Após a saída de Elena e Stefan, Elisabeth olhou com atenção para Damon. Aparentemente, ele não tinha mudado nada. Ainda tinha o mesmo cabelo negro, os mesmo olhos absurdamente azuis e um sorriso de fazer o mundo de qualquer mulher virar de cabeça pra baixo.

Elisabeth suspirou, fechando os olhos, tentando mudar o rumo de seus pensamentos. Voltou, então, sua atenção para Rose.

“Você parece cansada. A quanto tempo você não come?”

“A uns dois dias” respondeu Rose. “Acho que vou aproveitar e sair pra caçar. Bolsas de sangue não são bem meu estilo” e dizendo isso, saiu.

Incomodada por ficar sozinha com Damon, Elisabeth caminhou pela casa. A estrutura ainda era a mesma. Ainda se lembrava onde ficava cada cômodo. Abrindo a porta lateral, ela saiu para o jardim. Ali também as coisas pareciam paradas no tempo. Até mesmo o banco de madeira, onde costumava passar as tardes trocando segredos com Katherine, ainda estava no mesmo lugar.

Elisabeth respirou fundo, as lembranças inundando-lhe os pensamentos. Ela sentiu a presença de Damon antes mesmo de ouvir seus passos.

“Acho que alguém está tendo um flashback” ela se virou e viu que ele sorria ao seu lado. “Algo especial? Ou talvez... alguém?”

“Talvez eu só esteja imaginando como você ficaria empalado no galho mais alto daquela árvore” ela respondeu, de mau gosto.

“Com roupa ou sem?” O sorriso de Damon agora era aberto, o que irritou ainda mais Elisabeth.

“Você não tem nada melhor pra fazer?”

“Deixa eu pensar... não! E você? Não vai comer também?”

“Eu comi antes de chegar aqui.”

“Tudo bem, entendi. Já veio comida.” Elisabeth lhe fuzilou com o olhar e Damon gargalhou, para em seguida ficar sério de novo. “Posso fazer uma pergunta?”

Elisabeth ergueu uma sobrancelha, surpresa. “Damon Salvatore, pedindo permissão pra fazer alguma coisa? Eu devo estar delirando!”

“Eu só quis ser educado” ele deu de ombros. “Era uma pergunta sobre você”.

“Você pode me fazer quantas perguntas quiser. Se eu vou respondê-las... é uma outra questão totalmente diferente” ela desdenhou. “Mas se você vai perguntar sobre minha transformação, já disse que vou contar pra todos, de uma vez.”

“Na verdade, era sobre a sua vida de humana. Sobre, sabe, nosso casamento.”

Elisabeth lhe fitou, incrédula.

“Damon, você está mesmo tão entediado assim? Porque você não vai tentar seduzir alguma adolescente bobinha e me deixa em paz” ela tentou sair, mas ele lhe impediu, segurando seu braço.

“Eu só queria saber por que seu pai fez tanta questão do nosso casamento. Afinal, eu era um desertor.”

“Porque eu pedi” foi a resposta curta, grossa e sincera.

“Você continua a mesma princesinha na torre de cristal, não é?” ele retrucou no mesmo tom azedo.

“É aí que você se engana. A torre de cristal se quebrou a muito tempo”. Levantando os olhos, ela completou “Ou talvez alguém a tenha quebrado”.

Damon entendeu a indireta “Você me culpa pelo que quer que tenha acontecido com você? Até duas horas atrás eu nem sabia que você estava viva”.

“Você nunca soube que eu estava viva, esse era o problema” ela se desvencilhou e voltou para dentro de casa.

“E o que, exatamente, você quer dizer com isso?”

“Quero dizer que enquanto eu sonhava com casamento e filhos, vocês só ligava pra apostas e mulheres”. Ou pelo menos uma mulher em particular, ela teve vontade de acrescentar, mas se calou.

“Quer saber, Damon? Eu nem acredito que, depois de tanto tempo, nós estamos tendo essa conversa. É ridículo!”

“Eu só fiz uma pergunta. Perguntar não ofende” ele desdenhou.

Eles permaneceram em silêncio até o retorno de Rose. As duas engataram uma conversa agradável, enquanto Damon queria arrancar os olhos de Elisabeth com as unhas. Ela tinha conseguido lhe tirar a paciência.

No momento em que Stefan entrava em casa, seguido por Elena, Jeremy e Caroline, Damon se lembrou de um fato que não dera importância até aquele momento. Esperou Rose se afastar e voltou-se novamente para Elisabeth.

“Você esteve aqui naquele dia, não esteve? No dia da caça aos vampiros. Emily disse que você tinha passado aqui naquela tarde, mas eu fiquei o tempo todo no jardim e não vi você”.

“Talvez você estivesse ocupado com outra coisa.” Ela respondeu e se levantou, indo em direção a lareira.

Foi então que Damon finalmente entendeu. Ela o vira com Katherine. Era tão óbvio. Elisabeth percebeu o momento em que ele assimilou tudo e desviou o olhar.

.”É por isso? Sua raiva da Katherine é porque você nos viu juntos?” ele lhe segurou o pulso, impedindo que ela se movesse. “Pelo que mais, a seu ver, nós também somos culpados?”

“Já que você perguntou, eu também culpo vocês pelo naufrágio do Titanic e pelo furacão Katrina.” Ela tentou se soltar, mas ele segurou ainda mais firme. “Damon, não seja ridículo. Se você quer saber, ela me fez um favor!”

“Favor?” ele se sentiu ofendido.

“Claro. Ela me livrou de casar com um... com um...

“Com um...” Damon atiçou.

“Com você!” Elisabeth sentia a raiva arder em seu peito.

“Mas você só está vendo o seu lado bom. Tem também o lado ruim” Damon disse se aproximando dela, até que o espaço entre os dois fosse mínimo, seus rostos quase colados.

Quando ele falou, sua voz não era mais que um sussurro. “Tenha certeza que você teria aproveitado muito o que eu tinha pra lhe oferecer. Você disse que sonhava com filhos, então é claro que você sabe como eles são feitos. Com tudo que aprendi com Katherine, eu ia fazer a princesinha esquecer o príncipe encantado e só querer saber do lobo mau.” Ele olhou pra ela e passou a ponta da língua nos lábios, não deixando qualquer dúvida sobre do que ele falava.

“È por isso que você tem ódio de mim? E da Katherine? Porque ela traiu a sua confiança? Porque ela passou a princesinha pra trás?” Ele a sacudiu e a olhou nos olhos. “Porque ele brincou com o seu brinquedinho exclusivo antes de você?”

“Porque ela matou os meus pais!”

Damon finalmente a soltou.