Ameaça escrita por M4r1-ch4n


Capítulo 4
Capítulo 4




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Apertando os lábios em uma fina linha, o baixista gesticulou para que Die retirasse Kaoru de dentro do banheiro. O ruivo concordou com a cabeça, e logo todos haviam saído do banheiro, Shinya decidindo seguir Kaoru. Kyo havia retornado ao seu posto, encostado no batente do cômodo.
          Toshiya pegou algumas folhas de papel usadas para secar a mão, molhando-as e em seguida esfregando no espelho. As letras em vermelho logo viraram um borrão sem sentido, e o espelho foi voltando ao normal. Kyo apenas observava o baixista.
          Quando Toshiya foi pegar o batom caído no chão, o vocalista decidiu intervir.
          - Não mexa na prova do crime, Toshiya.
          O baixista respirou com raiva contida. Kyo ainda tinha um sorriso deveras irritante no rosto, e ele tinha a impressão de que o vocalista estava achando tudo muito engraçado.
          - Para a sua informação, eu já mexi nas "provas do crime". Por que não disse isso antes de eu apagar a mensagem? - ignorando o protesto do vocalista, Toshiya se abaixou e pagou o batom destruído, jogando-o no cesto de lixo logo ao lado do vaso sanitário. Olhando ao redor, decidiu que o estado do banheiro estava normal.
          - Nada... Eu estava brincando. - Kyo abriu caminho para o preocupado baixista sair do banheiro, em seguida indo até a mesa onde estavam os seus pertences.
          - Você é o único que está se divertindo, Kyo. - Toshiya completou acidamente - Você não percebe que Kaoru está muito mal? O quanto essas brincadeiras abalaram as relações entre Shinya e Die?
          - O fato de eu fazer brincadeiras não significa que eu seja cego, Toshiya. - sem mais palavras e ainda usando óculos escuros, Kyo saiu da sala. O baixista deduziu que ele deveria ter ido para casa.
          Rapidamente, ele cruzou o cômodo e abriu a porta que dava para a sala anexa, onde e ele e Kaoru estiveram trabalhando antes da primeira ameaça aparecer. Deu um suspirou aliviado ao encontrar os três membros que faltavam da banda.

          Shinya estendeu um copo com água e açúcar para Kaoru, que agradeceu o gesto do baterista com um aceno de cabeça. Die estava sentado logo do lado do líder, e ergueu a cabeça ao notar que mais alguém havia entrado na sala.
          - Onde está Kyo? - indagou o guitarrista.
          - Acho que foi para casa. - Toshiya deu de ombros, sentando-se na mesinha de centro de frente para Kaoru - Como você está?
          - Melhor. - Kaoru concordou com a cabeça, enfatizando as próprias palavras. Esvaziando o copo, devolveu-o para Shinya - Shin, pode pegar somente água para mim?
          O baterista se retirou do cômodo silenciosamente, e Kaoru voltou a sua atenção para o homem que o olhava atentamente.
          - Eu estou bem, Totchi. Eu sempre me assusto com essas mensagens, mas... Não acho que seja nada sério.
          Die e Toshiya se entreolharam.
          - Kaoru... Você tem idéia do porquê alguém faria isso com você?
          Um aceno negativo.
          - Não, Die. Não faço idéia.
          - Você... Continua achando que o Shinya está certo? Digo, acha que fui eu que fiz isso?
          - Iie. Por mais que você goste de me irritar nos piores dias... - Kaoru deu um sorriso fraco para o outro guitarrista - Não acho que seria você. Trabalhoso demais.
          - Kaoru! - o ruivo deu um soco de mentirinha no braço de Kaoru, fazendo o referido homem rir.
          - Finalmente você abriu um sorriso decente, Kao. - Toshiya sorriu, afagando brevemente a mão mais próxima do guitarrista - Escute, não acha que devemos chamar a polícia? Depois de hoje, eu acho que ficou claro que é alguém daqui de dentro. Afinal, era o batom do Shinya.
          O homem de cabelos roxos se reclinou no sofá, ponderando sobre a pergunta do baixista.
          - Wakaranai, Totchi. Eu acho... Que se colocarmos a polícia, isso vai acabar vazando para a imprensa. Não quero isso.
          - Bom... Pelo menos concorda em investigar um pouco? Acho que Kyo estava certo quando disse isso hoje de manhã. - ajuntou Die.
          - Acho... Que talvez isso seja mesmo apenas uma brincadeira. Quem quer que esteja fazendo isso quer que percamos tempo com investigações. Eu sugiro... Continuar como se nada tivesse acontecido.
          Shinya retornou naquele momento com a água que Kaoru havia pedido, passando o copo para o sedento guitarrista. Mal havia tomado um lugar na sala quando olhou para o relógio de parede, assustado.
          - Kami-sama! Eu já tinha que ter ido embora!
          Kaoru pousou o copo, sorrindo de leve para o baterista.
          - Pode ir, Shin. Está tudo bem. Gomen por prendê-lo.
          - Iie, daijoubu da yo, Kaoru!
          Levantando-se e alisando as roupas ligeiramente amassadas, ele se despediu de todos. Quando estava prestes a sair do cômodo, ele virou-se para Die:
          - Anou... Die? Se você ainda quiser... Pode vir junto. Eu não cancelei as reservas.
          O mencionado guitarrista elevou o rosto, os olhos surpresos e grudados no rosto corado do baterista.
          - Hontou, Shin?
          - Hai.
          Die levantou-se e se despediu rapidamente de Kaoru e Toshiya, que tinham sorrisos nada inocentes nos seus rostos. Em seguida, abraçou Shinya com alegria incontida, antes de deixarem a sala. As vozes dos dois foram diminuindo de volume até sumirem de vez.
          - Sabe do que se trata? - Kaoru indicou a porta com a cabeça, querendo saber mais sobre o que Die e Shinya haviam programado.
          - Mais ou menos. - Toshiya sorriu - Shinya comentou comigo há algumas semanas que iria estrear uma peça de teatro que ele queria muito ver... E havia convidado Die para ir com ele.
          - Die gosta de teatro?
          - Eu também não sabia.
          - O mundo realmente é cheio de surpresas... - o líder constatou com espanto.
          - De fato. Hoje é a estréia da tal peça... Shinya estava mais irritado e triste do que o normal porque achou que Die não iria com ele, no final.
          Kaoru concordou com a cabeça, entendendo a situação. Um sorriso se formou nos seus lábios.
          - Fico feliz que tenham ido juntos. Quem sabe assim as coisas melhoram, ne?
          - Tomara, Kao. Tomara...

          - Kaoru?
          O guitarrista se espreguiçou, virando no sofá e encontrando o rosto sorridente de Toshiya. O baixista apertou o nariz de Kaoru de leve, brincando com ele.
          - Hey, ridaa-sama. Com fome?
          - Hai. - Kaoru se sentou, ligeiramente sonolento. Viu várias sacolas diferentes de comida sobre a mesa da sala do apartamento de Toshiya.
          Desde que a segunda ameaça havia aparecido no estúdio, o baixista não havia deixado Kaoru sozinho nem por um momento. Como estava com medo de deixá-lo dormindo em casa, resolveu que Kaoru iria morar consigo, mesmo que temporariamente. O arranjo havia sido feito há uma semana.
          - Aproveitou para dormir enquanto eu ia ao supermercado, ne?
          O homem de cabelo roxo apenas concordou com a cabeça, em seguida se levantando e ajudando o baixista a colocar a mesa para o jantar. Desembrulhando as sacolas, Kaoru se assustou com a quantidade de comida que Toshiya havia comprado.
          - Toshiya, quem mais além de nós vai jantar aqui?
          O baixista riu alto.
          - Ninguém, Kao. O fato é que eu precisava mesmo abastecer a geladeira... Agora são duas pessoas morando aqui, ne? - o baixista comentou, carregando uma caixa de cerveja para a cozinha.
          - Abastecer a geladeira ou abastecer a casa com bebidas? Por que não me levou junto ao supermercado? Eu teria ajudado...
          - Iya, daijoubu. Eu não quero que se esforce.
          - Totchi. - Kaoru comentou, desembrulhando mais uma sacola - Estar sendo ameaçado não significa que eu não possa fazer minhas atividades normais.
          - Mas eu quero evitar a sua exposição, Kaoru.
          O guitarrista não conseguiu conter um sorriso quando notou a preocupação na voz de Toshiya.
          - Hai hai. Tudo bem, você venceu.
          Quando Kaoru estava indo à cozinha levar mais coisas que havia retirado das sacolas, ele ouviu batidas na porta. Na primeira vez que dormiu na casa de Toshiya, ele havia se assustado com as batidas naquele horário da noite. Porém, já havia acostumado com a chegada do jornal, que o porteiro deixava todo fim de noite do lado de fora da porta do apartamento do baixista.
          - Alguém bateu?
          - Hai. Acho que é o jornal. Quer que eu pegue? - perguntou o guitarrista, entrando por definitivo na cozinha.
          O baixista sorriu e fechou o armário onde estava estocando comida. Pelo pouco que Kaoru conseguiu divisar, quase tudo ali dentro era doce. Não sabia que alguém podia comer tanto chocolate e continuar bonito do jeito que Toshiya era.
          - Onegai. Me dê essas coisas aqui, eu vou guardando.
          Passando o que carregava para o baixista, Kaoru se dirigiu até a porta da sala de estar. Olhando pelo olho mágico, ele vislumbrou apenas o costumeiro embrulho no chão. O porteiro era realmente rápido.
          Abrindo a porta, Kaoru apanhou o jornal. Ele nem fazia idéia de que Toshiya tinha uma assinatura, antes de "se mudar" para lá. Trancou a porta e voltou para a sala, onde abriu o jornal e começou a ler as manchetes.
          - Totchi! Veja isso! - Kaoru separou o caderno de cultura, que havia feito uma nota sobre um dos últimos shows da banda - Essa garota conseguiu um cosplay perfeito do...
          O guitarrista parou no meio do caminho, abaixando-se para pegar um papel que havia caído do jornal. Toshiya olhou com interesse para o companheiro de banda, esperando a conclusão do seu raciocínio.
          - O que você dizia?
          - Ah. - Kaoru estendeu o jornal para o baixista, enquanto desdobrava o papel que havia caído - Essa garota conseguiu um cosplay perfeito da sua roupa em Cage.
          - Hontou desu... - Toshiya fingiu estar ligeiramente magoado pelo fato - Eu terminei aqui. O jantar não deve demorar.
          - Okay, eu vou esperar na sala. - mal o guitarrista havia dito suas últimas palavras quando deteve o seu olhar sobre o papel que havia finalmente terminado de desdobrar. Era um papel branco, com alguma coisa impressa em vermelho.

"Tokei wa hidari mawari demo, okashita tsumi wa kaereru."*


          A frase era familiar demais para o líder da banda. Estendeu o papel para Toshiya.
          - Olhe.
          O baixista pegou o papel, reconhecendo a frase também. Virando o pedaço de papel nas mãos, viu que havia a indicação de uma página no jornal.
          - Abra aqui.
          Os dois voltaram à sala e ocuparam um dos sofás de Toshiya, enquanto Kaoru folheava o caderno a procura da página indicada.
          De repente, deram de cara com uma página riscada com tinta vermelha. As palavras, desta vez, encontravam-se por cima do texto original do jornal, bem destacadas.

"Os pecados que você cometeu não podem ser apagados...
...Kaoru"


          O baixista tomou o jornal das mãos de Kaoru e jogou-o na mesa, junto com o pedaço de papel. Em seguida, usou as duas mãos para virar o rosto do guitarrista para si.
          - Totchi... Eles fizeram de novo.
          Os rostos de ambos estavam perto o suficiente para que a respiração quente de Kaoru brincasse com os fios do cabelo escuro de Toshiya. Encostando a própria testa na do guitarrista, o baixista o acalmou. Ele podia sentir a aflição e a extrema confusão que se passavam na mente do seu colega de trabalho.
          - Kaoru. Você não fez nada de errado. Não tem porque ter medo.
          - Totchi. Eles sabem que eu estou aqui. Eu... - o guitarrista apertou os lábios - Estou sendo seguido... Eles estão brincando com os significados das nossas próprias músicas.
          - Niikura Kaoru. Alguém quer irritá-lo e preocupá-lo. - Toshiya afastou os rostos, falando sério com o seu líder - E está conseguindo isso. Não deixe que te vençam...
          Kaoru concordou devagar com a cabeça, em seguida abraçando o colega. Toshiya retribuiu o abraço, sentindo o perfume suave que exalava do cabelo do guitarrista.
          - Eu não vou deixar que nada aconteça a você... Kaoru.
          No fundo, o baixista não sabia se o murmúrio era destinado ao guitarrista que tinha nos braços ou a si mesmo.



Continua...


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Notas finais do capítulo

* A tradução seria: "Mesmo que o relógio gire para a esquerda, os pecados cometidos não podem ser mudados". É um trecho da música Cage.



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