Depois de eu quase morrer sufocado, o demônio segurou em meu braço. Dei um grito de dor ao sentir o fogo em contato com a minha pele. Mas então senti que estava voltando a viver. Senti um puxão em meu peito, seguida de uma pontada de dor. E tudo começar a se embaçar, a dor ficar mais indefinida.

-Não!! Não pode ser!! – O Diabo, Satanás, capeta, sei lá o quê gritou. E eu senti como se estivesse desaparecendo. – Você ainda é meu! – Ele gritou. Estava tudo ficando mais distante. – Eu ainda vou te tentar! Você ainda será meu! Aguarde!!

Abri os olhos num sobressalto, sendo impedido naturalmente de me sentar por uma dor aguda na cabeça. Fechei os olhos e pûs a mão na testa, num gemido. Depois, me ergui lentamente e espiei o lugar onde eu estava com o olhar. Não estava no Inferno. Não havia morrido. Na verdade, estava deitado numa cama king-size, num quarto claro e iluminado, com pinturas penduradas na parede, uma TV enorme, um armário e um criado mudo com uma luminária e um porta-retratos com a foto de um labrador.

Aonde eu estava?

Levei um susto quando a porta do quatro se abriu, e uma garota entrou. Bem, de cara eu não reconheci, mas então eu apertei os olhos e descobri quem ela era.

-Selena Gomez? – Perguntei, ao ver a garota morena de olhos castanhos que eu conhecia desde que via Barney e Seus Amigos, com seis anos, por aí. E a conheci quando havia acabado de fazer 15 anos de idade, e virei muito amigo dela. Só não a via a um tempo. Selena se surpreendeu ao me ver acordado.

-Veja só, você está consciente! – Ela disse.

-O que aconteceu? – Perguntei.

-Eu só te achei desacordado algumas quadras perto da minha casa, não sei o que houve com você. Mas estava muito ferido. Do que se lembra? – Selena perguntou. Ao tentar lembrar da surra que levei, eu senti uma dor forte na cabeça.

-Vou ficar te devendo isso... – Murmurei, com a mão na cabeça. – Quanto tempo eu fiquei apagado?

-Eu diria que uns dois dias. – Ela disse.

-Uau. – Murmurei. – É… Muito tempo.

-Pois é... Eu pensei que você não tivesse resistido. – Ela disse, se sentando ao meu lado. Me perguntou se eu conseguia me levantar, e eu me levantei sem dificuldades. Mentira, eu quase caí no chão. Minha sorte foi que Selena me segurou antes que eu desse com a head no chão. Ela me sentou de novo, e disse, num riso, que era melhor eu ficar deitado por mais um tempo. E ligou a TV. Estava na CNN, uma âncora morena dizia coisas sobre mim.

-O astro pop Justin Bieber está desaparecido há dois dias. A última vez que o cantor de 15 anos de idade foi visto foi em Los Angeles, em uma premiação da revista Peaple. Bieber chegou ao evento, tirou fotos no tapete vermelho e não foi visto mais. A polícia está procurando o cantor por todo o perímetro de Los Angeles. Justin Bieber tem passado por um momento ruim em sua carreira desde que foi visto bebendo Vodca, e assumiu seu alcoolismo. Psicólogos... – A âncora iria continuar a falar, mas eu desliguei a TV pelo controle remoto. Estava ótimo já sabendo que eu estava sendo procurado.

-Sério que eles não sabem que eu estou aqui? – Perguntei.

-É. Quando tem premiação, eles não se concentram muito na casa de gente famosa nos arredores. – Selena disse, num riso. – Você quer alguma coisa, água, suco?

-Não, eu... Tô bem. – Murmurei, e voltei a sentir uma dor de cabeça. – Uma aspirina até que caía bem...

-Eu vou pegar pra você. – Selena disse, rindo, e saiu por alguns instantes. Alguns minutos depois, eu estava deitado comodamente na cama, bebendo um copo de água.

-Obrigado. – Eu disse a Selena. – Por ter me ajudado. Eu... Teria morrido.

-Já passou perto da morte várias vezes, não é? – Selena perguntou. Depois levou um susto, pelo que havia dito. – Digo, eu... Eu vi na TV que você já quase morreu... Várias vezes. Não é mesmo?

-Ah, é... – Eu suspirei. – Várias vezes... Mas... Dessa vez, eu... Eu sabia mesmo que iria morrer. Sabe, eu apanhei até... Eu tinha certeza que ia morrer. Até você aparecer.

-É... É importante saber que eu salvei você. – Ela disse, num sorriso tímido.

-Você é... É muito importante. – Falei.

-Você acha? – Selena perguntou. – Só acho que eu... Sirvo em Waverly Place. – Ela riu. E eu lembrei de Os Feiticeiros de Waverly Place. Ri da Alex Russo, que, de uma certa forma, estava bem ali á minha frente.

-Você é importante em outras coisas! – Eu protestei. – Você canta bem, e, suas músicas são legais, e, bem... – Eu suspirei. – Você é linda.

Selena baixou o olhar, corada.

-E-eu não sou... Ah, tem gente muito mais bonita. – Ela gaguejou.

-Danem-se as pessoas mais bonitas, o que importa é que você é linda. – Eu disse, num tom rebelde e divertido. Selena riu.

-Obrigada. – Ela disse. Eu ri. – Sempre me dizem o contrário. – Selena completou.

-Quem disse que você não é linda? – Perguntei. – Precisam de óculos. Daqueles com graus bem grandes, não o de leitura que eu uso. Na verdade, eu nem preciso de óculos! Eu vejo muito bem as coisas. E vejo que você é muito linda. – Completei.

Selena tentou contornar aquele assunto.

-Você... O que aconteceu, quando você foi... – Ela gaguejou.

-Quando você me ajudou? Eu fui assaltado. Entreguei as chaves, a carteira e o celular, mas eles não acreditaram que um famoso só andava com as chaves do carro, um BlackBerry e 20 dólares. – Eu ri. – Eles me espancaram. E eu apareci caído no chão, sangrando. – Falei. Logo ao perceber o que eu havia dito, eu franzi a testa. – Você tocou no meu sangue?! – Perguntei, com certo desespero, me erguendo na cama.

-Não, eu acho. – Ela riu. – Por que?

-Nada. – Respondi. – É que... Ah, quer saber? Esquece. – Falei, rindo, jogando minha preocupação para longe.

-Você está com algum pertence seu aqui? Quer ligar para sua mãe? – Selena perguntou. E eu lembrei, que minha mãe provavelmente deveria estar surtando. Mas eu percebi que ela iria surtar mais ainda se soubesse do que havia acontecido.

-Eu... Acho que não. – Eu respondi. – Ela vai pirar, e, eu não tô com cabeça pra ouvir surtos. Mas... Eu vou avisar pra ela que eu estou vivo... Em breve. – Suspirei. – Na verdade, eu não estou com cabeça pra muita coisa.

-E está com cabeça pra quê? – Selena perguntou. Eu dei um sorriso maroto e afundei a cabeça no travesseiro da cama.

-Dormir. – Murmurei, com um sorriso idiota na cara. Selena riu um bocado de mim, e se levantou.

-Vou lhe deixar fazer a única coisa que sua cabeça permite, dorminhoco. – Ela disse, rindo, num tom de brincadeira, e eu me espreguicei longamente. Ela riu novamente, me desejou uma boa soneca e saiu. Eu joguei meu rosto contra o travesseiro e apaguei instantaneamente.