Ações e Reações escrita por Seto Scorpyos


Capítulo 6
Fórmulas




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Kai foi o primeiro a chegar para o ensaio. Estava de bom humor, comprovado pelo sorriso de covinhas que encantou todo mundo. A causa estava do lado, um sombrio cantor que caminhava a seu lado.

Miyavi estava dividido. Não tinha mais tanta certeza do que havia falado. Se fosse verdade, esperava que Kai admitisse e pedisse desculpas, mas o baterista simplesmente tinha agido como se tivesse dito o que ele queria ouvir. Teria que conversar com Aoi e Reita mais tarde, quem sabe eles teriam conseguido uma confissão melhor?

Separaram-se no elevador, o olhar pesado do cantor acompanhou o namorado enquanto se dirigia para a sala de ensaios, cumprimentando uma ou outra pessoa que estava no corredor. Notou que o menor não tinha se virado para vê-lo uma última vez, como sempre fazia.

Sua expressão ficou ainda mais pesada.

 

Assim que entrou na sala, Kai sorriu ainda mais. Não ia entregar o jogo assim, fácil. Mas tinha um outro plano, esse mais simples e bem mais divertido. Só esperava que Ruki entendesse. O único detalhe era Uruha. Tinha que saber primeiro o que o guitarrista loiro tinha conseguido fazer.

Seus pensamentos foram interrompidos por Ruki e Reita. O cantor lhe lançou um olhar intenso e Kai percebeu que ele provavelmente havia passado pelo mesmo tratamento. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, o guitarrista moreno entrou na sala, ofegante.

- O Uru já chegou? – seus olhos varreram a sala e ele ficou desanimado.

- O que aconteceu? – Kai perguntou, depois de acenar um cumprimento aos dois recém chegados.

Aoi parecia inconformado. Jogou-se no sofá, respirando fundo.

- Ele me levou para jantar ontem, mas não deu certo. Eu o perdi na via expressa e, quando cheguei ao apartamento dele, ele não estava. Estava com algum de vocês?

- Espera um pouco, deixa eu ver se entendi. Vocês saíram para jantar e brigaram? – Ruki perguntou, tentando se conter e não olhar o baterista.

- Não teve briga. Eu achei que...

- Nós estamos num plano de dominação mundial. – Kai completou.

Aoi e Ruki o olharam de maneira confusa. Reita se afundou ao lado de Aoi.

- O quê? – o cantor perguntou, mas tinha uma leve impressão de que tinha pego a idéia geral.

- Nós estamos num plano de dominação mundial, Ruki. Miyavi descobriu e contou para eles. Estamos há um mês infernizando a vida deles por causa daquela saída.

O tom de voz de Kai era divertido. Ele estava de pé com os braços cruzados. Reita e Aoi se entreolharam.

- Ahn... – Ruki balançou a cabeça – Era disso então que eu estava sendo acusado ontem... Na verdade achei que Reita estava me dando uma ótima idéia. Mas porque estão pensando assim?

Ruki caminhou distraidamente e sentou-se na poltrona, completamente à vontade. Reita se mexeu inquieto.

- Porque Uruha está muito sensível e instável. Você de TPM e eu surtando como uma dona de casa estressada. – respondeu Kai, tentando conter a risada. Era isso mesmo.

- TPM? – Ruki elevou uma sobrancelha, olhando o namorado.

Reita se encolheu diante do olhar seco do amante, mas não disse nada.

- É. Acompanhando essa linha de raciocínio, seremos acusados de fazer greve de sexo e bolar planos mirabolantes para ferrá-los – o baterista comentou, malicioso.

- Poxa, ando meio cansado... isso não é greve!! – o cantor respondeu, fechando a cara – Eu trabalho tanto... me esforço... Ninguém me entende nessa vida...

- Você estava realmente se negando? – Kai fez uma cara incrédula – Eu estava brincando!!

Aoi olhava de um para o outro, confuso. Os dois pareciam estar se divertindo muito a custa deles. Remexeu-se, inquieto.

- Espera um pouco, vocês tem que admitir que tem agido estranhamente essas últimas semanas. – o moreno argumentou, sem olhar para ninguém.

- E eu ainda não engoli aquela explicação fajuta sobre a boate. Sabe disso, Ruki. – o baixista disse – Kai o que vocês foram fazer lá?

Um lampejo passou pelos olhos escuros do cantor. O baterista o olhou calmamente e sentou-se na cadeira, cruzando as pernas.

- Estávamos tentando nos vingar de vocês. Eu não sei direito o que íamos fazer, mas era sádico e muito cruel. Você e Miyavi iriam implorar por piedade.

Ruki riu, divertido. Kai podia ser pior do que ele e Uruha juntos.  Reita olhou o baterista que o encarava de volta.

- Kai, estou falando sério.

- E eu também. Somos três ukes muito bravos e estávamos num plano maligno maquiavélico sádico para nos vingarmos de vocês. – o tom divertido do baterista fez o Reita estreitar os olhos.

- Esqueceu cruel e desumano – Ruki completou, deliciado.

- Isso. – Kai concedeu, com um sorriso.

- Uruha não estava tentando se vingar. Ele me levou para jantar num lugar lindo. Eu que estraguei tudo. Culpa daquele mangá ambulante.

Os outros três o olharam. Antes que pudessem fazer algum comentário, o guitarrista loiro chegou.

- Bom dia! – ele cumprimentou, sem se dirigir especialmente a ninguém.

Aoi deu um pulo do sofá.

- Uru!! Eu fui para o seu apartamento ontem. Onde estava? Eu liguei várias vezes... estava preocupado!

O guitarrista loiro não respondeu. Deixou suas coisas sobre a mesa e respirou fundo. Tirou um papel do bolso.

- Aqui. – estendeu-o ao namorado.

O moreno pegou o papel, olhando-o confuso.

- $ 27.000,00?

Olhou o guitarrista loiro sem entender.

- Esse é o valor do que gastei ontem com aquela produção toda. Pensei e cheguei a conclusão que não vou gastar minha beleza tentando ser o minimamente romântico com um ogro como você. Então... quero meu dinheiro de volta.

Aoi arregalou os olhos. Ruki e Kai abafaram uma risada.

- Eu queria me desculpar... achei que...

- Dá para imaginar o que achou... ou o que fizeram você achar mas não me interessa agora. Você me magoou e, como não posso reagir como gostaria, quero meu dinheiro.

- Como assim? – Aoi estava confuso – Não entendi.

- Se eu agir como gostaria, vai me chamar de mulher de novo. E vou dizer uma coisa pela última vez – o guitarrista loiro cruzou os braços – Se você fosse uma mulher, eu provavelmente não estaria a menos de três metros de você e muito menos te levaria para a cama. Não estou na fase bi, se é que me entende. Da próxima vez que me chamar de mulher, vou partir para a ignorância e te bater será a última coisa que farei.

O olhar significativo fez o namorado engolir seco. Ruki não aguentou e caiu na risada. O baterista ficou em silêncio, mas percebeu que Uruha não tinha completado o plano, só não soube porque. Reita ficou olhando de um para o outro.

- Deve ser porque Miyavi falou a ele do nosso plano, Uru. – Kai comentou, olhando as unhas distraidamente.

Os olhos do guitarrista loiro se estreitaram.

- Plano?

- É. – Ruki respondeu, contendo as risadas – Os ukes estão num plano maligno de vingança.

Uruha rolou os olhos, exasperado.

- Por causa disso você fez aquilo comigo ontem? – o loiro quase cuspiu olhando o namorado, ameaçador – Eu não acredito!

- Eu já disse que quero me desculpar! Foi mal! – o moreno respondeu, começando a se irritar.

- Você me magoou com aquilo, seu homem das cavernas! Pensou no trabalho que eu tive para arrumar tudo? Eu só queria te compensar por você estar sendo tão compreensivo e de quebra namorar um pouco. Só porque somos homens que o banheiro é a melhor opção?

- Uru, se você se descontrolar, eles vão dizer que está tendo um ataque feminino de novo. – Ruki comentou, baixo.

O loiro passou a mão pelo cabelo, respirando fundo.

- Ok. Quero meu dinheiro. E nunca mais mencione o Lago de Sangue ou qualquer coisa cute que queira, ok?

- Eu realmente sinto muito...

- É para sentir mesmo, mas isso não vai te fazer se safar dessa. – o loiro estreitou os olhos.

- Eu não tenho esse dinheiro todo no bolso... podemos... – Aoi começou, incerto.

- Então me dá seu cartão. – o loiro respondeu, estendendo a mão.

O moreno olhou para ele, inseguro.

- Eu não queria te magoar, Uru. Sério!

O guitarrista loiro não cedeu, ergueu uma sobrancelha, encarando o namorado com a mão estendida. Aoi pegou a carteira no bolso e abriu, tirando o cartão de crédito. Uruha o pegou e colocou no bolso da camisa. Ruki tinha enfiado os dedos na boca para não rir. Kai estava mordendo o lábio para evitar o mesmo.

- Ele se desculpou, Uru. – Reita se manifestou, olhando o moreno com pena.

- É. E eu aceitei as desculpas. Notou que não dei um fora nele? – perguntou, sarcástico.

- Vamos ensaiar. – Kai disse, se encaminhando para a bateria.

- Ruki – Uruha chamou, fazendo o vocalista olhar curioso para ele – Tem alguma coisa para fazer hoje mais tarde?

O vocalista abriu um sorriso e Aoi engoliu em seco. Os músicos tomaram seus lugares e o ensaio começou.

 

***

No intervalo, Reita e Aoi nem esperaram os namorados, saíram correndo da sala. Os outros olharam, entre incrédulos e divertidos. Kai caminhou atrás deles e deu uma olhada para fora, entrou novamente, dando um sorriso para os olhares curiosos que recebeu. Trancou a porta e encostou-se nela.

- Acho que Miyavi está com problemas. – Uruha comentou, sarcástico.

- Tadinho... – Kai respondeu, e então deu um sorriso aberto – Bem feito!

- Uru... – Ruki chamou, continuando depois de receber a atenção do guitarrista loiro – Porque não seguiu com o plano?

O loiro respirou fundo, dando de ombros.

- Eu não ia conseguir. Ele estava tão entregue que ficou difícil continuar. Tive que me policiar muito para realmente não ficar muito magoado quando ele reagiu daquele jeito.

- Sinto muito, Uru. – Kai disse, compreensivo – E onde você estava? Onde dormiu?

- Eu fiquei num hotel perto do meu apartamento. Sabia que ele ia tentar falar comigo e não estava disposto a brigar ou ter que conversar. – jogou o cabelo para trás num gesto teatral – Mas tudo bem, depois de uma sessão de compras vou ficar melhor.

- É assim que se fala! – Ruki apoiou, rindo.

- Sabe de uma coisa... – Kai começou, pensativo – Acho que agora está melhor do que antes. Eles estão confusos. Não sabem se estamos mentindo ou não.

- E como isso pode nos ajudar agora? Vamos desistir do plano principal? – Ruki perguntou, surpreso – Mas deu tanto trabalho... e ontem  foi apenas o primeiro estágio. Podemos conseguir ainda.

- Eu acho que não, Ruki. Eles estão desconfiados, se a gente tentar alguma coisa agora, eles não vão cair. – Uruha concordou, sério.

Os três se entreolharam, pensativos.

- Isso é frustrante! Eu queria tanto... – Ruki lamentou, inconformado.

- É, eu também queria, mas agora não dá. – Uruha concluiu, erguendo os ombros.

- Vamos almoçar! Acho que eles ainda demoram. – o baterista disse, guiando os dois para fora da sala.

 

***

 

- Calma, moreno! Tenta respirar!! – o cantor tentava acalmar um guitarrista irado – Não é para tanto!

- Acho que não entendeu, Miyavi! – Aoi disse, tentando se controlar – Não é para tanto, é SÓ O URUHA IRADO COMIGO USANDO O MEU CARTÃO DE CRÉDITO! E NÃO É SÓ ESSE DESASTRE! ELE DISSE QUE NUNCA MAIS VAI SER ROMÂNTICO COMIGO! SABE O QUE ISSO SIGNIFICA? TEM IDÉIA DO QUE ISSO SIGNIFICA? – o moreno terminou, aos berros

- Tá, eu entendi! – Miyavi achou melhor não contestar o moreno.

- Eu não acreditei na explicação do Ruki, mas não sei não... – o baixista comentou, encolhendo os ombros. – Quero dizer, o que aconteceu na boate e tudo o mais. Eu sei que se for isso mesmo eles nunca vão admitir. Ruki nunca vai assumir que estava no plano, mas não parecia muito preocupado com isso ontem. Ele não ficou nervoso nem nada. Acho até que se divertiu. Além do mais, o que eles poderiam fazer ontem? Eu pensei muito e não consegui sequer imaginar o que eles poderiam fazer lá.

- E Uruha? Me levou para jantar num lugar lindo!! – Aoi sentou-se, enfiando os dedos no cabelo – Tinha tudo para essa seca horrível acabar, mas eu tinha que acreditar em você e falar aquilo! Eu tinha! Eu podia ter ficado calado e aproveitado? Não! Não podia! Eu tinha que ter um surto de lealdade masculina e tentar tirar as coisas a limpo! Eu tinha que fazer, não é?

Reita e Miyavi ficaram em pé, olhando o guitarrista completamente inconformado.

- Ele me deu uma bonsai linda.... e eu nem liguei... deixei cair e acabou quebrando... – o moreno continuou cabisbaixo – Acho que nunca mais vou ganhar alguma coisa tão romântica dele de novo... Eu fui um idiota...

- Aoi, pára de se lamentar! – Miyavi pediu, rolando os olhos – Eu sei que não demos muita sorte para que eles confessassem...

- Não demos sorte? Isso foi o eufemismo mais descarado que eu já ouvi! Eles deram uma volta na gente, isso sim!! – Reita rebateu, cruzando os braços.

- Acho que devemos pressionar um pouco mais. – o cantor começou, incerto.

- Eu não vou fazer mais nada! – Aoi respondeu, levantando-se – Eu vou deixar isso para lá antes que Uruha realmente fique magoado e me dê um fora. Se ele estava fazendo ou não, não me importa mais.

- Mas Aoi, precisamos ficar juntos nessa! – Miyavi disse, aproximando-se.

- Concordo com o Aoi, Miyv! – Reita comentou, baixo.

- Você levou um baita soco ontem, Reita! Deveria estar bravo com Ruki! Por falar nisso, o que ele disse que estava fazendo lá?

- Me deu uma desculpa esfarrapada que não convenceria ninguém, mas eu não tenho provas concretas, e sem isso não posso fazer nada!

- A questão é essa! Nós sabemos o que eles tem feito, mas não temos provas! Temos que conseguir alguma coisa! – Miyavi começou a andar de um lado para outro, mordendo o polegar – Preciso pensar!

Aoi olhava de um para o outro, com os braços cruzados.

- Como se eles fossem admitir alguma coisa ou deixar uma ponta solta... – comentou, sarcástico – Eu e Reita vimos bem como eles podem simplesmente dar um olé na gente sem nem piscar! - Miyavi olhou inconformado para ele. Aoi continuou - Admita, Miyv! São nossos namorados! Não vamos conseguir passar por eles nunca!

O baixista deu um suspiro derrotado.

- Nunca vou saber o que ele realmente estava fazendo lá. – admitiu, a contra gosto – E não aguento mais ficar na seca! Estou subindo pelas paredes!

O tom desconsolado dele fez o cantor começar a rir.

- Como se atreve? – o tom raivoso do moreno o fez engolir a risada – Tem que agradecer o coração mole do Kai e não rir da desgraça alheia, seu traidor!

- Traidor, eu? – o cantor perguntou, estupefato.

- É claro que é um traidor! Devia ter ficado sem sexo também, como apoio moral! Somos amigos ou não? – o baixista disse, zangado.

Miyavi arregalou os olhos, olhando de um para o outro.

- Vocês não estão falando sério...

- O que acha? – Aoi perguntou, com olhos estreitos.

Miyavi afastou-se, incrédulo. Reita e Aoi o encaravam, sérios.

- Bem... – o cantor começou, procurando as palavras.

Foi salvo pela interrupção de Kai, que colocou a cabeça para dentro da sala.

- E aí, vocês não vão vir almoçar? – o baterista perguntou, olhando os rapazes na sala.

Uruha e Ruki estavam atrás dele, tentando conter as risadas. Estiveram ouvindo a conversa o tempo todo.


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