Toda Eternidade Tem Um Começo escrita por Danda_Soares


Capítulo 4
Acidente




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POV BELLA

Estava frio e escuro. Uma floresta, eu acho. Um sentimento de perigo e alerta preencheu-me. Algo lá no fundo, queria sair de dentro de mim e mostrar a solução, mas era como se aquilo fosse intocável e extremamente perigoso. Eu tinha que correr. Mas para onde? Eu estava perdida. Um instinto maior que eu me fez correr, correr, e correr, mesmo sem um rumo. A única coisa que eu queria era fugir. Os meus trajes não ajudavam. Um belo e longo vestido preto, talvez antigo, talvez de baile. Mas isso não importava naquele instante. Algo me seguia. Algo tão cruel, maligno e rápido. Eu não poderia olhar para trás, eu ficaria em desvantagem. Eu já estava cansada e machucada, sem forças para continuar, e principalmente, eu estava presa. E tudo aconteceu no mesmo instante. Meu anel caiu, um anel que por sinal, eu nem sabia que estava ali. Mas mesmo assim, eu sabia que ele valia muito, e eu abaixei para pegá-lo. Foi quando a criatura dos olhos vermelhos me pegou...

E eu acordei.

Era um sonho? Não pode ser, era tão real.

Algo machucava minha mão, algo que eu segurava com muita força. O anel. Aquele lindo anel... mas como? Não era apenas um sonho?

Alguma coisa nele, lembrava minha infância... lápis-lazúli. Desde pequena, eu desenho isso. Meu pai me explicou que aquela "pedrinha linda" era chamada lápis-lazúli.

FlashBack ON

- Papai, olha! - eu tinha 6 anos

- Onde você achou esse desenho, meu amor?

- Fui eu que fiz.

- Foi você? E porque você desenhou isso?

- Porque é uma pedrinha linda, e eu gostei.

- O nome dela é Lápis-lazúli, meu bem. É muito bonita.

- Você me dá?

- Não tem como eu te dar, fiha, aonde eu vou encontrá-la?

- Olha! - eu troquei o desenho, e mostrei o desenho do anel

- Aaaah, você quer um anel desses?

- Uh-hm.

- Mas pensa como ele vai ficar grande nesse dedinho miúdo, o anel é maior que você - dito isso, começou as cócegas...

FlashBack OFF

(Anel:  http://pedraselua.com/wordpress/wp-content/uploads/lapis_lazuli_oval_ring_jsb28.jpg   )

O que eu tanto queria, eu tenho. De um jeito meio assustador, mas mesmo assim eu o tenho.

E assim, caiu a ficha. O que aconteceu, afinal? É possível, um objeto de um sonho simplesmente aparecer na minha mão? E por que eu me sinto cansada desse jeito?

Nervosismo.

Medo.

Bizarrice.

Nada mais a declarar.

Apenas a água quente para me acalmar, vinte minutos foram o suficiente para me deixar bem.

Já pronta, eu desci para o café da manhã. E como era de se esperar, Forks estava chovendo. Isso realmente me irrita de vez em quando, mas deixa quieto.

- Bom dia, meu amor.

- Bom dia, mãe. Cadê o papai?

- Na sala.

Fui até a sala, e depositei um beijo bem demorado na bochecha dele. Algo me dizia, para demorar bastante.

Comi uma barrinha de granola, e estava pegando minhas coisas, quando tudo fica preto. Me apoei no balcão, e senti minha mãe e meu pai me chamando.

Mas tudo estava longe demais, as vozes, os cheiros, tudo. Tudo tinha virado um grande e absoluto nada. Medo era a única coisa que eu sentia. E foi aí que começou as imagens na minha cabeça. Um flashback da minha vida inteira, ou pelo menos tudo que eu lembrava. Uma dor insuportável ocupava cada pedacinho da minha alma. A única coisa que eu via era fogo, e eu ali no meio.

De volta à realidade, eu estava confusa, e com aquela angústia.

- Minha filha o que foi? Você está bem? Eu acho melhor você não ir à aula... - eles não paravam de falar, e eu apenas tentava compreender aquele fogo, mas... não tem o que entender, tem?

- Eu estou bem, eu tive... eu não tive uma visão, foi mais como um sentimento.

- Como assim? - meu pai perguntou

- Eu vi uns momentos felizes nossos, e depois eu vi fogo, e senti uma dor.

- Meu bebê, vai ficar tudo bem, não foi nada - estar nos braços da minha mãe me acalmava, e eu não queria sair dali

- Mãe, eu te amo muito, tá? E desculpa todas as vezes que eu fui meio rebelde. Eu também te amo muito pai, e desculpa por ter quebrado o seu rádio.

Em cada abraço, eu tentei gravar cada sensação. O jeito que minha mãe me abraçava, cuidadosa, mas firme, era o melhor lugar para ficar quando algo acontecia. O cheiro de frutas cítricas do seu cabelo me tranquilizava de uma forma que só ela conseguia. E aquele olhar de que vai tudo dar certo, era sempre a minha esperança. O abraço do meu pai, era protetor, mas também era gentil, como se eu fosse uma pedra preciosa. Seu cheiro era quente e doce, e eu sempre soube que podia contar com ele.

Resolvi que já era hora de ir, e algo me doía tanto, mas o que eu posso fazer? Eu acho que eu estou ficando louca.

.

.

.

- Mas você já foi nessa floresta pelo menos? - Kelly perguntava para mim enquanto andávamos pelos corrredores da escola, por incrível coincidência ela também se atrasou.

- Parecia que eu já tinha ido, mas eu nunca fui. Me deu um sentimento de déjà vu - Nervosa com as lembranças do sonho, passei a mão pelo cabelo e Kelly viu.

- Que anel lindo, eu conheço esse troço azul ai, é lápis-lazúli, né?

- Uh-hm.

- Como você conseguiu isso?

- Era esse o anel do sonho. - disse a ela, enquanto girava ele no meu dedo

- Perai, você tá dizendo que o anel do sonho... o-o-o que? Ele se teletransportou para cá?

Eu revirei os olhos e ri, era lógico se esperar isso de Kelly.

- Não Kelly, sei lá, ele simplesmente estava na minha mão quando eu acordei.

- Tá bom, agora cala a sua boca, você está me assustando.

As aulas se arrastaram, e na hora do intervalo, fomos comunicados que não teria aula o resto do dia, por causa de algum motivo lá, que eu concerteza não prestei atenção. Eu ainda não tinha visto Alice, mas tinha visto Jacob, ele estava vindo em minha direção com um sorriso que brilhava tudo ao seu redor.

- Eu tenho uma ótima notícia.

- E o que seria?

- Eu vou dar uma festa lá na praia, você vem né? Nós vamos dizer pra todo mundo que estamos namorando.

- É claro que eu vou, eu iria deixar você falar sozinho? - lhe dei um beijo.

Depois que ele se afastou, algo estranho aconteceu.

Dor.

O pesadelo estava cavalgando na minha cabeça e me fazendo pensar nas coisas que me causavam dor. Eu não queria me lembrar da floresta. Mesmo quando eu me afastava das imagens, eu sentia meus olhos se enchendo de lágrimas, e a dor começava a passar perto do buraco no meu peito. Eu tirei minha mão da mochila e usei-a pra agarrar meu tórax e segurá-lo em um só pedaço. Eu me perguntei quanto tempo isso podia durar. Era tão horrível. Então, o celular tocou.

Sorte.

Felicidade.

Sentimentos de gratidão me golpeavam.

- Alô?

- Bells, você tem que vir pra cá - Tia Nik?

- Tia Nik, o que houve?

- Minha mãe? - Kelly dizia assustada, eu apenas disse "é"

- Venha para a Rua Newking, rápido!

- Mas... não é a estrada que meu pai pega pra ir trabalhar? É quase na floresta ... - como se tudo isso aqui não fosse uma imensa e mórbida floresta. Completei mentalmente.

- RÁPIDO!

Eu e Kelly fomos o mais rápido que pudemos, afinal, tia Nik nunca me ligou antes.

Eu não sabia o que estava acontecendo, mais uma agônia fina e intensa subia pela minha garganta durante todo o caminho.

Quando chegamos, estava o caos.

Carros da polícia, ambulâncias, pessoas aglomeradas.

Eu não sabia o que fazer, então eu corri, empurrei as pessoas que tivessem no meu caminho para saber o que chamava tanta atenção, de longe, dava para ver apenas fogo. Fogo... essa palavra.

(n/a: Recomendo escutar: Avril Lavigne - I miss you: http://www.youtube.com/watch?v=XNL4WjqTahk)

Sempre me disseram que impossível é uma palavra muito forte, mas ela definia bem aquele momento.

As ondas de dor que até agora só haviam tocado em mim agora ficavam mais altas e passavam pela minha cabeça, me afogando.

Eu não emergí.

Isso só pode ser outro sonho.

Aquele fogo. Era o mesmo que eu tinha visto. Aquela sensação horrível de déjà vu de novo. Mas, pior. Era o carro dos meus pais. Eu não conseguia entender nada, e eu só reagi quando disseram " Hora da morte: 14:32 "

- Morte? - eu sussurrei - Não, não pode ser.

Eu saí correndo em direção ao carro, sem querer saber dos policiais ou médicos, ou qualquer um que tentasse me impedir. Eu queria os meus pais, e nada poderia mudar aquela dor. Como alguém poderia parecer tão bem por fora, e estar um terremoto por dentro? Era uma dor tão profunda que cortava tudo dentro de mim. Era como a morte vindo te buscar pessoalmente. Eles eram tudo que eu tinha, por mais que eu fizesse alguma coisa errada, eles nunca deixaram de me amar. E agora eles estavam mortos. Como isso é possível?

- NÃO! - eu gritei bem alto- NÃO! NÃO PODE ESTAR ACONTECENDO!

Eu vi carregando minha mãe em uma maca, ela estava toda queimada. Foi a pior cena da minha vida, e eu tenho certeza que aquilo iria me pertubar pelo resto da vida. Mas que vida? Como eu posso viver sem ela? Sem ele? O oxigênio tinha sumido, e eu tinha esquecido como se respira. Eu caí. Era como cair num buraco negro que nunca acaba, e quanto mais você cai, mais a dor te perfura, e dói de um jeito que você não sabe nem mais onde é que dói, apenas que dói. Eu sentia meu coração se partindo em milhões de pedaços, a sensação é que ele não existia mais, e no lugar dele, era um imenso vazio. Eu me abracei para tentar juntas as partes de novo, como se fosse possível. Eu ainda tinha tanto para falar com eles. As imagens da minha vida inteira, passava novamente na minha frente. Dizem que isso só acontece quando você está morrendo. Mas eu não estou morrendo, estou? Será que no último momento eles pensaram em mim, assim como eu penso neles agora? Só de imaginar que eu nunca mais vou poder sentir os braços da minha mãe em minha volta, e o beijo do meu pai no topo da minha cabeça, as lágrimas aparecem. Mas a morte é fácil, a vida é que é difícil e cheia de dor.

Eu só quero ouvir a voz deles dizendo para eu ser uma boa menina, ou dizendo que me amam. Será que eles podem me escutar agora? Será que eles podem ver o meu sofrimento? E foi nesse momento que eu percebi que nada seria como antes. Kelly e Alice tentavam me puxar para longe, mas eu não conseguia. Eu só queria abraçar eles, sem se importar com que aparência eles estavam. Eu só queria dizer adeus. Será que não entendem? Mas... o que Alice fazia ali? Como ela sabia? Mas naquele momento nada disso importava.

- NÃO! POR FAVOR, SÃO OS MEUS PAIS, DEIXE-ME VE-LOS. - eu gritava para o cara da ambulância. Ele podia ver meu sofrimento, mas ele não o fez - Por que? Por que isso tinha que acontecer?

- Bella, você tem que ir pra casa, eu te levo, você precisa se acalmar.

- Me acalmar? ALICE, SÃO OS MEUS PAIS! ELES ESTÃO MORTOS! Mortos. - aquela palavra ecoava na minha cabeça. Mortos. Mortos. Mortos. Mortos.

Será que essa dor não passa? E essas lembranças? O que eu vou fazer agora? Eram tantas perguntas que só a presença meus pais poderia responder. Mas eles não podem mais. Está tudo acabado.

- Venha Bells, a Alice está certa - Kelly disse. Eles eram os padrinhos de Kelly, e o sofrimento dela era grande também, ela chorava, mas ela queria tentar ser forte, para eu ser também. Mas esse não é o caso de seguir em frente. Eu simplesmente não posso seguir em frente sem eles.

Derrotada, eu simplesmente deixei que me carregassem. Afinal, agora eu estou completamente sozinha no mundo.


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Notas finais do capítulo

Eu simplesmente "entrei na história" e tentei sentir o que eu sentiria se visse meus pais mortos. E bom, deu nisso. Espero que tenham gostado!

Mereço reviews?

Beeeijos.



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