Bilhete de Loteria escrita por Jacih


Capítulo 1
Capítulo Único - Bilhete de Loteria


Notas iniciais do capítulo

N/A: História que surgiu de noite e eu tive que deixar de dormir e escrever! Espero que gostem!



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   Você sempre foi frio e arrogante, distante o máximo possível de todos, menos do Alvo. Até hoje não entendo como aquele moreno conseguiu transpor todas essas barreiras que existem ao redor de você. Eu queria transpô-las, mas eu sabia que isso era impossível.

   Eu me limitava a olhar você de longe, a observar seus olhos claros brilhando a luz do sol, mesmo você tentando esconder isso, ou então como suas bochechas coravam quando o vento gelado tentava cortá-las. Sim, eu sempre fui apaixonada por você, mas eu sabia que era impossível.

   Como tudo na minha vida, você é algo que não posso prender. Algo que não tenho e nunca vou ter. Alguém que eu queria que passasse seus braços em volta de mim, mas que mais uma vez eu tinha certeza que era impossível.

   Os anos passaram, você cresceu, mas nada mudou. Eu? Eu me esqueci de tudo o que eu observava e de todos que poderia falar de você. O meu amor não sumiu, mas ficou guardado todo esse tempo e nesse momento o que eu menos penso é você.

   Minha mãe ficou doente. Muito doente e o tratamento é muito caro. Sempre tivemos dinheiro, meu pai lutou muito por isso, mas tudo já se foi. Não conseguimos mais arcar com nada e eu não sei o que fazer para ajudar.

   Eu vi meu irmão me encarando triste da sala e não suportei esperar pelas más notícias. Eu saí correndo por essas ruas de Londres buscando abrigo onde eu sabia que não tinha e foi então, que pela primeira vez, você me notou.

- Weasley? – me virei devagar

- Malfoy? – perguntei estranhando

- Você deixou cair isso! – você me entregou um papel meio amassado impresso em letras pretas, visivelmente trouxa

- Não! Não é meu! – eu disse convicta tentando devolver o papel

- É seu sim, Weasley! – você não permitiu que eu devolvesse e começou a se afastar

- Isso não é meu Scorpius! – eu disse te encarando séria

   Seus olhos brilharam e eu pude ver que você ficou realmente emocionado.

- É seu...Rose! – você quase sorriu dizendo meu nome com emoção e então desapareceu na rua

   Eu fiquei inúmeros minutos olhando aquele papelzinho até voltar para casa e deixá-lo sobre a escrivaninha do meu quarto. Mais dias passaram e nada da minha vida mudar. Antes eu queria que minha mãe voltasse daquele hospital, agora eu queria que ela morresse para não vê-la sofrer assim sem eu poder fazer nada.

   Vendemos a casa, nos mudamos para a Toca e mesmo assim não havia dinheiro suficiente. Meu pai já estava enlouquecendo. Eu queria ajudar, queria muito ajudar!

- Rose? – James apareceu na porta da sala

- O que foi? – me levantei e fui até ele

- Isso é seu? – ele me mostrou o pequeno papel

- É...é sim! – eu suspirei pensando não ser importante

- Isso é um bilhete de loteria trouxa Rose! E é o premiado! – ele estava abismado

- O quê? – encarei ele surpresa

- Você é milionária Rose! – ele disse prendendo a respiração

   Eu fiquei ali olhando vários segundo para aquele papel, até que um sorriso apareceu em meu rosto e James me abraçou rindo. Eu peguei o papel e corri para meu pai. Estávamos salvos.

    Seis meses se passaram desde então. Mamãe voltou para casa hoje e só depois de tanta turbulência eu pude finalmente pensar em ver você e agradecer.

   Apareci na sua casa sem avisar. Pensei que seu pai me expulsaria, mas ele limitou-se a sorrir de canto e sua mãe indicou seu quarto dizendo que você me esperava há muito tempo. Antes que eu terminasse de subir, ela me pediu com os olhos marejados que eu salvasse você do passado. Seu pai apenas concordou com um aceno de cabeça.

   Quando eu te vi de novo, você estava sentado na cama, os cotovelos apoiados nos joelhos e a cabeça baixa. Os cabelos caindo displicentemente por sua face escondendo seus olhos que eu tanto ansiava ver. Mas você concedeu meu desejo e me encarou achando que fosse seus pais eu acho, mas em seguida você simplesmente voltou a posição que estava sem dizer nenhuma palavra.

   Eu pude ver naquela fração de segundos o quanto algo te machucava. O quanto você sofria por algo que estava dentro de você e eu não sabia o porque de eu não ter me aproximado antes e tirado esse sofrimento que pesava tanto agora.

   Aproxime-me de você e sentei ao seu lado, passei meus braços em volta de você e você se deixou abraçar chorando em meu colo. Eu te apertei ainda mais contra mim e você não me negou nem um minuto.

   As lágrimas que desciam por seu rosto pareciam lavar e levar embora tudo o que tinha de ruim te machucando. Aos poucos você se acalmou, mas não saiu dali. Sua mão segurava a minha tão forte que chegava a doer, mas eu não queria me afastar. Não agora e nem nunca.

   Porém, você se afastou e me encarou. Os vestígios das lágrimas ainda em seu rosto, o olhar brilhando como nunca e vasculhando meu rosto como para ter certeza que eu estava ali. Eu toquei seu rosto e você fechou os olhos se inclinando para o toque, em seguida o abriu só para constatar a distância mínima entre nós antes de eu tomar um último impulso e o beijar de forma calma.

   Você não hesitou nenhum momento, apenas correspondeu no mesmo ritmo que eu. De uma forma ansiosa, como sempre quisesse aquilo e no mesmo momento de uma forma calma como se selasse algo grandioso demais para se ir rápido.

   E então mais uma vez você se afastou, permaneceu segurando meu rosto, mas dessa vez seu rosto não estava indecifrável, eu podia notar ali uma ponta de carinho e felicidade. Felicidade que talvez você nunca teve, mas que eu estava disposta a te dar.

- Scorpius? – era seu pai junto com sua mãe na porta

   Você olhou para a porta ainda segurando meu rosto e talvez nesse momento eu realmente entendi o que sua mãe me pediu quando eu entrei. Você desceu delicadamente a mão e segurou a minha sobre meu colo abaixando o olhar por uns segundos.

   Seus pais entraram e pararam na nossa frente. Seu pai sentou na poltrona verde e sua mão no braço da mesma poltrona. Eu não estava entendendo, mas sabia que era importante eu estar ali com você.

- Você não precisa ir! – sua mãe falou com um carinho enorme e mais uma vez eu não entendia como você podia agir tão friamente sendo tão amado

   Você a encarou surpreso e seu ar passou para um ansioso.

- Eu posso ficar? – você perguntou praticamente em um tom infantil

- Do que está falando? – sussurrei sem entender, eu não podia acreditar que quando finalmente eu tomara coragem para ficar com você, algo ou alguém me separaria – Você não vai embora! Não agora que eu... – eu falei baixinho e rápido, mas todos escutaram

   Você me olhava surpreso e de repente suas duas mãos seguravam as minha com força.

- Rose? – seu pai me chamou e eu limitei-me a encará-lo – Scorpius não iria embora! Ele estava indo para uma clínica trouxa!

- Clínica trouxa? – perguntei séria

- Scorpius tentou se matar ontem! – ele falou com cuidado e então puxou as mangas de sua blusa para cima e mostrou seu pulso cortado – Não consegui tirar as cicatrizes porque quase cheguei tarde demais!

   E dessa vez foram as minhas mãos que seguraram as tuas apertadas. Eu nunca imaginei te perder assim.

- Você pode ajudá-lo! – sua mãe sorriu – Você é a única que pode ajudá-lo!

   Eu fiquei em silêncio por uns segundos. Não hesitava na resposta. Porque agora que eu tinha conseguido ficar com você eu não desistiria jamais. Eu hesitava no que fazer no exato momento. Então eu suspirei e abri o meu melhor sorriso.

   Levantei ainda sorrindo e te encarei.

- Arrume suas coisas! Você vai comigo para a Toca!

   Seu pai sorriu abertamente pela primeira vez e se levantou.

- Apressem-se! Vou levar vocês! – e dizendo isso saiu do quarto com sua mãe nos deixando sozinhos

***

   Três anos se passaram. Você nunca mais tentou fazer nada contra sua vida. Pelo contrário, você lutou cada segundo para sair daquela depressão horrível que você se encontrava.

   Mais tarde eu vim saber os motivos. Sempre taxado pelo sobrenome e pelo que seu pai e avô fizeram, sempre ignorado e desprezado por tudo e por todos. Você chegou a apanhar em Hogwarts, detenções motivos, inúmeras cicatrizes tanto fisicamente quanto mentalmente. E eu finalmente entendi como Alvo conseguia transpor suas barreiras...ele jamais te julgou e insistiu até você deixá-lo entrar na sua vida. Ficou do seu lado, cada vez que te machucaram e por vezes se deixou machucar junto. Me arrependo de nunca ter feito isso também.

   Você foi para a Toca comigo, passou o resto das férias lá e eu finalmente vi um sorriso. Foi em uma das inúmeras brincadeiras do meu irmão, mas você sorriu e todo mundo ficou chocado com isso e então você não se aguentou e gargalhou e nada mais importava. Só o riso de todo mundo puxado pelo seu.

   Seus pais me agradecem até hoje. Eu acho que não há motivos para isso, pois eu só fiquei do seu lado. Eles te amam, mais que tudo na vida e tentaram fazer de tudo para te proteger, finalmente eles descansam sendo felizes também.

- Podemos conversar? – olhei para a frente e dei de cara com você me encarando

- Oi amor! – eu sorri e lhe dei um selinho

- Oi amor! – você sorriu de volta e segurou minha mão me puxando para fora daquele estádio

- Aconteceu alguma coisa? – perguntei preocupada, você estava tenso

- Quando tudo aconteceu...quando eu tentei me matar...você fez isso por mim? Só para me ajudar?

   Eu o encarei intrigado. Você estava pensando nos nossos momentos como eu.

- Não estou duvidando do seu amor! – você se apressou em explicar – Estou perguntando se já me amava!

- Por que isso agora? Já faz três anos!

- Por favor? – seus olhos suplicaram junto com suas palavras

- Eu já te amava sim! – sorri

   Você respirou fundo e sorriu.

- A partir de agora eu não quero esconder nada de você! – você tocou meu rosto e colocou uma mecha de cabelo meu para trás

- O que você escondeu de mim Scorpius? – perguntei ainda sorrindo

- Eu sabia que o bilhete era premiado!

   Eu fiquei confusa, pensando em quê bilhete você falara e então me afastei quando me toquei da resposta. Você prendeu a respiração temendo minha reação e até eu temia.

   Você havia ganhado um prêmio enorme, você ajudara a salvar minha mãe e enquanto isso se afundava cada vez mais na sua depressão e quase tirou a sua vida. Era isso que eu tinha que entender? Você pensou em me ajudar e eu nem sabia do estado em que você estava!

   Meus olhos encararam os seus e pela primeira vez quem chorara fui eu. Eu te abracei apertado e você retribuiu me erguendo do chão e me girando no ar. Como eu te amava garoto. Você se tornou minha vida.

- Casa comigo? – você sussurrou em meu ouvido me colocando no chão para ver minha expressão

   E quando eu olhei para baixo, na palma de sua mão havia um delicado anel com um diamante solitário. Eu sorri.

- Caso! – eu não aguentava de felicidade, você deslizou o anel pelo meu dedo e voltou a me abraçar e girar no ar

- Eu te amo Rose Weasley!

- Eu te amo Scorpius Malfoy!

   Você me colocou no chão e nós nos beijamos com paixão. A neve começou a cair aos poucos ao nosso redor enquanto nós riamos e nos beijávamos sem perceber mais nada. A primeira neve do ano, depois de quase quatro anos em que não nevava. O último dia de neve foi quando um certo loiro fez uma aposta em uma bilheteria trouxa. Que mudou para sempre nossas vidas.


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Notas finais do capítulo

N/A: Comentem!