Capítulo 7: Brigas

Música Tema: Trash

Eu estou tão ferrada.

Isso era a única coisa que eu conseguia pensar enquanto Joe e Nick vinham na minha direção. Eu estou ferrada. Estou ferrada. Muito ferrada. Vou me ferrar. To frita.

Sterling, acho que por não ter o pescoço envolvido diretamente, estava bem calmo. Meio que se colocou do meu lado e passou o braço pelas minhas costas. Me lembrava a cena de crepúsculo em que Edward vira e fala: “Já que eu estou indo pro inferno mesmo...”.

-Precisamos conversar. – disse Nick quando chegou na minha frente.

Joe não me olhava. Encarava o chão, as paredes, mas nunca olhava pra mim.

-Tudo bem. – disse – Vamos pro meu camarim.

-Não. – Sterling protestou. - Meu camarim. Estão terminando de reformar o seu. – ele falou e andou, me arrastando junto.

Olhei pra trás e vi que Nick e Joe nos seguiam de perto. Vários olhares se direcionavam à nós. Alguns se prendiam mais em Joe, outros em Nick e alguns em mim e Sterling tão juntos.

Não que fosse ruim... Só era... Estranho.

Sabe, lembrava-me do beijo. De sua ajuda. De como ele havia mudado o roteiro.

E, ah, como ele evitava perguntas sobre ele.

Quando chegamos a porta, Sterling destrancou rapidamente o camarim, sem me largar, e entramos.

-Sentem-se. – falou aos garotos num sorriso irônico.

As vezes, ele me assusta.

Enfim, eu e Sterling nos sentamos num pufe, a poucos centímetros de distância um do outro. Acho que beijá-lo no escuro e contar sobre tudo pra ele meio que criou uma intimidade entre nós.

Se bem que seu braço continuava queimando no meu ombro.

Já Joe e Nick se sentaram de frente pra nós num mini-sofá ou algo assim.

-Você voltou. – Joe depois de um tempo em silêncio.

-É. – falei erguendo o queixo. Ouvi Sterling bufar baixinho perto da minha orelha.

Acho que se não estivesse rolando algo tão dramático, lê-se tenso, entre eu e Joe ali, Sterling teria soltado uma piada.

Bom, pensando bem, até eu teria.

-E não me falou. – ele concluiu.

Engoli em seco.

Aquilo não estava nos meus planos. Nem incluído no plano inicial de Taylor da vingança. Por que eu a ouço mesmo?

-Eu queria me... – “vingar”. Ok, eu ia contar a verdade.

Eu ia, mas Sterling me cortou.

-Ela queria mostrar que tinha dado a volta por cima.

Nick encarou Sterling com um olhar cortante. Que pareceu nem fazer cócegas em Sterling.

-Você é o protetor dela agora? – sua voz refletia seu rosto.

-Bom, - ele começou – se você tivesse protegido ela direito do seu irmãozinho, ela não teria tido um coração quebrado. E eu não teria tido que me meter.

Au. 1 X 0 pro Sterling.

E au pra mim também. Eles que brigam e meu coração que é exposto?              

-Ela que quis namorá-lo, sabia o que estava fazendo. O que você queria que eu fizesse? Batesse no idiota aqui?

-Hey! – murmurou Joe.

-Não. – Sterling ironizou. – Queria que você tivesse sido homem e admitido o que sentia por ela, antes que ela se envolvesse com alguém que você sabia que ia quebrar o coração dela!

2 x 0 Sterling.

-Não fale o que não sabe, Knight. – disse Nick. – Você acha que sabe muito, mas acabou de entrar na vida dela. Não se considere o melhor amigo, nem namorado, nem nada. Você é o estepe do estepe.

1 ponto pro Nick.

Eu estava numa espécie de transe ou algo assim, porque não conseguia mover um músculo. Mas depois dessa, consegui ligar os poucos neurônios que tenho e fazer alguma coisa.

Antes que esses dois caiam na porrada ou algo assim.

-Parem! Nick, cala a boca. Sterling tem sido um ótimo amigo nos últimos tempos. Enquanto você sumiu, sem me responder nunca, Sterling me deu apoio. E Sterling, o Nick, não...

-Ele é apaixonado por você, sim. – disse Joe por cima da minha voz.

Ele encarava o chão com cara de vazio.

Eu já tinha me esquecido que ele estava ali.

-Ele sempre foi. – Joe completou. Me senti meio tonta. – Por que você acha que ele sempre fez tudo o que você pediu? Ele te ama, cara. – Joe murmurou a última parte. – E eu estou muito arrependido do que eu fiz. Eu acho que... Também.

Quando eu fiz menção de perguntar, Sterling respondeu por Joe.

-Ele também está apaixonado e, ou, te amando também. – seu tom foi frio.

Eu senti que ia vomitar.

-É por isso que veio? – minha voz era ácida – Pra dizer que está arrependido e que me ama?

Joe confirmou com a cabeça.

Não!

-Você está me tirando, né? – solucei. Eu estava sentindo minha garganta fechar e meus olhos marejarem.

-Olha, eu sei que errei muito com você. Mas eu só dei valor ao que eu tinha, depois que eu perdi. Me desculpe. Mesmo. Eu não sabia como isso tudo ia te afetar na época em que...

-Pra fora. – rosnei sentindo algumas lágrimas.

-Demi, eu...

-Pra fora! – repeti.

-Eu sei que é muito cedo...

-Você não ouviu a moça? – disse Sterling – Saia. O camarim é meu e eu estou falando pra você sair. – Joe não se mexeu. – Agora.

Joe se levantou e me olhou. Eu encarava o chão, sentindo uma fúria de lágrimas caindo dos meus olhos.

-Desculpe. – Joe repetiu e saiu do cômodo.

Eu me agarrei a Sterling encharcando a sua blusa. Ele fazia carinho no meu cabelo. Eu sabia que Nick ainda estava lá, provavelmente me encarando com o melhor olhar de “Era pra eu estar bravo com você e/ou dizendo que te avisei, mas espero que você fique bem”.

Chorei até me conformar. Sterling continuou fazendo carinho em minha cabeça e só parou quando me afastei.

-E você? – perguntei a Nick. – Por que veio?

Nick suspirou.

-Pra pedir desculpas por não retornar suas ligações. É só que... Surtei quando vi você e o Sterling. – Nick parou. – É só que te perder pro meu irmão, eu já estou acostumado, mas pro Sterling...

-Nick, como eu disse nas mensagens, eu e o Sterling não temos nada, cara. – falei. E ficando vermelha acrescentei – E eu nunca soube que você gostava de mim. Nunca passou pela minha cabeça.

Ele deu um sorriso mínimo.

-É. Eu sei. Você sempre amou o Joe, então sempre considerei guerra perdida. Enfim. Tenho que ir. Me desculpe, de novo. Amigos?

Ele estendeu a mão. Fiz nosso cumprimento secreto.

-Os melhores. Pra sempre. – falei tentando sorrir.

Ele me deu um beijo na bochecha e um aceno de mal agrado pra Sterling e foi embora.

-Bom... – Sterling disse. – Acho que você tem que ir pro seu camarim concertar sua maquiagem. Afinal, você ainda tem que gravar.

Ri com ele.

Mas, hein?!

-Você não disse que meu camarim estava em reforma?

Ele deu de ombros.

-Menti. – e rolou os olhos. – Você verá porquê.

Sterling sabe como torturar uma mente curiosa.

-Obrigada. – sorri pra ele. Ou sorri o melhor que pude.

-Hey, eu que agradeço. Sempre quis dizer “Você não ouviu a moça?”. – ele fez uma imitação de velho oeste.

Eu gargalhei.

-Você é muito sem graça! – ele se fingiu de ofendido. – Mas na hora foi bem convincente.

-Obrigado, obrigado. Pode bater palmas que eu mereço! – falou fazendo mesuras.

-Idiota. – rolei os olhos e lhe dei um beijo na bochecha. – Até.

-Até.

Assim que sai do camarim dele, saí correndo. Motivo: queria saber o que tinha de tão especial no meu camarim.

-Sai da frente! – berrei quando quase me choquei com Brandon. Ouvi ele murmurar algo como “de volta a normalidade”.

Eu dei um sorriso por estar de volta.

E então, finalmente, cheguei. Abri a porta e liguei a luz.

Em cima da minha mesa tinha um lindo buquê de rosas brancas e um ursinho. Com uma carta.

“Demi, espero que você esteja bem.

O Ted, sim, esse é o nome do urso, vai te dar apoio quando você precisar.

E vai te lembrar que você tem um colega de trabalho chato que te considera muito.

Ah, espero que goste de rosas brancas. Sempre ouvi que se dá rosas amarelas pra sua tia doente, e vermelhas/cor-de-rosa pra alguém por quem você está apaixonado.

Em resumo, fiquei bem perdido na hora de escolher um buquê pra você. Decidi pelo branco, pra que você tenha bastante paz.

Knight.”

Preso com um clips tinha uma foto nossa da noite da festa que eu nem tinha visto ele tirar. Eu estava de olhos fechados gargalhando e ele fazia uma careta besta pra câmera. Virei a foto e encontrei a data, a hora, o local e uma frase: “Aos beijos errados”.

Gargalhei idiotamente e fui me maquiar.

Senti de repente uma pontada de dor. Era inacreditável. Ele vinha dizer que havia se arrependido de tudo, agora?

Depois de toda dor, da reabilitação. E, ah, claro, ele me fez descobrir que eu sou bipolar.

É, Joe, você deve estar brincando comigo.

“Eu estou doente de chorar por causa, Por causa da sua nova chama, Que já ira se apagar”.

Me lembrou “Trash”.

“Estou acabada”. De novo.

Tive uma nova crise de choro, só que dessa vez sem ninguém pra me consolar. Mentira: chorei agarrada ao Ted. E quando me recuperei, deixando um urso de pelúcia encharcado, me maquiei e fui gravar com um aperto no peito.

Sterling não teria mais nenhuma cena hoje, então pensei que ele já teria ido. Mas não. Lá estava ele.

Acho que minha cara deve ter denunciado minha surpresa porque ele sorriu calorosamente.

-Pensou que eu ia te abandonar tão fácil, é? Dois irmãos magrelos não podem comigo! – e ele fez uma pose de super-herói.

Revirei os olhos e ri, quase chorando novamente. Mas dessa vez por um motivo diferente.

Dessa vez porque tinha alguém que parecia não querer desistir de me puxar do abismo.

E eu estava muito grata por isso.