Se eu dissesse que não vou sentir falta desse lugar, estaria mentindo.

– Onee-chan... - o pequeno oni olhava para mim, parecia estar prestes a chorar – Você vai mesmo partir? Nunca mais vai voltar?

– Nunca? Isso seria tempo demais, não? Eu volto, certamente um dia vou voltar! Até lá se comporte, viu? Não de trabalho para a sua mãe!

Naoki sorriu um pouco. Logo sua mãe, Tomoko, lançou-me um olhar de preocupação.

– Eu...ainda não acredito que você vai mesmo embora... - disse ela - pensei que ficaria sempre aqui. Estou mesmo triste com isso.

– Eu sei...eu pretendia ficar. Mas agora vejo que não seria feliz aqui.

– Espero que seja feliz nesse lugar que está indo. E não esqueça de visitar seu amigos, certo? - na última parte ela sorriu um pouco, ainda que o sentimento de tristeza prevalecesse.

– Obrigada Tomoko-san! Você realmente é uma amiga importante para mim. Sempre que puder, venho visitá-la!

Afinal, se não fosse por Kazama-san talvez tivesse sido morta àquela noite, quando saí do Shinsengumi. Eu estava perdida, estava sozinha, não tinha para onde ir quando ele me estendeu a mão.

E me aceitou até mesmo da forma que eu estava. Eu sempre seria grata a ele.

Seria grata também a Tomoko, por ter cuidado de mim e ter ficado ao meu lado. Ela poderia ser como todas as outras criadas... porém, no final acabou se tornando uma grande amiga.

Mas agora eu tinha mesmo que partir. Eu não seria feliz ao lado de Kazama-san, não era ele que eu amava. E acreditava ainda que ele e Osen-chan pudessem ser felizes. Ainda que não se amassem ,talvez pudessem começar a se amar com a convivência. Acredito que eles ainda tenham muito o que conversar.

– Vamos! Temos que ir agora... - disse Kimigiku-san.

Eu estava partindo. Deixava a mansão de Kazama-san depois de muito tempo. De longe, Tomoko-san, Amagiri-san e todos os outros empregados que haviam cuidado de mim naquela mansão estavam acenando.

Em uma das janelas via Osen-chan. Ao seu lado estava Kazama-san. Ela não parecia tão feliz com o novo trato que haviam feito, mesmo assim parecia conformada.

– Você era muito querida naquele lugar, não é? - voltei minha atenção para Kimigiku-san. Ela me levaria de volta a mansão de Osen-chan e ficaria lá até decidir onde iria morar mesmo.

– Sim. Foram tempos difíceis, mesmo assim não foi ruim ficar na mansão. E todos me ajudaram muito.

–Entendo...

Meu filho também iria comigo. A viagem talvez fosse um pouco longa para ele, que dormia tranquilamente no momento. Chegaríamos na mansão em algumas horas, se tudo desse certo.

Mas algo ainda me atormentava...

“Achei que você talvez quisesse saber...” -Kazama-san sorria para mim, como de costume - “Aquele humano inútil que você tanto gosta ainda está vivo”

“O que?!”

“Não espere que eu vá dizer onde, mas se partir hoje, talvez encontre seu corpo perdido em alguma parte do caminho”

Antes de sair, era isso que Kazama-san havia me dito. Logo Osen-chan entrou no quarto e ele não disse mais nada. Não sabia se o que ele havia dito era verdade ou não, se seria apenas para me incomodar. Ainda lembrava de quando ele disse que Hijikata-san estava morto...ele estava mentindo, então?

– Kimigiku-san, pode ir na frente?

–Como?

– Leve meu filho em segurança até a mansão. Eu ainda lembro do caminho, até o final do dia consigo chegar sozinha. Só preciso fazer um pequeno desvio, há algo que preciso fazer.

– Eu cumpro ordens. E não posso deixá-la simplesmente sozinha e ir com a criança.

– Por favor! Estou com minha espada, posso muito bem me defender se algo acontecer! Só peço para que leve meu filho e logo, quando terminar o que tiver que fazer, eu sigo para a mansão! Não posso dizer o motivo agora, mas antes do final da tarde vou estar lá!

– Você tem três horas, apenas isso. Se não quiser me trazer transtornos se apresse. Se se atrasar um minuto, irei pessoalmente buscá-la e será repreendida.

– Entendo!Muito obrigada, Kimigiku-san!!

Fui correndo na direção oposta. Tinha pouco tempo. Pelo que me lembrava, aquele lugar ficava naquela direção, não era tão longe. Talvez desse para chegar a tempo.

Capítulo 21: Doce sonho.

Era outono. As folhas secas caiam, cobrindo todo o chão. Antes verde e gramado, agora estava laranja e marrom.

Eu gostava dessa época. Não era tão quente quanto o verão, nem tão fria quanto o inverno. O único problema era ter que varrer aquele pátio todos os dias. Por mais que varresse e tentasse juntar todas as folhas num monte, o vento sempre conseguia espalhar as folhas. E também tinha Kaoru, ele gostava de brincar com elas.

Tinha bastante trabalho a fazer então. Suspirei e continuei varrendo. Estava tão concentrada no que fazia que só percebi que alguém tinha chegado quando fui chamada.

– Ora, Chizuru-chan? Há quanto tempo!

Desviei a atenção das folhas para a pessoa que acabava de chegar. Realmente, fazia alguns meses que não a via. Mesmo assim ela sempre me mandava notícias, mesmo que fosse através de cartas.

– Osen-chan! - sorri e deixei um pouco as folhas de lado – vamos, entre! Vou preparar um chá!

–Ah, sim! Obrigada!

Osen-chan...ela havia mudado um pouco desde a última vez que a vi. Agora estava com o cabelo curto. Era um pouco diferente, mas havia ficado bem assim.

– Hoje minha filha também veio! É raro conseguir tirá-la de casa! Eu disse que aqui morava uma pessoa com quem ela poderia brincar!

– Sua filha? -só então percebi uma pequena garota loira e de olhos vermelhos, bem parecida mesmo com Kazama-san, escondendo-se atrás da mãe.

– Vamos, não seja mal educada! Cumprimente a Chizuru-chan!

– O-Oi... -disse tímida a garota, ainda segurando o quimono de Osen-chan.

– Ela também cresceu. Acho que da última vez que a vi ela ainda era um bebê!

– É mesmo... agora ela já tem oito anos... como o tempo passa rápido...

Os anos haviam se passado, mas por dentro Osen-chan continuava a mesma. Havia se casado e de alguma forma estava se dando bem com Kazama-san. Isso me deixava feliz, parecia que de alguma forma ela havia encontrado sua felicidade.

Sempre que podia ela me visitava. Como eu morava numa casa isolada e um pouco distante do centro, não era comum receber visitas.

Osen-chan sempre me trazia notícias de como estavam todos na mansão. Da última vez soube que Tomoko estava junto com Amagiri e que o filho dela já havia crescido bastante. Tomoko também dizia que sentia saudades e que quando pudesse era para visitá-la.

Não só ela, todos do Shinsengumi também estavam bem. Havia recebido notícias de Nagakura-san recentemente. Ele tinha escrito um livro sobre as memórias do Shinsengumi depois que o governo perdoou a todos.

Harada-san , que havia me visitado semanada passada, havia me surpreendido quando disse que tinha se casado. Eu ainda não tinha conhecido sua esposa, ele prometeu trazê-la na próxima visita.

Mas o primeiro de todos a se casar foi Saitou-san. Sua esposa, que eu havia visto apenas uma vez, parecia ser bem gentil.

Heisuke-kun havia se tornado um bom sensei. Eu esperava que ele viesse me visitar em breve.

E Okita-san...bem, apesar de não ter encontrado a cura para sua doença, encontrou um bom tratamento. Dessa forma, ele conseguiria prolongar um pouco sua vida. As vezes ele vinha me visitar e brincava bastante com Kaoru.

– Mas, então...Chizuru-chan, como tem passado?

– Vou muito bem, apesar de ter o dobro de trabalho com o jardim nessa época do ano.

– É...percebo...mas não se sente sozinha?

– Claro que não! Mesmo que a casa seja isolada da cidade, tenho meu filho e Hijikata-san para me fazerem companhia.

– É mesmo! E onde está Kaoru?! Aposto que ele cresceu bastante!

– Sim! Vou só chamá-lo...

Mesmo que eu gritasse, Kaoru ainda demorou um pouco para aparecer. Parecia um tanto aborrecido.

– Okaa-san...por que está gritando tanto? Eu já ouvi...

– Temos visita hoje! Osen-chan trouxe a filha dela pra brincar com você!

Kaoru então observou curioso a garota. Ela no começo não conseguia desgrudar da mãe, mas pouco tempo depois se aproximou para conversar com ele. Algum tempo depois estavam brincando com o monte de folhas secas que eu havia juntado e pareciam melhores amigos.

Sim...já vi que vou ter trabalho mais tarde...

– Kaoru é mesmo parecido com o pai.

– Só a aparência mesmo, apesar de falar as vezes como Hijikata-san...

– Mesmo? Para mim ele é como o pai, só que em miniatura!

– Mas tem uma coisa que ele certamente puxou mais a mim...

– O que?

– A forma de sorrir. Diferente do pai, Kaoru sorri o tempo todo, é bem alegre...Hijikata-san vive emburrado...

– Eu não estou sempre emburrado.

Levei um susto. Logo Hijikata-san apareceu na sala.

– Estavam mesmo falando de mim...

– Ora, há quanto tempo, não? - Osen-chan o cumprimentou. Eu resolvi ficar quieta.

Hijikata-san se juntou a nós. Ficamos bebendo chá e observando o jardim e as crianças brincando.

Era como se tudo aquilo fosse um sonho. Eu estava tão feliz. Todos estavam bem, eu estava ao lado do homem que amava, tinha um filho lindo. Eu não precisava de nada além disso.

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Até que uma última ideia apareceu em minha mente. Seria minha última esperança, ainda havia aquele lugar importante que eu não tinha visitado. E este era...o pátio de Sakura.

Finalmente cheguei. Cruzei rapidamente o pátio, sendo rodeada pelas pétalas enquanto lembrava de todos os momentos que havíamos passado juntos...

Não, não...isso não podia terminar assim, dessa forma...eu não aceitaria isso.

Pois naquele momento em que o vi, vivo, repousando debaixo da maior árvore que ficava no final do pátio...prometi a mim mesma que faria o possível para essa nossa história desse certo, para que a felicidade não fugisse novamente. Eu lutaria até o fim para que pudéssemos ficar juntos, para que fossemos felizes. E faria o possível para que aquele doce sonho não acabasse.