A Beautiful Lie escrita por Raquel Severini


Capítulo 31
Capítulo trinta e um: L490


Notas iniciais do capítulo

Capítulo TRIPLO @_______________________@
* overdose de emoções *
Okaaaaaay, mereço vinte comentários depois disso ok?
Como vão as coisas por ai, meu povinho?
Senti saudades viu *-* Adorei os comentários,awn. Vocês me inspiraram a escrever esses três caps e espero que gostem, de verdade.
Como todo mundo sabe que isso aqui é uma "malhação", e gosto de promover fanfics de pessoas realmente talentosas, recomendo pra vocês, "sensations", da yumi. Eu gostei muito dela e enfim, a menina tem talento!
Enjoy ;* e converso com vocês lá embaixo.



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Uma semana havia se passado e eu não preciso nem dizer que estava em depressão. Não conseguia levantar da cama pra nada, já havia emagrecido oito quilos e a
notícia de que Mell havia recebido auta chegou quando Megan ligou para Tomo. Apesar de estar feliz por ela ter se recuperado, Mellanie não queria me ver, e isso
contribuia muito com o estado em que me encontrava. Shannon havia saído três dias atrás, dizendo que precisava espairecer e, até agora não voltara. Tomo e, agora
Vick, não saíam de perto de mim e tentavam me animar ou fazer com que eu me levantasse, porém, era inútil. Eu precisava dela e tinha a impressão de que até
conseguí-la de volta continuaria depressivo.
Os dias iam passando. Não sei bem quantos foram. Perdi as contas, e os quilos também. Uma enfermeira já tinha que ficar de plantão em meu lado, para caso eu
passasse mal e todos os dias um psicólogo aparecia por aqui, mas eu me recusava a falar com ele. Certa vez, enquanto pensavam que eu dormia, ouvi Tomo e Vick
conversando. Eles diziam que tinham medo de eu tentar suicídio e também sobre a preocupação com o Shannon, que ainda não havia voltado.
- Tomo. - Chamei e ele abriu os olhos para me observar. Eu estava desidratado mas mesmo assim consegui chorar - Liga pra ela. Por favor, eu não aguento mais...
- Hey, calma. - Ele pôs a mão sobre meu ombro amigavelmente e deu leves batidinhas, mas eu neguei, então Tomo suspirou e assentiu - Tudo bem, ela já vai vir, tá
bom? Vou falar com ela. - Respondeu se levantando.
Devem ter se passado uns quinze minutos até ele entrar novamente no quarto, sorrindo.
- O que ela disse?
- Ela vai vir. Porque você não vai tomar um banho e faz essa barba, que tá pior que a minha? - Riu. Ergui uma sobrancelha, em dúvida e ele acrescentou - Não vai querer
que ela te veja desse jeito, vai?
Neguei levemente e estendi minha mão na direção dele.
- Me ajuda a levantar. - Pedi e Tomo fez com que eu sentasse na cama. Fiquei muito tonto por alguns segundos, o chão rodava e minha visão era embaçada. Eu não
levantava fazia tempos, por isso a tarefa de andar havia se tornado incrivelmente difícil. Meu amigo me ajudou a dar os primeiros dez passos até eu finalmente conseguir
me equilibrar e andar até o banheiro.
- Se precisar de mim é só chamar. - Anunciou Tomo e eu assenti antes de fechar a porta do banheiro.
Meu cabelo estava oleoso e meu corpo magro demais. Talvez tivesse perdido uns quinze ou vinte quilos. Escovei os dentes lentamente e de mesmo modo fiz a barba.
Quando estava satisfeito entrei no box e deixei a água me acalmar. Meu coração batia descompassado com a possibilidade de vê-la. Mesmo que apenas para discutir,
precisava de Mellanie. Me enxuguei e fui até o quarto, com a toalha enrolada no quadril. A dor em minha cabeça já era comum, pela falta de comida, então, mal podia
sentí-la.
- Bem melhor. - Elogiou Tomo, sorrindo e me ajudou a procurar algumas roupas decentes pra vestir.
Tive que por blusa de manga comprida e casaco, pois a falta de gordura me fazia ficar com muito frio. Nem preciso dizer que a calça ficou larga, né? Tomo teve que
fazer um buraco extra no cinto. Depois de arrumado, fiquei sentado no sofá. Meu cabelo já estava seco quando alguém bateu na porta.

Mellanie;

Concordei com o Tomo em ir visitar o Jared assim que soube que ele estava em depressão e havia perdido 16kg. Não sabia exatamente se estava pronta para vê-lo
novamente. Parecia muito surreal, porém, não podia deixá-lo naquele estado. Shannon estava começando a me enlouquecer, pois ninguém sabia onde ele estava e
aquilo foi um golpe muito duro para se aguentar. Fora que Constance ainda estava foragida e Anna, respondia em liberdade. Tive de respirar fundo três vezes antes de
bater na porta. Tomo sorriu ao me ver, provavelmente com a mesma aparência de sempre e abraçou-me brevemente, abrindo um espaço para que eu entrasse.
Antes, porém, que eu pudesse ir até a sala ele me alertou:
- Mellanie, ele está muito mudado... Só peço pra que você não chore na frente dele, isso pode ser muito, muito ruim.
- Tudo bem.
Então caminhei até o cômodo ao lado. Jared estava sentado no sofá e seus olhos azuis brilhavam fracamente, sem forças. Ele estava muito magro e com profundas
olheiras. Seu rosto estava pálido, porém quando me viu, pude observar uma chama de vida passar por suas feições. O cabelo, agora do tom natural estava na altura
dos ombros. Sem pensar duas vezes fui até lá e o abraçei com força e certo cuidado. Podia sentir todos os ossos de suas costas. Ele me apertou fracamente e começou
a soluçar, com o rosto aninhado no meu pescoço. O cabelo de Jared cheirava a hortelã e morangos e sua pele continava macia como sempre.
- Desculpa... - Pediu enquanto chorava.
- Shh. Não chora, vai... Eu to aqui com você agora. Não era isso que você queria?
Ele assentiu e me apertou um pouco mais. Esperei que se acalmasse para me afastar um pouco e segurar seu rosto entre minhas mãos.
- Vamos fazer alguma coisa pra você comer. - Disse, beijando sua testa. Ele fechou os olhos brevemente e depois voltou a me fitar, concordando. Comecei a me levantar,
mas ele choramingou, então parei onde estava.
- Pode deixar que eu faço. - Se ofereceu Tomo e então foi para a cozinha.
- Amor, me perdoa, eu nunca quis te magoar... - Começou Jared, mas eu o impedi de falar, colocando um dedo contra seus lábios e dando leves batidinhas.
- Teremos muito tempo pra conversar sobre isso mais tarde. Agora eu estou aqui pra cuidar de você, tá bom?
- Tá bom. - Concordou e voltou a aninhar o rosto no meu pescoço.
Fiquei acariciando sua nuca, juntamente com os cabelos lisos. Eu amava quando ele deixava o cabelo crescer até aquela altura e não podia me conter em arrumá-los.
Jared esboçou um sorriso quando percebeu o que eu estava fazendo e eu tive que sorrir de volta e beijar seu rosto. Tomo apareceu logo depois, com um copo de suco e
um prato multicolorido, onde só havia vegetais, fossem estes, fritos, cozidos, assados ou crus. Pensei que aquilo não podia alimentar ninguém, muito menos uma pessoa
que estava a dias sem comer. Tomo me entregou os talheres e eu parti tudo em pequenos pedaços antes de entregar ao Jared. Tinha certeza de que ele se sentia como
uma criança de dez anos e gostava disso. Eu e Tomo sorrimos quando ele comeu o primeiro pedaço de uma beterraba. Ele acabou com o prato inteiro e o suco em
poucos minutos e pareceu se dar conta do quanto comida fazia falta.
- Ainda tá com fome? - Perguntei, alisando-lhe o pescoço. Jared gostou do carinho e assentiu levemente. Pude perceber que um pouco de sua cor havia voltado ao rosto.
Ele entregou a louça para Tomo, que voltou contente até a cozinha. - Você está tão quieto... Que foi?
- Nada. Eu só estava sentindo muito sua falta. Ainda não posso acreditar que você está mesmo aqui.
- Eu vou ficar com você até que melhore. - Concordei, passando o dedo por seu rosto.
Ele pareceu muito infeliz de repente.
- E depois? Você vai embora? Vai me deixar denovo?
- Hey, amor... Não, não, não. Eu vou ficar com você pra sempre, tá bom?
- Promete?
- Claro que sim.
Eu sabia que ele não ia ficar apenas no carinho por muito tempo, mas não esperava que fôssemos nos beijar novamente tão cedo. Quer dizer... Ainda estava muito
confusa naquele momento, porém, quando Jared me beijou eu não tentei impedí-lo. Seus lábios continuavam macios e pareciam se encaixar perfeitamente entre os
meus. Pude perceber a carência e a necessedidade neles. Ficamos apenas com a boca encostada uma na outra por alguns segundos, até que ele foi pedindo espaço e
eu cedi, sem pensar muito. Sua língua explorava cada centímetro, como se fosse a primeira vez que ele me beijava. Eu retribuía com muita intensidade, percebendo que
ele me fez mais falta do que eu um dia gostaria de admitir. Houve um pigarro e nós nos separamos, ambos um pouco assustados. Tomo parecia meio constrangido, mas
estava com outro prato de comida em mãos, e dessa vez havia, além dos vegetais, arroz, feijão e lentilha.
- Desculpa se eu... Hãm... Se eu interrompi alguma coisa.
- Não. Você não interrompeu nada. - Estiquei minha mão, pegando o prato e concentrando-me, um pouco vermelha, na tarefa de cortar os alimentos.

Jared comeu uns três ou quatro pratos de comida. Suas feições melhoraram um pouco, ele parecia até mais animado. Tomo estava sentado no outro sofá, e, como de
costume, ele roncava tranquilamente. Resolvi não acordá-lo, pois este parecia um pouco exausto e até mesmo, satisfeito por me deixar cuidar do Jay.
- Vamos assistir um filme? - Perguntei, parando de afagar seu cabelo. Ele assentiu, parecendo gostar da ideia.
Jared choramingou feito uma criança quando eu levantei para ligar a televisão, mas me deixou ir. Fui passando os canais, até achar um filme de ação. Dando-me por
satisfeita, voltei ao sofá. Na metade do caminho Jared já estava me puxando para perto dele. Deixei-o deitar o rosto em meu pescoço, enquanto afagava levemente suas
costas e nuca. Ele me abraçava possessivamente e, apesar de sonolento, percebi que ele lutava contra o impulso de dormir.
- Não quer dormir um pouco? - Questionei, puxando seu queixo delicadamente, fazendo com que ele me olhasse.
- Não.
- Porque não, meu amor? - Perguntei carinhosamente, dando um beijo em sua testa.
- Eu tenho medo de acordar e não te ver mais aqui. - Respondeu, baixando o olhar.
- Jared, eu vou ficar com você. Não vou nem levantar desse sofá, tá bom?
Ele parecia, hesitante, mas concordou. Seu corpo estava um pouco tenso inicialmente e ele ainda me abraçava com força, como se estivesse com medo de
eu fugir. Porém, fiquei fazendo carinho em suas costas e rosto e, em apenas alguns minutos ele acabou dormindo. Assim como Tomo, parecia exausto. Me
perguntei qual teria sido sua última noite bem dormida, mas não consegui uma resposta. A respiração de Jared fazia cócegas em meu pescoço e seus
braços, que estavam ao meu redor, se afrouxaram. Ele ficava lindo dormindo, parecia um anjinho. Meu anjinho. Sorrindo, acomodei o rosto no topo de sua
cabeça e fechei os olhos.
Tive pesadelos. Sonhei que Shannon havia morrido. Acordei com lágrimas nos olhos e sentia um leve tremor sob meu corpo. Percebi que Jay sentia frio.
Delicadamente, consegui me levantar sem acordá-lo e fui até o quarto, pegando um cobertor grosso. Cobri-o até a altura das costas e ele se encolheu
apertando o edredom. Em poucos segundos suas bochechas ficaram um pouco vermelhas, indicando que ele estava aquecido. Sem sono, dei um beijo em sua
bochecha e fui tomar um banho. Havia trazido uma mochila com roupas e alguns utensílios que iria precisar para passar um tempinho ali.
Quando apareci na sala novamente, Tomo estava acordado e observava Jared dormindo com uma expressão surpresa. Percebendo que eu o olhava, explicou:
- Ele só conseguia dormir de quatro em quatro dias, quando a mente já estava em estado de exaustão. E acordava no máximo duas horas depois, gritando
seu nome.
- Bom. - Olhei o relógio - Ele está dormindo já faz cinco horas.
Tomo apenas sorriu.
- Estou com fome, tá afim de comer alguma coisa?
- Seria uma boa. - Concordei. Percebi que eu falava baixo instintivamente, com medo de acordá-lo.

Eu e Tomo fizemos uma zona enorme na cozinha, tentando improvisar uma pizza. Havia farinha, pedaços de massa e linguiça calabresa por todos os lados.
Fora a louça, que estava jogada na pia e formava uma pilha de sujeira maior que eu. Demoramos umas três horas para chegar a um estado aceitável.
O estômago dele roncava tão alto, que fiquei surpresa por Jared não acordar.
A pizza ficou apenas vinte minutos no forno. Quando a peguei, não parecia tão ruim.
- Olha, sabe cozinhar - Aplaudiu - Já da pra casar hem. - Comentou rindo e eu revirei os olhos.
- Só tem uma dona de casa aqui Tomo, e não sou eu!
Ele gargalhou e jogou farinha na minha cara. Só não retribuí pois estava com a travessa quente nas mãos.
Comemos calmamente, conversando sobre a melhora evidente de Jared. Já era madrugada quando resolvemos ir dormir. Observei Jay esparramado no sofá e
decidi que se tentasse deitar ali, ele ia acabar acordando. A vontade que tinha de ir até ele e abraçá-lo estava quase me dominando. É claro que eu
estava carente. Fazia quase um mês que não o via. Tinha saudade da sua voz, do seu cheiro, da sua pele, e até da cara linda que ele fazia quando
estava irritado. Queria mordê-lo, apertá-lo possessivamente e dizer que ele era meu, só meu. Mas não podia, não agora. Suspirando, me arrastei até
o outro quarto e enfiei-me debaixo das cobertas.

Alguém gritava. Percebi que era Jared e levantei assustada, correndo até a sala. Tomo tentava acalmá-lo e parecia querer explicar alguma coisa.
Quando me viu, ele disse:
- Ela tá ali! Ela tá ali!
Jay parou de gritar e veio em minha direção, esticando os braços, quase como se pedisse colo. Sua expressão era infantil e angustiada. Ele me abraçou
com força, choramingando. Pude perceber que a janta do dia anterior havia dado resultado, mesmo que pouco. Suas costas já estavam um pouco mais cheinhas.
- Onde você estava? - Perguntou, emburrado.
- Eu tava dormindo, no quarto.
- Porque você não ficou comigo?
- Eu tive que levantar pra jantar coisinha linda minha. Não quis te acordar.
Aparentemente ele gostou de ser chamado tanto de "lindo", quanto de "meu".
- Você disse que não ia levantar do sofá. - reclamou.
- Desculpa, tá bom? Não queria te assustar. - Ele ficou em silêncio, apenas me abraçando, então questionei - Dormiu bem?
- Não. - Agora Jared fazia aquela cara emburrada que eu amava. Me dava vontade de mordê-lo.
- É? Porque não?
- Porque você não estava comigo.
- Hoje eu prometo que durmo bem agarrada com você, que tal?
- Eu gostei. - Respondeu, contente.
- Agora vem cá, deixa eu olhar direito pra você.
Jared se afastou um pouco, tirando o rosto do meu ombro e deixou-me observá-lo. Seus olhos não possuíam mais aquelas olheiras escuras. Agora eram
pequenas linhas claras, quase imperceptíveis. As maças de seu rosto estavam menos saltadas e a face, na cor normal. Sorri para ele e peguei sua mão.
- Vamos tomar um café da manhã?
- Estou sem fome.
- Não quero nem saber, você vai ter que comer alguma coisa.
- Não, amor... Não, eu não quero. - Jay fez bico e cara de choro.
- Você tem que comer. Se não eu fico preocupada.
Ele não respondeu, então soube que o havia convencido. Tomo olhava pela janela. Fazia sol na Rússia, e mesmo assim, o frio era angustiante.
- Fica aqui com o Tomo que eu vou fazer alguma coisa pra você.
- Não...
- Porque não, Jared? Eu só vou demorar dez minutos.
- Porque o Tomo é feio...
Tomo olhou-o como se fosse um assassino profissional, fazendo com que eu risse alto.
- Jared, você é foda! Nem doente larga do meu pé.
- É porque você tem barba de mendigo.
- Tá bom, já chega, meninos. - Fui em direção a cozinha e Jared me seguiu, correndo e olhando por cima do ombro, quase como se estivesse com medo de Tomo
bater nele.
Coloquei algumas frutas sobre a bancada e peguei uma faca. Jared abraçava-me por trás, enquanto me observava descascar todas elas. Demorou alguns minutos até
estar tudo pronto. Coloquei um pouco da salada de frutas em uma vasilha e dei para ele. Também peguei um pouco para mim e para Tomo.
Ficamos sentados no sofá, cada um com uma colher. Jared parecia uma criança comendo. Pedaços de fruta caíam em cima de sua roupa e ele lambia tanto a colher,
quanto os dedos.
- Quer mais? - Perguntei, quando ele terminou. Jay fez que sim com a cabeça e eu peguei a vasilha de sua mão. Coloquei uma boa quantidade e lavei o talher antes de
voltar para a sala e entregar à ele.
Tomo estava estranhamente quieto e ainda olhava pela janela. Percebi que ele nem havia tocado na comida.
- Tomo, tá tudo bem?
Ele se virou em minha direção e soltou um suspiro longo.
- Sim, sim. Só estou um pouco preocupado, nada demais.
- Ah... - Pelo modo como ele disse "preocupado", tinha certeza de que se tratava do Shannon. - Você não quer ir dar uma volta? Eu fico com o Jared.
- Isso mesmo. Vai dar uma volta. - Encorajou Jared e percebi que ele queria ficar a sós comigo.
- Tem certeza? - Questionou ele, olhando-me.
- Tenho.
Tomo assentiu e, logo em seguida saiu. Não falei mais nada, até Jay acabar de comer e colocar a vasilha para um lado.
- Você se sujou todo. - Ri, observando sua camisa completamente manchada.
- Mellanie... - Me chamou naquele tom carente e necessitado e esticou a mão em minha direção. Apesar de já estarmos próximos, ele me abraçou confortavelmente.
- Que foi? - Perguntei ajeitando sua franja pra trás da orelha.
- Você me perdoa?
- Jared, não... Não vamos falar sobre isso agora, tá bom?
- Por favor, eu preciso saber. - Pediu. Seus olhos brilhavam levemente.
Suspirei e segurei seu rosto, puxando-o levemente para baixo, fazendo com que ele olhasse nos meus olhos.
- Escuta... Eu entendo Você; Constance é sua mãe, é compreensível que você tenha acreditado nela. O que me magoou não foi isso. - Fiz uma breve pausa, pensando nas
palavras certas - Se lembra, daquele dia, quando estávamos no ponto de ônibus um pouco antes da nossa primeira vez? - Ele assentiu levemente - O que você me
disse? - Questionei, fitando-o.
- Que... - Ele coçou a nuca e pensou durante alguns instantes - Que você podia confiar em mim pra tudo.
- Exatamente. Eu poderia confiar em você pra tudo, porque, antes de qualquer coisa você era meu melhor amigo. É compreensível que o Shannon tenha acreditado nas
palavras dela, porque eu o conheci agora. Mas não você. - Meus olhos estavam marejados - Quando você desconfiou de mim, eu só... - Olhei para o chão, não sabia
bem o que dizer. - Você sabe.
- Eu sei. Eu sei, meu amor, me desculpa... - Pela primeira vez Jared falou como um adulto - E eu sinto muito por isso. Você tem todo o direito de não querer mais olhar
na minha cara. Não vou mais te impedir de seguir a sua vida. - Ele respirou fundo, havia lágrimas em seus olhos, mas ele não as deixou cair - E mesmo assim,
você ainda está aqui, cuidando de mim, depois de tudo o que eu fiz. Eu não mereço isso. Eu não mereço você. - Jared parou de me abraçar e se afastou levemente.
Aquilo doeu muito, porém, me mantive no lugar.
- Foi a primeira promessa que você quebrou. - Concluí, enxugando os olhos com a manga da blusa - Mas eu te perdôo. - Ele me olhou nesse instante - Eu te perdôo,
porque, apesar de ter despedaçado meu coração, sei que você é o único que pode juntar as peças. E isso nunca vai mudar.
Agora algumas lágrimas pingavam de seus olhos, mas era diferente. Eram lágrimas de felicidade. Ele sorriu. Um sorriso sincero, sem luxúria, sem ostentação. O sorriso
do meu Jared de pontas vermelhas no cabelo, o sorriso do menino que eu amei e do homem pelo qual me apaixonei. Jared me abraçou e eu retribuí, apertando-o com
força contra meu corpo.
- ...Que bom - Disse ele após um pausa, com a voz abafada por estar com a boca grudada no meu ombro - Porque eu não conseguiria viver sabendo que você não
amaria mais ninguém por minha causa.
Fiquei em silêncio. Eu me sentia leve e feliz. Finalmente em paz. Esse era um daqueles momentos que você sabe que tudo está perfeito e, depois que passam, deixavam
um sentimento de falta.
Perdi a conta de quanto tempo ficamos abraços, quietos. Aquela necessidade de estar sempre com ele me invadia e eu simplesmente não conseguia ignorá-la. Finalmente
ele ergueu a cabeça para me olhar. Jared poderia sorrir a qualquer instante, seu olhos azuis estavam alegres. Ele abriu levemente a boca para falar, mas eu coloquei um
dedo contra seus lábios, impedindo-o.
- Shh. Não estrague esse momento.
Ele me fitava sem compreender. Então eu sorri com o cantinho da boca e o beijei. Não teve língua, dessa vez. Nem precisava, ambos parecíamos satisfeitos apenas por
estar em contato um com o outro. Aquele gesto demonstrava tudo. Jared se afastou um pouco.
- Eu te amo.
Olhei-o durante uns bons segundos, antes de responder, sorrindo e afagando seu rosto.
- Eu também te amo.

  
Uma semana se passou. Jared já parecia mais saudável, e feliz também. Apesar de terem de adiar a turnê temporariamente, pois ele ainda não se sentia
confiante para cantar. Eu, Tomo, Jared e Vick, estávamos fazendo bagunça na sala, quando bateram na porta.
- Deixa que eu atendo. - Levantei, ainda rindo de uma piada que Tomo havia feito e abri a porta.
Shannon estava parado na soleira e, fora as olheiras e a tormenta no olhar, não parecia mudado. Não fisicamente. Meu sorriso foi se apagando aos
poucos. Num impulso, abraçei-o com força, respirando fundo e sentindo o cheiro familiar provido de seu pescoço reconfortante. Me afastei e nossos
lábios se colaram com força e com um certo desespero. Minha mão subia e descia por sua nuca e, no fundo eu me odiei. Me odiei por não conseguir parar
aquilo. Era quase como se fosse um instinto. Eu dependia dele, fisicamente, emocionalmente. E depender nunca era uma palavra boa. Tão contrário de
Jared, Shannon era a negação de meus próprios princípios morais. Sempre pensei em seu irmão como o biótipo de homem perfeito para mim, e então...
Então ele apareceu para me provar o contrário. Shann se afastou e beijou minha testa. Fechei os olhos enquanto ele afagava levemente minhas costas e
mantinha a boca em contato com minha pele.
- Meu Deus, Shannon, você está bem? - Perguntei, afagando seu rosto protetoramente. Ele negou com a cabeça e me abraçou.
Fui guiando-o até a sala. A conversa lá cessou quando nos perceberam. Jared foi o primeiro a levantar, mas reprimi-o e ele voltou a sentar-se, precisava conversar com ele a sós. Acomodei-o na cama e segurei suas mãos entre as minhas. Olhar dentro de seus olhos era perturbador, pois eles estavam
tão conturbados...
- Seus olhos costuvam ser mais bonitos.
- Eu sinto muito por tudo que te fiz passar. - Ele falou, com a voz um pouco distorcida. Sua vontade de chorar era iminente. - Muito.
- Não, amor... Não diga isso. Eu quem peço desculpas. Sinto muito por cobrar demais de você, eu não deveria... Não mesmo.
- Você não fez nada.
- Shannon... Eu não consigo simplesmente te ver desse jeito. Eu quero entender o que acontece - Coloquei uma mão em sua cabeça - Aqui - E então desci
até seu peito - E aqui.
- Eu me sinto culpado por tudo isso. Quer dizer, quanto tempo nós passamos juntos? Eu praticamente só te preocupei, de hospital em hospital. E depois de tudo isso, ainda tive coragem de acreditar nas palavras... Dela.
- Ela é sua mãe.
- ...Não. - Ele baixou a cabeça.
- Hey... Olha pra mim. - Lentamente ele ergueu os olhos e respirou fundo. Fiz uma pausa antes de continuar. - Eu andei pensando, sabe... No porquê dela ter feito o que fez. E sabe o que eu acho? Que ela tinha medo de deixar você se machucar. Que pensava em cair mil vezes, antes de te deixar tropeçar. E eu sou a pedra. Ela te ama.
- É um amor doentio...
- Você precisa perdoar. É isso que te incomoda, agora eu sei, meu amor. Perdoar a si mesmo e a sua mãe.
- Mas é tão difícil... Eu não sei se consigo.
- Eu to aqui com você. E vou te ajudar no que você precisar.
- As vezes eu te invejo... Por ter a capacidade de perdoar alguém que te fez tão mal. E principalmente por tentar entender o que a levou a fazer isso.
- A vida é muito curta para se viver amargamente. Se você guardar rancor de cada pessoa que tentou te botar pra baixo... Então esse alguém terá tido sucesso. - Sorri para ele - Perdoar só mostra que seu coração é grande.
Ele sorriu de volta e me abraçou.
- E você me perdoa? - Perguntou ainda com o rosto apoiado no meu ombro.
- Você não fez nada de errado.
- Mellanie, por favor, eu preciso disso pra conseguir conviver comigo mesmo.
Ajeitei seu cabelo antes de responder.
- Não, você não precisa. Você quer isso, mas querer e conseguir, são coisas totalmente diferentes.
- Você me conhece tão bem assim?
- Talvez sim, talvez não. Ou quem sabe eu apenas gosto de fazer apostas.
- Me diga porque eu não acredito nisso.
- Porque você confia no meu sexto sentido? - Falei, com o ar de inocente e ele riu.
- Quem sabe?
Seus olhos estavam mais tranquilos. Aquilo fez eu me sentir tão bem, de repente.
- Jared sentiu sua falta. Você devia ir falar com ele.
- Ele pode esperar mais cinco minutos.
- Porque ele esperaria mais cin...
Então Shannon me beijou. E nesse momento, eu tive certeza, de que tudo ia ficar bem. Ele tinha esse poder sobre mim. De me acalmar, de me fazer sentir protegida. Tentei aprofundar o gesto, mas ele se afastou.
- Você tá brincando comigo? Sabe que eu quero mais que um selinho.
- É... Mas querer e conseguir - Falou perto de minha orelha, com a voz baixa e sexy que fazia com que eu me arrepiasse com uma facilidade assombradora - São coisas totalmente diferentes.
Então ele se levantou da cama, rindo.
- Mais tarde você vai me compensar por isso. - Afirmei.
- É? E quem te disse essa besteira? Seu sexto sentido?
Seu jeito bôbo e provocante já tinha voltado. Sorri internamente e o acompanhei até a sala. Jared batia os pés insistentemente contra o piso de madeira. Seus braços estavam cruzados e ele fazia bico, me lembrando uma criança de dez anos que ganhou roupa de aniversário. Tomo e Vick conversavam baixo, mas pararam assim que nos viram.
- Primeiramente - Começou Shannon sem se dirigir a ninguém em particular - Eu queria pedir desculpas por ter deixado vocês preocupados.
- Quer saber de uma coisa? - Perguntou Tomo com o tom sarcástico. Ele se levantou e ficou de frente para Shannon - Eu não te perdôo.
Os dois ficaram em silêncio, apenas se encarando. Uma pausa desconfortável se seguiu, até que eles começaram a rir e se abraçaram.
- Até parece que alguém aqui caiu na sua piadinha, Mofo. Todo mundo sabe que você não vive sem mim.
Suspirei de alívio e fiquei observando Jared, que continuava com os braços cruzados e a expressão emburrada que eu amava.
- E meu irmãozinho? - Questionou Shannon, usando um tom fofo pra pronunciar a última palavra - Não vai vir me dar um abraço?
- Não. - Rebateu ele, rapidamente, com o tom infantil. Desde que Shann e eu voltáramos pra sala, ele ainda não havia nos olhado.
- Mas não é uma gracinha? - Shannon riu, dando um tapinha na cabeça do irmão. - Deixa de ser estraga-prazeres e vem falar comigo antes que eu te meta a porrada.
Jared não conseguiu segurar o riso, apesar de ter se esforçado bastante na tentativa. Ele se levantou e abraçou Shann fraternamente. Sorri, observando os dois, que
permaneceram daquele jeito durante um tempo.
- Já chega - Falou Jared, que assumiu um tom sarcástico - Você pode ter voltado a cinco minutos, mas já está insuportável.
Ambos riram e Shann passou um braço por cima dos ombros do irmão, num movimento muito natural.  Eles se sentaram perto de mim no sofá, um de cada lado. Vick
teve que ir embora e nós insistimos que Tomo fosse com ela.
Fiz pipoca para assistirmos com filme e, como não caberia nós três juntos no sofá, deitamos em cima do tapete, com travesseiros e cobertores. Já era madrugada, mas
Jared e Shannon pareciam felizes em aproveitar aquele momento comigo. Jay tinha o rosto aconchegado no meu ombro e o braço sob minha barriga. Shann me envolvia
com um de seus braços e sua cabeça estava encostada na minha. O cobertor grosso cobria nós três e havia vários travesseiros espalhados pelo chão. É claro que não
prestei muita atenção no filme. Estava mais concentrada em fazer carinho neles. Já comentei como acho a nuca do Jared muito, muito sexy? Não conseguia parar de
arranhá-lo levemente ali, e ele gostava disso. Com a outra mão eu brincava com os quadradinhos do abdômen do Shannon. De vez em quando ele ria. Perdi a
conta do tempo. Só sei que, antes de acabar o filme, ambos já haviam dormido.
Sorri enquanto os observava. Sempre achava lindo meu Jay dormindo. Além do mais agora, que ele estava encolhido, agarrando-me. Eu amava o jeito infantil e carente
que ele tinha. Shannon, como sempre, não parava quieto. Por algum motivo havia aprendido a gostar da hiperatividade dele e, percebi que, apesar de se virar e
contorcer-se de um lado pro outro, Shann sempre voltava para o mesmo ponto: Eu. Algo o fazia me soltar e me abraçar de novo diversas vezes. Aproveitei o momento
em que ele se afastou pra levar Jared pra cama. Quando me sentei, Jay reclamou insconcientemente e me segurou. Me aproximei de seu ouvido e sussurrei:
- Vem cá, meu amor, vamos pra cama.
Segurei suas mãos, ajudando-o a se levantar. Quando estávamos em pé ele me abraçou. Percebi, incrédula, que ele estava semi-consciente. Seus olhos jaziam fechados,
e ele andava parecendo sonâmbulo. Isso me lembrou muito uma criança que havia dormido no carro, que andava até sua cama e, no dia seguinte não lembrava de como
havia parado lá.  Fomos agarrados até o quarto. Deitei-o com cuidado e beijei seu rosto algumas vezes, antes de voltar a sala.
- Shannon... - Chamei-o delicadamente, afagando seu rosto. Ele abriu os olhos. - Vamos deitar, vem.
Apesar de ter acordado, quando coloquei-o na cama Shann não demorou muito a dormir. Voltei até a sala, peguei o cobertor e retornei ao quarto. Primeiro cobri Shannon
e depois o ajeitei. Quando fui arrumar o edredom em cima de Jared, porém, ele abraçou minha cintura, puxando-me para si. Jay se arrastou, com uma carinha linda de
sono até o meio da cama e em seguida pegou minhas mãos, fazendo com que eu deitasse em uma das pontas. O ruim era ficar longe de Shannon, mas eu não reclamei.
Estava com sono e me aninhei no peito dele, que envolveu minhas costas com um braço. Jared desceu a mão até minha coxa e a pediu. Passei a perna por cima de sua
cintura, do jeito que ele gostava. Fechei os olhos com um sorriso idiota no rosto e fui acolhida por sonhos.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam hem?
Eu, particularmente adorei escrever esse capítulo. Estava inspirada e acho que consegui me aproximar bastante da personalidade carente do Jared, que eu quis passar desde o primeiro capítulo da história.
Gostaram do Shannsual? Amo escrever as piadinhas dele, kkkkkk, fico rindo sozinha na frente do pc!
Heey, não fiquem tão contentes ok? Próximo capítulo eu posso resolver terminar com a alegria de vocês.
Sentiram falta da Constance? E da Anna? Hmmm... sem mais dicas, sem mais dicas. KKKKKKKKKK
Odeio pensar que essa fic ja já vai acabar ='(.
Enfim, quero opiniões @____@ muitas, muitas.



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