Opera Paris escrita por Lauren Reynolds, Jéh Paixão


Capítulo 33
Capítulo 31 - Revelátion




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Capítulo 31 – Revelatión

Depois de uma longa semana terminando de tirar os restos de entulho que havia em frente ao que um dia fora o Teatro de Paris, as pessoas começaram a pensar que talvez devessem recomeçar suas vidas, esquecendo-se das histórias que rondavam aquele sombrio e contagiante lugar. O teatro estava, estruturalmente falando, intacto; porém quase tudo em seu interior fora destruído pelo fogo e só algumas coisas conseguiram ser salvas.

- É tão triste! – Disse monsieur Charlie, quando olhava para o teatro pela última vez. Pois depois de sua estada naquela cidade, a única coisa em que queria pensar, era que agora ele não tinha mais nada, além de um punhado de dinheiro que sobrara do teatro e de sua pequenina fortuna. A mesma coisa acontecia com Monsieur Phillip, que pretendia viajar e esquecer a França por algum tempo.

- O teatro será reconstruído e as obras que puderem ser recuperadas, serão restauradas. Mandei que colocassem novas molduras em todas e a nova galeria será deslumbrante. – Um intendente de arte, designado pelo próprio imperador Napoleão III, dizia para os dois homens. – E quanto ao quadro das três bailarinas?

- Monsieur... – Madame Renée interrompeu-o. – Posso lhe pedir um favor? Para o teatro, é claro...

- Oui, Madame, o que deseja? – O intendente de artes perguntou.

- Quando terminar a pintura do retrato das minhas meninas, pinte este e coloque no centro, ao lado do retrato delas. – Madame Renée entregou um tubo, onde havia um pedaço de lona enrolado. O intendente abriu e observou a figura.

No retrato pintado que a Madame entregou a ele, estavam Isabella e o Fantasma. O retrato fora feito durante aquela última semana, por alguém do teatro, enquanto os dois se apresentavam. Na figura, Isabella trajava o corpete negro e a saia dourada, ao seu lado estava o Fantasma e sua negra máscara, passando suas mãos pela cintura fina da bailarina.

- Por favor, retrate isto. É a história do teatro, é a história da bailarina. – Renée quase que implorava.

- Eu o farei, Madame. Tem minha palavra. Em um mês terá este retrato. Ao final da segunda semana a partir de hoje, terá o grande retrato delas.

- Um belo quadro... – Charlie comentou. – Pena que terminou de forma trágica.

- Oui, ele realmente foi alguém bom para ela. Espero que a senhorita Swan, onde quer que ela esteja, esteja sorrindo e feliz. – Disse Phillip.

Madame Renée sentia por ter que esconder de todos que sabia do que realmente estava acontecendo. Todo o plano fora arquitetado meses antes daquela última apresentação, mas o final trágico nunca fora pensado pelo Conde, aquilo, fora obra dela, de Isabella e Monsieur Fontaine. Mas mesmo assim, no fundo de seu coração, sentia que era aquilo que eles precisavam, de um fim, para só então poderem recomeçar.

Renée arrastou seu vestido negro, que simbolizava o luto pelo teatro de Paris e pelo fim da carreira de suas meninas, até a casa amarela de Alice, no centro da cidade. Os portões estavam entreabertos e um ou outro criado entrava e saía. Renée entrou no lugar, lindamente mobiliado por Alice, Bella e Rosalie, admirando e imaginando como seria bom tê-las por perto. Mas ela sabia que isso não iria acontecer tão cedo.

Quando estava andando pela casa, uma das empregadas lhe entregou uma carta. Renée sorriu e abriu-a:

“Má cherry Madame Renée,

O céu nunca brilhou tanto quanto brilha agora, o campo nunca foi tão agradável como agora o é, e eu nunca estive tão feliz como estou agora. Talvez forjar essas mentiras para toda uma sociedade não fosse a melhor saída, mas deu certo e, ao que parece, foi a melhor escolha que tomara. Logo após o espetáculo dramático nas catacumbas do teatro, senti que meu corpo iria despedaçar ao ouvir os gritos de dor de Edward... E acredite, ainda consigo ouvi-los, porém, hoje, posso dizer que todo meu passado morreu junto com aquela Isabella. Hoje, só o que fica são as lembranças de uma vida sombria e apaixonante que vivi naquele teatro.

Alice e Rosalie, bem como os Condes, mandam lembranças. E, a propósito, é sobre este assunto que quero tratar com a senhora. Presumo que agora a senhora esteja na casa de Alice, enquanto lê esta carta... Pois é o desejo de Alice que cuide de nossas coisas e que viva num lugar bom e com a dignidade que merece, depois de tempos no Opera Paris. Espero que seja feliz.

Não sei se irei mais vê-la, mas espero que um dia possamos nos encontrar. Agradeço a tudo o que a senhora fez por mim em todos esses anos e hoje, tenha certeza que serei uma pessoa muito melhor do que fui. Aprendi com meus erros e aprendo com alguém que me ama profundamente.

Assinado,

Bella.”

Renée enxugou suas lágrimas quando abaixou a mão trêmula. A realidade lhe abordara de uma forma tão avassaladora, que ela deu-se conta de tudo o que havia acontecido ali, naquele momento, lendo as palavras de Isabella. Ela deixou seu corpo cair sobre uma poltrona vermelha fofa, apoiou a cabeça no encosto e deixou suas lembranças tomarem conta de seu corpo.

- Sra. Dwyer. – Alguém interrompeu-lhe. – Um cocheiro deseja falar com a senhora.

(...)

No centro da cidade de Paris, tudo estava parcialmente calmo. Embora os comunas tivessem feito algazarras que não deixaram boa parte da população dormir a noite, o dia fora diferente. Os burburinhos continuavam apenas nos arredores do palácio do imperador, onde os burgueses e comunas nobres reuniam-se para decidir quem seria o novo governante, uma vez que Napoleão III havia fugido com sua família.

Porém, havia uma agitação no ar. Era na antiga casa de Alice. Várias carruagens e cocheiros já estavam a postos, terminando as amarras de diversas bagagens, junto a homens contratados para o serviço, enquanto algumas pessoas saíam de dentro da casa.

- Espero que esteja tudo fechado. – Renée murmurou.

- Madame, está sim. Eu mesma conferi, assim como os móveis. – Uma das criadas disse-lhes.

- Bem, a vocês, - Ela dirigia a palavra a outros três criados, que foram os únicos que sobraram na propriedade. – espero que o que foi lhes dado seja suficiente. Os senhores tem o endereço e sabem que não devem permanecer em Paris.

- Obrigada por tudo, Madame. Agradeça a senhorita Alice por todos esses anos. Esperamos atender ao Duque e sua jovem esposa o quão melhor pudermos. – O mais velho deles disse-lhes. – Passar bem. Adeus.

Os três empregados restantes da casa de Alice Brandon foram designados por ela mesma, para que trabalhassem para o Duque e Victoria, que casar-se-iam em breve, numa cerimônia íntima. O casal, quando fosse para o novo mundo, precisaria de empregados de confiança e Alice tinha as pessoas perfeitas.

Aos poucos, cada carruagem foi sendo preenchida. Renée e sua criada em uma delas. O Duque e Victoria em outra, seguida por mais uma carruagem, sendo esta a dos criados. Logo atrás, iriam Jeane Paquin, Charlotte Chanel e suas duas damas. As carruagens seguiriam para Le Havre, porém com caminhos diferentes e chegariam com cerca de uma hora de diferença na propriedade Swan. Porém, de todos, os únicos que permaneceriam em Paris, seriam Jeane Paquin, Charlotte Chanel e suas duas damas. E todo o resto não viria mais a cidade por muitos anos.

Entretanto, o que o Duque, ou qualquer um deles não sabia, era que a saída de Paris era a melhor escolha que haviam feito, pois a comuna tornar-se-ia uma guerra, onde tropas alemãs invadiriam as ruas de várias cidades francesas que ficavam nos arredores de Paris, e essas mesmas tropas só desocupariam a cidade no ano de 1873.

(...)

Após o pôr-do-sol, uma carruagem rococó adentrou a propriedade e seguiu até a entrada da frente, próxima a porta principal da casa. Dela, saíram três pessoas, que foram imediatamente recebidas por Madeline e Gerárd, os convidados eram Anita, Mikhail e Nicolai.

- Sejam bem vindos! – Gerárd sorriu ao vê-los.

- Então esta é a propriedade da senhorita Swan. Como ela está, Gerárd? – Anita perguntou, recebendo um beijo na mão.

- A senhorita Bella está incrivelmente bem, recuperando-se dos últimos acontecimentos, como devem ter ficado sabendo. – ele informou-os. – Vamos, entrem, estão todos reunidos na sala de estar.

Mikhail, trajando calças de linho escuro e uma camisa de algodão, caminhava ao lado de Anita, que arrastava seu vestido longo, de tecidos leves e esvoaçantes para dentro da casa. Os cabelos dela eram escuros e estavam presos num coque baixo, similar ao coque que bailarinas costumavam usar.

Alice, que estava sentada ao lado de Bella, enquanto entrelaçavam fitas, em alguma brincadeira que somente elas sabiam o significado, levantou-se para cumprimentar os novos visitantes. Bella levantou-se em seguida e sorriu ao ver Anita, embora não a conhecesse muito.

- Seja bem vinda, mademoiselle! – Bella cumprimentou-os. – Madeline já mandou que ajeitassem dois quartos de hóspedes. Espero que se sintam a vontade. – Ela disse-lhes, de forma polida.

- Fico muito feliz que esteja bem, Bella. Nós ficamos sabendo de tudo o que houve. – Nicolai sorriu e abraçou-lhe, Anita fez o mesmo.

- Não alaremos mais disso. O que é passado é passado. Aceitam um pouco de vinho?

- Isso seria ótimo. Muito obrigada por nos hospedar, senhorita. – Mikhail disse-lhe, de forma menos descontraída que os outros dois.

Após os devidos cumprimentos e depois de estarem, devidamente instalados, os três desceram para a sala de estar, onde uma bandeja com petiscos jazia na mesa de centro e algumas taças de vinho jaziam nas mãos de seus donos. Porém, embora o clima estivesse tão descontraído quanto pudesse estar por parte de Bella e do resto, ainda havia um sinal de inquietação.

Alice, depois dos cumprimentos acuou-se num canto e ficou perdida em algumas memórias, como se sua própria mente tivesse a sugado para algum lugar distante. Ela sabia que aquilo não era nada comum, porque das outras vezes ela apenas sabia que algo estava para acontecer, porém, dessa vez, ela sentia que estava prestes a ver alguma coisa... Ela não sabia o que iriam pensar quando dissesse que estava começando a ter flashes.

Seu corpo esguio estava relaxado numa poltrona. Suas mãos seguravam a taça de vinho tinto com força, enquanto seus olhos ficavam fixos no líquido avermelhado. A bailarina pequena sentia-se cada vez mais afundando em suas próprias lembranças. Ora, Alice, depois de um tempo, nunca quis ficar pensando em seu passado e na saudade que sempre sentira de sua mãe, e pensava ainda menos depois que Renée a adotara como filha. Porém, naqueles últimos dias, ela tinha pensado demais e um ou outro pressentimento vinha junto àquelas lembranças.

Quando suas unhas arranharam o cristal da taça e o vinho caiu sobre seu vestido, Jasper avançou sobre ela, retirando os cacos e chamando-a.

- Alice? – Ele dizia. – Alice?

- O que está havendo? – Emmett e Rosalie entraram na sala de estar, por causa de todo o barulho.

- Allie? – Bella chamou-a, porém, não houve resposta. Em sua mente, Alice, na forma de uma criança de seis anos, dançava ballet com sua mãe, uma bailarina exímia. – Ela nunca teve crise alguma...

- Crise? – Jasper perguntou.

- Alice e eu nos conhecemos quando ainda éramos pequenas, eu tinha quase dez anos quando entrei para o ballet do Opera, mas ela já estava lá há dois ou três anos... - a anfitriã contava. – E sempre que ela ficava quieta, ou quando tropeçava no palco, ou mesmo derrubava alguma coisa, Madame Renée a acudia e a levava para o quarto. Só depois eu soube que eram crises. Mas eram raras. Só aconteciam algumas vezes, em todo esse tempo, essa é sexta ou sétima vez, eu acho...

- O que ela tem? – Anita perguntou.

- Eu não sei. Alice nunca fala sobre isso. – Bella murmurou.

Nesse instante, Alice despertara, arregalando os olhos e perguntando o que havia acontecido. Ela soltou um resmungo, quando viu seu vestido manchado pelo vermelho do vinho.

- O que aconteceu, cherry? – Jasper perguntou-lhe.

- Nada foi só...

- Allie, está na hora, eu fico preocupada. Conte-nos. – Bella abaixou-se e segurou a mão de sua amiga.

- Tudo bem. – Alice murmurou. – Há anos eu tenho isso. Mas não é como se fosse uma doença, eu acho. Eu só... eu só vejo coisas, sinto coisas. Eu sinto quando algo de ruim vai acontecer, e quando algo de bom vai acontecer. Oh deus, não quero ser tachada de maluca!!

- Ma petit, acha que com vampiros aqui, a senhorita seria tachada de maluca? – Emmett ergueu uma sobrancelha, divertido.

- Mas eu sabia que alguém estava para chegar, eu tive um pressentimento ruim sobre o plano que fizemos, eu tenho um bom pressentimento para o que irá acontecer. – Ela disse triste.

- Ora, não precisa ficar assim. Isso é algo bom, Alice. – Jasper consolou-a. – Todos nós temos um dom. Emmett é forte, Edward tem uma habilidade peculiar para entender as pessoas e eu lido com os sentimentos. E todos nós, de alguma forma, quando éramos humanos, também a tínhamos, só que de uma forma menos potente.

Alice ponderou. E então, tocou-se de que nunca havia pensado no amanhã, até agora, ela só tinha tido cabeça para enfrentar o presente e o que estava por vir, mas nunca havia parado para pensar no que ela deveria fazer no futuro. Seu pensamento girou até Jasper, contemplando toda a face angelical e perfeita, os olhos ocres, como pedras topázio e os fios dourados ondulados; ele não iria partir, ele iria contemplar todas as eras do mundo... E ela não.

- Allie? – Rosalie chamou-a. – Você acuou-se de novo. Aconteceu alguma coisa?

- Desde que eu os vi lá no teatro pela primeira vez, eu tenho tido essas crises mais fortes. – Ela balbuciou, de repente, atentando-se ao fato de que algo estava para acontecer. – Por Deus! Detesto esta sensação!

Anita encarou o olhar da pequena bailarina e depois encontrou o de seus companheiros. Não tenho escolha, ela pensou.

- Alice, eu sou sua mãe. – As palavras saíram dos lábios de Anita tão lentamente quanto um gotejar de água pode ser. Aquelas palavras, uma de cada vez ia penetrando no pensamento de cada um deles e, segundos depois, uma expressão de extrema surpresa surgiu no rosto de Bella, Alice, Rosalie, Madeline, Gerárd e, até mesmo, Nicolai.

- O que disse? – Alice perguntou devagar, levantando-se do sofá. – O. Que. Você. Disse?

- Vou polpar seus ouvidos. – Anita murmurou. – Depois que você nasceu, mudei-me permanentemente do teatro para uma casa linda no centro de São Petesburgo, e passei a leva-la para o balé, assim você sempre ficava com seu pai, o dono da companhia ou comigo, nos momentos em que eu não estava ensaiando. Porém, o teatro foi acometido por um deslizamento e algumas de nós bailarinas, incluindo a mim, ficaram feridas. E foi Mikhail quem me encontrou.

Alice nada dizia, apenas ouvia aquelas palavras atentamente.

- Porém, depois dos médicos me examinarem, eles constaram que eu tinha algum tipo de amnésia profunda e, desde então, tenho um espaço vago em minha mente.

- Depois que a encontrei, levei-a até o hospital mais próximo e a deixei lá. Eu ia vê-la todos os dias, desde que soubera que ela tinha amnésia. – Mikhail contava. – Depois que ela saiu do hospital, levei-a ao teatro e não houve recuperação alguma de memória, ela apenas sabia dançar. Porém havia um retrato numa galeria com o nome de uma aclamada bailarina...

- Anna Pavlovna Matveïevna Pavlova. – Alice completara.

- Oui, então concluímos que ela era aquela bailarina. Procuramos por mais detalhes, mas ao que parece, nada foi encontrado...

- Afinal, eu não tinha mais um dormitório no teatro. – Anita completou. – Então Mikhail propôs que eu viajasse com ele, logo após eu descobrir que ele não era simplesmente um viajante qualquer. Depois de anos, quando estávamos em Madri, ele transformou-me e, então, as memórias vieram com força e eu soube que deveria procurá-la. Voltei para São Petesburgo, alegando ser a filha de Anna Pavlova, e encontrei um testamento que dizia que se algo acontecesse a mim, você deveria ser levada para o teatro de Paris, onde Renée Dwyer, uma conhecida minha, cuidaria de você.

- E aqui está você... – Alice sibilou. – Por isso tenho tido essas visões, porque algo me dizia que você estava perto.

- Oui, minha querida.

Alice, para a surpresa de todos, abraçou Anita – Anna, e derramou todas as suas lágrimas trancafiadas em algum lugar de seu coração. Lá no fundo, embora sempre fosse forte, ou aparentasse ser, deixou aquela máscara cair e desabafou tudo o que estava preso em sua garganta. Durante aqueles calorosos minutos, suas lembranças já quase esquecidas, foram voltando com força, como se nunca tivesse sido esquecidas.


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Notas finais do capítulo

Oie :)
Desculpem-me a demora, mas como bem sabem, a faculdade anda me ocupando um pouco, principalmente com o final de semestre bem puxado.
Espero que curtam o capítulo :)
Muitas revelações.
Comentem!
Beijinhos,
@ninaxaubet



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