PERDA

Liz, Damon e Bonnie deixaram a tumba em silêncio. Ao encontrarem com Alaric e Caroline, apenas acenaram com a cabeça. Não havia o que ser dito. Nada precisava ser dito.

Se na ida, apenas Alaric e Bonnie haviam feito uso do carro, no retorno à mansão todos aproveitaram o conforto do veículo para se recompor. Alaric dirigia concentrado, enquanto Bonnie, ao seu lado, apertava o diário de Emily junto ao peito, perdida em seus próprios pensamentos.

Liz, Caroline e Damon dividiam o banco de trás. A loira se encostara no vidro da janela e fechara os olhos. Parecia querer dormir. Liz olhava para o bosque que cercava a rodovia como se aquela fosse a visão do paraíso. Mas Damon podia ver além daqueles olhos contemplativos. Sabia que ela se culpava pelo que tinha ocorrido com Rose.

Com um suspiro, Damon passou a braço em torno dos ombros de Liz. Ela não protestou, se deixou abraçar. Ele a puxou para mais perto e ela descansou a cabeça em seu peito. Damon observou o olhar desconfiado de Bonnie e o sorrisinho satisfeito de Alaric pelo retrovisor. Não se importou. Estava cansado demais pra isso.

Depois de deixar Bonnie e Caroline em casa, Alaric seguiu rumo à mansão. Ele não implicou com o fato de bancar o motorista, pois não queria estragar o momento entre os dois vampiros no banco traseiro. Liz parecia arrasada e Damon... bom, era a primeira vez que via Damon demonstrar alguma preocupação com alguém que não era ele mesmo.

Ao chegarem, ele estacionou e os três saíram, ainda sem pronunciar uma palavra. Liz havia se desvencilhado de Damon, e caminhava de cabeça baixa. Ainda segurava a selenita em uma das mãos. Ao entrarem, depararam-se com os olhos ansiosos de Stefan, Elena e Jeremy. Tyler já tinha ido embora.

“O que aconteceu?” Elena estava aflita. “Cadê a Bonnie? E a Caroline?”

“Em casa.” Respondeu Alaric. “Eu as deixei no caminho pra cá. O que me lembra que tenho que levar você e seu irmão de volta, ou Jenna vai por nós três de castigo!”

“E a Rose?” Stefan perguntou para Damon, que viu Liz se encolher em um canto.

“Ela entrou na tumba e Katherine a matou.” Damon decidiu contar a verdade nua e crua. Não era bonita, mas era simples.

Elena abafou uma exclamação de surpresa com a mão, enquanto Jeremy soltou um palavrão. Stefan puxou Damon para um canto e perguntou, olhando para Elisabeth.

“Ela está bem?”

“Ela pode ouvir você.” Liz levantou a cabeça e apontou em direção ao ouvido. “Super audição, esqueceu?”

“Foi mal.” Stefan se aproximou dela. “Não queria te aborrecer.”

“Não aborreceu.” Ela deu de ombros, mas ele, mesmo assim, lhe deu um abraço carinhoso. Ela aceitou o agrado, mas logo se livrou dele. Se ficasse mais tempo presa em seus braços, choraria.

“O mais importante” ela ressaltou “é que conseguimos pegar a selenita. Amanhã começaremos a preparar a segunda fase da operação. É melhor descansarmos.”

“Ela tem razão.” Alaric concordou. “Vamos, crianças. Amanhã vocês podem conversar sobre todos os detalhes do que aconteceu, mas hoje é melhor irmos.”

Eles assentiram e Elena indagou Stefan na saída. “Você vem com a gente?”

Ele sorriu e lhe acariciou o rosto. Liz sentiu uma pontada de inveja ao ver a cena. Era evidente que eles se amavam muito. Tanto que, nem mesmo as maldades de Katherine poderiam separá-los.

“Eu vou tomar um banho e te encontro logo.” Ele lhe beijou levemente os lábios. “Não esquece de deixar a janela aberta, ok?”

“Pode deixar, Edward!” ela lhe beijou novamente e os três se foram.

Elisabeth esperou que eles saíssem e entregou a pedra para Stefan. “Quando você for pra casa da Elena, quero que você a esconda lá.”

“E porque não aqui?” Damon implicou, pouco se importando com a pedra. Chateara-se com o fato de ela confiá-la a Stefan, e não a ele.

“Por que aqui não mora nenhum humano. O que significa que qualquer vampiro pode entrar e pegar. Lá ela vai estar mais segura.”

“Pode deixar” Stefan sorriu. “Eu vou guardá-la num local seguro.”

Liz assentiu, sentindo o corpo pesado e enfraquecido. Tinha se desgastado demais. Como vampira, como bruxa, como tudo!

Ela se sentou em uma poltrona e respirou fundo. Estava suja, com fome, cansada e triste. Mas sua missão ali ainda não tinha acabado.

“Será que vocês podem me dar mais uma aquelas bolsas de sangue?” ela perguntou. Alimentaria a vampira primeiro. Não conseguiria forças pra mastigar nada sólido.

“Vou pegar pra você!” Damon logo desapareceu casa adentro.

Stefan se sentou ao seu lado, e olhou pra Elisabeth. “Você não quer tomar banho primeiro, trocar de roupa? A Elena sempre deixa uns vestidos por aqui, você pode pegar um emprestado.”

Liz lhe olhou com afeto. Imaginou que, se Katherine não tivesse matado seu irmão, o pequeno David poderia ter se tornado um homem amável e belo assim como Stefan. Ou ele seria sexy e atrevido, como Damon? Perdida em pensamentos, levou um tempo para ela perceber que ele ainda esperava sua resposta.

“Claro. Um banho seria ótimo.” Ela afirmou, sincera.

“Então você pode usar o banheiro do meu quarto.” Liz se assustou ao ouvir a voz de Damon. Será que ele voltara mesmo rápido, ou ela é que passara tempo demais sonhando acordada?

“Não me olha assim, Elisabeth. Eu não vou te atacar lá dentro. Mas lá o banheiro é maior e tem água quente. O Stefan só toma banho frio.”

Ela passou o olhar pelos irmãos. Apesar de tudo, eles eram parecidos. Decididos, geniosos, e completamente encantadores. Sorriu e voltou-se para Stefan.

“Obrigada. Eu vou usar o banheiro do Damon. Além disso, se você demorar muito, a Elena vai acabar trancando a janela.”

“Eu deveria me sentir ofendido, já que eu ofereci primeiro” Stefan falou humorado “mas é a mais pura verdade. A Elena detesta esperar!” ele levantou e lhe deu um beijo carinhoso na testa. Liz ouviu um som rouco, parecido com um grunhido. “Será que o Tyler voltou?”

Stefan riu com tanta vontade que jogou a cabeça pra trás. Depois olhou pro irmão com cara zombadora. Será que...? Pelo menos sabia que, desta vez, a história não se repetiria. “Se precisa de alguma coisa, é só pedir, ok?” ele disse por sobre o ombro para Elisabeth, enquanto subia as escadas.

Damon aproximou-se de Liz e entregou-lhe a bolsa de sangue. Ela levantou-se e os olhos dos dois se encontraram.

“Você se importa se eu...?”

“Pode ir tomar seu banho. Eu espero.”

“Obrigada, Damon.” Num impulso, ela ergueu-se na ponta dos pés e lhe deu um beijo no rosto. Depois, com a bolsa nas mãos, correu para o quarto, deixando pra trás um Damon completamente surpreso, mas que ostentava um sorriso aberto nos lábios.