Acima do Dever escrita por Flavia Souza


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Repostando pois a tapada aqui apagou sem querer.



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Na noite escura, disparos atingiram o chão raspando arbustos e árvores ao redor. Edward Cullen sabia que o inimigo atirava a esmo. Com certeza, não o viam ali escondido. Mas isso não significava que não poderiam tirar a sorte grande.

Manteve a cabeça baixa e a arma segura na mão enquanto se arrastava rumo à praia, onde estava o bote que o aguardava. O resto de sua equipe de reconhecimento já estava lá. Seria o último a chegar. Como sempre.

Enquanto a série seguinte de explosões abalava a noite, Edward sorriu e prosseguiu sobre cotovelos e joelhos em meio aos arbustos, cada vez mais próximo da segurança. Nem olhou para trás. Não precisava. Conhecia seu trabalho e o realizara bem. As explosões aconteciam conforme o planejado. Chamas iluminavam a noite e sombras tremeluziam em torno. Missão cumprida gabou-se, con­centrando-se no desafio seguinte: escapar dali com vida.

Rastejando mais rápido, ignorou os disparos próximos, o estrondo das explosões e os gritos dos inimigos à sua procura. Saindo da mata, rolou na areia e, agachado, correu os últimos metros até o bote. Era o trecho mais perigoso, sem a proteção das folhagens. Uma faixa de areia limpa o separava da segurança, e Edward a venceu batendo recorde de velocidade. Guiado pelo instinto, abaixou-se quando mais cargas detonaram, causando sobre pressão no ar quente.

Edward chafurdou na água pelos joelhos e projetou-se de cabeça no bote, enquanto os companheiros ligavam o motor. Agarraram-no pelas roupas e puxaram para dentro da embarcação. Ele permaneceu deitado por algum tempo, recuperando o fôlego. Salvo. Seus companheiros estavam ali. Seus amigos. Raios, sua família.

─ Diria que chegou bem perto desta vez, sargento.   Ralhou Jasper, acelerando o motor para a velocidade máxima, gerando espuma branca na água.

Aquele som de motor era maravilhoso. Tinham chegado reman­do, mas agora não importava mais que fizessem barulho. Chegar em silêncio... e fugir rápido.

Edward olhou para o outro homem e sorriu. Teve de gritar para ser ouvido:

─ Eu sei, eu sei! Pare de reclamar. As senhoritas aqui estavam a salvo no bote, enquanto eu ia lá, salvar o mundo para o resto da humanidade.

Jasper riu, celebrando o fato de ter sobrevivido.

─ Sei! Nós aqui sentados, esperando por ele... alvos que nem um recruta erraria, e ele ainda nos insulta.   Protestou Emmert.

─ È.    Concordou Seth, ainda com o fuzil apontado para a praia, para dar cobertura à fuga, caso algum inimigo chegasse zan­gado.    ─ Parece-me que Edward fica mais convencido com a idade. Tal­vez devamos jogá-lo ao mar para que volte nadando.

Jasper manobrou em direção ao navio que os aguardava fora de vista, num cabo a alguns quilômetros dali.

─ Não! Algum tubarão poderia mordê-lo e morrer envenenado. Não seria justo com o bicho...

Edward riu e recostou-se. Os companheiros conseguiram. Em poucos minutos, seriam recolhidos pelo navio e, dali a cinco dias, estariam de folga.

A primeira folga em muito tempo.

A lua surgiu em meio às nuvens e, com a breve iluminação, Edward pôde ver os rostos ao redor. Pintura de camuflagem ocultava os traços pessoais, incluindo os seus. Olhos e dentes brilhavam na escuridão. Brincadeiras à parte, ele confiaria a própria vida a qual­quer um deles. E já confiara. Vezes demais. 

            

Então, reparou na outra presença na embarcação. O motivo da missão. O homem que foram resgatar.

Um diplomata que permanecera tempo demais num país pouco amistoso e, não mais bem-vindo, vira-se refém por um mês. Quase perdera a esperança de voltar para casa. Até que Jasper invadiu sua barraca-cativeiro e sussurrou:

─ Fuzileiros Navais.

O homem quase chorara. Edward tinha certeza de que teria chama­do uma banda para recebê-lo, se pudesse.

Agora, estava ali, sentado na proa do bote, como se assim fosse chegar mais rápido em casa. Edward também tinha pressa de voltar para os Estados Unidos. Fazia dezoito meses que não tirava uma boa licença. Dezoito meses desde que vira Bella pela última vez... Na escuridão, apesar do barulho do motor e das explosões dis­tantes, Edward relaxou pela primeira vez em dez horas e permitiu-se divagar. De volta àquela noite... A última que passara com a mu­lher que assombrava cada um de seus sonhos.

Bella o procurou e ele a puxou contra si, deliciado com o calor da pele macia, desnuda. Nunca aproveitara tão bem uma folga de duas semanas. A começar do primeiro dia, quando resgatara Bella no mar, atordoada com a batida de uma prancha de surfe extra­viada na cabeça.

Na praia, ele lhe aplicara respiração boca a boca e não mais se separaram. Nunca vivera experiência tão rica antes. Tamanho tur­bilhão de emoções. Sentimentos tão intensos. Um desejo assim.

E aquela era a última noite juntos. Na manhã seguinte, ele embarcaria novamente, para destino desconhecido. Quando volta­ria? Nem ele sabia. Abraçou Bella com mais força, inseguro quanto ao futuro, tentando bloquear a imagem da despedida.

─ Essas duas semanas passaram tão rápido...    murmurou ela, seu hálito acariciando a pele dele. Passou a mão nos pêlos do peito, e ele prendeu a respiração ante o toque de fogo.

─ É.    concordou Edward, sorvendo o leve perfume de seus cabelos. ─ Passaram.

Bella o fitou.

─ A que horas você tem de ir?

Sob a iluminação fraca das velas, os cabelos chocolates pareciam faixas douradas de luz e sombra alternadas, lembrando chamas na noite. Tão macios, tão...

─ Bem cedo.    Informou Edward.    ─ Tenho de estar na base às seis.   Ela olhou para o rádio-relógio digital no criado-mudo.

─ E meia-noite ainda. Temos muitas horas...

─ Não o bastante.    Replicou ele. Ainda que tivesse cinqüenta anos à disposição, não acharia suficiente. Havia algo naquela mu­lher que o fazia se esquecer de tudo o mais no mundo. Só queria permanecer trancado no quarto com ela.

Mas não tinha essa opção. Sendo assim, restava-lhe aproveitar ao máximo o tempo que tinham. Resolveu não desperdiçá-lo dese­jando algo que não podia ter. Tomou o belo rosto nas mãos e aca­riciou a pele lisa com o polegar. Então, deitou-se de lado e apoiou-se no cotovelo para admirar aqueles olhos verdes.

─ Vai sentir saudade de mim?    Bella ergueu um canto dos lábios.

─ Talvez.     Acariciou-lhe as costas com movimentos leves que o excitavam.   ─ Seria bom reforçar a impressão, para garantir...

Edward apalpou-lhe um seio.

─ Tem razão.    Massageou o mamilo entre o polegar e o indi­cador e sorriu quando Bella arqueou o corpo, afundando a cabeça no travesseiro.

─ É quase certo que sentirei saudade...    Murmurou ela, entre suspiros.

As palavras pairaram no ar por algum tempo, e Edward esperou que ela abrisse os olhos e o fitasse. Então, com voz grave e rouca, declarou:

─Voltarei para você, Bella. Não sei quando, mas voltarei.    Ela colocou as mãos em seu rosto e o aproximou.

─ Promete?

Ele beijou-lhe a palma.

─ Sim, meu bem. Prometo.

Então, abraçaram-se, e Edward entregou-se às sensações, procuran­do gravar na memória. Tudo. O perfume dela, o toque, o sabor da pele. Gravaria de maneira tão indelével que, não importava onde se encontrasse ou o que estivesse fazendo, sempre seria capaz de recuperar aquele momento.

Bella suspirou. Ele recolheu o hálito e o absorveu, tornando-o parte de si mesmo. Iniciaram uma batalha de línguas, o desejo ameaçando devorá-los.

Ele acariciava cada curva daquele corpo formoso, decorando-as, imprimindo-as na memória. Ela também o acariciava, nas costas, acompanhando a espinha até as nádegas, nas quais enterrou as unhas. Edward fechou os olhos e cerrou os dentes, buscando autocon­trole. Mas a provocação era demais, e Bella sabia disso. Ela con­tinuava tateando, ousada. Edward gemeu e segurou-lhe as mãos, pren­dendo-as acima de sua cabeça.

─ Algum problema?     Questionou Bella, fingindo inocência.

─ Nenhum.  Sem mais delongas, ele posicionou o corpo sobre o dela.

─ Que bom. Ela se movimentou sob ele, afastando as pernas e erguendo os quadris para recebê-lo.

Edward aceitou o convite e a penetrou. Ela cruzou as mãos na nuca dele, extasiada com o gingar dos quadris estreitos contra os dela, naquele movimento oscilatório que os conduzia cada vez mais afli­tos a um ápice que parecia estar longe do alcance, Edward descobrira algo lá, naquele momento.

Com Bella. Algo ines­perado. Algo com o que não sabia exatamente o que fazer. Algo que não queria perder, mas que mesmo assim teria de deixar.

Raciocinava freneticamente, cada terminação nervosa do corpo vibrante. Foi quando Bella agarrou-se a seus ombros, e estremeceu, extasiada, pouco antes de ele mesmo se perder em prazer. Naquele instante maravilhoso, Edward soube que separar-se dela seria a missão mais difícil de sua vida.

Fazia dezoito meses. Mas agora estava voltando. Cumpriria a promessa de voltar. Só rezava para que Bella ainda estivesse à espera. Não seria uma grande decepção descobrir que, enquanto ele pensara nela esse tempo todo, ela o esquecera?

O bote alcançou o destróier e a leve colisão arrancou Edward das divagações.  Lançaram uma escada de corda. Enquanto Emmert e Seth ajudavam o diplomata a subir em segurança, Jasper olhou para Edward.

─ Ainda pensando naquela mulher, sargento?

Edward encarou o amigo. Não devia se surpreender com o comen­tário. Os companheiros cansaram-se de ouvi-lo se lamuriar por Bellay nas longas noites de inatividade, enquanto aguardavam o mo­mento de agir.

─ É bem melhor do que pensar em vocês.

─ Está certo.    Reconheceu Jasper, com um sorriso. ─ Mas, diga, essa sua morena não tem irmãs?

─ Não sei.    Edward deu-se conta de que nunca haviam conversado sobre suas famílias, totalmente concentrados um no outro.   ─ Mas eu aviso, se ela tiver.

Jasper agarrou a escada para firmá-la.

─ Mais cinco dias e estaremos em casa.

Edward consultou o relógio. Passavam dez minutos da meia-noite.

─ Quatro dias.  Corrigiu ele, pendurando o fuzil no ombro. Só mais quatro dias, repetiu a si mesmo, eufórico. Na manhã do quarto dia, embarcaria no primeiro vôo para a Califórnia e bateria na porta de Bella.

Saltou por sobre a amurada do navio e passou ao convés. Era bom sentir uma embarcação sólida sob os pés novamente. Ajudou os recrutas desajeitados a erguer o bote, mas já tinha a cabeça a quilômetros dali.                                       

Após dezoito meses enviando cartões-postais e apenas um tele­fonema breve, finalmente poderia abraçar Bella, beijá-la, saboreá-la novamente. Sairiam do quarto trancado só quando estivessem morrendo de fome...

Isabella Swan relia o último cartão-postal de Edward Cullen, despachado havia mais de duas semanas... de onde? Não tinha certeza. Ele nunca informava onde estava. Aparentemente, operações mi­litares exigiam sigilo. Mas tinha uma idéia, pelas paisagens retratadas nos cartões. Num deles, aparecia à torre Eiffel ao fundo. Mas aquele retratava apenas palmeiras e praias de areia clara. Raios podia ser qualquer lugar, do Havaí ao Vietnã.

Mas não importava realmente, certo? A mensagem era o prin­cipal. Bella virou o cartão e releu as palavras que já sabia de cor:

Estou voltando. Devo chegar no fim de março. Terei trinta dias de folga. Mal posso esperar para vê-la. Ed.

Fim de março. Isso significava que ele estaria ali em poucos dias. E Bella ainda não sabia como se sentia a respeito. Afinal, a última folga dele mudara sua vida para sempre.

Inúmeras vezes, durante aqueles dezoito meses, imaginara co­mo poderia ter sido diferente. E se não tivesse ido surfar naquele dia? E se Edward não estivesse lá para salvá-la? E se não tivesse mer­gulhado naqueles olhos azuis dele?

E se...

Mas era perda de tempo. Fora surfar naquele dia. E quase se afogara. Edward a salvara. Pela primeira vez na vida, ela se entregara à paixão. Vivera aquele momento. Tivera um romance tórrido de duas semanas com um moreno lindo, alto, desconhecido. O resto, como diziam, era história.

Faltava agora encarar Edward e contar aquilo que escondera dele por tanto tempo. E deveria fazê-lo antes que seus irmãos o matassem.


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Notas finais do capítulo

Continuem lendo. bjs