A noite se colocava ao redor de seu corpo entorpecido. Pesada, poderosa e negra. Parecia que noites como aquela o mundo ficava em um estado de continua escuridão,tudo parecia tão terrível.
Terrível o tempo todo. Se só houvesse uma pequena luz, uma pequena coisa, um pouco de branco entre todo o negro pressionando suas pálpebras, talvez algum dia ela poderia ser capaz de sorrir.
Atrás da garota, algo se moveu levemente, mas mesmo assim, o movimento esteve ali. Seu corpo tencionou-se quando dois braços a prenderam em um abraço apertado ao redor de seu estomago. Em resposta seus joelhos bateram juntos enquanto os pés dele roçavam contra os dela.
Delicada, como uma pluma de ar, sua voz invadiu os ouvidos dela.
- Não tenha medo.
Sempre a mesma mensagem, as mesmas três palavras. Não tenha medo. O batimento de seu coração se acalmou de algum jeito, e ela não pode fazer mais nada alem de deixar seu calor inundar sua alma.
Afinal de contas, fazia tanto tempo desde a última vez em que o vira, tanto tempo.
- É você...? - a garota sussurrou.
- Sempre.
Veio em resposta, e ela podia sentir sua respiração fria contra sua bochecha.
-Eu senti sua falta. - a garota murmurou. - Eu chorei por você. Eu me arrependi de ter te perdido.
-Eu sempre estarei aqui agora. Não tem mais nada me segurando. - mesmo com consolos positivos, a respiração gelada do garoto era um constante lembrete. O sonho da garota não era para ser realizado.
- Doeu?
- A passagem curou minha alma, mas as memórias são mais fortes que o aço.
A voz do garoto estava em branco. Não era nada mais do que uma constante não expressão.
Suas emoções sempre pareciam se manifestar não no tom de voz do rapaz, mas sim do modo em que o próprio coração da garota sentia. E no momento ela conseguia sentir arrependimento gritando como amarga bile.
Por um segundo nenhum dos dois falou.
- Posso olhar para seu rosto?
-Não, porque você já sabe que eu não estou realmente aqui, isso não significa que eu nunca te amei, só significa que eu não posso. Não mais, nunca pude.
-M-mas. - a garota gaguejou ao redor da pequena palavra, incapaz de completar o que queria –precisava - dizer.
-...Eu não consigo me lembrar a cor dos seus olhos.
- Negros, - ele disse suavemente. - e os seus são verdes.
- Obrigado, - ela pausou. - você não vai estar aqui, não vai, pela manhã?
Suspirando, ele respondeu.
- Eu não estou aqui agora.
- Aonde você esta agora? - a sonolência era evidente em sua voz.
- Dançando no céu com as estrelas, e nadando no mar com os golfinhos, e sempre, absolutamente sempre, pensando em você.
Ele a abraçou forte.
- Sempre.
Tocando suas mãos, não existentes mãos, ela sorriu.
- Sempre.