Depois do ocorrido na Travessa do Tranco Hermione decidiu mudar os planos. Continuava segura de que convenceria Snape, embora soubesse que seria difícil. Ela sabia que a experiência de anos como agente duplo tornou-o frio, poucas coisas o tiravam do sério e ele nunca demonstrava preocupação. Ele já servia a dois mestres portanto estava acostumado a pensar claramente mesmo sob pressão, mas sabia também que, se todos seus argumentos falhassem, ela tinha uma carta na manga, só esperava que não precisasse chegar a isso. Com Draco, no entanto, a história era outra, ela teria que agir com cautela. A mente jovem do garoto embora facilmente manipulável, precisaria ser levada ao extremo para que ele aceitasse sua proposta. Em ambos os casos ela teria que preparar o terreno com cuidado, nada poderia dar errado. Sem falar que ela teria que garantir que, aceitando ou não, Snape não falasse nada para Dumbledore e a Ordem.

Outro problema da garota eram os amigos. Desde aquele dia, como ela previra, Harry estava obcecado por descobrir o que seu inimigo estaria tramando, e por que ele parecia tão confiante e feliz ao sair da loja. Ela tentava a todo custo fazer o amigo desistir da idéia que havia algo a mais nas atitudes do sonserino, para sorte da garota, Rony também achava que não tinha nada para ser descoberto. Em uma dessas conversas, quando eles estavam terminando de arrumar as malas Harry juntou todas as peças e contou para os amigos suas suspeitas de que Malfoy havia substituído seu pai como Comensal da Morte, Rony começou a rir achando impossível Voldemort ter aceitado Draco. Hermione tentou convencer o amigo de que ele estava forçando as coisas e que o que ele tinha visto não era nada fora do comum para alguém como Malfoy.

Na manhã seguinte eles foram levados para a estação por carros do Ministério e escoltados por aurores até o trem. Ao entrarem Gina separou-se deles para encontrar o namorado, Dino, e Harry foi procurar uma cabine sozinho pois Rony e Hermione precisavam ir para o compartimento dos monitores pegar as informações sobre os horários das patrulhas e as duplas, e Hermione iria conhecer quem seria o novo monitor-chefe e seu colega de dormitório.

Ao chegarem lá encontraram Ana Abbott e Ernesto Macmillan, monitores da Lufa-lufa, que se surpreenderam ao ver Hermione, mas após uma breve explicação onde a castanha afirmou que tudo não passou de um engano eles parabenizaram-na pelo cargo de monitora-chefe e também estavam curiosos para saber quem seria o monitor-chefe. Poucos minutos depois Padma Patil e Antônio Goldstein, da Corvinal entraram no vagão, os garoto começaram a falar de Quadribol e as garotas estavam falando do que fizeram nas férias, como não gostava de Quadribol, e não estava querendo fofocar com as garotas Hermione ficou olhando pela janela, repassando seu plano mentalmente e imaginando quem seria o monitor-chefe, os únicos monitores que faltavam eram Malfoy e Pansy, da Sonserina, mas todos sabiam que a escolha do monitor-chefe nem sempre era feita entre os monitores, então a garota resolveu esperar para ver. Não passaram-se dez minutos e a porta da cabine foi aberta, o loiro entrou imponente, com sua pose arrogante e seu sorriso sarcástico olhando para todos como se fossem inferiores a ele. Agarrada ao seu pescoço estava uma garota de aparência vulgar, com um corpo curvilíneo, olhar malicioso e o rosto que lembrava um buldogue, Pansy Parkinson. Ela olhava para as garotas querendo causar inveja e mostrar o quanto era privilegiada por estar ao lado de Draco.

Ao notar que as conversas haviam parado Hermione ergueu seu olhar para a porta. Ela não acreditava no que via, nas vestes impecáveis do sonserino, no peito ao lado da serpente símbolo da casa, estava reluzindo o distintivo de monitor-chefe. Assim que o garoto olhou para o distintivo nas vestes da grifinória seu rosto converteu-se em uma expressão de nojo.

- Olá Malfoy, parece que seremos vizinhos esse ano. - disse a castanha com desprezo, apontando de um distintivo para o outro. - espero que você tenha maturidade suficiente para o cargo. Não estou disposta a ficar um ano inteiro aturando suas infantilidades.

- Como você se atreve a falar assim com Draquinho sua sangue-ruim! - disse Pansy com sua vozinha esganiçada.

- Malfoy! É bom você ficar longe da Hermione, se você fizer alguma coisa para ela... - começou Rony com seu rosto vermelho de fúria, não estava gostando nada da idéia de ter a amiga dormindo sob o mesmo teto que aquela cobra.

- Rony, chega. Eu sei me defender muito bem sozinha se for preciso - disse Hermione friamente - e quanto a você, Draquinho - debochou imitando a voz de Pansy - mantenha sua cadelinha de estimação na coleira. Ah, e aproveite para colocar uma focinheira nela, não quero correr o risco de pegar alguma doença se ela resolver morder. - finalizou voltando a olhar para a janela.

Rony, que ainda fuzilava Malfoy com o olhar, sentou-se ao lado da amiga, um pouco surpreso pela atitude fria e sarcástica dela. Os outros não conseguiram conter as risadas, afinal não era todo dia que alguém humilhava o príncipe e a princesa da  Sonserina dessa forma. A maioria das pessoas que ousassem enfrentar qualquer um deles, no mínimo, era levada às lágrimas, quando não ia parar misteriosamente na enfermaria. Malfoy lançou um de seus olhares mortais para a garota, que permaneceu indiferente à sua presença. Pansy estava enfurecida, ninguém, muito menos uma sangue-ruim metida a sabe-tudo, fazia as pessoas rirem dela. Sem que os outros percebessem seu descontrole, ela apontou sua varinha disfarçadamente para a castanha. Porém antes que ela tivesse tempo de pensar em alguma azaração, sua varinha fora arrancada de sua mão e ela foi presa contra a porta da cabine. Todos olhavam espantados para a monitora-chefe, que agora estava em pé, a varinha apontada para Pansy e segurando a varinha da garota na outra mão.

- Sabe Pansy, você não devia tentar atacar os outros pelas costas, - disse a castanha como se estivesse explicando algo para uma criança de cinco anos - isso faz as pessoas pensarem que suas habilidades bruxas são tão medíocres que você precisa do seu adversário despreparado para conseguir algum resultado. Eu sugiro que você não faça mais isso, afinal, não seria bom se as pessoas pensassem que você não consegue derrotar uma simples sangue-ruim em uma luta justa, não é? - ironizou a garota com um sorriso retirando o feitiço que prendia Pansy e fazendo com que a mesma desabasse no chão arrancado mais risadas dos outros monitores, ela jogou a varinha da garota ao lado dela e ficou esperando ela sair.

- Isso não termina aqui sangue-ruim. Você vai se arrepender de ter cruzado o meu caminho - ameaçou a sonserina vermelha de raiva. - Draquinho, vamos sair daqui. - disse tentando arrastar o garoto com ela.

Draco estava observando tudo calado, foi divertido ver Pansy levar uma lição, mas a atitude da sangue-ruim deixou-o intrigado. Ela estava totalmente indiferente ao que acontecia ao seu redor, como ela conseguiu desarmar Pansy tão rápido? Ninguém que estava prestando atenção havia percebido as intenções da sonserina, a habilidade que a Granger havia demonstrado estava muito além do nível escolar, até mesmo os aurores mais bem preparados teriam demorado para agir na situação que ela se encontrava. A rapidez e precisão nos movimentos assustou o garoto, até agora ele só havia visto seu pai Lúcio, seu padrinho Snape e sua tia Bela moverem-se dessa forma, mas nunca ao serem surpreendidos. Sem falar nas atitudes frias da garota. Embora ele não fosse afirmar nem sob tortura, ele soube que, o que quer que houvesse acontecido nas férias, aquela garota estava muito mais forte e habilidosa do que antes.

- Vamos Pansy, não quero ficar mais tempo do que o necessário na presença dessa sangue-ruim e do amiguinho cabeça de cenoura dela. - disse com desprezo. Seu olhar encontrou o da castanha que sorriu vitoriosa, sem dar importância para as palavras do loiro. - nos vemos em Hogwarts, Granger. - disse antes de sair. Esse ano vai ser muito interessante pensou o garoto enquanto refletia sobre a súbita mudança da sabe-tudo grifinória.