A Escolha escrita por Miss Black_Rose


Capítulo 5
Capítulo 5




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- Aqui está o disquete, Simon. – Mary estendeu o objeto na direção de um velho homem vestido a terno branco, grisalho, olhos miúdos, mas perspicazes, sentado atrás de uma mesa de escritório de madeira branca, com alguns retratos e objetos de luxo. Estavam dentro de uma sala grande, de janelas grandes, cobertas por cortinas vermelho-escuro, decorada com tapetes, lareira e estantes de livro de vidro. A sala era bem arejada e melhor ainda iluminada.

- Oh, Mary, eu sabia que podia contar com a sua eficiência. – Simon Gardenville acendeu um cachimbo de madeira, com minuciosos detalhes em ouro e após algumas baforadas, acrescentou, enquanto um empregado abria o arquivo do disquete no computador ao seu lado: – Então, aquele impostor recebeu o que merecia? Estou surpreso que tenha sido uma garotinha quem tenha o matado. – Simon soltou uma risada grossa, rouca e contínua. Sua farta barriga se moveu para cima e para baixo involuntariamente - Onde esse mundo foi parar? Não se dá para confiar mais nem em uma criança.

- está tudo certo, senhor. Esse é o disquete original. – disse o empregado, sem tirar os olhos do computador.

- não há cópias do disquete. Portanto, posso dar essa missão como encerrada. – Mary respondeu, se virando para a porta.

- espere um pouco, Mary. Eu gostaria de saber mais sobre essa garotinha. Quantos anos ela tem? É tão eficiente assim, mesmo? Pelo visto é melhor do que os meus empregados. – Simon disse, soltando novamente a gargalhada.
- eu não posso revelar dados sobre a criança, Simon. – a agente respondeu, enfatizando impacientemente o nome do receptor. - É um agente, e assim como qualquer um deles tem de ser preservada.

- bem, mas talvez eu me interesse pela pequena. Oras, imagino que conseguiria se tivesse a pequena trabalhando para mim. Todos podem suspeitar de um adulto, mas de uma criança...

- Ela ainda está em fase de treinamento, Simon. E não está à venda.

- não pretendo comprá-la, Mary. Pelo contrário. Quero fazer uma proposta. Eu preciso de pessoas que executem certos trabalhos para mim e tenho certeza de que na sua agência posso encontrá-las. Como esses “trabalhos” estão sobrando eu pensei em ajudá-los com um certo custo financeiro. Você sabe que dinheiro é o que não falta para mim. Em troca, gostaria de ter algumas meninas à minha disposição, para trabalhos mais discretos.

- Infelizmente, é uma proposta inaceitável. Até mais, Simon.

- Mas, Mary...

- Até mais.

* * *

Mary precisava descobrir uma maneira de fazer Ada falar. Atuação era um dos requisitos mais importantes de uma espiã e se Ada não falava, seria, no mínimo, uma mera assassina.

- E não é para isso que a treino todos os dias. – concluiu a velha agente. – Quero mais de você, Ada. Preciso que colabore comigo. Que mostre a sua gratidão por ter uma casa, por ter conforto, por ter toda essa educação. Você já não é mais uma menina. É uma adolescente e precisa parar de temer o mundo. Você anda armada, sabe se defender. Então, do que tem medo?

Ada não respondeu, como Mary previa, mas ainda assim, a velha agente precisava descobrir uma maneira de fazê-la falar.

“Por que eu, Harris? Por que logo eu?”, resmungou a quarentona. Então raciocinou num canto e teve uma idéia. Ada tinha 12 anos de idade. Pela ficha que Harris entregara, ela passara toda a infância em um abrigo ilegal, quase um prostíbulo. Era órfã, talvez vendida ou abandonada pelos pais. O que ela mais precisava? O que Ada nunca tivera?

Mary voltou os olhos para a menina, agora sentada na mesinha de mogno, estudando um livro de língua estrangeira. Parecia tão inocente, tão meiga e comum. Lia com voracidade. Tinha prazer em aprender e tentava compensar toda a ajuda que recebera assim. Queria ser a melhor, mas possuía traumas, medos, pesadelos emocionais que a impediam.

Tão pequena, tão complexa. Mary não tinha dúvidas. Ada havia nascido para ser uma espiã e precisava do que havia lhe faltado todo esse tempo. Precisava de alguém em quem pudesse confiar, amar e se sentir segura, antes que ficasse ácida de mais para aceitar isso.

A velha agente chamou a menina. Tirariam umas férias, viajariam pelo mundo e depois ficariam na casa de um amigo.

Era hora de presentear Ada por todo o seu bom desempenho e com esse presente motivá-la a ser uma de suas melhores espiãs.
* * *


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