O Calor Simples de Dentes de Leão escrita por Mandy-ama-anime


Capítulo 1
Único




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Estava olhando uma parede branca, vagamente. Apenas pensava no que viria a seguir. Estava deitada em uma cama de hospital, sob uma coberta macia e o travesseiro duro, que eu tanto detestava. Coluna ereta, com as costas apoiadas na cabeceira da cama, enquanto pensava no futuro que me aguardava. Não fazia nem quatro dias que recebi a notícia. A maneira fria e sínica que o médico me comunicou-a me fez perder ainda mais as esperanças.

- Me perdoe, minha jovem, mas nós não podemos fazer mais nada. – Ele disse, enquanto eu observava-o estática. – Sua doença é algo que está acima da capacidade de todos os nossos cirurgiões. Ninguém tem ideia de como fazer para curá-la. Já pensamos em fazer várias cirurgias, mas nenhuma delas parece que adiantaria alguma coisa, e sim diminuiria ainda mais a sua expectativa de vida. Infelizmente, você só tem mais uma semana.

Dito isso, ele apenas abaixou a cabeça, com pena, e eu, ainda estática, tentava processar aos poucos as informações em meu cérebro. Após isso, ele apenas se virou e saiu da sala, me deixando mergulhada em dezenas de dúvidas.

Na verdade, sempre imaginei que meu destino fosse esse. Passei quatro anos em uma cama de hospital, com a janela fechada e apenas luzes artificiais. Devido à minha doença, qualquer exposição à luz do Sol diminuiria ainda mais a minha expectativa de vida, por isso acharam melhor me manter em cativeiro. Minha rotina diária era sempre exames, dejejum, cama, mais exames, dejejum, cama, algumas visitas, e assim sucessivamente... Uma rotina muito monótona, se quer saber.

Eu ouvia pessoas falarem de mim por detrás da porta de meu quarto. Eram sempre médicos, enfermeiras e familiares falando de mim com muita pena, tristes e falando coisas terríveis, achando que eu não escutava. Os assuntos variavam entre minha morte, minhas dores corporais, minha sensibilidade à luz do sol...

Odeio isso.

Eles ficam suplicando e dizendo coisas horríveis, sendo que não estão fazendo nada contra isso, e quem está sofrendo sou eu. Sinto-me morta por dentro, sem mais forças para continuar. E sinto, dentro de meu corpo, em cada músculo, em cada órgão. A morte se aproxima vagarosamente, e esta já tomou a minha vontade de viver. Meu Deus, como sinto falta da luz do Sol... Sinto falta de fazer um piquenique com meus amigos à luz do Sol, com a brisa fresca de verão passando por mim e levantando meus cabelos, que antes eram tão vivos e luminosos. Agora apenas sinto o gélido ar que é exalado pelo ar-condicionado, e meus cabelos, com sua cor que antes era castanha-clara, sem vida, pálidos. Sinto falta de deitar na grama, olhar o céu na primavera, com as flores em meu redor, sentir o aroma delicioso de grama molhada. Agora apenas sinto o cheiro de remédios e formol, típico cheiro de hospital, sem sair de minha cama. Sinto falta do mundo exterior, sinto falta de viver.

Abri meu notebook e coloquei-o sobre meu colo. Meu fiel amigo, que sempre ouve meus desabafos e minhas dúvidas e sofrimento. Abri o Word, e comecei a digitar:

“Querido diário

Não sei descrever mais como estou me sentindo... Sinto em meu coração uma mistura de desapontamento, cansaço (cansaço de espírito, não corporal), dor, tristeza... Nem me lembro mais de quando foi a última vez em que sorri. Mas que seja, não importa mais mesmo. Eu vou morrer de qualquer jeito, só sou mais uma paciente que está dando trabalho ao hospital. Aposto que, quando eu me for, aqueles médicos e enfermeiras desgraçados e sínicos vão ficar aliviados por não precisarem gastar mais de seus cosméticos com um caso perdido como eu...

Eu estou cansada dessa minha vida. Se é que pode ser considerada uma vida, afinal eu não estou vivendo, estou apenas existindo. Eu vou morrer mesmo, então não me importo mais! Isso mesmo, já que eu vou morrer de qualquer jeito, eu quero pelo menos aproveitar o pouco tempo que me resta. Ah, mas nunca que eu vou morrer numa merda de cama de hospital. Puxa, queria ter pelo menos chegado aos 20 anos... Bom, eu não posso fazer mais nada. Adeus mundo, adeus hospital! Apenas quero poder viver alguns minutos sendo gente, e não mais uma paciente! Quando alguém ler isso, saiba que eu odiava essa vida melancólica entre as quatro paredes desse maldito hospital! Pai, mãe, família, eu realmente acho que vocês poderiam ter lutado mais por mim. Dane-se mundo, dane-se hospital!

Diário, como esse é o meu último desabafo, obrigada por ter me ouvido desabafar nesses últimos quatro anos. Quem sabe um dia façam um livro com meus depoimentos... Pena que não estarei viva para lê-lo. Adeus, diário, vou sair da cama.

Natalie S. F.”

Fechei o notebook e levantei da cama, com cuidado. Meus pés descalços tocaram o chão frio como o gelo e peguei minha sandália às pressas. Com um passo de cada vez, sentia meu corpo doer, mas nunca me senti tão viva desde que cheguei a este hospital. Recuperei minhas forças de repente, apenas queria ver mais uma vez o Sol brilhar. Com o pijama do hospital, me dirigi à porta dos fundos, pois sabia que se fosse pela frente não me deixariam sair. Eu vi o brilho do Sol entrando levemente pela aresta da porta de metal, e tive que respirar um pouco para segurar a emoção que enchia meu corpo e alma.

Abri a porta devagar, e senti o vento bater em meu rosto outra vez. Pude ouvir as crianças brincando no parque novamente, ouvir o canto dos pássaros, sentir o calor do Sol, uma sensação indescritível para mim, que passei quatro anos apenas olhando as paredes brancas de um hospital.

Caminhei o mais rápido que pude em direção ao parque. Não tinha muito mais tempo. Sentia a morte se aproximar ainda mais de mim, mas não me importava. Nada mais importava, era tarde demais para voltar atrás. Assim que pisei na grama macia e levemente úmida com o orvalho, senti minha alma brilhar e sorrir novamente. Lágrimas desciam descontroladamente por meus olhos. Andei o máximo que consegui; queria ver as flores! As minhas tão amadas flores! Lembro que em minha infância, durante o inocente tempo em que não fazia ideia de meu futuro melancólico, minha mãe me levava para esse parque e eu ficava colhendo as flores para fazer arranjos e dar de presente a ela. Até que finalmente avistei.

Um campo cheio de dentes de leão. Lindos e dourados dentes de leão. Minhas flores preferidas, desde que era criança. Chorei mais um pouco, como uma criança em seu primeiro natal. Caí de joelhos, sem mais forças para caminhar. A beleza, o brilho de todas aquelas flores silvestres, tudo o que a infelicidade e dor tomaram de mim: o brilho e a pureza da vida.

Caí, sem mais forças para levantar. Senti minha alma aos poucos deixar meu corpo, e vi uma aura branca me envolver. “Só espero que, no céu, existam campos dourados de dentes de leão.” Eu pensei, e sob as pétalas daquelas lindas flores, fiz o meu túmulo.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado ^^ Me inspirei muito no episódio 29, do anime Black Jack. Eu amo esse anime, e quando reassisti esse episódio me senti tão inspirada que quis escrever esse texto XD
Reviews? *---* Agradecimentos à minha aneue Meg, por ter betado essa história pra mim ^^



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