Depois do fim

Light abriu os olhos, confuso. A última coisa da qual se recordava era uma intensa dor, uma intensa perda... alguém tinha morrido?

Sim. Ele.

“Ah, você finalmente acordou.”

Ele conhecia aquela voz irritante.

“Achei que você ia passar a eternidade dormindo.”

L.

Light sentou-se no... aquilo era chão? Parecia existir uma névoa que cobria o chão todo, a perder de vista. Uma névoa cinzenta. De fato, o lugar todo era cinzento.

Então, aquilo era o Limbo. Um lugar cinza, cheio de névoa com um céu estranho, cheio de nuvens que se moviam em remoinhos com alguns relâmpagos silenciosos.

Light suspírou. Não, não exatamente, ele tentou suspirar. Ele não respirava mais. Era muito estranho estar ali. Não sentia frio, fome, cansaço, dor, nada.

Era um imenso nada.

“Vai ficar aí sentado, cismando?”

Nem depois de morto L deixava de ser irritante.

“Com licença, mas é a minha morte, a minha eternidade, acho que eu tenho direito de ficar sentado o tempo que eu quiser fazendo nada.”

“Não fique tão irritado.”

L, como sempre, tinha aquele tom de voz calmo e monótono que tinha tido em vida. Light olhou para ele. Ele não merecia passar a eternidade com aquele chato.

“Você é o meu castigo?”

“Como é?”, L pareceu se divertir imensamente com aquele comentário.

“Sim, porque passa a eternidade no Limbo com você é o pior castigo que eu consigo imaginar para mim mesmo.”

Light levantou-se, aquela névoa estranha escorreu por seu corpo. Não causava nenhuma sensação. Foi então que percebeu que nem suas roupas causavam sensação. Estava vestido com as mesmas roupas que estava usando quando tinha morrido, podia ver a marca de sangue dos tiros que tinha levado em sua camisa.

“Certo. Vou passar a eternidade sujo.”

“Isso não faz diferença, por aqui. Ninguém liga.”

“Tem mais gente por aqui?”

“Lógico que tem. Você não achou que inventaram esse lugar só para nós, achou? Venha, eu estava esperando você acordar.”

Ele deveria agradecer à ele pela amabilidade de recebê-lo no Limbo? Que piada de mau gosto.

“Você acha que é assim, você começa a dar ordens e eu saio obedecendo? Você não manda em mim.”

L parou e olhou para ele.

“Desculpe, eu não queria que soasse como uma ordem. Eu estava preocupado com você.”

Ele estava tentando ser simpático? A morte tinha deixado L mais gentil? Que piada.

“Dane-se você. Eu vou onde eu quiser.”

Light resolveu andar na direção oposta à que L estava indicando querer ir.

“Não tem nada daquele lado. Eu já fui por ali.”

“Não me parece ter nada aqui para nenhum lado, mesmo.”

“Mas tem. E tem outras pessoas, mas não sei se você está preparado para vê-las.”

Light parou onde estava, se tivesse ainda um coração, ele teria batido mais rápido naquele momento.

“Quem?”

“Bom, todo mundo que usou o Death Note.”

Light virou-se para ele com uma careta.

“Bom, então tem algo errado por aqui. Você não usou o Death Note.”

L estava parado agachado no chão com o polegar apoiado nos lábios, como costumava fazer quando era vivo.

“Na verdade... eu usei.”