Contos Invisíveis escrita por G_Namo


Capítulo 2
Rato de internet


Notas iniciais do capítulo

sempre achei essa cultura da internet uma coisa sensacional.



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Rato de internet

            - Ai... – gemeu acordando do impacto da sua cabeça com a mesa, sons distintos entrando por seus ouvidos e o acordando de seu estado quase sonâmbulo. Bocejando ele esticou as pernas e se ajeitou na cadeira.

            Não sabia que dia era e nem que horas eram... Bocejando mais uma vez percebeu que sua boca estava seca, talvez devesse pegar uma coca... Isso. Dando meia volta com a cadeira ele deu de cara com a porta, levantando e arrastado por suas pernas saiu de dentro do seu cubículo, seus ouvidos logo sendo invadidos por ruídos, o choque que levava ao sair de sua pequena cabine anti-ruído para o corredor principal uma velha lembrança. Ao lado da máquina de refrigerante ficava a máquina de café, diferente da lan house anterior a que ele estava, o que separava os viciados de cafeína dos viciados de bebidas carbonatadas. Apertou o botão de gelo e depois colocou duas moedinhas na máquina de refrigerante, esperou o copo encher e voltou para o seu cubículo.

            A mesma velha rotinha, mudar de locação a cada semana, dormir em uma cama tubo diferente a cada semana, usar o mesmo cubículo por uma semana, quando ficava em Akihabara almoçava macarrão instantâneo e jantava em um restaurante familiar perto de onde ficava, quando estava em Harajuku ele pedia Delivery de um restaurante Tailandês, quando alternava entre Shinjuku, Aoyama e Omotesando ele quase sequer saia de sua cabine (pois havia cama e serviço de cabine) e toda Quinta-Feira ele ia até o caixa eletrônico mais próximo para sacar o dinheiro do mês.

            Os jogos nem eram tão interessantes, porém conseguiam ser mais emocionantes do que sua vida medíocre. Quando estava jogando o seu exterior não era o que importava, o seu personagem era o mais forte e ele tinha todos os itens, ele era idolatrado e qualquer pessoa provida de inteligência fazia questão de jogar ao seu lado. Era tudo tão ridiculamente fantasioso que chegava a ser incrível em sua cabeça, até que ele sentia aquela dor nas costas e tinha que se ajeitar na cadeira e, por um segundo, seus olhos perdiam o foco do monitor e ele tomava um gole de sua realidade.

            Mas hoje era um dia diferente, hoje ele começaria uma nova aventura, que ele acabara de decidir.

            Levantando novamente de sua cadeira, mas agora com mais convicção ele calçou os sapatos e com o copo de refrigerante mesmo caminhou em direção ao elevador e apertou o botão.

            A verdade é que se ele não jogasse mais, alguém iria continuar jogando, as pessoas com quem ele jogava fariam novos amigos para jogar, os itens que ele tinha seriam adquiridos por mais alguém, o cubículo que ele usava seria usado por outra pessoa, o trajeto que ele fazia seria feito por outro alguém, o dinheiro depositado em sua conta todo o mês seria usado para alguma outra coisa, o macarrão instantâneo que ele comprava seria comprado, a comida que ele pediria seria pedida.

            Saindo do elevador ele tomou um gole grande de seu refrigerante e continuou caminhando até que abriu uma porta.

            A porta que ele abriria agora seria aberta por alguém. E o sol estaria sempre ali, como ele também estaria... Não mais.

            Ele estava farto.

            E dando um último gole ele pulou.


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