Nós nos levantamos e nos arrumamos, fomos encontrar os outros pra comermos em algum lugar. Acabamos achando um pequeno restaurante, não muito caro. Clara olhou pro Nico e pra mim com um olhar malicioso e um sorriso do tipo “eu sei o que vocês fizeram verão passado” de dar medo. Nico estava com um dos braços em volta da minha cintura e Clara veio até nós.

-Então, se divertiram ontem? – Eu não diria que diversão seria a palavra certa pra falar sobre a noite passada. Nico olhou pra Clara, sem expressão. Ele supostamente devia ter dormido no mesmo quarto de hotel que a Clara.

-A gente não fez nada demais. – Disse Nico, ainda olhando pra Clara.

-Ah claro que não. E eu nasci ontem. 

-É sério, Clara. Nós não fizemos nada. – Eu olhei pra ela e ela olhou nos meus olhos, seu sorriso se desfez.

-O que está acontecendo, Lady Ruby? Algo está errado? – Acho que ela viu que eu não estava muito bem.

-Nada, eu só estava me sentindo meio mal noite passada, seu irmão estava cuidando de mim. – Era verdade até. O que? Você espera que eu fale pra Clara que eu estou grávida? Aqui e agora? Não mesmo.

-Ah...

-Mas não fale pra ninguém que ele passou a noite comigo, ok? – Ela assentiu. –Obrigada.

Clara não costumava questionar o que eu falava pra ela fazer. Era a única coisa boa naquela doideira dela achar que eu era uma deusa.

Eu, Matts, Percy, Clara e Nico, nós todos fomos ao pequeno restaurante comer. Eu não comi muito, Nico ficou meio preocupado. Em geral, eu comia até demais. Quando acabamos de comer, fomos para a rodoviária e pegamos o ônibus pra Nova York. Graças aos deuses, estávamos quase de volta. Eu me sentei ao lado do Nico no ônibus.

Percy olhava pra mim de um jeito estranho. Então ele andou até o lugar que eu estava sentada com o Nico.

-Ruby, você não tem nada pra me contar?

-Hã... Não que eu me lembre. Por quê?

-Eu tive um sonho bem estranho noite passada.

-Como foi o sonho?

-Com os deuses brigando sobre uma garotinha. Eles mencionaram seu nome, que você não ia deixá-los matar a criança de fosse necessário. Quando eu perguntei o que você tinha a ver com tudo isso pra Atena, ela simplesmente disse "Pergunte a sua irmã." – Eu olhei pro Nico. Eu não queria contar pro Percy, mas nós tínhamos essa certa... Telepatia de irmãos, os sonhos dele sobre isso podiam ajudar em alguma coisa. Nico me olhou, com indecisão no olhar. Percy viu a troca de olhares.

-Ok, o que está acontecendo aqui? – Perguntou Percy.

-Nada demais. – Eu não queria ser morta no ônibus, eu podia contar isso pro Percy outra hora.

-É sério, Ruby. Fala o que está acontecendo. – Então o ônibus passou em um buraco e o Percy desequilibrou e quase caiu.

-Vai sentar, Percy. Depois a gente conversa, ok? – Eu falei olhando pra ele. Ele foi sentar no lugar dele, mas me perguntou mentalmente o que tinha acontecido. Quando eu não bloqueava meus pensamentos, se ele fizesse uma pergunta, eu logo pensava naquilo sem querer e ele acabava vendo a verdadeira resposta pra pergunta que ele tinha feito. A questão é que eu precisava me concentrar pra bloquear os meus pensamentos e eu não estava nada concentrada. Eu tentei não pensar na gravidez, mas... Acho que não deu certo, eu estava meio cansada mentalmente com tudo isso.

O que?!

Percy, não vamos falar disso agora.

Não, espera aí. Você está GRÁVIDA?! COMO ASSIM, RUBY MENNINGER?! VOCÊ NÃO É NEM MAIOR DE IDADE!

Eu sei. – Eu suspirei. Ele tentou se acalmar, percebendo que meu humor também não estava muito animador com tudo isso.

Como...

Você sabe como os bebês são feitos, não preciso te explicar.

E agora? O que você vai fazer, enfrentar os deuses?

Se for preciso...

Eu não vou deixar você fazer uma besteira dessas.

E qual a sua idéia então?

Sei lá! Mas...

Você vai se juntar a eles pra arrancar meu coro pelo jeito.

Você pode ter sido idiota, você pode ser doida, você pode estar grávida e eu posso até querer matar o seu namorado, mas eu não vou deixar ninguém arrancar o seu coro. E depois eu vou ter uma conversa bem séria com o Nico.

Vai perguntar quais são as intenções dele com a sua irmã? – Eu tive que rir. Aquilo soou patético.

Veremos. Ainda não sei como falar com ele sem matar ele.

Você não vai nem bater nele. Ele não fez nada sozinho.

Eu não ligo se ele fez ou não sozinho. Eu... O que você tem na cabeça?!

Percy, por favor, vê se não fica nervoso.

E como eu não vou ficar nervoso?

Escute, eu sei que parece bobagem, mas a Mel vai ficar com medo se você ficar nervoso.

Mel?

É. – Então ele viu as imagens dos meus sonhos passando pela minha mente.

Ela é... Ela é bonita. – Disse Percy, um pouco menos nervoso.

Eu sei.

Então o nome dela é Mel?

Melanie, mas Mel é apelido.

Ela sente mesmo o humor das pessoas então?

Parece que sim. Então se acalme, por favor.

Não me fale o... Está bem, vou tentar me acalmar.

Obrigada.

Então a telepatia acabou. Ele estava tentando não ficar nervoso comigo, eu sabia que ele não ia ser tão “gentil” com o Nico. Nico estava sentado ao meu lado, me olhando.

-Ele já sabe? – Eu sabia o que o Nico queria dizer com essa pergunta, ele estava acostumado com essas telepatias entre o Percy e eu, ele sabia quando eu estava conversando com o Percy mentalmente. Ele dizia que eu ficava com o olhar fixo em alguma coisa, como se eu estivesse desligada.

-Sim, ele sabe.

O resto da viagem foi tranquila, eu estava me sentindo mal, mas não era nada muito grave. Percy não brigou mais comigo mentalmente, mas sempre olhava na direção em que Nico estava sentado com um olhar mortal. Matts estava sentado no banco a nossa frente, do lado da Clara. Certa vez eles tinham se beijado e Matts sendo como é ainda tira uma casquinha da Clara quando pode. Clara também não fica atrás.

-Ah Matts, pára. – Disse Clara, dando risadinhas e corando porque ele tinha elogiado ela. Parecia mais uma filha de Afrodite. Aquela era uma cena muito estranha.

-Eu só disse a verdade, você é muito linda, ainda mais com esse novo estilo punk e tudo mais... – Disse Matts com um sorriso malicioso.

Não preciso dizer que não demorou muito pra eles se beijarem. Que ceninha. Enfim, quando a viagem acabou e eu saí do ônibus – que parecia um lugar bem seguro aquela altura, Percy só não matou Nico ali, por causa das testemunhas eu acho – eu vi que o dia estava bem ensolarado até. Era inverno, devia estar frio – o frio que eu não sentia, devido a benção que a minha irmã, Melissa tinha me concedido – estava ventando e aquele vento devia ser bem gélido. Porém, estava ensolarado. Eu olhei pra cima.

Oi, gata. Sentiu falta do sol? – Ouvi a voz de Apolo na minha mente.

Na verdade, senti. Obrigada. – Eu gostava muito de dias ensolarados.

De nada.

Muitas conversas mentais – ou telepatias, como preferir – pra um dia só. Lembra aquela Hidra que nos atacou e matou a Veronica? Pois é. Eu vi uma hidra igual vindo até nós. Quando estávamos todos indo em direção a ela pra lutar – pois ela já tinha nos visto e não podíamos fugir mais – não sei porque, mas eu apertei a estrela do pingente da pulseira que minha mãe me deu e apareci dentro do ônibus de novo. Olhei em volta, todos estavam lá e Matts ainda beijava Clara.

-Mas o que... – Então eu olhei pra estrela na minha pulseira. Seja lá o que aconteceu, aquela pulseira salvou as nossas vidas.