Wilson estava andando pela seção de enlatados.

Seus olhos percorriam as prateleiras com grande tranqüilidade. Era bom estar finalmente encerrando aquela estúpida briga com o House. Mesmo que ele achasse aquilo ridículo, não daria seu braço á torcer. Não de novo.

Estava cansado do House se aproveitando dele, e não permitiria que continuasse assim sem o troco.

Mas... Ao menos agora estava tudo bem.

House iria pagar as multas. Ou pelo menos ajudar. É mais do que ele realmente esperava.

- Acho que as pessoas mudam... – Murmurou Wilson consigo mesmo.

O oncologista esticou a mão para pegar uma lata de molho de tomate, quando uma voz soou em sua mente.

- People don’t change. – A frase que House sempre dizia. Wilson estreitou os olhos. Será que era verdade? House poderia estar só brincando com ele. Poderia estar bolando um plano para ferrá-la naquele exato momento, enquanto ele procurava inocentemente por uma lata de molho.

- Não... Isso é paranóia. – Negou Wilson rindo, só que parou ao ouvir um barulho.

O corredor estava vazio. No começo dele um homem moreno de camisa preta encostou-se descontraidamente e pegou seu celular.

Normal, pensou Wilson, mas quando o homem abriu a boca para falar no celular, ele notou que algo estranho estava acontecendo.

- Sim. Sim... Estou vendo. – Disse o homem com uma voz grossa – Ele está na minha mira.

Wilson franziu o cenho, mas negou com a cabeça.

Não... Não era ele. Por que seria?

O médico pegou a primeira lata de molho que viu na frente e passou para a seção de congelados. Tinham várias pessoas andando de um lado para o outro com carrinhos de compras, mas ele pode ouvir...

- Estou vendo ele novamente. – Disse o homem ao celular – O suspeito está vestindo um casaco marrom.

Wilson sentiu seu corpo ficar tenso.

- Não... Casaco marrom não. Ele deve ter dito errado. – Pensou Wilson tenso e rindo um pouco consigo mesmo.

- Casaco marrom. Mar-rom. – Repetiu o homem – É. O cara de cabelo escuro com casaco marrom. Caucasiano.

Algumas pessoas pararam para olhar para Wilson, mas o homem do celular não parecia ter notado isso. Wilson apertou as mãos nos bolsos com medo.

O que era aquilo?! Será que aquele cara trabalhava para a polícia?! Será que a polícia estava atrás dele?! Wilson não conseguia acreditar.

Nervoso e tenso, ele virou-se para pegar logo o que faltava e ir embora. House estava no carro, o que facilitava tudo. Ele podia sair correndo, entrar no carro e pisar fundo para casa.

Fugir da polícia... Que loucura, pensou ele. O que você virou agora? Um adolescente irresponsável? Ou... O House?! Só o House faria uma loucura dessas.

- Tsc. Ele pode nem mesmo estar falando de mim. Ele pode nem mesmo ser da polícia. – Pensou Wilson pegando um pouco de queixo.

- O que ele está fazendo? Ah, ele está pegando queijo. – Respondeu o homem ao celular.

Wilson gelou.

Era com ele. Ele sabia disso.

O médico pode notar as pessoas olharem para ele com medo, e se afastarem aos poucos, pensando que se tratava de algum assaltante.

O homem continuava falando no celular, e observando Wilson de perto.

- Não... Não podem em pegar. – Pensou ele nervoso – São multas de transito. Malditas multas de trânsito! Vou ser preso por causa disso?!

Wilson deixou o queijo no lugar que estava e saiu andando calmamente em direção á saída do supermercado. O homem o seguia, e ele podia sentir isso.

Seus passos ecoavam no corredor, o que o fez ficar tenso.

Estava sendo perseguido. Seria preso. Teria que pagar uma fortuna para sair da cadeia. E aquele policial não deixaria isso sair barato dessa vez. Sabia muito bem que ele era amigo do House, e faria de tudo para infernizar a sua vida.

Wilson teria que ficar na pior cela da cadeia, sendo intimidado por presidiários fortões que quebrariam todos os ossos dele. Isso era péssimo. Uma droga.

- Não! – Exclamou ele nervoso de repente. Wilson saiu correndo em desespero, e o homem seguiu.

O oncologista derrubou uma pilha de latas de sardinhas no chão, dificultando a passagem do homem estranho.

Alguns atendentes do supermercado (que tinham no máximo 17 anos) olharam assustados para a cena, mas não falaram nada. Wilson saiu correndo pela porta e olhou para seu carro parado.

House estava lá dentro, e esperava pacientemente.

- House! – Berrou Wilson tenso – Abre a porta! Abre a porta!

- Uhm? – Perguntou House destravando as portas do carro. Wilson jogou-se no banco do motorista, e pegou as chaves. Suas mãos estavam trêmulas, o que fez ele deixar as chaves caírem no chão – O que houve?

- Tem um cara me perseguindo! Vão me prender. Droga... – Respondeu Wilson ligando o carro.

- Acha que ele é da polícia? – Perguntou House ligeiramente tenso.

- Eu... Não sei. – Respondeu Wilson saindo o mais rápido que conseguia do estacionamento. Se Wilson estivesse mais calmo, ele notaria que House estava se controlando para não rir.

- O que aconteceu com ele? Acha que ele vai nos seguir? – Perguntou.

- Não sei. Eu joguei sardinhas. – Respondeu Wilson focado na rua.

- Jogou... Sardinhas nele? – House franziu o cenho – Ah, claro. Faria a mesma coisa.

- Tinha uma pilha de sardinhas e eu joguei no chão para impedir que ele me alcançasse. – Explicou ainda tenso e olhando para trás, checando se não estava sendo seguido.

- Você é realmente um mestre no escape. – Comentou House um tanto sarcástico.

- E se eu for preso? Será que foi pelas multas?! A culpa é sua, House! – Exclamou Wilson tenso.

House ia falar alguma coisa quando notou algo. Wilson estava tão nervoso que acelerava demais o carro. O nós de seus dedos estavam vermelhos de tanto apertar o volante.

- Wilson... Vai devagar. – Disse House olhando para a rua.

- Não! Não vou devagar! – Exclamou Wilson.

- Se não for devagar, vamos acabar batendo. – Falou House calmamente – Diminuiu a velocidade.

- Não! Eles não podem me pegar! – Exclamou Wilson pisando mais fundo ainda.

- Wilson! – Berrou House agarrando o seu próprio assento com força, ao ver que Wilson desviara bruscamente de um carro.

- Ele está me seguindo?! Está?! – Perguntou ele nervoso.

- Não tem ninguém te seguindo. – Respondeu House.

- A polícia...! – Wilson ia acelerar mais ainda, quando House resolveu acabar com aquilo de uma vez.

- Foi uma pegadinha! – Berrou ele. Wilson franziu o cenho.

- Não foi não! Ele... Ele estava me seguindo! – Exclamou ele negando.

- Por que eu dei vinte dólares para ele fazer isso! – Exclamou House.

Wilson jogou o carro no acostamento da estrada na qual estava, e os pneus derraparam. Quando o carro finalmente parou, o oncologista precisou de alguns minutos para pensar direito.

- Espera... Você fez isso para me sacanear? – Perguntou ele.

- Uhm... Falando desse jeito parece até uma coisa ruim. – Comentou House – Mas sim. Pode-se entender desse jeito.

- Eu não acredito que...! – Wilson foi interrompido.

- Você realmente acreditou naquela historinha de “está tudo bem” e “vamos comer pizza e ver os caminhões monstro”? – Perguntou House. Wilson estreitou os olhos para ele com raiva.

- House! – Berrou ele.

- Mas não estou dizendo que a polícia não está atrás de você. Afinal... – House pegou a lata de molho de tomate do colo do Wilson – Você roubou essa lata, não é?

Wilson trincou os dentes e respirou fundo.

- Eu odeio você. – Disse ele – Não pense que vou deixar isso passar.

- E aqui vamos nós de novo. – Disse House rindo.