixava sair, mas não ia bater pé. Estava cansada demais, portanto apenas assenti.

Minha mãe pareceu visivelmente confusa pelo meu súbito “estado de irmã mais velha”, porém nada disse enquanto eu ia à suíte trocar de roupa com Jake em meus calcanhares igualmente mudo.

- Você vai amanhã. – mandei.

- Hã?

- Não vou te deixar ficar em casa amanhã de manhã. Você vai à agência cuidar dos negócios pelo teu pai.

- Ah, isso. Não sei, não. To sem muita paciência, além de cansado e vai ter coisa que só pra fazer amanhã. E outra: eu to de férias tanto de lá quanto do cursinho.

- Mas...

- Acho melhor você descansar. – Jake me cortou entrando no quarto dele tirando a camisa e fechando a porta com um “boa-noite” abafado pelo bocejo.

Fiquei parada ali alguns segundos antes de sair do transe e entrar na suíte de minha tia, tomar um banho morno e relaxante. Não tive nem tempo de pensar e o sono chegou, rápido como uma pancada na cabeça e a última coisa de que me lembro foi um borrão que deu início a um sonho maluco.


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