Imperfeição escrita por GabrielleBriant


Capítulo 8
Visitar os Enfermos é uma Questão de Educação




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VIII

VISITAR OS ENFERMOS É UMA QUESTÃO DE EDUCAÇÃO

EMMETT

Sexta-feira, 13 de setembro de 1935.

Oh, eu estava enlouquecendo. Eu realmente estava enlouquecendo!

Eu, Emmett McCarty, jamais pensei que fosse um psicótico em potencial, mas a minha atual obsessão por Rosalie Hale estava certamente provando o contrário. Já havia se passado duas semanas desde o acidente; e desde então eu não tinha mais ouvido falar nela – exceto por breves conversas que tivemos no telefone apenas três vezes; e eu liguei umas mil, mas ela nunca estava em casa. Eu pensava que a culpa a faria ao menos me visitar uma ou duas vezes – nós éramos quase vizinhos, por Deus! Mas ela não viera.

E lá estava eu, quase sem sair da cama – o que não era nada bom; afinal, eu era um cara bem ativo. Eu, aliás, quase não acreditava que aquela era a terceira sexta-feira seguida que eu não fazia nada em absoluto. Normalmente, eu sairia com os meus amigos para beber e dançar, e depois, no meio da madrugada, eu passaria na casa de Louise e a seqüestraria até a manhã seguinte; sempre me certificando de devolvê-la antes dos seus pais acordarem, claro!

Mas aqui estava eu. E, aparentemente, aqui eu continuaria por mais um fim de semana.

A porta o meu quarto se abriu, e Louise entrou. A minha garota veio rapidamente em minha direção e sentou-se no cantinho minha cama.

- Eu estava com os meninos essa tarde na praça quando o Dr. Cullen apareceu – ela disse, passando carinhosamente as mãos em meu cabelo. – Ele disse que passaria aqui depois do expediente para tirar o seu gesso.

Ok, talvez eu estivesse errado. Aquela notícia me animou um pouco, para ser sincero. Eu também não vira o Dr. Cullen desde o acidente, e me perguntei se ele traria Rosalie. Senti-me mal ao lembrar que a minha linda namorada estava ao meu lado; não era certo pensar em outra.

Mesmo que essa outra fosse o meu anjo.

- Isso é bom... Será que finalmente vou poder sair por aí?

Louise me deu aquele olhar de reprovação que era bem típico dela. Era engraçada a forma que as suas sobrancelhas se juntavam e ela ficava com um ar mais inocente do que irritado. Sorri.

- Claro que não, Emm. Você ainda está se recuperando, ok? Procure não abusar.

- Eu não pretendia abusar... apenas sair com os meninos, tomar umas cervejas, talvez, se a noite estivesse promissora, brigar com algum dos seus admiradores...

As sobrancelhas dela se juntaram ainda mais. Talvez eu não devesse ter dado aquela informação final. A minha garota sempre se irritava quando eu aparecia com um olho roxo. Mas ela não podia reclamar: a minha Louise sempre era o motivo das brigas... e não podia ser diferente, já que eu namorava a coisinha mais linda da cidade.

Bem, a segunda coisinha mais linda, desde que Rosalie chegou.

Droga!

- Estou brincando, meu amor – menti, para Louise não se preocupar. Qual era a graça de sair e não fazer um pouco de pirraça?

As mãos dela saíram dos meus cabelos para brincar com o meu peito. Tenho certeza que, por causa das duas semanas que eu passara sem tocar uma mulher, o meu olhar perdeu todo o brilho. Implorei mentalmente para que ela fizesse aquela mão escorregar um pouquinho mais para baixo.

- Louise... – Disse em tom de aviso, e ela riu. Lentamente, ela se inclinou para mim e beijou os meus lábios. Não era daquela forma feroz que estávamos acostumados; mas de uma forma mais cálida, mais apaixonada.

E a minha mente foi para Rosalie Hale.

O que tinha de errado comigo? Aqui eu estava, com uma garota linda e que eu amava, e tudo em que eu conseguia pensar era na maldita Rosalie... Em Rosalie, meu anjo. Um sorriso brotou em meus lábios e Louise percebeu.

- No que você está pensando?

- Rosalie – respondi sem pensar.

Merda!

Louise se afastou, com um vinco aparecendo em sua testa. Amaldiçoei-me por, aparentemente, magoar a minha garota.

- Como assim?

- Ela que me atropelou, entende? – Tentei rapidamente me justificar. – Eu estava pensando na conversa que a gente teve no carro. Louise, você acredita que ela tentou colocar a culpa do acidente em mim? Ela estava hilária!

Louise suspirou, tirando a sua mão de mim e se sentando ereta.

- Você não acha que está pensando demais naquela garota, não?

- Querida, eu amo você – disse com sinceridade. – Você sabe que não existe outra mulher no mundo para mim – ok, aquilo não era tão sincero, mas eu sinceramente queria que fosse sincero. – Rosalie é, para mim, como uma irmã... – e aquilo foi uma mentira deslavada, a menos que eu gostasse de incesto.

Na noite anterior, eu tive um sonho bem impróprio com o meu anjo. Nele, eu estava aqui mesmo nessa cama e ela aparecia para mim totalmente nua – e era a imagem da perfeição. Ela se aproximava de mim praticamente flutuando e sentava-se ao meu lado. Depois, sem uma só palavra, ela me beijava, deitava-se sobre mim e me deixava fazer com ela tudo que eu quisesse e, acredite, eu queria muito! Claro que acordei todo melecado. E até agora não conseguira parar de pensar naquilo.

A minha Louise era linda – especialmente nua. Mas a Rosalie da minha imaginação... Deus! Nenhum ser humano deveria ser tão perfeito!

- Você não acha que a conhece muito pouco para considerá-la uma irmã?

- Laços de empatia.

Louise rolou os olhos.

- Bem, eu não sei... Eu não gosto muito dela, para ser sincera.

Ri. Aquela conversa estava caminhando para ficar pesada demais, então decidir amenizar o ambiente com uma piada:

- Inveja?

- Ha-ha-ha Emmett McCarty. Você sabe que não é isso! Eu tentei fazer ela se enturmar, mas ela só parecia querer você, até te atropelar! Agora ela parece querer monopolizar o Andrew.

Eu ergui uma sobrancelha e tenho certeza que o meu coração parou de bater por um segundo. O que o Andrew tinha a ver com aquilo?

- Andrew?

Louise deu de ombros.

- Ele gosta dela. De verdade.

- Mas Andrew apenas conversou com ela naquele dia, na cachoeirinha!

- Como se algum homem dessa cidade precisasse trocar mais de duas palavras com Rosalie Hale para se apaixonarem por ela – Louise rolou os olhos. A minha garota estava enciumada! Quis rir. – De qualquer forma, era justamente isso que eu estava tentando te dizer: Rosalie e Andrew são amiguinhos agora. Como você passou as últimas duas semanas de cama, acho que Rosalie encontrou em Andrew o seu novo brinquedinho. Eles passam os dias juntos; todos os dias. Ele até largou o emprego na farmácia para poder ficar com ela! Andrew sequer sai mais comigo e com o Bill, porque parece que só existe Rosie em sua vida, agora!

Parei de respirar.

- Eles estão namorando?

- Ele diz que tentou convidá-la para sair algumas vezes, mas o Dr. Cullen não a deixava sair sem o irmão.

Tentei ignorar a sensação ruim que tive em meu peito ao imaginar Rosalie e Andrew juntos.

- Ela parece estar gostando dele? – Perguntei, com medo da resposta. Graças a Deus, Louise não pareceu perceber os meus sentimentos.

- Não sei. Ela é cordial com todo mundo, exceto com o próprio irmão; que, aliás, mal aparece. Mas a cordialidade dela é bem estranha, Emmett. Eu não gosto dela! E eu tento, justamente porque sei vocês são amigos; e também porque o Andrew está apaixonado. Mas ela tem um jeito meio fingido, meio falso... os olhos dela são estranhos, o jeito que ela olha para as pessoas é estranho, a perfeição dela é estranha! Uma noite eu sonhei que via um túmulo com o nome dela, apenas porque a pele dela é branca demais e está sempre fria... ela me dá arrepios!

Desviei o meu olhar, notando que Louise não tinha respondido a minha pergunta satisfatoriamente; apenas tinha apontado o que eu já percebera sobre Rosalie. Eu queria saber mais. Eu queria saber se quando Rosalie o olhava nos olhos, ela parecia hipnotizada; se Rosalie sorria ao estar perto dele; se ele a fazia rir; se ele a tocava; se ele já chegara a lhe beijar a mão, ou as bochechas, ou a testa, ou a pontinha do nariz ou... suspirei. Ou a boca.

- Eu espero que eles fiquem juntos – disse, novamente com sinceridade. Se Rosalie estivesse com o meu melhor amigo, eu teria de me obrigar a parar de pensar nela.

- Eu não sei... acho que Andrew merece mais.

Duas batidas soaram na porta do meu quarto, mas não esperou nenhuma resposta antes de abrir. Era minha mãe – que achava um absurdo que minha namorada entrasse em meu quarto.

- Emmett, querido, o Dr. Cullen está aqui. E ele trouxe uma visita.

Meu coração acelerou. Tinha que ser Rosalie! Tentei parecer calmo, mas sentei-me na cama e aguardei ansiosamente eles entrarem. E tive que rolar os olhos ao perceber que quem estava com o Dr. Cullen era o Edward.

- Oh. Oi Edward! É bom te ver, Dr. Cullen!

Louise cumprimentou os dois e saiu.

- Como você está se sentindo, Emmett? – Dr. Cullen perguntou.

- Bem... Não, mais ou menos! Esse gesso faz a minha perna pinicar. É irritante!

Dr. Cullen deu um breve sorriso e sentou-se ao meu lado. Edward ficou no fundo da sala, de braços cruzados. Ele era estranho.

- Bem, acho que poderemos tirar o seu gesso hoje mesmo, então o seu transtorno vai parar.

Dei um breve sorriso e olhei para Edward.

- Ed, cara, que tal comemorarmos a minha liberdade? Nós podemos ir para uma danceteria que tem em Thireville; eu, você, Bill e Andrew (você já deve tê-los conhecido) para tomar cerveja, arrumar encrencas e paquerar!... Não conte o último a Louise!

- Eu não sei, Emmett.

- Vamos, cara! Você quase nunca sai de casa, até onde eu sei!

E, se você for, poderá levar Rosalie. Por favor, vá e leve Rosalie!

- Acho que vou deixar para a próxima.

- Se você tem medo de nós, você pode levar Rosalie! – Virei-me animado para o Dr. Cullen. – o senhor não se importaria que Rosalie viesse conosco, certo? Quer dizer, nós cuidaríamos bem dela e ficaríamos longe de problemas!

O Dr. Cullen sorriu.

- Eu não me importo que Rosalie saia à noite, Emmett. Mas eu me importo que você saia. Será que você pode descansar durante esse fim de semana? Só para garantir a recuperação?

Bufei, sentindo que não ia ver Rosalie novamente. Jesus, eu sentia falta dela! Era como se faltasse um pedaço de mim... Eu só queria poder olhar para ela novamente!

- Ok. Apenas por esse fim de semana. Mas será que eu posso caçar na terça?

O Dr. Cullen franziu o cenho.

- Caçar? Esse é o seu esporte?

- Bem, se você não considerar o trabalho na fazenda como esporte... ou brigas de bar... Sim, caçar é o meu esporte!

- A minha família também gosta muito.

- Vocês se mudaram pro lugar certo, então! Não acredito que em Nova York tivesse muitos ursos!

Dr. Cullen riu.

- De fato, Emmett. A floresta foi um dos motivos que nos fez escolher Riverside. Bem... Você está livre.

Foi apenas então que eu percebi que o Dr. Cullen já tinha removido o gesso da minha perna. Como ele fizera aquilo tão rapidamente?

De qualquer forma, não perguntei. O Dr. Cullen se levantou e me olhou de um jeito tão paternal, que me fez lembrar o pastor da igreja protestante

- Emmett, lembre-se de maneirar esse fim de semana. Nada de dançar ou caminhar.

- Eu posso dirigir, certo?

- Sim. Mas nenhum esforço maior que esse, ok?

Ri-me.

- Obviamente, Dr. Cullen, o senhor não conhece o meu carro!

Até mesmo Edward deu uma risadinha.

- Bom fim de semana, Emmett.

- Ei, Ed! – eu disse e o garoto se virou imediatamente. – Esse fim de semana eu estou de molho. Mas, no próximo sábado, nós iremos dançar em Thireville, ok?

- Claro.

- Promessa é dívida!

Edward riu, já chegando à porta.

- E está prometido.

XxXxXxX

Domingo, 15 de setembro de 1935.

A respeitabilíssima senhora Eleanor McCarty, também conhecida como mamãe, era católica apostólica romana fanática e fervorosa, e a carola favorita do Padre Harrison. Assim, o sonho dela era criar um bom menino católico – que talvez se tornasse coroinha e depois padre. No entanto, ela não realizou esse sonho comigo; infelizmente seu único filho. Mas, apenas para deixar mamãe feliz, eu concordava em acompanhá-la todos os domingos às missas.

Naquele domingo, no entanto, eu preferi me manter longe. A missa ainda não tinha começado, e mamãe recebia um sermão particular do padre Harrison por ter ficado ausente nas missas pelas últimas duas semanas. Eu fiquei nos últimos bancos da igreja, desejando que a missa começasse – e terminasse – logo, ou para que algum dos meus amigos chegasse.

No entanto, não foi nenhum dos meus amigos que chegou. Quase assim que eu me sentei, eles adentraram o templo: os Cullen. Primeiro vinha o Dr. Cullen de braços dados com a sua esposa; em seguida, Edward, que me cumprimentou com um sorriso assim que entrou... e, por fim, ela.

Rosalie estava linda, como sempre. Ela usava um vestido azul e um tipo de véu de renda branco que a deixava mais parecida com um anjo do que nunca. Eu perdi o fôlego e o meu coração disparou, batendo tão fortemente que eu achei que ela poderia escutar. Juro que quis me controlar, mas não consegui: logo me levantava e dizia, com um sorrisão de orelha a orelha:

- Rosalie!

Ela se virou e os nossos olhos se encontraram; eu nem preciso explicar novamente a mágica que ocorria sempre que nos olhávamos. Eu pude ver, pelo canto do meu olho, o semblante reprovador de Edward, mas eu não me importei. Aparentemente, ela também não, pois se aproximou de mim.

- Oi, Emmett.

Mordi brevemente o meu lábio inferior e olhei para o altar. O padre Harrison começava a terminar o sermão de mamãe e estava se aprontando para começar a celebração. Olhei divertido para Rosalie.

- Você está com muita vontade de assistir essa missa? – Ela negou com a cabeça. – Que tal ficarmos na praça, então?

Rosalie olhou brevemente para trás – Edward tinha uma expressão tão reprovadora, que eu pensei que Rosalie daria alguma desculpa. Mas, quando Rose me olhou de novo, ela tinha um certo brilho maroto em seu olhar. A mão dela, hoje envolta numa luva, agarrou a minha e nós dois escapamos para fora da igreja antes que mamãe, Edward ou a Sra. Cullen pudessem nos impedir.

Fomos logo para os banquinhos da praça. Ela se sentou ao meu lado e tirou o véu da sua cabeça, revelando o seu cabelo trançado. Eu nunca o vira amarrado antes; ficava bonito.

- Desculpe – ela começou, com aquela voz linda. – Eu deveria ter lhe visitado.

Eu franzi o meu cenho, tentando me fingir de magoado. Tenho certeza de que não tive sucesso.

- Deveria, mesmo. Que tipo de anjo da guarda é esse que eu tenho, que sequer vai me visitar quando estou doente? Aliás, visitar os enfermos é uma questão de educação, sabia?

Rosalie rolou os olhos.

- Sou um anjo ocupado. Você me disse para aprender a dirigir, então eu decidi fazer isso.

- Com o Edward?

- Edward não conseguiria ensinar a um gênio que dois mais dois são quatro. Não... O Andrew está me ensinando.

Oh, a confirmação do que a Louise tinha me dito. Me senti triste, apesar de não querer admitir na hora.

- Claro... Andrew é bom no volante.

- É...

Passamos quase um minuto completo em silêncio antes da minha boca grande e descontrolada perguntar:

- Então Andrew é o seu melhor amigo, agora?

Rosalie me olhou com uma sobrancelha erguida.

- Nessa cidade? Suponho que sim.

- E eu? – Enorme boca grande demais mesmo.

Rose pensou um tempo. Deus, ela era linda quando ficava pensativa.

- Você é o meu protegido. Eu sou o seu anjo, lembra?

E um sorriso abobalhado se estampou em meus lábios.

- Ah. Claro.

XxXxXxX


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