Vulto da Noite escrita por MsWritter


Capítulo 2
Outro


Notas iniciais do capítulo

Era pra ser um só... mas o original durou mto mais do que eu esperava.



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Por anos vivi uma vida de glória

Seguiam-me como a estrela do Norte

Só não viam que a minha vitória

Tinha cheiro e gosto de morte

Não viam tal treva notória

Nem imaginavam o fardo de tal sorte.



Quando o outono trouxe a calmaria

A paz nunca uma certeza

Não sabia ainda o que queria

Mas conheci a beleza

Uma linda flor a quem amaria

Raio de sol entre a realeza.



Mas não importa quão seguro

O amor é dele ser eterno

É pétala de flor, frágil e puro,

Condenado a sucumbir no inverno

Falece nas trevas desse mundo escuro,

Revelando no gelo verdadeiro inferno.



Seu amor era minha vida, juro

Alimentada apenas por sua presença

Não a amava ainda, mensuro

Mas partir permite que a morte vença

Deixando o sentimento imaturo

E um coração incompleto por nascença



E num coração na guerra antes bravio

Pela morte alimentado e derrotado

Resta agora apenas vazio

Ser amado meu maior pecado

Faço o que resta, na espada confio

Por séculos meu destino amaldiçoado.



E quando leva ao fim a derrota

De um monstro antes invencível

Um novo eu enfim brota

Um eu em mim jamais possível

Dou a ela minha alma devota

Minha ela agora instransponível



Antes meu doce amor

Hoje minha amada é amarga

Tem espinhos como rara flor

Suas palavras ferem como afiada garra

E mesmo trazendo tamanha dor

Seu olhar minha alma afaga



Sei que olha além de mim

Vê o monstro que em minha alma ressoa

Em mim pierrot, nele arlequim

Uma colombina com alma e dentes de leoa

Que escolhe a ele, sempre, por fim

E meus olhos pintam as lágrimas, choradas à toa.



Mas quando passa o Carnaval

E o sádico arlequim não mais se pode encontrar

Sei que o apelo em seu ser é racional

Fica ao meu lado, pois posso ficar

E aos poucos se entrega a mim afinal

E o faz de verdade, mesmo sem me amar.



Entendo, ainda que vagamente, o que ela sentiu agora

Amando-me por anos, sem nunca nada pedir

Era um sentimento que nada exigia em troca

Em nenhum momento me forçou a mentir

E assim eu me faço de minha senhora

Cujas escolhas, a todas, hei de seguir.



Fiz-me despedaçado e por ela inteiro

Mesmo não gostando do meu verdadeiro rosto

Minha alma de meus demônios viveiro

Sinto em suas mãos de meus erros o gosto

E em minha pele o pútrido cheiro

De um rei eleito, morto. Rei posto.



E então em seus olhos de fera

Que do rosto escondi: “Não me olhe”

Encontro acolhimento, ela me espera

Abre os braços e me acolhe

Sim, o refúgio de minha vida tão severa

Uma paz que o tempo, novamente, me tolhe.



Mas acontece que amor que espera nunca morre,

"Bem vindo de volta, Milord", sussurrando meu nome.


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Notas finais do capítulo

Columbina, Arlequim e Pierrot são personagens da commedia dell'arte, figuras muito conhecidas em alguns carnavais mais antigos. O Pierrot geralmente é caracterizado como um palhaço triste, vestido de preto e branco e com uma lágrima pintada no rosto pálido. O Pierrot ama a Columbina, que sempre o troca pelo Arlequim, um bon vivant travesso que apronta e seduz, mas sempre se safa, deixando uma parte de seu coração para trás. (ou quase isso, sintam-se a vontade para pesquisar mais)



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