Sakura estava em seu quarto quando o relógio no andar de baixo soou 11:00 da noite, mas ela não queria ir dormir. Correu os dedos pelo pulso, percebendo como a marca vermelha tinha se transformado num tom profundo de roxo, e como o nó em seu estômago se tornava maior a cada momento.

Tinha feito todos seus deveres de casa, tomado banho, e colocado seus livros na estante em ordem alfabética, tentando duramente se manter acordada, mas após um comercial de meias calças, uma mini maratona de F.R.I.E.N.D.S, e mais de uma hora de QVC jewelry3¹, se sentiu pronta para dormir.

Até que ouviu uma batida em sua porta.

-Entra.

Sakura disse, pensando que fosse sua mãe, às vezes ela gostava de lhe checar durante a noite.

Mas a porta não abriu.

Sakura se sentou na cama e acendeu o abajur.

-Mãe. É você?

Sem resposta.

Deixou sair um suspiro e se levantou, caminhando-se até a porta. Tentou abrir a maçaneta, mas não conseguiu. como se estivesse trancada por dentro.

-Mãe?

Repetiu ainda tentando forçar a maçaneta, bateu na porta, esperando capturar a atenção dos seus pais.

Mas nenhum deles veio e a maçaneta não abria.

-Sakura.

Um sussurro veio de algum lugar do quarto, e Sakura reconheceu como a voz dele, de um de seus sonhos.

Virou-se para olhar, o coração na garganta rapidamente acelerando.

-Está pronta para conversarmos?

A voz continuou não mais como um sussurro, e sim como um ronronado grave, fazendo Sakura tremer.

Ela olhou pelo quarto, mas não encontrou a origem da voz em lugar nenhum, todavia tudo parecia diferente agora. Sua cama estava com uma coberta azul marinha aonde antes tinha uma colcha rosa. E medalhas de natação e hockey que estavam nas suas paredes, as que tinha ganhado há cinco anos, tinham sido substituídas por memórias de coisas de esportes: bandeiras, tacos de hockey, e pôsteres.

Sakura balançou a cabeça, desejando saber onde estava. Tendo noção que aquele não era seu quarto.

E que não deveria estar ali.

Seus passos a guiaram até um espelho grande na parede ao lado da cama, encarou seu reflexo que usava a curta camisola rosa de pijama, o vento que entrava pela janela balançava seus cabelos soltos, lhe causando um arrepio.

-Nós precisamos conversar.

A voz dele sussurrou. Sakura podia sentir a respiração morna em seu pescoço.

Segurando a respiração, girou em seus calcanhares para conseguir vê-lo, mas não havia ninguém. E a lâmpada de seu abajur tinha se apagado, deixando-a completamente no escuro.

Um momento depois, a lua apareceu na janela, iluminando um canto do quarto onde uma sombra se mexia nas paredes.

Assustada ao ver aquilo, se dirigiu novamente para a porta, batendo-a e chutando-a com toda sua vontade, sorrindo ao ouvir a porta trincar enquanto chutava.

-Não tenha medo.

Disse, parando logo a frente da janela, para que ela pudesse velo. Seus olhos negros e um sorriso de canto nos lábios.

Deveria ter sua idade, uns 20 centímetros mais alto que ela, os cabelos negros brilhantes.

Enquanto se movia, a sombra de sua face revelava algo em sua testa. Como se tivesse sido atingido por algo, a ferida era profunda e funda.

-Sou Sasuke. E tenho esperado há tanto tempo alguém como você.

Vestido de preto, com sua camiseta de mangas compridas, e Jeans escuros, juntamente com suas botas de soldado de borracha, parecia a Sakura uma visão intimidadora, e forte.

Viu como se aproximava sem pressa, as botas pesadas fazendo barulho no quarto silencioso, encarava-a nos olhos se recusando a piscar, e os seus próprios vagavam pelo rosto do rapaz, traços fortes, pele pálida, sua franja negra caindo sobre seus olhos.

-Alguém como eu?

Ele concordou e se aproximou ainda mais.

-Alguém que pudesse me ver e ouvir. Já faz um tempo que estou esperando.

Sakura ao perceber a proximidade entre eles tentou dar um passo para trás, mas suas costas toparam com a porta em que há alguns minutos estava esmurrando. Estava presa entre ele e a porta.

O pequeno sorriso que antes estava na face de Sasuke, sumiu ao abaixar o olhar e ver o pulso roxo da rosada.

-Me desculpe pelo seu machucado.

O moreno tentou tocá-lo, mais a rosada retirou a mão antes que ele pudesse fazer.

-Eu não quero machucar você.

Sakura quebrou o contato visual entre eles, preferindo encarar o peito largo do rapaz do que aqueles olhos ônix.

-Eu apenas queria segurar você, para que não saísse de seus sonhos acordando.

Ele deu outro passo, somente uns centímetros de distância separavam os dois corpos.

-É desconfortante para nós. Não sabemos o poder de nossa própria força, especialmente quando estamos tentando fazer contato físico com quem não está sonolento, ou, como você, esta quase acordando. Envolve freqüências e energias, coisas muito complicadas.

Sasuke sorriu, e Sakura balançou a cabeça tentando se fazer acordar, o moreno sentiu isso porque um momento depois ele segurou seu antebraço.

Sakura foi prensada contra a porta, quando Sasuke circulou sua cintura e grudou o corpo da garota ao seu com força.

-Por favor.

O rosto do moreno era serio, enquanto tentava prender a garota a si.

-Não me deixe essa noite.

-Não!

Sakura disse, tentando se soltar, Sasuke tentou acalmá-la em seus braços, mas os gritos despertaram a garota.

-Sakura?!?

O homem a chamou, abrindo a porta do quarto.

Sakura se sentou na cama, tentando normalizar a respiração, e percebendo que seu quarto voltara ao normal, sua colcha, suas medalhas, tudo.

-Você esta bem?

O pai de Sakura checou o quarto.

Sakura fez o melhor concordando, mesmo que sentisse que tudo estava ok, ainda tinha aquela sensação quente e dolorida em seu antebraço.