Sunie tinha saído com Minho para comprar alguma coisa qualquer para a câmera dela, Key e Onew se ofereceram para preparar o almoço e Maggy correu atrás deles para “ajudar”. Você sabe bem o porquê desse “ajudar” com aspas. Maggy é... digamos assim, expert com essa coisa de paquera e tudo mais, e ela dentro de uma cozinha com Key e Onew... é melhor nem pensar.

Jong ficou na sala deitado no sofá assistindo TV e Taemin foi para o piano. Sunie não disse que tem um piano na sala de jantar? Ela é uma lenta mesmo. Enfim, nós temos um piano na sala de jantar – que é bem grande por sinal, por isso coube o piano lá. Eu já fiz aulas de piano quando era criança, portanto devo estar meio enferrujada. Vendo Taemin começar a tocar o piano, fui até ele e puxei mais um banquinho para me sentar ao lado dele. Ele parou de tocar e virou-se para mim com seu sorriso fofo.

- Não sabia que tocava piano. – eu disse passando os dedos pelas teclas devagar.

- Ah, é. Mais ou menos. Você gosta de piano?

- Também toco. – sorri com timidez para ele.

- Legal! – ele exclamou se ajeitando no banquinho. – Você poderia me dar uma aula rápida!

- Não. – apertei uma tecla. – Você quem vai me ajudar a desenferrujar. Tem muito tempo que não toco.

-Hum, melhor: que tal se eu tocasse uma música para você e depois você tocasse outra para mim? Eu não sou bom em ensinar, e você é minha noona, fica meio estranho.

- Noona? – ecoei.

- É. Em coreano a gente usa “noona” para garotas mais velhas.

- Hum. – gostei daquilo. – Beleza então, filhote.

- Maknae. – ele pareceu me corrigir.

- Quê?

- Nada. – ele mudou de assunto sorrindo. – Pode começar, as damas primeiro.

Eu sorri para ele e busquei na minha memória alguma música não tão difícil e que eu me lembrasse para tocar no piano. Confesso que estava um pouquinho, mas só um pouquinho, nervosa em tocar para Taemin, só pelo fato de eu estar enferrujada nisso e ele, provavelmente, não. Qual é, eu nem me abalo com garotos! Só não me pergunte por que eu fiquei nervosa agora, mas meus dedos tremeram nas teclas e eu acabei errando algumas notas. Estava difícil tocar sem nada para acompanhar e minha atenção voltada no braço dele que roçava no meu também não ajudava. Mas Taemin parecia só se divertir com meus erros. Argh, crianças! Sunie e ele são tão parecidos nesse aspecto! E talvez ela ainda não seja tão imatura assim... E, confesso, essa ingenuidade dele o fazia ser mais fofo ainda.

Quando terminei a música suspirei e lancei a Taemin um olhar semicerrado de reprovação do risinho que ele guardava atrás da sua mão na boca.

- Calma, Ann. – foi a vez dele tomar a posição para tocar. – Você não foi tão mal. – ele apertou os lábios. – Mas eu sei fazer melhor.

É claro. Revirei os olhos dando um tapinha fraco no seu braço.

- Ei, não se ache melhor que eu, garoto!

Ele sorriu amigavelmente e começou a tocar. Não reconheci a música e cismei que precisava rever minha playlist de músicas instrumentais. Ela era lenta, porém alegre e muito bonita. No meio da música virei minha cabeça para Jonghyun no sofá que já estava dormindo com a boca aberta e a baba ameaçando cair da boca e o controle da TV na barriga subindo e descendo com a respiração. Sorri e voltei a me concentrar no final da música que Taemin tocava.

Ele parou olhando ainda para as teclas e meu corpo automaticamente se inclinou para o lado de Taemin. Meus olhos enxergavam apenas a bochecha direita fofa dele e minha boca só tinha a intenção de dar-lhes um beijinho. Na sua bochecha! Minha boca já estava fazendo biquinho para um beijinho rápido e amigável de agradecimento em Taemin, mas ele se virou bem no segundo que eu estava nessa posição me aproximando. E o selinho foi em outro lugar, na verdade.

Meus olhos pareciam rodar nas órbitas porque estávamos o mais próximo possível e eu não conseguia enxergar muito bem, com nossas bocas juntas e tal. Eu acho que fiquei alguns segundos ali me perguntando o que era aquela coisa suave que tinha encostado-se aos meus lábios. Eu puxei minha cabeça para trás antes que os segundos virassem minutos e eu ainda estaria com minha boca ali.

Minha primeira preocupação foi olhar para trás para ver se Jong tinha acordado de repente e visto aquilo, mas sua baba agora estava descendo para o queixo. Voltei para Taemin com os olhos arregalados e ele parecia... normal. Um pouco sério, mas não com os olhos pulando e as mãos tremendo como eu. É claro, o que eu estava esperando? Que ele tivesse gostado daquilo?

- Taemin, desculpe! – sussurrei. – Ai... droga, não foi minha intenção. Não nesse... er, não! – eu abaixei a cabeça para não ver a expressão dele e para ele não ver minhas bochechas tomarem cor.

- Quer que eu finja que isso não aconteceu noona? – ele perguntou com seu rosto de criança calma.

- O quê? Ah, sim,por favor, eu não quis...

- Tudo bem. – ele sorriu. Cara, o que é esse garoto? Ele sorriu!

- Tudo bem. – repeti mandando minha respiração se normalizar. – Tudo bem.

Nós ficamos uns cinco segundos em silêncio e Sunie me salvou entrando em casa toda feliz sacudindo uma sacolinha de plástico com Minho com todo o seu ar avoado atrás dela. Só que desta vez ele parecia estar mesmo pensando em outras coisas, tipo, voando num outro espaço mesmo, não só “não prestando atenção”, mas “mantendo a atenção em algo mais importante”. Prefiro nem dizer o que pode ser que tem o deixado assim porque eu não entendo os garotos e digamos que Choi Minho é um tipo mais difícil de compreender. Me pergunto como Sunie conseguiu ficar tão... digamos assim, fascinada nele. Ou talvez eu entenda bem, porque ela é meio avoada e estranha às vezes também. Mas enfim.

Fui ver as coisas que Sunie comprou e chamei ela e Maggy – eu a fiz deixar os meninos cozinhando sozinhos – para subirem comigo e contei sobre eu e Taemin no piano. Sunie foi a primeira a agitar as mãozinhas quando ouviu que o beijo foi dado no lugar errado.

- Lugar errado nada! – Maggy também ficou alegrinha. – Vai dizer que não foi bom beijar o Taemin na boca?

- Não foi um beeijo na boca, Mag! – senti meu rosto ficar quente. – Foi um selinho!

- Pelo menos foi alguma coisa! – Sunie estava sorridente. – Já estava cansada de vocês duas me chamarem de pervertida! E agora a nossa querida Anna também já deu uma bitoca... – ela cantarolou mordendo o lábio.

- Shhh! – fiz eu mandando falar mais baixo.

- Desculpa. – Sunie olhou para a porta de relance. – Agora que... isso aconteceu, eu não sou a única. Só falta a Maggy, né...

- O quê? – Maggy pareceu ser pega de surpresa. – Eu? E-eu não.

- Você é a maior Maria-Cupido entre nós, Mag, – Sunie continuou. – seria injusto você não ter a sua ceninha também.

- Você não sabe o que fala, Sun. – Maggy fechou a cara.

- Ela sabe sim, Maggy. – eu disse sorrindo para Sunie. – Você precisa pegar o Key de jeito também.

Elas duas me olharam estupefatas.

- Desde quando você fala assim, Annapoly? – Mag ergueu uma sobrancelha.

- Você é uma ótima influência. – sorri.

Ouvi alguém chamar a gente e o som vinha da escada.

- Melhor irmos almoçar. – finalizei.

O almoço tinha sido macarronada com almôndegas (idéia da Maggy). Na mesa, eu tinha puxado Sunie e, praticamente, mandado ela se sentar ao meu lado só para evitar Taemin sentar ali. Eu já tinha ficado o almoço todo em silêncio, se Taemin sentasse ao meu lado a coisa seria realmente tensa. E era a última coisa que eu queria.

Todos estavam animados – principalmente Sunie, ela sempre fica de bom humor quando compra coisas para a câmera dela – e eles estavam falando em sair para jantar.

- Eu estava conversando com o Key quando a Maggy saiu da cozinha. – Onew começou. – Que tal se a gente, sabe, todo mundo, sair para jantar, sei lá, comer alguma coisa no fim de semana?

- Acho legal. – Maggy foi a primeira a palpitar.

- Que tal pizza? – Sunie falou ao meu lado enquanto eu enrolava o macarrão no garfo.

- Pizza é legal. – Onew levou seu garfo à boca.

- Crepe é mais legal. – Maggy disse.

- Crepe doce! – Sunie estava bem animada. Vou perguntar o que a deixou assim. Com certeza, não foram só as compras fotográficas. Quero dizer, fala sério!

- Tudo para você tem que ser doce, Sunie? – deixei minha boca abrir.

- Hum. – fez ela olhando para o prato pensativa. – Doce é um bom remédio para a tristeza.

- Bom argumento. – eu disse.

- Se com doce a Sun já é dramática e chata o bastante, imagina sem eles... – Maggy mordeu o lábio para não rir.

- Ei! – Sunie censurou fazendo bico.

- Mas então? – Onew voltou a perguntar. – Está tudo certo? Nesse sábado vamos comer crepe... doce? – ele acrescentou rindo. – Se bem que crepe de frango também é bom...

Os meninos riram como se aquilo fosse a piada do ano. Jonghyun segurava a boca para não colocar a almôndega da boca para fora. E aquilo não seria uma coisa bonita para se ver. Nós três nos entreolhamos e nos comunicamos mentalmente. “Garotos...” eu mandei. “Eles são doidos.” Sunie apertou os lábios. “Total.” Maggy revirou os olhos.

- Desculpem. – Jong engoliu e limpou a boca no guardanapo.

- Piada interna. – Key ainda ria escandalosamente.

- Ok, ok. – Onew parou de rir. – Tudo bem para todo mundo no sábado à noite?

- Depois podemos ir ao cinema? – Taemin perguntou e só ouvir a voz dele fez meus lábios tremerem. Me xinguei mentalmente e mantive a concentração no meu prato de macarronada.

- Podemos. – Onew respondeu. – O que quer ver Taemin?

- Terror? – o mais novo se animou.

- E as meninas? – Jong observou.

- Qual é! – Maggy gesticulou com o garfo. – Somos garotas que assistem filmes de terror! Inclusive Anna deve ter os que estão no cinema na ponta da língua.

Vamos confessar às vezes – ou freqüentemente – Maggy é mais exagerada que Sunie.

- Olha quem fala. – disse. – Você quem vive olhando os filmes que estão em cartaz! Mas a Sunie não gosta desses filmes.

- Não. – a baixinha interveio. – É que só não consigo dormir muito bem depois de assistir um filme desses à noite.

Nós demos rimos da carinha fofa dela.