Admirável Mundo Novo escrita por M4r1-ch4n


Capítulo 3
Capítulo 2




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          Assim que o vistoso carro de Yoshiki se aproximou do endereço indicado por Atsushi, um homem de meia-idade veio na direção deles, totalmente vestido em preto e com um sorriso gentil no rosto. Ele cumprimentou os dois e os levou até a entrada do local, logo depois ganhando as chaves do veículo para estacioná-lo mais adiante, na mesma rua.
          Foi o vocalista quem tomou a dianteira então, desejando boa-noite à também amigável mulher que ficava do lado de fora, com as reservas feitas para aquele dia na mão. A voz aveludada de Atsushi pediu então uma mesa para dois, na área dos fumantes, sendo prontamente atendido.
          Yoshiki seguiu o outro músico de perto, olhando com aprovação ao redor. O restaurante era francês, fato óbvio quando levadas em conta a música ambiente e a decoração do local. O recinto, no entanto, não era grande e tinha uma atmosfera intimista.
          Uma mesa enfeitada com um delicado arranjo floral e duas velas sobre um castiçal prateado lhes foi apresentada e logo os dois sentaram. Cardápios apareceram como que por mágica de um dos garçons, e foi só quando o mesmo já tinha se retirado em silêncio que o convidado da noite se permitiu falar:
          - Belo lugar.
          O vocalista torceu os lábios para cima em um pequeno sorriso de contentamento, seus dedos longos repousando sobre o menu que ele ainda não havia feito questão de abrir. Deixando que a cadeira amparasse as suas costas, Atsushi inclinou-se devagar para trás, seu sorriso aumentando milímetros antes de fazer um gesto com a cabeça.
          - Fico feliz que tenha gostado. Eles fazem uma boa comida, mas o vinho é insuperável. É meu endereço favorito para saborear um bom vinho francês.
          - Interessante, de fato. Os únicos restaurantes franceses pequenos e discretos que eu conhecia até então ficam na própria França.
          Atsushi riu em voz baixa, retirando o casaco mais pesado que utilizava e pendurando a peça na cadeira atrás de si:
          - Realmente. Mas gosto daqui... - o vocalista deixou a frase suspensa no ar, virando-se discretamente para trás e passando os olhos pelo recinto, coisa que Yoshiki fez poucos segundos depois também.
          O lugar era basicamente iluminado pelas velas nas mesas, contando com poucas lâmpadas nas paredes, cuja luminosidade normalmente mais intensa era aplacada pelo sistema de iluminação indireta. As paredes eram pintadas num tom de tijolo, ajudando a manter o clima mais reservado que o baterista tinha apreciado tanto.
          A mesa da dupla de músicos estava afastada da entrada, próxima de um biombo de madeira cheio de pequenos vasos de flores que fazia a divisa com um segundo ambiente idêntico ao que eles estavam. Os garçons não ficavam por perto, dando espaço para todo o tipo de conversa; para chamá-los, Yoshiki descobriu que bastava apertar o botão de um pequeno aparelho preto deixado sobre a mesa.
          - O quê está pensando em tomar, Atsushi-san? - o pianista enfim havia aberto a carta de vinhos que estava no final do cardápio, seus olhos correndo as letras em preto que destacavam o nome dos vinhos.
          - Hmmm... - o outro deixou um suspiro escapar dos lábios e também virou as páginas atrás do lugar das bebidas, sorrindo ao ler os nomes. Yoshiki apreciou o jeito como os olhos escuros do outro pareciam ficar levemente iluminados quando ele sorria com prazer - Chardonnay é a última moda, mas pessoalmente, prefiro vinho tinto.           - Eu também.
          - A cor do vinho é fascinante, não acha? - Atsushi perguntou na voz baixa que estivera utilizando desde a entrada no restaurante, erguendo os olhos para fitar o outro que fez um gesto afirmativo com a cabeça.
          - Concordo plenamente. Não só isso, mas o aroma e o sabor... Não é sem motivo que o vinho está atraindo cada vez mais interesse aqui.
          - E espero que continue assim. Estou pensando em pedir uma meia garrafa de Merlot, o quê acha? Mais saboroso que um Pinot Noir e acho que mais leve também, especialmente porque vamos dirigir depois.
          - Está ótimo por mim.
          Atsushi então chamou um garçom, que apareceu próximo à mesa em um curto espaço de tempo. Os dois pediram o vinho e os pratos rapidamente, entregando os menus para o funcionário do restaurante que saiu em silêncio depois de uma curta mesura, deixando os dois ao som baixo e confortável da música tradicional parisiense.
          - Como andam seus planos para este ano, Yoshiki-san? - o moreno perguntou depois de colocar o guardanapo estendido sobre seu colo e apoiar o rosto sobre uma das suas mãos, o cotovelo daquele braço elegantemente sustentado pela mesa - Imagino que algo grande deve estar sendo preparado depois daquele seu anúncio no exterior.
          - Hmm, sim. Temos planos... Que serão divulgados ao longo do ano. - o baterista explicou com um sorriso pequeno, mas seus olhos deixavam claro de que ele de fato pensava em algo. E, em se tratando de Hayashi Yoshiki, deveria ser grandioso.
          - Vou esperar ansioso pela confirmação deles, então. Nós apostamos há umas semanas no estúdio sobre isso, aliás.
          - Sobre os meus planos?
          - Sobre o resto da banda. Embora não existam dúvidas a respeito do seu talento musical ou o de Gackt-san, Hide falou que será impossível montar uma banda apenas com vocês dois. Eu concordei e U-ta também; Imai e Toll disseram que não haverão mais convidados.
          - Não deveria dizer isso, mas você está no caminho certo.           - Está sendo estranhamente misterioso, Yoshiki-san.
          - Posso até tentar ser, mas duvido que consiga bater a sua aura natural de mistério, Atsushi-san. - o baterista falou com uma piscada de olho, vendo o moreno sorrir de volta e então desistir de acender um cigarro quando a garrafa de vinho e as taças chegaram. Ele esperou até que os dois tivessem sido servidos para continuar falando - Proponho um brinde.
          O moreno ergueu a sua taça de uma forma que lembrava um nobre decadente: mantinha a graça e elegância de tempos distantes, mas internamente não se preocupava mais com a sua queda; parecia até gostar da mesma. Yoshiki não gastou mais tempo na comparação, também levantando o seu copo:
          - Ao nosso estranho encontro por meio de um celular.
          - E pelas surpresas agradáveis que ele nos trouxe.
          Um som breve de cristal contra cristal ecoou no pequeno ambiente, precedendo o gole que cada um tomou daquele líquido cor escarlate. Assim que depositou a taça novamente na mesa, Yoshiki notou um olhar engraçado no rosto do vocalista, que parecia encarar o vinho que havia acabado de beber com uma expressão nostálgica.
          - Algo errado, Atsushi-san?
          - Não, não... Apenas lembrei de algumas coisas.
          - Curioso. - Yoshiki comentou, servindo-se do couvert enquanto a comida não chegava - Normalmente o álcool faz as pessoas esquecerem.
          - Não, Yoshiki-san. Infelizmente, o álcool nunca apaga o que queremos esquecer. Normalmente piora as coisas.
          O comentário de Atsushi foi pontuado com um sorriso melancólico, despertando uma emoção semelhante no baterista. Olhando de novo para o líquido vermelho que repousava no fundo do seu copo, Yoshiki se lembrou dos dias mais complicados da sua vida: aqueles que sucederam a morte acidental de Matsumoto Hideto. Realmente, beber não ajudou a esquecer a memória alegre do guitarrista; apenas intensificou a sensação de perda.
          A comida chegou em pratos decorados, o garçom desejando bom apetite a ambos antes de se retirar. Pegando a sua faca com a mão direita, o baterista olhou para o homem do outro lado da mesa:
          - Atsushi-san, eu estava pensando se gostaria de vir ao meu escritório quando não estiver ocupado.
          - Hmm? - o outro murmurou de volta, fechando os olhos por alguns momentos depois de provar da sua comida; a expressão de claro prazer no rosto de Atsushi era fascinante - Ah, gomen nasai, Yoshiki-san. Fazia tempo que eu não comia isso. - ele explicou em uma voz que parecia traduzir seu embaraço, embora nada fosse visível no seu rosto - Terei prazer em visitá-lo, com certeza. Estamos falando em nível pessoal ou profissional?
          - Eu diria que ambos... Mas prometo não transformar sua visita em algo como um almoço de negócios.
          - Não há problema algum com almoços assim quando eles terminam em acordos satisfatórios, eu creio. Mas de qualquer forma, não deixarei de avisá-lo quando for. Qual dia seria melhor?
          - Dia da semana... - o baterista parou para pensar, seus talheres cortando um pedaço de carne de coelho particularmente suculenta - Quartas e sextas costumam ser os dias mais tranqüilos. Acho que será melhor recebê-lo com mais calma.
          - Certo. Vou fazer de tudo para ver se consigo visitá-lo já semana que vem. Talvez se eu terminar as letras que Imai vem me pedindo desde o mês passado, isso ajude a livrar meu tempo para quarta-feira.
          - Não precisa ter pressa, Atsushi-san.
          - De forma alguma, não se trata de pressa. Imai tem razão ao ficar bravo com esses atrasos. As letras estão em casa, a idéia central já está pronta. Só falta encontrar algumas palavras.
          - Entendo perfeitamente. - o loiro consentiu com um movimento de cabeça; como o principal letrista do X Japan, ele sabia das dificuldades que apareciam na hora de transformar idéias e sentimentos em palavras - Mas também confio no seu talento e sei que vai conseguir terminar tudo.
          - Arigatou, Yoshiki-san. - o moreno deu um pequeno sorriso de volta, genuinamente agradecido. A conversa prosseguiu de maneira agradável enquanto ambos comiam, a voz de Atsushi soando novamente quando o vocalista notou que ambos os pratos já estavam vazios:
          - Devemos passar à sobremesa?
          - Sim, sim. O quê sugere? - o loiro perguntou, pronto para pressionar o dispositivo que chamava os garçons para pedir o cardápio quando Atsushi fez um sinal negativo com a mão:
          - As sobremesas deles são ótimas aqui, mas lembrei que normalmente costumo freqüentar uma doceira próxima daqui. Sei que estamos no seu carro, mas acredito que vale a viagem.
          Yoshiki sorriu e encostou-se na sua cadeira também, cruzando as mãos sobre o colo.
          - A sua indicação para este restaurante foi ótima; imagino que a doceira também deva ser espetacular.
          - Não se esqueça do café perto do seu escritório. Também tem um bom gosto, Yoshiki-san.
          - Talvez tenhamos gostos parecidos? - o baterista sugeriu, retirando a carteira que até aquele dia havia ficado com Atsushi, procurando o dinheiro para pagar a conta.
          - É uma possibilidade. Yoshiki-san, peço para que não mexa nessas notas. Lembre-se, o convite foi meu e portanto eu pago tudo.
          - Não precisa arcar com todas as despesas, Atsushi-san! - o outro homem exclamou ao ver o moreno se levantar da mesa, fazendo o mesmo logo depois.
          - Arcar com as despesas? Mas eu não me lembro de nenhuma. - os olhos escuros de Atsushi brilhavam com diversão - Eu encaro isso como uma forma de recompensar os proprietários do restaurante pela saborosa e agradável noite que nos concederam. Se quiser ir retirando o carro na frente, por favor o faça, Yoshiki-san. Encontro-o lá fora.
          O baterista e pianista por fim sorriu, balançando a cabeça negativamente. Não iria conseguir convencer o vocalista do contrário, pelo visto. Ao menos, não naquela noite. Indo para o lado de fora e instruindo o manobrista para recuperar seu carro do estacionamento, não demorou muito para que o outro músico se juntasse a ele nas suas roupas pretas de frio, como sempre notadamente elegante.
          Em minutos, eles seguiram para a doceira indicada por Atsushi.



Continua...


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