— Nee, Miku, vai demorar muito ainda? – Perguntou a sempre impaciente Teto. — Eu estou com fome...

— Tenha calma, Teto. Porque não belisca alguma coisa no frigobar?

— Boa ideia! — Disse, sorridente, e se levantou para se dirigir à cabine de lanches.

Já eram umas 16:00h da tarde, e estávamos na limusine a caminho de um bom restaurante de macarrão, para fazermos um lanchinho. Tínhamos acabado de sair de um ensaio que durou mais ou menos quatro horas de relógio, e Teto não conseguia parar de buzinar no meu ouvido pedindo o tempo todo impacientemente por comida. Não minto que não estava com fome, mas também não adianta reclamar, porque palavras não enchem barrigas.

Estávamos chegando ao restaurante, e Neru não parava de digitar freneticamente em seu Iphone amarelo – uma cor que eu acho bem diferente pra um Iphone, mas sei que ela gosta então fico quieta. Estávamos na primeira cabine da limusine, sentadas nos bancos pretos com o acolchoado mais macio e confortável que já sentei na vida, tentando achar meios de passar o tempo. Eu decidi quebrar o gelo, e me aproximei de Neru.

— Hey Neru... O que está digitando? — Eu estiquei o pescoço pra tentar ler um pouquinho da mensagem.

Neru involuntariamente pareceu se assustar e tirou os olhos da tela para me olhar, inclinando a tela do celular para si, para impedir que eu visse o que quer que fosse que ela estava digitando. Eu não resisti, e sorri.

— O que foi? Muito confidencial para sua amiga Miku ver? — Meu sorriso e minha voz claramente definiam escárnio.

Neru pareceu ficar meio sem graça, e desviou o olhar de mim.

— É que... Não gosto que fiquem lendo as minhas mensagens. — Ela disse, fazendo um bico e olhando para a tela de novo. Ela parecia meio tensa, não sei se por causa de quem receberia a mensagem ou do conteúdo da mensagem. Isso só me fez ficar mais curiosa, e sorrir.

— Owwn, não gosta que leiam suas mensagens ou não gostaria que eu lesse essa mensagem? — Me atrevi a chegar mais perto, tentando ler novamente, mas ela recuou. Eu sabia, tinha algo naquela mensagem que ela não queria que eu visse, o que me fazia querer ver cada vez mais. — Eh? O que é isso? A Neru-chan está escondendo alguma coisa da Miku-chan?

Neru corou – sim, corou! Era a primeira vez em muito tempo que eu a vi corar. Foi só um pouco, mas ela corou! Eu não podia deixar passar, depois dela ter me feito passar por aquele sufoco na cabine de entretenimento, me obrigando a dizer que eu gostava do Kaito-kun. Finalmente a hora da vingança havia chegado!

Sorri maléfica, chegando mais perto, provocando. Neru não sabia pra onde correr.

— Vai, me diz pra quem é esse sms... Me conta! — Disse, me aproximando. Quando mais me aproximava, mais Neru recuava.

— E-eu já te disse que não gosto de ninguém lendo minhas mensagens, Miku! — Ela suava, recuando mais e mais. Eu sorri, ela nem percebeu que estávamos chegando na ponta do sofá. — Não é ninguém, é sério!

— Se não é ninguém, porque está tão assustada?! — Disse alto, ameaçando pular em cima dela, e ela acabou recuando mais uma vez, e caiu do sofá, de costas. Eu comecei a rir, e ela corou mais.

— Baka... Você me assustou com seu olhar de psicopata, só isso. — Bufou, se sentando. Ainda bem que o chão era forrado de tapete, ou ela poderia se machucar. Não teria feito isso se ela fosse se machucar.

— Hehe, o que foi? Não gostou quando trocamos de papéis? Agora eu sou a pervertida que quer descobrir quem receberá essa mensagem, e você é a doce e inocente garotinha que morre de medo de mim! — Gargalhei maleficamente de brincadeira, e depois comecei a rir de verdade.

— Mas você... Ah, me poupe Hatsune, não me diga que guardou rancor daquele dia com o Kaito? — Neru suspirou.

— Não é rancor, é vingança. — Ri, sorrindo malvadamente logo após. Dessa vez, me levantei sobre meus joelhos. Eu me jogaria de verdade. — Me dá esse telefone!

Pulei em cima dela e começamos a rolar e nos acotovelar pelo chão parecendo gato e rato, enquanto eu ria e ela tentava manter o celular longe de mim. Eu estiquei os braços tentando alcançar o celular, mas ela me prendeu com as pernas, me impedindo de ir muito além, então não vi nenhuma outra solução. Peguei-a de surpresa e fiz cócegas embaixo de seus braços, e ela gargalhou como não tinha a visto gargalhar em muito tempo e abaixou os braços bruscamente, com relutância. Nesse momento, arranquei o celular de suas mãos aproveitando a sua fraqueza, mas só deu tempo para ver o nome de quem receberia a mensagem. Ela conseguiu numa recuperada rápida tirar o celular de mim de novo. Larguei-a e sorri, vitoriosa.

— Hehehe, quem é Natsume, Neru? — Perguntei, sorrindo maleficamente, e ela entrou em pânico.

— O-o-o que v-você conseguiu ler?! — Ela perguntou, suando e um pouco corada.

— Só o nome, não se preocupe. — Sorri, e ela pareceu relaxar um pouco mais. — Mas me conta! Quem é Natsume?!

Neru pareceu meio desconfortável ao falar no assunto. Até que enfim, com meu olhar curioso, consegui dobrá-la.

— Ele... Ele é...

A fala dela foi interrompida pelo nosso chofer, que adentrou o cômodo cortesmente, fazendo uma singela reverência com a mão à frente do corpo, como costumava fazer toda vez que adentrava a porta sem bater.

— Perdoem-me, senhoritas, mas já chegamos ao Yūhi no pasuta*.

Acho que era porque ele estava no meio do expediente, por isso não riu de nossa situação. Confesso que eu teria rido no lugar dele – eu e Neru estávamos no chão, descabeladas e desarrumadas, o que não era nada engraçado para nós, mas hilário para qualquer outra pessoa. Kaito provavelmente estaria se contorcendo de tanto rir de estivesse no lugar dele. Levantei-me, arrumando minhas roupas e tentando dar um trato no meu cabelo antes de sair, e sorri.

— Thank you*, estamos indo. — Disse, juntando minhas mãos e baixando minha cabeça para demonstrar gratidão. Ele saiu pela porta, e eu dei uma olhada para Neru, que também tinha se levantado e estava arrumando suas roupas e cabelo, que ela percebeu e fez bico.

— Depois você me conta mais do Natsume-kun, Neru-chan. — Disse, e ela fechou a cara, me fazendo rir a beça. Mas agora estava na hora de comer!

 ***

Quando descemos da Limusine, eu, Teto e Neru, sentimos na hora o cheiro de macarrão, peixes e carnes subindo deliciosamente e adentrando nossas narinas. Estávamos ansiosas para comer, ainda mais depois de tanto tempo. Atrás de nós estava Takeshi, ou como chamamos ele, Tank, nosso segurança. Dá pra imaginar porque chamamos ele de Tank – Ele é tão parrudo que normalmente lembra um tanque de guerra. Mas na verdade é muito gentil e até divertido, é um dos poucos seguranças que eu gosto que me acompanhem, porque ele não só me protege, mas me diverte.

Nós três fomos pegar uma mesa, e naturalmente nos deram a melhor mesa do local – afinal, não é sempre que celebridades vão jantar no Yūhi. As pessoas das mesas próximas começaram a fazer caras de espanto e cochichar, tirar fotos com os celulares e essas coisas, mas nem ligamos, afinal, já estávamos acostumadas com toda essa agitação. Não tem uma celebridade que se preze que não é acostumada com essa situação.

— Com licença, senhoritas, posso ajudá-las? — Disse o garçom, dando-nos três cardápios, com um bloco de notas e uma caneta em suas mãos, pronto para anotar nossos pedidos.

— Humm... Vou querer um Sukiyaki*, por favor. — Disse Neru, olhando o cardápio.

— Eu vou querer um Shabu-shabu*. Porções individuais, por favor. — Disse, sorrindo, e então me virei para olhar Teto, que estranhamente não tinha dito nada até então e olhava com atenção o cardápio. — Vai querer o quê, Teto-san?

— Etto... Acho que vou querer só uma porção de Takoyaki*, por favor. — Ela suspirou.

— Bolinhos, Teto? Isso é petisco, achei que estivesse com fome de verdade. — Franzi as sobrancelhas.

— Etto... Acho que comi lanchinhos demais na limusine... Não estou mais com tanta fome. — Ela riu nervosamente, coçando a nuca, e eu ri, balançando a cabeça negativamente. Essa Teto é uma figura...

Nossos pedidos chegaram depois de alguns minutos, e conversamos e rimos durante a nossa espera. Neru começou a mexer no celular de novo, e não pude deixar de ouvir alguns comentários das pessoas ao redor, que diziam desde “Kawaii*! A Miku-chan é tão fofa rindo!” até “O que será que a Neru-san está digitando no celular?”, e ainda “Sugoi*! O cabelo da Teto-san é tão lindo!”. Fiquei prestando atenção em conversas alheias até que os pedidos chegaram, e começamos a comer, e nenhuma palavra foi trocada nesse momento a não ser “Humm, Oishii*!”.

Comemos logo e, depois que terminamos de comer, pagamos a conta e saímos satisfeitas do local, sorridentes. Na saída, encontramos algumas pessoas na porta do restaurante, duas garotas que se abraçavam, e pude pegar um trecho do que estavam conversando.

— Ahhh amiga, você ficou sabendo daquela nova sorveteria-karaokê que vai fazer a inauguração hoje?

— Jura? E ela é boa?

— Parece ser ótima! E eu ouvi dizer que vai ter um show incrível de inauguração hoje, de graça! E adivinha quem vai ser o cantor? É o... — Nessa hora ela cochichou, e não pude ouvir o nome do tal cantor. — ...não é incrível?

— KYYYAAAAAH! — A amiga gritou e começou a dar pulinhos. — E o que estamos fazendo aqui?! Vamos correndo pra lá agora, é daqui a dois quarteirões e ainda dá pra chegar a tempo!

Nesse momento as duas saíram correndo e gritando de alegria, e não consegui segurar a minha curiosidade. Queria saber quem era esse tal cantor misterioso, que fazia as garotas gritarem ao ouvirem seu nome, que era generoso o bastante para dar um show numa inauguração de uma simples sorveteria. Fora que eu também fiquei com vontade de tomar sorvete, o gosto da comida na minha boca era bom, mas amargava depois de um tempo. Quando entramos na limusine, falei com o chofer.

— Hikaru-san, pode ir para a sorveteria que está inaugurando, que fica daqui a dois quarteirões?

— Como desejar, senhorita Hatsune. — Disse Hikaru, pondo a limusine para andar. Sem demora, me dirigi para a cabine onde as outras duas estavam sentadas, digerindo a refeição. Sentei ao lado delas, pondo os braços atrás da cabeça e cruzando-os, apoiando minha cabeça sobre os mesmos.

— E aí meninas, o que acham de uma sobremesa? Eu pedi ao chofer para ir a uma sorveteria aqui perto, não deve demorar muito.

— O quê? — Neru disse, dando um tapinha leve na minha cabeça, suspirando. — Deu instruções ao chofer sem nos consultar de novo? Moon*... Você é mesmo uma cabeça de vento Miku.

— Ai! — Massageei minha cabeça, resmungando.

— Ah, eu não me importo. — Disse Teto, sorridente e animada. — A gente vai tomar um sorvete gostoso depois de uma boa refeição, acho que é uma ótima ideia.

— É Neru, relaxe. — Suspirei, tinha me esquecido que Neru não gostava que eu falasse com o chofer sem consultá-la antes. A loira pareceu se acalmar, e apenas suspirou, voltando a mexer em seu Iphone amarelo.

— Tá, tanto faz... Mas vou querer o meu de morango. — Disse, sem tirar os olhos do celular.

Eu e Teto rimos, e a limusine parou mais rápido do que eu esperava. Logo o chofer apareceu para nos avisar que chegamos, e fomos andando pra descer da mesma, e Tank já estava posicionado, com seu parceiro Walter, ou, como o chamamos, Wall. Os dois iriam nos escoltar, já que a sorveteria estava com um número razoável de gente. Chegamos ao caixa com nossos seguranças abrindo caminho pelo pessoal. Não tinha muita gente na fila, por isso não tivemos que esperar muito. Provavelmente mais da metade da galera ali tinha vindo por causa do show, e tomar sorvete foi só um acréscimo.

— Olá, por favor, eu gostaria de um sorvete de morango...

— Uma bola com calda de chocolate no copo. — Neru acrescentou, finalmente guardando o celular no bolso.

— ... Uma bola com calda de chocolate no copo. Um sorvete de banana Split duas bolas com calda de caramelo e amendoim, na casquinha, e Teto...?

— Uma bola de sorvete de maçã e outra de Blueberry, com calda de Kiwi e bastante granulado colorido, na casquinha! — Disse, sorridente.

— E isso. — Acrescentei ao pedido, achando meio estranha a combinação dela, mas enfim.

O caixa mandou nós pegarmos nossos pedidos ao lado, e logo recebemos nossos sorvetes, e disponibilizaram uma mesa só para nós. De repente, um rapaz com aparência de uns dezenove anos subiu ao palco. Ele era até atraente, me perguntei se não era ele o tal cantor.

— Senhoras e senhores, por favor a sua atenção! — O rapaz disse no microfone, e todos olharam para o palco. — Gostaríamos de agradecer a presença de todos vocês aqui hoje, incluindo os membros de VOCALOID Hatsune Miku, Kasane Teto e Akita Neru, realmente uma visita inesperada! — Todos vibraram, e eu senti meu rosto corar um pouco, o que fez minhas amigas rirem. — E agora, sem mais delongas, gostaria de começar logo esse show! — A voz dele era animada e fazia o público vibrar. O rapaz sentiu isso, e sorriu. — Então nos presenteie com a sua magnífica voz, Shion Kaito!!

— O quê?! — Pensei, arregalando meus olhos, enquanto o público ia a loucura. Kaito? Como assim?!