Unforgettable escrita por Shayera


Capítulo 1
Inesquecível


Notas iniciais do capítulo

Bem curtinha. Espero que gostem. Enjoy *-*



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Eu nunca pensei que tão cedo eu visitaria um cemitério. Eu sempre tive medo e receio de entrar em um. Durante a infância eu ouvia histórias estranhas e macabras sobre o lugar. Mas, agora que as minhas visitas são freqüentes, eu percebo que aqui não há nada demais. É só um lugar calmo de descanso que estranhamente me traz paz. Não o lugar em si, mas só de saber que eu estou perto dela...

Meu coração se aperta só de pensar nela. Eu ainda me pergunto como estou aqui até hoje. Levaram minha vida embora à cerca de um ano, naquele maldito acidente.

Às vezes eu me perguntou como teria sido se aquilo tudo não tivesse acontecido. Talvez eu continuasse ser o jovem imaturo e cheio de ambições e sonhos para o futuro. Eu e ela tínhamos uma vida toda planejada, ano por ano. Nas nossas tardes a sós, nós sentávamos e conversávamos e planejávamos minuciosamente nosso futuro.

Eu já sabia que terminaríamos a faculdade e compraríamos uma casa no Rio de Janeiro, perto da praia. Que teríamos três filhos duas meninas e um menino, assim nessa ordem. Aos sábados ela levaria as crianças eu shopping e aos domingos eu levaria eles para assistir jogos de futebol no maracanã.

Eu me sentia tranqüilo enquanto andava entre os túmulos sujos e tristes. Ali eu estava longe do julgamento alheio. Distante do mundo dos vivos. Era engraçado para mim agora ouvir o modo a qual todos se referem ao cemitério. Todos os julgam como um lugar cheio de tristeza e amargura, mas a minha opinião é contraria a das outras pessoas, eu penso que o lugar cheio de amarguras e tristezas, na verdade é o próprio mundo dos vivos. E eu me sentia triste por todas aquelas pessoas mesquinhas e egoístas que ainda não perceberam o mundo e que não dão valor às outras pessoas.

Alguns passos a mais e eu a encontro. Eu leio pela milésima vez a lápide. Ali não continha sua data de nascimento nem de óbito, seus pais se negaram a colocar. Minha querida não gostava de datas. Datas caiam no esquecimento, ela cairia no esquecimento. Ledo engano.

Eu jamais a esqueci e jamais a esquecerei. Depois de exatos onze anos ela se provou inesquecível a mim.

Uma lágrima solitária escorreu por meu rosto.

Todos os dias eu deixava o mundo para trás e a visitava. Levava flores, e conversava com a lápide, numa inocente alusão dela estar me ouvindo.

Eu sorri ao me lembrar o quanto ela odiava ser a última a saber de alguma coisa. Por isso eu corria até ela e a contava tudo. Posso jurar que ela foi uma das primeiras pessoas que souberam que o Fabinho havia se tornado um modelo, ou até mesmo do casamento de Magali e Cascão. Eu sabia que assim ela ficaria tranqüila sabendo que a vida seguiu seu curso natural.

Meu celular tocou e , como das outras vezes, fora ignorado. Todos me procuravam no momento em que eu tirava para ela. Diziam que as minhas visitas eram como um ritual doroloso. Algo ligado ao masoquismo. Por diversas vezes minha família tentou me impedir, mas nada feito por eles quebrou o laço que eu mantinha com ela.

Eu queria estar no seu lugar, mas  não estou...” 

Essa frase sempre habitava os meus pensamentos constantemente. A verdade é que eu me sinto culpado. A culpa é minha. Se ela não tivesse me conhecido jamais teria se apaixonado por mim. Jamais começaríamos a namorar e jamais brigaríamos como naquela noite.

Lembro com detalhes de tudo que aconteceu na semana em que ela deixou esse mundo.

Era meado do mês de agosto. Meus pais resolveram fazer uma viagem e minha irmã aproveitou para dormir na casa de uma amiga. Estávamos apenas eu e ela em minha casa.                              

Então optamos por assistir a alguns filmes que nós gostávamos. E por causa de uma bobeira qualquer pausamos o filme e iniciamos uma discussão. Aquelas bem tipicamente nossa. Que sempre acabavam em beijos e abraços calorosos, mas daquela vez foi diferente. Ela havia se irritado mais do que eu imaginava e decidiu ir embora. Pegou às chaves do carro e abriu a porta da minha casa. Caia uma chuva torrencial naquele momento, porém eu já sabia que nem toda a água do mundo a impediria de chegar até seu carro. Ela arrancou e em poucos segundos sumiu da minha vista. Eu voltei para o sofá e desliguei a televisão e o DVD já que ninguém mais estava assistindo filme algum. Eu pensei em ligar para ela, mas sabia que se eu o fizesse ela ficaria mais irritada. Então deixei o tempo passar e, quando já havia feito uma hora que ela partira, eu peguei o telefone disposto a saber se ela havia chegado bem. Liguei para sua casa que era o lugar mais provável dela estar, mas sua mãe me disse que não a via desde cedo quando eu a fui buscar. Liguei para Magali que disse ter falado com ela mais cedo, mas ainda não tinha a visto hoje. Preocupei-me, mas ainda não quis telefonar com receio. Uma, duas, três, quatro horas haviam se passado desde de a última ligação que eu havia feito, já havia até mesmo anoitecido e nada. Liguei novamente para sua casa e, novamente, sua mãe disse não saber de seu paradeiro. Mais uma hora e eu finalmente tomei coragem de ligar para ela. Depois de cinco toques ela me atendeu com voz embargada, mas não uma voz embargada de quem havia chorado. Ela parecia estar alegre e falava bem devagar arrastando as sílabas. Ela havia bebido. A perguntei onde estava e ela me disse estar num lugar onde estava se divertindo bastante e me chamou para ir até lá. Pediu para que eu escutasse o barulho animado que estava em sua volta e, realmente, o som era alto, ritmado e ininterrupto. Parecia estar em uma boate, bêbada e dirigindo. Estranhei sua atitude ela nunca bebia e jurava veementemente que nunca iria por uma gota de álcool na boca. Eu a perguntei onde ela estava para eu ir buscá-la, mas ela se recusou a me dizer, pois ela era responsável o suficiente por ela. A fiz recomendações de não dirigir e de toda aquela baboseira sobre ter cuidado com as pessoas que estavam perto dela. Mas ela xingou um palavrão e desligou o telefone na minha cara.

Passei a noite em claro e pela manhã recebi diversas chamadas da casa dela. Os pais, como eu, já estavam perdidamente preocupados. Tentei explicar para seu pai que ela havia saído de minha casa logo cedo e que eu passei a tarde toda a sua procura, mas que só fui encontrá-la à noite. Disse que quando me atendeu ela parecia alterada. Seu pai me desmentiu e me ameaçou jurando pela própria vida que jamais a filha dele tomaria uma atitude inconseqüente como essa de cair na estrada e beber. Eu percebi que ficar ali discutindo com o pai dela ao telefone era perda de tempo e que a coisa mais certa a se fazer era procurá-la.

Peguei minhas chaves tranquei minha casa e saí pelo bairro a sua procura. Passei na casa de todos os amigos, conhecidos. Visitei a todos os estabelecimentos comercias que freqüentávamos e alguns que ela havia dito anteriormente que queria ir. Cheguei a procurar num dos bairros mais próximos ao nosso que freqüentávamos bastante, mas nada de achá-la. Nem uma pista sequer.

Apelei já que já faziam cerca de vinte e quatro horas desde a última vez que a vi, ligue para a polícia e registrei seu desaparecimento. As autoridades me disseram para me acalmar e ir para casa descansar. Disseram para deixar tudo nas mãos deles. Mas eu definitivamente não ia ficar de braços cruzados enquanto a minha vida estava por aí perdida no mundo.

Abasteci e resolvi visitar hospitais, mas torcendo para não encontrá-la em nenhum deles. O se encontrasse que a encontrasse bem. Mas não a encontrei em nenhum. Na última visita minha eu perguntei para a recepcionista a mesma coisa que havia perguntado nos outros hospitais e casas de saúde. Se não havia nenhuma entrada nova no hospital. Rezei para que ela dissesse não e para que eu fosse para casa e encontrá-la sentada no meu sofá. Mas ela me disse que havia uma. Uma menina que chegara pela madrugada e que estava bem machucada. Eu a perguntei do nome e as outras informações da menina, mas ela me disse que mesmo que não fosse falta de ética dizê-lo, ela não poderia já que não havia nenhum dado da paciente recém chegada. Implorei para que ela me deixasse falar com o médico que a atendera. Ela me disse que ia ver o que poderia fazer e me deu as costas. Depois de cerca de dez minutos ela retornou ao lado de um senhor de meia idade e magro que tinha um semblante preocupado e cansado. Pressenti o pior. O cumprimentei e o contei toda a história. Ele ouviu atentamente e me passou a informação do porque da jovem moça estar naquele hospital. Ele me disse que foi um grave acidente de carro. Supliquei para que ele me deixasse vê-la nem que fosse por um instante, só para reconhecimento.

Ele me permitiu entrar no quarto, mas só por alguns segundos. Foi naquele momento que meu pior pesadelo começou. Eu a vi... deitada naquela cama, ferida e desacordada. Tão desamparada.

Liguei pra seus pais, eles precisavam de saber. Em poucas horas a sala de espera do hospital estava cheia de amigos e parentes sensibilizados. Palavras naquele momento eram desnecessárias, apenas os olhares magoados e angustiados, e as lágrimas já diziam tudo em silêncio profundo. Eu me culpava, eu rezava e me culpava. Mas lágrimas, acusações, mágoas não a fariam levantar daquela cama.

Foram horas de terrível agonia, até que o médico responsável por ela naquele dia a tarde chegou com a notícia que mudaria a vida de todas as pessoas naquela sala e espera. Ela havia tido uma parada cardíaca e não queria voltar. Ou olhei ao meu redor assim que assimilei as palavras do homem mascarado e vestido de branco. Vi a esperança morrer nos olhos de Magali e ela ceder ao choro. Ela tentou ser forte assim como todos os que conheciam minha amada, ela sempre nos dizia pra sermos fortes e agüentar a situação em que formos submetidos. Ela sempre nos acalentava e dava bons conselhos, mas agora ela se foi e nos deixou desamparados.

O dia do seu enterro foi ainda pior pra mim. Só seus pais, Magali e Cascão estavam presentes. Parecia que todos os outros tinham algo mais importante pra fazer do que prestar a última homenagem a ela. Um grito agudo ameaçou sair de minha garganta assim que começaram a descer seu caixão. Aquela cena eu sabia que ficaria gravada na minha cabeça. Era a última vez que eu a veria. Naquele momento senti como se alguém rasgasse meus órgãos internos, mas era apenas ela se distanciava mais e mais de mim.

E agora eu estava aqui, em frente ao seu túmulo, onze anos após aquela fatídica noite, lendo sua lápide mais uma vez e tentando fingir que nada daquilo era verdade.

“Dedicado a Mônica Sousa. A melhor das filhas, grande amiga, uma heroína”.

Imaginar que, naquele momento, apenas uma linha tênue me separava do grande amor de minha vida. A linha que separava a vida e a morte estavam entre nós, mas não por muito tempo...


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Notas finais do capítulo

Bom, gente, tá aí minha primeira fiction de drama. Enfim, deixem suas opiniões, preciso saber o que você pensa sobre isso, ok?



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