Os Pássaros não Voam escrita por Eica


Capítulo 11
Capítulo 11




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Não demorou muito para a paisagem se transformar totalmente. As folhas das árvores começaram a ficar amareladas e tão logo o chão ficou entapetado de folhas.

            Quando Jodi abria a janela do quarto, podia ver o quanto a paisagem continuava deslumbrante. As cores vermelhas alaranjadas, o brilho do sol, os campos... Tudo isto despertava em Jodi um sentimento de paz e pureza.

            Como sempre, nos dias de semana, o rapazinho quase não via seu pai. O homem trabalhava muito. Já Marta, ele via com mais freqüência. Hoje de manhãzinha, Jodi saiu da cama e foi tomar o seu café. Marta apareceu e comeu junto com ele. Mais tarde, Tomas apareceu na cozinha e preparou duas fatias de pães. Os rapazes se cumprimentaram com olhares de cumplicidade.

            Não me mantenha tão longe do chão, Tom!

            Tomas estava um pouco descabelado. Usava uma camisa branca por debaixo da camisa vaquera. Para Jodi ele continuava atraente apesar do seu desleixo de hoje. Quando o mais velho terminou de preparar seus pães e colocá-los sobre um prato, colocou o prato no colo de Jodi e empurrou sua cadeira de rodas para fora da cozinha.

- Espere! Meu copo! – exclamou Jodi.

            Tomas voltou para pegar seu copo de suco sobre a mesa e deu-o a Jodi. Depois o levou para fora de casa. Ficaram no prado junto com os cavalos que corriam livremente. Tomas sentou ao lado da cadeira de rodas de Jodi e pegou seu prato de volta.

- Devíamos ir mais longe. – disse Jodi, olhando sorridente para o outro.

- Por que?

- Para ficarmos mais a vontade. Daqui sua mãe ou qualquer outra pessoa pode nos ver.

- Não penso em beijar você. – disse Tomas, mastigando um pedaço de pão. – Pelo menos não agora.

            Jodi desmanchou seu sorriso, mas continuava feliz.

- E então? O que faremos agora?

- Podemos dar uma volta por aí. Sei lá.

- Vamos à casa dos pássaros.

            Tomas olhou para Jodi e, sorrindo, disse:

- Tudo bem.

            Depois que terminou de comer seu pão, entrou para casa. Uns minutos depois, voltou ao prado e, carregando Jodi, levou-o para a casa dos pássaros. Ali, Jodi ficou deitado no gramado com Tomas ao seu lado.

- Sorria pra mim. – disse Tomas, debruçado sobre Jodi.

            Jodi sorriu.

- Você tem carinha meiga. Parece até aqueles garotos ingênuos, sabe?

- Eu pareço ingênuo?

- Parece.

- Posso ser bastante mal se eu quiser. – disse Jodi.

            Tomas riu.

- Pode é? Hm, não sei se pode.

            Jodi riu e deixou que o namorado lhe penteasse o cabelo com os dedos. Quando abaixou o olhar, Jodi pensou e disse-lhe:

- Eu... Pensei... Naquilo que aconteceu entre a gente... E queria dizer que... Nunca senti aquilo antes. Foi... Foi muito bom. Mais do que isso.

            Ao erguer os olhos para Tomas, viu que o mais velho lhe sorria. Eles se fitaram por um pouco de tempo. Depois Tomas beijou-lhe suavemente nos lábios e no rosto.

- Te amo. – disse Jodi, com todo sentimento que carregava no peito.

            Era bom quando Jodi passava o tempo com Tomas. E os dois ficaram a tarde inteira na casa dos pássaros. Tomas demorou tanto tempo pra voltar para casa que levou uma “erguida” da mãe, pois ele havia se esquecido de cuidar dos cavalos. Mas o que ele podia fazer se, quando está com Jodi o tempo pára, mas o tempo ao redor deles voa? Foi sorte de Tomas que sua mãe teve que fazer todo o serviço no alojamento dos cavalos. No entanto, ela não ficou seriamente brava com o filho, pois gostava da interação entre ele e Jodi.

            Nesta noite, Marta, Nathan, Jodi e Tomas foram jantar fora. Jantar em família. Foram a um restaurante muito chique, por isso todos tiveram que se vestir adequadamente. Para Tomas, Jodi ficou muito maravilhoso com um jeans escuro, uma camisa social azul bebê e um casaco preto. Estava tão charmoso que dava vontade de dar-lhe centenas de milhares de beijos.

            Durante o jantar, os pais conversaram bastante tanto entre si quanto com seus filhos. Os rapazes se divertiram bastante. Era-lhes bom saber que sua família se entendia. Jodi e Tomas tiveram que disfarçar o carinho que sentiam um pelo outro, no entanto, houve um momento em que Jodi observou Tomas muito longamente com um sorriso muito belo nos lábios. Por sorte seus pais estavam muito distraídos para perceberem o amor que ele demonstrava no olhar e no sorriso. Porque neste mundo, não há nada mais gracioso e perfeito do que os sorrisos dos olhos e dos lábios de um apaixonado.

            Que aquele sorriso não tenha escapado aos olhares de Tomas porque foi tão carregado de sentimento, tão carregado de devoção, tão carregado de amor passivo, tão carregado de entrega que nenhuma palavra que saísse da boca de Jodi poderia explicá-lo.

            Jodi já estava muito preso a Tomas. De todas as formas conhecidas neste mundo. As linhas que o prendiam a Tomas eram muito firmes. Tão firmes quanto o gelo, mas que podiam ser facilmente arrebentadas se alguma força os afastasse um do outro.

            O menor ouvia Tomas falar durante o jantar e era como se todos os outros sons tivessem se apagado de sua cabeça menos a sua voz. E a voz de Tomas soava com leveza. Jodi não mais vivia para ele mesmo. Agora Jodi vivia para seu anseio. Quando acordava pela manhã, seu anseio lhe fazia pensar em Tomas. Seu anseio fazia-o procurá-lo incansavelmente. Depois que começou a amar Tomas, o coração de Jodi nunca mais teve descanso...

            Depois do jantar em família, Jodi foi para seu quarto. Trocou de roupa e preparou-se para dormir. Deitou na cama e recebeu “boa noite” do pai e também da nova mãe. Ele deixou a cortina da janela aberta para que, assim, um pouco da luz da lua entrasse por ela. Ele não dormiu instantaneamente, porque o coração ainda não havia sossegado. Ele falava alto a Jodi. Falava alto e em bom som: “Será que Tomas virá esta noite?”, pensava seu coração. Ele sempre vem. Por que hoje seria diferente?

            Quando Morfeu passou pelo quarto de Jodi, este pôde dormir. Jodi até sonhou. Teve um sonho bom. Seu corpo estava totalmente descansado. Até que, sem ele esperar, sentiu como se algo lhe pousasse no rosto. E, quando abriu os olhos, deparou-se com Tomas ao seu lado na cama. O menor deixou que o rapaz deitasse ao seu lado e permitiu que fosse abraçado e beijado. Jodi sorriu como um tolo e não voltou a sonhar naquela noite.

            Na manhã seguinte, nem o pai e nem a mãe dos rapazes estavam em casa. Tomas estava no alojamento dos cavalos e Jodi na cozinha em companhia de Ivete, ajudando a mulher a preparar o almoço. Enquanto o rapaz mexia a massa (que estava dentro de um pote) com uma colher, Ivete preparava o recheio.

- Seu pai chegou a se casar alguma vez? – perguntou Ivete.

- Não. Só namorou depois que minha mãe morreu. – disse. Olhando para a mulher de costas para ele, acrescentou: - Tomas já namorou?

- Não perguntou a ele?

- Não.

- Que eu saiba ele nunca namorou.

- Nem meninos e nem meninas?

- Meninas não. Mas se ele namorou meninos, isto eu já não posso garantir, já que vocês costumam fazer segredo. – disse a mulher, olhando o rapaz pelo canto dos olhos.

            Jodi abaixou a cabeça.

- Hm. Vou perguntar a ele depois.

- E você? Já namorou antes de ficar com Tom?

- Oh, eu não. – disse Jodi, sorrindo. – E fico até aliviado por não ter namorado porque Tomas foi a melhor coisa que já me aconteceu.

            Ivete sorriu, soltando sua risada típica.

- Ele beija muito bem, Ivete. Não sabe o quanto beija. Se não aprendeu a beijar por um relacionamento anterior, então posso afirmar que Tom é um autodidata. E... Eu queria te contar uma coisa, mas não sei se você vai querer ouvir.

- Pode me contar. Conte o que quiser.

- É sobre uma coisa que aconteceu entre Tomas e eu.

            Ivete virou totalmente o corpo para trás e, arregalando os olhos para Jodi, disse:

- Não vai me dizer que vocês dois...

- Sim. – respondeu Jodi, corando.

            Ivete riu.

- Oh! Mesmo, meu rapaz? Mas que coisa linda!

            A mulher pôs a mão no peito e sorriu a Jodi.

- E como está se sentindo?

            Jodi alargou um sorriso e disse:

- Me sinto como se... Não sei. Não dá pra explicar. Foi tudo tão inacreditável! Queria que acontecesse de novo, mas tenho vergonha de dizer isso a Tomas.

            Ivete riu de novo.

- Vocês são namorados e já tiveram relações mais íntimas. Acho que não há nada que você não possa dizer a Tom, não?

- É, eu acho que é. Olhe, já terminei de mexer a massa. Gostaria de ir lá fora ver Tomas. Posso?

- Claro que pode.

            Jodi deixou o pote com a massa do pão sobre a mesa e disse:

- Vou dar um beijo em Tomas. Já volto.

            Ivete sorriu para ele. Quando Jodi empurrou sua cadeira de rodas para próximo da porta, viu alguém parado em frente a ela. Era Lídia. Jodi não pôde reprimir a expressão de surpresa. Lídia, encostada a batente da porta, sorriu para Jodi.

- Está indo ver Tomas? – perguntou a moça. – Ele está lá no prado dando uma olhada nos cavalos. Vamos até lá que eu estava indo pra lá agora. Só vim pegar uma garrafa de água que Tom me pediu.

            Enquanto Lídia tirava uma garrafinha de água da geladeira, Jodi e Ivete se entreolharam. “Bem que Lídia podia usar aqueles sinos que as vacas usam, assim poderíamos saber quando ela está se aproximando”, pensou Jodi. Com a garrafinha em mãos, Lídia quis empurrar a cadeira de rodas de Jodi e o rapaz não teve escolha a não ser deixar que ela lhe fizesse esta gentileza.

            Os dois chegaram ao prado. Lídia passou a garrafinha a Tomas que, não podendo agir diferente, sorriu alegremente ao ver Jodi. Jodi ficou calado porque não tinha certeza se Lídia havia ouvido sua conversa com Ivete. Por isso esperou uma oportunidade para perguntar-lhe (sutilmente, se pudesse). Em dado momento, Tomas se afastou dos dois quando teve que dar uma olhada em um cavalo que estava agindo estranho. Em sua ausência, Jodi não precisou perguntar nada a Lídia porque foi ela a entrar no assunto:

- Tomas deixa você beijá-lo, Jodi?

            Jodi ergueu o rosto para ela. Lídia não olhava para ele.

- Isso não é coisa que um garoto faça a outro, não acha? Não é estranho um garoto beijar outro, seja na bochecha ou na boca? Você e Tomas estão juntos?

            Jodi sentiu-se encurralado e por isso não abriu a boca.

- Isso me surpreende muito. Digo, não esperaria isto de Tomas. Beijar outro garoto? É muito estranho.

- Pode guardar segredo?

            Lídia olhou-o.

- Para que? Para vocês dois continuarem com isso? Não sei se quero ajudar nesse comportamento estranho de vocês. Não me faça de cúmplice como deve ter feito Ivete.

- Por favor, não conte. – pediu Jodi, um pouco aflito.

            Naquele momento, Tomas retornou à companhia dos dois. Lídia trocou umas palavrinhas com Tomas e já ia se despedindo dos dois quando Jodi chamou sua atenção.

- Aonde vai? – disse ele, em voz alta. Depois, voltando-se para Tomas, disse: - Ela já sabe sobre a gente. Não a deixe ir embora.

- Que?

            Tomas olhou para Lídia e correu até ela, que já estava bastante afastada. Jodi não conseguiu ouvir sobre o que os dois conversaram, mas viu-os dialogar por bastante tempo.

            O caso é simples: Tomas foi chantageado a namorar Lídia para que ela mantivesse a boca fechada. Jodi soube da chantagem naquele mesmo começo de tarde e para que o namorado não ficasse nas mãos daquela garota odiosa, pensou em uma coisa que jamais imaginou que pensaria. Trancados no quarto de Jodi, o menor disse a Tomas:

- Vamos terminar. Vamos terminar agora. Isso não está dando certo.

- Que? Não! Não quero terminar. Não diga isso!

- Lídia vai pegar no seu pé. Vai ficar em cima da gente. Temos que terminar. Não vou suportar isso.

- Daremos um jeito, Jodi. Só não termine comigo. – disse Tomas, ajoelhado diante de Jodi.

- Não, não. – disse o outro, agoniado. – Já viu que é impossível nos escondermos. Por isso é melhor terminarmos.

- Não me mate assim. Não diga isso. Eu te amo.

            Jodi chorou.

- Não dá. Não dá mais. – disse Jodi.

            Foram cerca de duas semanas de encenações por parte de Lídia e Tomas: o rapaz teve que dizer aos pais que ele e a moça estavam namorando ao mesmo tempo em que teve que aturar a companhia dela, que agora ele odiava. Jodi não mais falava com Tomas. Ele o evitava. Quando Tomas tentava entrar em seu quarto durante a noite, a porta não abria, pois Jodi nunca mais a deixou aberta. Num final de semana, pela manhã, Tomas tentou pegar Jodi para levá-lo para a casa dos pássaros, mas quando foi tirá-lo de sua cadeira de rodas, Jodi empurrou-o e gritou com ele:

- Saia! O que pensa que está fazendo?

            Seus pais não eram cegos e logo perceberam que os filhos, que antes pareciam bons amigos, agora não se davam bem.

Doía muito o comportamento de Jodi. Tomas não suportava a situação. Estava totalmente frustrado, irritado com Lídia e também muito magoado. Sua mudança comportamental também foi percebida por sua mãe, que tentou compreender o que se passava entre o filho e Jodi.

- Brigaram? O que houve entre vocês? Vejo que não saem mais juntos. – disse ela a Tomas, no alojamento dos cavalos.

- Não é nada.

- Se desentenderam?

- Isso acontece entre os irmãos, não? – disse ele, de costas para a mãe.

- Bem, é. Isto acontece. Só achei estranho porque vocês dois se deram bem desde que se conheceram.

- Logo passa.

            Não passou. Duas semanas mais tarde, a situação continuou ruim para ambos. Tomas ainda estava preso à Lídia e Jodi sofria imensamente. Numa noite, quando Jodi tentava dormir, ouviu barulho na sua janela. Alguém estava tentando abri-la. O rapaz ficou paralisado de medo, pensando que se tratava de um bandido, mas logo ouviu um sussurro familiar. Era a voz de Tomas. Jodi sentiu-se aliviado por saber que era Tomas, mas ao mesmo tempo acusou a si próprio pelo erro em não trancar a janela. Tomas abriu a janela e pulou-a.

- Vá embora! – disse Jodi, pondo-se sentado na cama.

- Não vou!

- Vá ou eu grito!

- Não fará isso.

            Jodi repetiu diversas vezes o pedido para que Tomas saísse de seu quarto, mas o rapaz veio até sua cama e abraçou-o. Jodi tentou afastar os braços do outro, mas Tomas manteve-se firme onde estava. Continuou ajoelhado na cama ao lado de Jodi e beijou-o quando pôde. A simples aproximação de Tomas fez Jodi transbordar em lágrimas.

- Está me machucando. – disse o menor. – Não faça isso.

            Enquanto chorava, soluçava e fungava, Jodi foi deitado na cama e recebeu os carinhos e beijos que tanto ansiou em sua vida, mas que agora lhe doía muito receber, pois pensava ele que esta pudesse ser a última vez. Quietinho, e com os olhos em lágrimas, viu Tomas despir a camisa em sua frente. Ganhou um beijo nos lábios. Levou as mãos às costas do outro e permitiu ser despido com toda a suavidade do mundo. Era bom sentir o calor daquele corpo tão perfeito. Ao mesmo tempo em que era bom sentir o quanto Tomas lhe desejava naquela hora. As mãos do mais velho percorreram toda extensão de seu corpo, causando arrepios em Jodi. Cada beijo de Tomas era carregado de ardência. Cada toque, cada carícia. Era como se esta noite fosse a última. Como se ambos soubessem que teriam esta última chance para amar um ao outro.

            Por isso, Jodi largou-se nas mãos de Tomas. Aproximou o corpo do outro com suas mãos e pediu que este tomasse seu corpo e sua alma mais uma vez. Foram minutos de carícias intermináveis até Tomas amar Jodi. O mais novo teve que reprimir todos os gemidos que apertavam sua garganta e desejavam cantar aos ouvidos do seu amante para dizer-lhe que estava gostando. Jodi ficou abraçado a Tomas enquanto era mantido naquele ritmo extasiante. Com os olhos abertos para o nada, sentiu o coração doer em meio àquele mar que o queimava mais que fogo. O mundo pareceu parar naquele momento. Jodi foi levado ao paraíso e voltou mais apaixonado por Tomas. Mais envolvido. Mais ferido.

            Não soltou Tomas quando este derrubou o peso do corpo sobre ele em meio ao cansaço. Podia sentir o suor do outro de encontro ao seu e por isso os corpos se roçaram com mais liberdade. Nenhum dos dois disse qualquer palavra. Tomas moveu o rosto e olhou Jodi nos olhos. Passou a mão pela testa suada de Jodi e beijou-o nos lábios. Mantiveram-se abraçados, entrelaçados, durante todo o resto da noite.

            Na manhã seguinte, tudo parecia o mesmo dentro daquela casa. Jodi não viu Tomas nas primeiras horas do dia. Viu pouco o pai e a mãe. Permaneceu dentro de casa. Não quis sair. Antes das quatro horas, Jodi entrou no quarto e ficou por lá. Um tempo mais tarde, seu pai entrou em seu quarto. Sem dizer-lhe nada, abriu a porta do seu guarda-roupa.

- O que está procurando? – perguntou ao pai.

- Seu tio está aí. Veio lhe buscar.

- Para que?

- Pensei em te deixar na casa dele por um tempo. – disse Nathan, olhando rapidamente para o filho.

            Nathan tirou algumas roupas de Jodi do guarda-roupa e colocou sobre a cama. Depois pegou sua mala de cima do guarda-roupa e começou a guardar suas roupas dentro dela. Jodi observou o pai em silêncio. Quando olhou para seu rosto, viu que sua expressão não era boa. Quando sua primeira mala ficou pronta, Nathan preparou uma segunda mala guardando nela os itens importantes que Jodi ia precisar.

- Ainda não entendi por que estou indo pra casa dele. Você não me perguntou se eu queria ir. – disse Jodi, quando o pai lhe empurrava para fora do quarto.

- Você quer ir?

- Não, na verdade não.

- Desculpe, Jodi, mas não é você a decidir isso agora.

            Jodi ergueu o rosto.

- Como assim?

            O rapaz foi sentindo aflição ao passo que se aproximava da porta da sala (que estava aberta, por isso pôde ver o carro do tio em frente da casa).

- Quero ficar. Gosto do meu tio, mas quero ficar aqui. Gosto daqui.

- Percebi que não está lhe fazendo bem este ambiente, por isso...

- Como assim? Não estou entendendo. Deixe-me ficar.

            Nathan continuou empurrando sua cadeira.

- É melhor que não fique perto de Tomas por um tempo.

- Que? Por que? O que quer dizer?

- Não quero que fique perto de Tomas, Jodi. Por isso vou levá-lo a casa de seu tio.

- Por que? Tomas não me fez nada!

- Sim, fez. Estou sabendo que tipo de amizade estava tendo com ele.

            O coração de Jodi parou momentaneamente.

- Que? Somos só amigos!

- Por favor, não minta pra mim. Isto não vai ajudá-lo agora.

            Quando chegaram à varanda da frente, Jodi segurou as rodas de sua cadeira, fazendo-a parar. Nathan pediu que ele as soltasse, mas Jodi segurou-as com firmeza.

- Por favor, pai, não me mande embora. Deixe-me ficar.

- Não quero que fique. Não quero que se envolva com Tomas.

- Prometo não me envolver. Eu prometo. – disse Jodi, um pouco aflito e desesperado.

- Mais envolvido do que eu fiquei sabendo que se envolveu? – disse seu pai, em tom mais sério. – Não posso crer que vocês se tocaram dessa maneira tão... Não! Não vou deixar você cometer tais erros de novo!

            Nathan tentou empurrar a cadeira de Jodi que já estava perdendo as forças nas mãos. Como Nathan percebeu que não conseguiria empurrar Jodi, pegou-o pelo braço. Foi neste momento em que o rapaz explodiu em desespero.

- Não! Não! Por favor! Quero ficar! Por favor!

            Nathan não lhe ouviu e carregou-o. Quando saíram da varanda, Jodi tentou se soltar das mãos do pai e continuou gritando:

- Não! Não! Por favor!

            Com lágrimas nos olhos, deu berros mais altos:

- TOMAS! TOMAS! ME AJUDE! TOMAS! TOMAS!

            Jodi fez de tudo para soltar-se do pai. E conseguiu. Mas toda vez que era derrubado no chão, Nathan agarrava-o com mais força.

- TOMAS! TOMAS! TOMAS! ME AJUDE! TOMAS!

            Como lutava bravamente, Nathan teve que arrastar o filho num trecho do jardim. Jodi não pensou que tivesse que fazer isso, mas chegou a machucar o pai para que não fosse levado até o carro. Seu desespero foi ainda maior quando o seu tio saiu do carro para ajudar Nathan. Os berros de Jodi foram tão altos e doloridos que alcançaram os ouvidos de Tomas, que estava no canto mais afastado do prado. Como um raio, disparou em direção a Jodi.

            Ivete observou a cena, muito comovida e triste, pela janela. Quando Jodi foi posto dentro do carro após muita luta, seu tio entrou na casa e voltou trazendo suas malas enquanto Nathan mantinha o filho onde estava. Seu tio entrou no carro e, assim que as portas foram trancadas, o carro pôs-se a andar. Naquele momento, Tomas chegou ao jardim da frente e viu o carro partir com Jodi dentro dele. Exclamando um “Não!” prolongado, Tomas correu atrás do carro e correu como nunca antes correu em sua vida. Percorreu a distancia que suas pernas suportaram e entrou em desespero quando não pôde mais seguir o automóvel.

- JODIIIIIIIIIIIIIIIII!!


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