Petite Etoile escrita por Lamen


Capítulo 1
One-shot - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Primeira parte da one-shot 'u'



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- Então, o que você acha da AIDS, filha? – Ele me perguntou umas quinze vezes depois que eu falei sobre meu trabalho de DST da escola. Depois que terminei de escovar os dentes, meu pai me fez sentar na mesa já limpa, entrelaçou os próprios dedos e me encarou seriamente. – O que você acha dessa doença?

- Hm... Uma doença como outra qualquer pai. Que tem que ser tratada. – Respondi desinteressada.

- Bem, sua mãe não queria que eu contasse mas... Sei lá, eu não gosto mentir pra ninguém. – Minha cabeça estava longe, apenas em que estava perdendo tempo e não jogando vídeo-game. – E nem gosto que ninguém minta pra mim. Então olha, eu era muito... como se dizer... irresponsável, e trai várias vezes sua mãe durante o nosso namoro. – Isso me chamou a atenção. – Então... quando eu fui fazer uma transfusão de sangue, eu descobri que tinha AIDS. – Olhei em seus olhos, ele não parecia estar brincando. Entendi o por quê dos remédios que ele tomava para “alergia” estava tampado para que servia.

Ele parou de falar, me encarou seriamente, esperando uma resposta ou qualquer coisa. Ele não obteve nada, eu estava calma e séria.

- Eu descobri isso em 1990. – 90... pera, eu era de 93 certo? Droga, quer dizer que eu... Abri e fechei minha boca várias vezes, raciocinando. Minha visão e audição saíram da cozinha onde estávamos e foram parar nos quartos em que eu tinha transado com várias garotas... Sem Preservativos. O peso da consciência caiu em meus ombros.

Eu devia estar tremendo, porque eu ouvia eco de minha mãe me perguntando se eu queria água. Mas eu não consegui reagir, nem responder. Eu estava em choque. A possibilidade de ser filha de outra pessoa não me passou pela cabeça. Apenas que meu pai tinha AIDS a 20 anos, então eu também deveria ter... Assim como meu irmão. Droga, será que ele não se tocava que devia contar isso muito antes de eu ter 17 anos? Porra, eu tinha transado com várias meninas. E mesmo que ele achasse que eu fosse hétero, ele poderia ter dito que a família tinha AIDS. E porque ele não impediu isso? Certo, meu irmão foi com o rompimento da camisinha, mas... e eu? Eles poderiam ter impedido que eu nascesse não podiam?

-Hey, filha. – Ele me chamou. Me recuperei do choque e o fuzilei com o olhar.

- Quer... dizer que eu...

- Não... Graças a Deus, eu recebi 3 presentes. Vocês três não tem isso. – Isso me aliviou. Mas mesmo assim, como era possível, eu, mamãe e Sebastian não termos AIDS? Pelo que eu sabia eles não usavam muita camisinha no relacionamento que eles tinham no casamento... Cara... Não sei.

Conversa vai, conversa vem. Não era pra contar pra minha vó porque ela era tão... tensa. Enfim, depois de nossa conversa, decidi começar a usar preservativos sempre que eu iria ter uma transa... E pensei o quão ruim seria. Suspirei... Deveria contar a minha namorada isso? [É, mal de família trair a namorada.] Eu teria que sossegar com aquilo... E se eu tivesse pego AIDS? Mil coisas passaram em minha cabeça. Mesmo que papai tivesse dito que era segredo entre a família, eu deveria contar para Paula... Afinal, ela era minha namorada e também minha melhor amiga. Respirei fundo e disse que ia sair um pouco para refrescar a cabeça. Peguei o primeiro ônibus que apareceu e fui para a casa dela. E se ela tivesse preconceito? A gente sempre brincava que uma amiga nossa tinha AIDS e que não se podia tocar nela. Senti isso na pele. Meu pai tinha e eu quase tive. Desci do ônibus, os pés me guiavam automaticamente para a casa da minha namorada.

Como eu deveria contar aquilo a ela? Como ela reagiria? Como eu estava reagindo? Eu não tinha respostas para estas perguntas e muitas outras. Antes que eu tocasse a campainha, Paula abriu a porta e pulou em meus braços. Ela parecia estar feliz. Me beijou a face e me deu um sorriso radiante, que foi se apagando conforme ela via expressão em meu rosto.

- Que houve? – Perguntou preocupada.

- Nada. – Tentei dar um sorriso, mas acho que não tive muito sucesso.

- Sério, que houve?

- Não vai me convidar pra entrar? – tentei brincar.

- Não, enquanto você não me disser o que está acontecendo. – Ela barrou a porta.

- Tá, então não entro. – Eu não estava com coragem para dizer tal coisa. É, eu era covarde. Lhe dei as costas e recomecei a andar. Mas ela me puxou pelo pulso. – Ai.

- Vai me contar ou não?

- Não houve nada. – Respondi secamente. – E você, tá tão feliz. Que houve? – Tentei mudar de assunto.

- Ah... – O brilho voltou aos olhos dela. – Papai e mamãe vão deixar eu morar sozinha.

- Sério? – Perguntei perplexa.

- Uhum. – Ela assentiu com a cabeça. – Agora entra aqui vai. – Ela me puxou pra dentro da casa, me fazendo sentar no sofá e se sentou no meu colo em seguida. – Agora vai me dizer o que houve.

- Já disse que não aconteceu nada. – ela beijou meus lábios.

- É? Abstinência de sexo pra você. – Mostrou-me a língua. Na verdade, eu nem tava querendo transar mais depois daquela notícia.

- Ah... que péssimo pra mim. – Desviei o olhar do dela, mirando o “nada”.

- Nossa, foi sério. Não tá nem ligando pra abstinência de sexo. – Ela puxou meu rosto, me fazendo encará-la. Os olhos azuis dela eram tão profundos. Abracei-a pela cintura e tive vontade de chorar. Eu não queria, eu não podia. Eu tinha que ser forte diante da situação, mas eu não conseguia.

Comecei a soluçar e escondi meu rosto entre os seios de Paula, que acariciou meu cabelo, me confortando. As lágrimas teimavam em sair do meu rosto, e eu inutilmente tentava conte-las. Não queria que Paula me visse nesse momento de fraqueza. Mas era impossível não notar que eu estava chorando. Sua camisa devia ter ficado toda ensopada. Depois de alguns momentos, o choro cessou, mas eu continuava a soluçar de vez em quando. Ela levantou meu rosto novamente e sorriu. Beijou meus lábios.

- Sou sua amiga, não sou? Me conte, Vii. – Ela beijou a pontinha do meu nariz.

- Eu... Não sei... se devo realmente. – Suspirei.

- Ah... Sério? Que foi? Me traiu? – Ela riu e eu apenas suspirei novamente. – Foi isso?

- Ahn...

- Pensei que isso nunca fosse acontecer comigo... – Ela forçou um sorriso, mas seu rosto se deformou.

- Eu... – Respirei fundo e tomei coragem. – Eu descobri que meu pai tem AIDS. Detalhe: Ele disse que descobriu vinte anos atrás.

- Quer dizer que você tem... AIDS? – Ela arregalou os olhos. – Eu... eu... COMO VOCÊ NUNCA ME DISSE ISSO ANTES?!

- Eu teria dito, se eu soubesse. Eu descobri isso hoje.

- Droga... Isso não pode estar acontecendo...

- Ah, não. Eu não tenho, Paula. Nem você.

- Mas... como?

- Sei lá. Ele disse que eu não tenho. Acho que eu já taria morta, se tivesse. Nunca tomei remédio algum.

- Hm... Isso é tenso.

- É. – Suspirei novamente e joguei minha cabeça para trás. – E... eu não sou nenhuma santa e você sabe disso, Paula.

- Ah... É. Eu tenho chifrinhos agora. – Ela cruzou os braços e me fuzilou com o olhar.

- Desculpa. Tentarei não fazer mais. – Primeiro eu ouvi o som, depois eu senti a dor. Tive certeza que minha bochecha esquerda devia estar vermelha. Pousei os dedos no local onde ela havia me dado o tapa.

- Vaca. Va-ca.

- É, eu sei que sou. Me perdoa?

- O que você faria numa situação dessas, Victória? – Sinal de perigo, ela havia dito meu nome.

- Eu... provavelmente ia... terminar o namoro.

- Acha que eu devo fazer isso?

- Não sei. A sua opinião é que conta, não a minha. Eu sei que errei e me arrependo disso. Agora, se você quiser me dar outra chance ou não, a decisão é sua. – Ela suspirou, desviou o olhar e bufou. Eu sabia que ela estava brava, então me mantive quieta.

- Quero um tempo pra pensar. – Ela saiu do meu colo e me deu as costas.

- Ah... tudo bem. – Olhei pra baixo e me dirigi a porta. – Tchau. – Mas ela não me respondeu.

No caminho de volta pra casa, eu pensei em todas as merdas que eu tinha feito com aquela menina tão meiga. E quando ela disse “tempo” significava “nunca mais”. Eu a conhecia bem demais, eu a amava demais. Pena que não me controlei.


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Notas finais do capítulo

Nhaaa, dedico essa fic a Christie, minha namorada... Que bem... ah deixa pra lá. Te amo ♥
Quero reviews o



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