De um dia para o outro, muitas coisas podiam acontecer. Um dia você estava aqui, no outro partia; Um dia você é meu irmão, no outro meu maior inimigo; Um dia você está vivo, no outro, morto;  Um dia eu te amo, no outro, eu te odeio.

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       Itachi, você ainda se lembra de nós? De nossa familia? Eu nunca poderei me esquecer. Éramos eu, você, nosso pai e nossa mãe e todos os outros que se chamavam Uchihas. Éramos considerados a família mais nobre de shinobis, o melhor clã, mas além disso, nós nos amávamos. A história de nosso clã foi marcada com sangue, mas erguemos nossas partes de amor.

       Dentre toda a nossa família, você se destacava. Te viam como um filho prestativo, um irmão protetor, e futuro melhor Uchiha de todos. Todos te viam com a esperança de no futuro, olharem para um herói, um líder, e até, um possível Hokage. Foi então, que você deixou de ser só meu irmão, para ser meu herói, minha inspirarão.

       Você era tudo e muito mais do que eu poderia querer em um irmão. Sempre tinha tempo para mim e sempre conversava comigo quando eu precisava. Eu te amava. Eu me espelhava em você, admirava você, sonhava com o dia em que seria como você. Porque para mim, você era mais do que o orgulho de nossa família e nação, você era meu amigo, meu pai, meu herói e mais do que tudo, você era o meu irmão. Mas então, você tinha que estragar tudo.

     Naquela época, quem imaginaria, quem diria que um dia você faria o que fez?

       Que tipo de pessoa tem a coragem de matar seu pai e sua mãe? Seu melhor amigo e toda a sua família? Só alguém sem coração e cheio de ódio. E logo você, em que todos tinham fé, foi o causador do maior massacre da história. E foi naquele dia, em que você mostrou na minha frente matar todas as pessoas que eu amava, que um novo sentimento tomou conta de mim. Passei a te odiar com todas as minhas forças durante anos.

       Foi então, que a pessoa que eu mais amava, se transformou na pessoa em que eu tinha que matar.

       Você me ensinou a ter raiva e ódio como parte natural de mim. Mas também me deixou um trauma - não apenas o trauma de ter visto todos que eu amava serem mortos na minha frente - mas o trauma de amar. Você não me deixava amar novamente, com receio que iria tirar tudo de mim outra vez. Então eu não podia parar, não podia desistir de acabar com você.

     Passei anos treinando para te superar e para te encontrar. Até que finalmente esse dia chegou.

       Sabe, uma vez lutei com meu melhor amigo, alguém que eu considerava ser meu irmão. Foi a coisa mais difícil que tive que fazer em minha vida. E eu me senti da mesma forma, quando estávamos frente a frente, prontos para nos matar. Mas meu coração seguia um rumo diferente do que meu corpo naquela hora. Senti que não podia fazer aquilo, e me senti um fraco. Eu estava pronto para matar o meu inimigo, mas não estava pronto para matar meu irmão. E foi então, que meu corpo venceu a luta contra meu coração, e eu te matei.

       E quando tudo parecia ter acabado, você ainda faz questão de acabar comigo. Foi depois que te matei, que descobri toda a verdade.

       Parece que existe uma regra no mundo que separa os homens. Alguns homens se matam por raças diferentes, por religiões diferentes, classes sociais, nacionalidade, sexo, tudo tem que ter uma maldita divisão. E você se encontrou um dia, entre uma dessas divisões, a divisão de força entre nosso clã e nossa aldeia. Foi um peso em suas costas que mudou a sua e a minha vida para sempre. Você teve que escolher entre matar a sua família, ou assistir uma guerra em que milhares morreriam. Era seguir seu coração ou o seu dever. Então o dever foi o seu caminho.

       Amor e afeto. Foram esses sentimentos que voltaram para mim em relação à você. Mas a raiva ainda prevalecia.

       Itachi, tudo o que você deixou para mim, foram vagas lembranças daqueles que eu amava. Lembranças que me dói ter em minha mente, não que eu não pensasse neles, eu pensava bastante. Mas era que toda vez que lembrava do sorriso de minha mãe, se passava a imagem dela ensagüentada no chão; Quando me lembrava de meu pai, via sua imagem desolada, caído sobre minha mãe, como que numa última e infrutífera tentativa de protege-la. E quando me lembrava de todas aquelas pessoas que faziam parte da minha família, vinha suas imagens falecidas e caídas nas ruas.

       E quando me lembrava de você... quando me lembrava de como me protegia, como cuidava de mim, quando me lembrava de como me espelhava você e o achava o melhor irmão mais velho do mundo, logo me invadia a mente de que você era o causador de toda essa dor.

       Não sabia mais o que sentia por você. Tanto sentimento de ódio e amor... E eu queria te amar, por achar ser o certo.

       Mas, assim como um espelho quebrado, que depois de consertado ainda se vê as rachaduras; Assim como uma feria que depois de curada ainda se tem cicatrizes, eu, mesmo depois de ter superado a minha perda, anda sinto no fundo de minha alma a grande tristeza.

       Metade de mim não te culpa, afinal, você estava só sendo o que era, um ninja, e um ninja não segue seus sentimentos, e sim a sua missão. Uma escolha nobre matar poucos, para que muitos pudessem viver. Mas o pouco que você matou, era tudo o que eu tinha. E por isso, a minha outra metade, o culpa por tudo.

       Um dia me disseram: "Ele manchou seu próprio nome , trocou o seu amor pelo seu odio, a glória pela desgraça, tudo para proteger seu irmãozinho." Por quê você não me explicou isso? Por quê não falou nada? Faz idéia do que poderia ter acontecido? Você poderia estar aqui, comigo. Por isso tem vezes em que não posso deixar de sentir raiva de você.

       Mas reconhecendo o que você teve que sacrificar, hoje, fiz não só nossa nação, ma todo o mundo reconhecer a morte dos Uchihas, como um sacrifício que manteve Konoha viva. Fiz eles reconhecerem o que você tinha passado, e nunca mais você foi lembrado como um assassino. Então quiseram passar a te chamar de herói, e eu disse não, pois um herói não troca a vida de uns pela vida de outros, e sim salva todos sem se importar com as regras. E hoje, você é conhecido como guardião, por te guardado a vida de sua nação e a minha.

       Os anos se passaram, e apesar de ter presenciado a pior desgraça que qualquer um conheceu, lutando contra o ódio, pude novamente reencontrar o amor e a felicidade. Sempre vivendo um dia de cada vez, aprendendo a superar a grande tristeza que me perseguia. Hoje consegui recuperar os velhos sorrisos que eu tinha antes de você ter acabado com eles, ao lado de meu amigo e irmão Naruto, de minha Sakura, e de todos os meus amigos. Mas algumas cicatrizes, nunca se vão.

       Um dia já ouvi dizerem: “Quando o amor enche o coração, não deixa nele lugar para mais nada. Nem para o ódio[...]”. Em que se basearam nisso? Em meu coração, ainda o amo muito, mas sempre tenho um espaço nele para te odiar ardentemente.

       E outra vez também ouvi dizerem: “O ódio nunca desaparece, enquanto pensamentos de mágoas forem alimentados na mente”. E ainda continuo me perguntando: será que quem disse isso conheceu todas as pessoas que odeiam no mundo? Porque tenho ódio e mágoa em meu coração por você demais para uma pessoa só, mas ainda o amo como irmão mais do que posso dizer.

       Pessoas que se colocam no meu lugar, se perguntam como consigo viver com um trauma tão grande, e como ainda conciso dizer que te amo, sendo que ainda o odeio. Muitas vezes, é uma coisa que não conciso explicar. A verdade é que você - literalmente - é tudo para mim. Meu amor e meu ódio. Você é meu inimigo, e por isso vou sempre te odiar. Mas você é também meu irmão, e por isso vou sempre te amar.

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     No cemitério vazio Sasuke continuava olhar para a lápide de seu falecido irmão. Debaixo da chuva, e do frio, o Uchiha fitava a foto de quem amava e odiava.

     -Itachi. – Falou mantendo uma expressão indecifravel  - Um dia, Naruto perguntou para mim, o que eu diria se soubesse que podia me escutar. Eu disse que diria tudo o que sei sobre nós. Que eu sinto sua falta tanto que não suporto, mas do mesmo jeito me sinto bem por não estar aqui; Que eu te perdôo, mas sempre o amaldiçoarei; Que... Deus, eu sempre vou te amar, mas nunca vou deixar de te odiar.