Imperfeição escrita por GabrielleBriant


Capítulo 10
Preguiça na Espreguiçadeira




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- Isso quer dizer que eu estou bonita?

Emmett deu um meio-sorriso.

- É muito mais que isso, Rosalie. Muito mais.

X

PREGUIÇA NA ESPREGUIÇADEIRA

EMMETT

E, realmente, era muito, muito mais. Como eu poderia mentir?

Rosalie era uma deusa. Era uma visão. Ela era muito mais do que um pobre caipira como eu poderia esperar sem... sem se apaixonar.

Rosalie abriu um sorriso tão lindo que iluminou todo o seu rosto e fez o meu coração dar um pulo. Aquilo não estava certo.

Aquilo realmente não estava certo.

- Eu vou tomar isso como um elogio. Feliz aniversário, Emmett.

Eu sorri – não pude evitar. O meu corpo reagia a Rosalie de uma forma que eu não conseguia controlar.

Não era certo. Não era justo.

Eu tinha Louise. Eu amava Louise! Eu não era o homem mais fiel do mundo, mas nunca antes tinha duvidado de que a minha namorada era a mulher que eu queria para o resto da minha vida. Aquilo não era certo. Eu não podia estar fazendo aquilo com a minha Louise.

No entanto, eu não conseguia me obrigar a sair de perto de Rosalie. Eu não conseguia fazer com que os meus olhos desviassem dos olhos dela. Das curvas dela. Dos lábios dela.

Engoli seco, desesperado para encontrar qualquer coisa que me tirasse daquela linha de pensamento. Disse:

- Então? Eu aposto que a Sra. Cullen estava fazendo todo o trabalho, enquanto você apenas ficava deitada na espreguiçadeira, tomando uma limonada!

Rosalie mordeu o lábio inferior e se aproximou de mim.

- Que bom que eu encontrei um novo escravo!

- Agora, além de meu anjo, você também é a minha dona?

- Privilégios divinos.

Dei de ombros, espiando o quintal já quase perfeitamente limpo – exceto por algumas folhas secas que escapavam de um saco de lixo ainda aberto.

- Mas não parece ter muito que fazer por aqui.

- O que significa que eu estou livre para voltar à minha espreguiçadeira?

- Acho que sim. Mas, como você é o meu anjo, é o seu dever me proteger contra a sede. Sou obrigado a te pedir uma limonada... ou uma cerveja, se o Dr. Cullen não estiver aqui!

Rosalie deixou escapar uma risada e se encaminhou para a casa. Eu aproveitei para falar todos os palavrões que eu conhecia e tentar me convencer a sair daquela situação. Mas eu não consegui – contrariando as ordens diretas do meu cérebro, o meu corpo se arrastou até a espreguiçadeira e eu me deitei confortavelmente.

Logo Rosalie voltava, com uma garrafa de cerveja já aberta.

- Espero que a sua mãe não se importe.

- Oh, ela se importa! – respondi, tentando não olhar para Rosalie. – Ela acha que álcool é coisa do Demônio; a menos que se trate do vinho do padre Harrison! Mas é o meu aniversário, certo? Eu já tenho vinte anos!

- Pobre velhinho...

Eu tentei sorrir, mas, naquele momento, Rosalie estava se sentando. Quando ela colocou as pernas ligeiramente flexionadas sobre a espreguiçadeira, o vestido dela se ergueu, deixando à mostra metade das coxas. Eu mal podia acreditar no que estava vendo: as coxas de Rosalie eram tão lisas e alvas que eu... Eu apenas queria passar a minha língua por elas, para saber se o gosto delas era tão bom quanto aparentava.

Como eu queria aquela mulher!

Pigarreei, desviando o meu olhar para o céu nublado e tomando um gole da minha cerveja.

- Parece que vai chover.

- Sempre chove nessa cidade. Mas nós realmente vamos começar a falar do tempo?

Deu um meio sorriso, encabulado. Pela primeira vez em minha vida, eu não sabia como agir perto de uma garota. Meu cérebro não funcionava direito perto dela... eu não sabia o que dizer!

Passamos muito tempo calados, sem nos olhar. Até que, para a minha surpresa, Rosalie disparou:

- Emmett, você gosta de mim.

Eu congelei e fechei os olhos. A voz dela era doce, como sempre; mas eu pude distinguir um tom de acusação.

E o que eu podia responder àquilo? Como eu podia mentir?

- Gosto.

Senti os olhos de Rosalie em mim, me queimando, mas me obriguei a continuar observando a paisagem da floresta.

- Isso é errado.

- Eu sei.

- Eu... eu tinha um noivo, quando vivia em Nova York.

Eu senti o meu coração ficar pesado com... ciúmes, eu acho. Não queria imaginar Rosalie com outro homem. Sendo cortejada, e beijada. Ou mais.

- O que aconteceu?

- Ele me magoou. Muito.

- Como alguém pode sequer pensar em te magoar, Rosalie?

Ela deu de ombros e parou de me olhar – e eu finalmente me senti livre para observá-la. Um sorriso triste tinha brotado em seu rosto.

- Eu já pensei assim, Emmett; que ninguém podia me fazer mal. Mas ele fez. E ele era a pessoa em quem eu mais confiava nesse mundo... e eu achava que o amava, também.

- Mas não amava?

- Não.

Engoli seco.

- Rosalie? – Lentamente, muito relutantemente, ela voltou a me olhar. Meu coração disparou. – Você já amou alguém? Você... ama alguém?

- Eu... sinceramente não sei. Mas, Emmett, ainda que eu amasse... alguém... Eu simplesmente não posso! Eu não estou pronta para me expor novamente, para me arriscar. Por dentro, eu ainda estou em pedaços! E isso é terrível, mas, dadas as circunstâncias... é vantajoso.

- Porque esse alguém sou eu? Porque você também gosta de mim?

Ela me olhou por um momento, e eu juro que o meu coração queria sair pela boca. Eu nunca tinha ficado tão nervoso assim antes; eu nunca ansiei tanto por uma resposta quanto naquele momento.

- Sim. – Rosalie finalmente disse. – Porque eu também gosto de você.

Meu coração pareceu explodir naquele exato momento, e eu não sabia se deveria me levantar e beijá-la, ou sair correndo dali e me tirar daquela situação. Eu estava tremendo – o que nunca tinha acontecido antes, por causa de uma garota...

Ela também gostava de mim!

Aquilo não podia ser bom! Não mesmo! Eu tinha que sair dali, antes que fizesse algo pelo qual me arrependeria muito!

- Rosalie! – Era Edward, aparecendo perto do lago. Estranho que ele não estivesse com uma espingarda, já que Rosalie me disse que ele fora caçar. – Oi, Emmett. Feliz aniversário!

Tentei sorrir, apesar do nó em minha garganta.

- Obrigado, cara.

- Rosalie já te deu o seu presente?

- Eu não quero nada.

- Mas você vai gostar-

- É sério, Edward! – Eu o cortei, soando mais ríspido do que pretendia. – Eu tenho que voltar para casa. Te vejo mais tarde.

Não me despedi de Rosalie; não sei se conseguiria me despedir dela sem beijá-la. Mas vi Edward se aproximar do meu anjo com uma expressão meio furiosa em seu rosto.

Encaminhei-me rapidamente para a minha casa, pelo caminho mais curto – apesar de eu saber que não era seguro passar por ali sem a minha espingarda, queria chegar logo; queria tirar Rosalie e aquela conversa da minha cabeça.

O pátio da minha casa já estava decorado, cheio de mesas e a fogueira já estava acesa, começando a assar um leitão. De dentro da minha casa vinha mais cheiro de comida, e eu pude escutar a voz alegre da Sra. Cullen ensinando uma receita à Sra. Barney. Eu vi também a pick-up de Thomas Carroll, com alguns instrumentos musicais na caçamba.

A festa seria, com certeza, boa. Mas eu olhei meio triste para as fitas, e imaginei se, depois dessa tarde, Rosalie ainda viria.

- Mãe, 'tou em casa!

Sentei-me na escada que levava à varanda e suspirei. Logo ouvi passos contra o assoalho velho, e a minha mãe sentou-se ao meu lado.

- Você tem vinte anos, Emmett.

Rolei os olhos.

- É o que parece.

- Está na hora de virar um homem, agora.

Não consegui evitar que uma risadinha escapasse pelos meus lábios. Para Eleanor McCarty, "virar homem" significava dormir com uma mulher; e o precioso filhinho dela apenas faria aquele tipo de coisa depois do casamento! O problema é que o marido dela, o falecido Coronel McCarty, achava que "virar homem" era dormir com uma prostituta em Thireville aos doze anos de idade.

Eu sempre pensei como o meu pai.

Mas jamais diria aquilo para a minha mãe.

- Do jeito que você diz, mãe, até parece que é um passe de mágica!

- E mágico, sim... – Ela suspirou. – Eu falei com o Padre Harrison, e ele disse que pode celebrar o seu casamento até o fim do ano. Os pais de Louise querem que o pastor deles abençoe a união, mas concordaram que a mulher deve se casar na igreja do homem; eu não aceitaria algo diferente, você sabe.

Mais uma vez naquele dia, o meu coração pareceu parar.

- O- Mãe, eu disse que apenas quero me casar quando comprar uma casa!

Ela sorriu.

- E eu tenho dinheiro guardado, da pensão do seu pai, que Deus o tenha! É suficiente para comprar uma casa, e você pode usar as suas economias para reformá-la!

- E o anel? Como eu vou casar, se não tenho um anel bonito para dar a... – Eu não consegui falar o nome de Louise. – a minha noiva?

- É... tem isso, também.

E mãe respirou fundo e olhou para o seu anelar esquerdo – para a aliança de diamante que fora da avó de papai. Lentamente, com dificuldade, ela a tirou.

- De jeito nenhum, mãe! Você ama essa aliança!

- E Louise também vai amá-la! Eu quero que você entregue-a a ela hoje.

E, dando um breve sorriso, ela se levantou, me deixando sozinho com aquela aliança que parecia pesar uma tonelada.

Eu olhei para o pequeno anel e não consegui evitar que a minha mente o visualizasse no dedo de Rosalie. Eu queria entregar aquele anel a ela; eu queria me casar com ela e passar o resto da minha vida ao seu lado.

E ela gostava de mim...

Me perguntei se Rosalie aceitaria se casar comigo; se ela aceitaria deixar os luxos que ela tinha ao lado dos Cullen, para viver na pobreza.

.-.

A fraca luz do sol logo deu lugar à escuridão da noite. Aos poucos, os meus amigos começavam a chegar – e eu tinha muitos amigos! Alguns vieram de Riverside e das cidades vizinhas, outros de fazendas mais afastadas... Mas todos estavam lá.

Exceto Rosalie e Edward.

Quando o Dr. e a Sra. Cullen apareceram, disseram que Rosalie tivera uma indisposição e que Edward ficou em casa, cuidando da irmã. Claro que eu não acreditei em uma palavra sequer – eu sabia que Rosalie não tivera coragem de aparecer, depois da conversa que tivemos naquela tarde.

E, talvez, aquilo até tivesse sido uma coisa boa, pois apenas quando soube que Rosalie não viria à minha festa, eu consegui segurar as mãos de Louise e tratá-la como namorada.

Mais tarde, quando os adultos começavam a voltar para as suas casas, os jovens se preparavam para a segunda parte da noite. Não que a pequena festa organizada por Eleanor McCarty não tivesse sido boa; ou que as comidas não estivessem deliciosas. Mas era o meu aniversário de vinte anos; eu queria dançar, beber cerveja e, se tivesse sorte, brigar um pouco.

- Vamos lá, Emmett! – Andrew gritou, com a metade do corpo dentro do Chevy que ele dirigiria naquela noite. Buzinou. – Thireville nos espera, cara!

Ri e olhei para Louise, que estava ao meu lado, segurando a minha mão.

- Tem certeza que você não quer ir?

A minha Louise deu um sorriso meigo e lindo, antes de beijar brevemente os meus lábios.

- Tenho. Eu quero que você se divirta – Ela mordeu o lábio inferior. – Emmett, a sua mãe me disse que você tinha algo muito importante para me perguntar.

- Ela disse? – Eu massageei inconscientemente o meu pescoço. Claro que minha mãe falaria para Louise que tinha me entregado o anel. – Eu acho que Eleanor exagerou no ponche!

Louise riu, mas eu percebi que algo havia morrido em seu olhar.

- Pode ser! Talvez ela tenha pensado que foi feito com o vinho do padre Harrison!

- Isso é maldade, amor! Você tem que parar de insinuar que mamãe é apaixonada pelo padre!

- Eu jamais insinuei a sua mãe virou beata depois que o padre Harrison se mudou para cá! – Andrew buzinou novamente. Louise suspirou. – Tente não procurar nenhuma briga, ok? Eu amo você, Emmett.

Eu sorri – apenas porque, para aquilo, eu tinha uma resposta mais que sincera. Apesar de todas as minhas dúvidas, uma coisa ainda era uma constante para mim: eu sempre amei Louise. E, naquele momento, eu ainda a amava.

- Eu também amo você. Tchau.

E, dizendo isso, corri para o meu Chevy – para o banco do passageiro, já que aquela era a minha noite de beber... muito.

- Por que os irmãos da Sra. Cullen não vieram? – Andrew perguntou assim que o carro começou a chacoalhar pela estrada de terra. Apesar de não querer admitir, a pergunta me irritou.

- Você quer dizer: por que Rosalie não veio?

Andrew riu.

- Eu acho o Edward legal, também... mas é isso que eu quero saber! Por que a Rose não veio?

Eu desviei o olhar, tentando inutilmente ignorar o fato que Andrew estava tratando Rosalie por um apelido carinhoso.

- Eu não sei. A Sra. Cullen disse que ela não estava se sentindo bem.

- Cara, eu estou com saudades dela! Eu acho que estou apaixonado, sabia? Nunca quis tanto uma garota...

- É... – Disse Jack Hilton, que estava no banco de trás. – Ele está apaixonado. Os peitos dela não têm nada a ver com isso!

- EI! – Emmett disse, alto. – Respeite Rosalie! Ela não merece que falem assim dela!

Jack riu-se.

- Vai dizer que você nunca prestou atenção no corpo dela, Emmett? Apenas ficou interessado no que ela tem a dizer?

Eu não respondi. Não podia entrar em uma discussão por causa de Rosalie; não podia deixar que nenhum deles percebesse que aquela mulher mexia comigo de uma maneira que eu nem poderia começar a explicar.

E eu não precisei.

Não precisei porque, assim que chegamos ao nosso bar favorito de Thireville, todos devem ter percebido que eu estava, sim, irremediavelmente apaixonado. Rosalie estava lá, mais deslumbrante do que nunca. As luzes do bar tocavam a sua pele de um jeito tão esplendoroso que ela parecia estar... brilhando, ou algo assim.

O nosso olhar se cruzou assim que eu entrei – como se ela pudesse adivinhar que era eu quem estava chegando, mesmo antes de eu entrar. Como ela pudesse me reconhecer pelo cheiro.

E ela sorriu. Um sorriso capaz de iluminar todo o ambiente. Um sorriso capaz de gerar uma explosão de fogos de artifício em meu coração. Eu já não me lembrava mais de Andrew, ou de Jack, ou dos outros cinco amigos que estavam logo atrás de mim. Eu não me importava com Edward, que encostou o seu corpo ao de Rosalie de uma maneira quase protetora.

Me aproximei.

- Você não foi à minha festa.

Rosalie se levantou.

- Edward ficou dizendo que eu não deveria ir.

- E como você o convenceu a vir até aqui?

- Basicamente, eu disse que viria com ou sem ele.

- Tudo porque – Uma voz atrás de nós soou. Andrew se inclinou e se colocou entre Rosalie e eu. – você está tendo ótimas aulas de direção, certo, Rose?

Ela tentou sorrir, obviamente tão frustrada quanto eu.

- Sim, claro. As suas aulas são muito úteis, Andrew.

- Então, que tal dançarmos um pouco.

Rosalie suspirou e me olhou por uma fração de segundo antes de segurar a mão de Andrew.

Vê-los dançar foi o pior presente de aniversário que eu poderia ganhar.

Mas não pude fazer nada, se não pegar uma cerveja e começar a comemoração.

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