Ele conseguia notar que a cada passo, Minos parecia tremer um pouco mais. Era quase palpável todo o nervosismo que emanava do novato.

Riu baixinho, consigo mesmo.

- O que foi? – A voz dele parecia trêmula.

Parou de andar e o segurou pelo pulso. Quando Minos parou diante de si, ajeitou a gravata dele e sorriu.

- Fique mais calmo, Minos. Já te disse, ninguém aqui morderá você.

Estremeceu. Não mais pelo nervosismo da reunião, mas pela atitude do outro. Sentiu suas bochechas esquentarem, e não pôde dizer muita coisa.

- É... Fácil pra você falar isso, mas não ajuda muito.

Albafica lhe sorriu outra vez. Tinha um sorriso carinhoso, atencioso. O fez sentir as pernas bambearem e o coração dar um salto maior.

- Fique tranqüilo. Vamos, vamos porque estamos quase atrasados.

Ele não disse mais nada. Deixou-se ser conduzido pela mão de Albafica até o elevador que tomaram para chegar ao sexto andar, onde se localizava a sala de reuniões da empresa.

Estranhou o tenso silêncio que pairou no elevador, mas não ousou quebrá-lo.

Recordou-se de seu primeiro dia de trabalho e de todo o nervosismo que sentia. Recolocou-se no lugar de Minos, relacionando esse súbito silêncio ao nervosismo dele.

Quando a porta diante deles se abriu, hesitou brevemente antes de segurar-lhe a mão.

- Mais calmo, amigo. Mais calmo. – Soltou-lhe a mão e seguiu na frente.

Continuou por breves segundos dentro do elevador, hesitante. Observou as longas madeixas azuis de Albafica, bailando a cada passo firme e confiante, e sentiu-se de repente menos apavorado.

Apressou-se, mas ele entrou na sala antes.

Chegou à porta e entrou.

- Bom dia a todos. – Recebeu um coro em resposta, bastante amigável. Sorriu.

Viu Albafica fazer-lhe sinal. Atendeu-o.

Pensou que, talvez, Minos ficasse mais acomodado se ficasse perto de um conhecido. Sentou-se ao lado de uma cadeira vazia, e assim que ele entrou fez-lhe sinal para que a ocupasse.

Ficou estranhamente contente por ele tê-lo atendido.

Apresentou cada um dos presentes a Minos. Estavam ali, todos seus companheiros e amigos, Sísifos, Dégel, o espanhol El Cid e também Asmita.

Todos receberam Minos com exímia educação e belos sorrisos amigáveis. Logo percebeu que Minos já se sentia mais a vontade.

Sendo apresentado a todos, conhecendo cada um, sentiu-se mais calmo – já não estava em meio a estranhos.

Notou que já havia visto muitos dali, mas poucos vira com freqüência. 

Juntou-se a ele e Albafica, sentando-se ao seu lado, Dégel.

Sendo bastante observador, percebeu que este, mesmo participativo da conversa, parecia inquieto, levando sempre seus olhos à porta.

- Algum problema? – Não resistiu em perguntar.

Dégel exibiu-lhe um meio sorriso, mais irritado que tranqüilo, e balançou a cabeça. Albafica riu.

Isso costumava acontecer com certa freqüência desde que um jovem de sobrenome inquietante – Scorpions – chegara à empresa para estagiar. Confiado por Shion à Dégel passou a dar dores de cabeça para este último.

- Ele está atrasado outra vez, Dégel? – Perguntou, rindo.

- Preciso mesmo responder?

Riu. Passou os olhos a Minos e explicou.

- Shion contratou um estagiário, estudante do último ano, e o colocou para ajudar Dégel, como um modo para obter experiência. Acontece que ele só dá dores de cabeça...

Minos acompanhou a graça de Albafica, rindo discretamente. Mas achou estranho que, primeiro, colocassem um estagiário para estagiar com “auxílio” de outro advogado – que agia como um professor, pelo que havia entendido – e, depois, que este mesmo estagiário participasse das reuniões. As coisas não funcionaram com ele dessa forma.

Mas não teve tempo de pensar em qualquer coisa, pois Shion entrou.

- Bom dia, pessoal. – Fez audível sua voz.

Todos responderam, em uníssono, assumindo seus lugares os que estavam de pé e ajeitando-se em suas poltronas os que já estavam sentados.

- Primeiro – Iniciou. – Todos já conhecem o Minos?

Enquanto respondiam afirmativamente, uns explicando que Albafica o havia apresentado a todos, sentiu seu coração parar. Todo o nervosismo que conseguira controlar havia voltado com força exagerada. Sentiu o rosto queimar.

- Bem, seja bem vindo, Minos. É um grande prazer tê-lo junto a nós, como novo membro do time.

Tudo o que conseguiu fazer foi sorrir e agradecer. Suas pernas tremiam. Mas acalmou-se subitamente.

Sentiu que era necessário apaziguar Minos. Alcançou-lhe a mão e a apertou rapidamente, o que julgou suficiente. Pareceu ajudar.

Shion não parecia trazer notícias sobre alterações na empresa, novos casos grandes que costumam dar dores de cabeça, ou qualquer coisa desse modo. Sua expressão dava a impressão de que traria notícias boas.

Ele começou.

- Bom, recebi um e-mail, ontem à tarde, do Sindicato dos Advogados. Eles solicitavam representantes daqui para uma espécie de reunião, onde vocês terão uma série de palestras que, como eles próprios disseram, “ampliarão o conhecimento das áreas de advocacia que exercem”. – Encerrou com uma expressão debochada.

El Cid se manifestou, usando das palavras que pensava em falar.

- Seria, então, uma daquelas reuniõezinhas que fazem para conhecer os advogados da cidade e que, caso a empresa não mande representantes, eles passam a encher o saco...?

Todos riram, inclusive ele próprio. Mas se fosse julgar El Cid baseado em impressões, jamais diria que ele poderia falar isso de forma tão “descontraída”. Surpreendeu-se também quando Shion concordou.

- É, basicamente, isso mesmo. Bom, a questão é: já estou decidido sobre quem mandarei para essa jornada no “Olimpo Hotel-Fazenda”.

Minos pode perceber que todos já estavam familiarizados com essas reuniões, principalmente quando notou o desconforto em que ficaram ao aparecer a possibilidade de serem mandados para o tal hotel.

Aguardou, ansioso como todos os outros, a resposta de Shion.

- Dégel Aquarius irá para auxiliar o faltoso. Quero que Albafica Poison vá para auxiliar nosso novato, Minos Handler. Bem é isso... Os quatro já bastam. Dispensados.

Enquanto Shion se retirava, junto aos outros presentes – muito aliviados – sentiu-se de repente inseguro.

Não gostou muito de ter sido escolhido para ir ao Hotel-Fazenda, mas era por uma boa causa – iria auxiliar Minos.

Olhou-o enquanto este se levantava e o aguardou junto a Dégel, parados à porta.

- Além de aquele irresponsável faltar à reunião, ainda é mandado pra lá, me arrastando junto! – Esbravejava Aquarius.

Riu. Quando Minos se aproximou dos dois, ambos notaram seu nervosismo.

- Fique tranqüilo, Minos. Não é um bicho de sete cabeças... Só é muito chato. – Comentou Dégel.

- Pode até ser legal, mas para um novato confuso e perdido, tudo é um bicho de sete cabeças. – E o comentário dele confirmou sua conclusão do explícito nervoso.

Levou a mão ao ombro dele e sorriu.

- Nós vamos te ajudar. Acalme-se.

Aquela atitude era verdadeiramente consoladora.

Retribuiu ao sorriso, ainda nervoso, mas um pouco mais conformado.

- Bem, agora... Preciso chegar ao departamento criminal. Alguém poderia me ajudar? – Solicitou com voz suave.

Esperava que, por puro acaso do destino, quem sabe, Albafica fosse do departamento em que entrara. Mas ao contrário do que desejava, não foi ele quem lhe sorriu.

- Eu sou deste departamento também. Pode me acompanhar até lá. – Fora Dégel quem lhe ofereceu companhia desta vez.

- Bom, eu também já vou indo. – Comentou o advogado de madeixas azuis. – Nos vemos mais tarde.

E com um aceno polido, despediu-se. Restou-lhe apenas acompanhar Aquarius, que se mostrou uma ótima pessoa.

O destino já tinha brincado de mais com os dois, e desejar que Minos tivesse sido enviado para o departamento ambiental era pedir de mais. Até porque ele próprio dissera que não era pra essa área. Mas o fato de tê-lo conhecido já era por de mais gratificante.

Havia algo naquele homem que o atraia e o fazia querer desvendar a imensidão daqueles olhos bonitos.

E era isso o que ele pretendia fazer.

Sorriu enquanto seguia seu caminho.

(Continua...)