Clan Of Vampires - The Letter escrita por weednst


Capítulo 68
67 Annie, você será amada.




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— Você está com medo? – sua voz murmúrou atrás de mim. Na quadra. 

Desta vez fui eu quem o ignorou. Eu estava brava. Muito furiosa. Aquilo era a soma das partes. Minha parte, a parte que pertencia a Anthony e a parte de Lucas. Eu amava o Tony, então por que era o Lucas que se declarava daquela forma tão profunda e acolhedora, e sempre fazia coisas legais para me agradar, por que tinha que ser o Lucas? Eu não queria que fosse ele, não ele. Eu queria que Anthony fizesse todas aquelas coisas bizarras e engraçadas, totalmente apaixonantes e cretinas. Eu não queria ele. Éramos todos nós, eclodindo em uma única mente, a minha concentração foi abalada.

Nós dois solitários no meio da quadra de esporte. Eu arremessei minha mochila em direção as arquibancadas e me estiquei para pegar as bolas de basquete. Bola-ao-cesto. Arremessei a primeira bola com tanta força que meu braço doeu, escutei meus ossos estalarem. Lucas parou intruso, olhando para a bola que certamente eu não acertei no cesto, enquanto eu tentava dispersar toda a raiva do meu corpo juvenil, todo o desespero, toda a consternação que estive guardando apenas para mim, em várias tardes intrigantes, nas várias noites que não dormi, e nos dias em que dormi demais, no meu quarto vazio, como ele mesmo dissera, minha cicatriz, meus próprios estigmas, eu estava farta, eu estava sobrecarregada, atropelada. Eu apertei os lábios em uma linha reta, e afundei meus dentes neles de modo distraído, sangrei. Arremessando minha segunda bola, a intensidade aumentando. Minha mente girando em câmera lenta. Meu coração contrapondo minhas costelas. Aquela era minha versão culpando a mim mesma, aquela era minha versão errada, aquela era minha versão decomposta. Depois da quinta bola, eu caí na quadra, totalmente exausta, eu sentei no chão sujo e abracei meus joelhos com tanta força, prendendo meu choro, prendendo minha vontade de gritar e mandar aquilo tudo para o quinto dos infernos.

Lucas colocou sua camisa e se aproximou de mim. Sentou-se ao meu lado.

— Em um mundo tão gelado, é difícil manter a fé, Annie. Eu entendo você.  — Eu estava irritada, mas para minha decepção, eu podia ver o lado dele que queria me poupar. Ele queria me proteger de mim mesma? É o que os melhores amigos fazem, pensava eu, mas ele não é mais meu melhor amigo, ele nunca mais poderia ser, ele repudiou seu posto. Eu tinha perdido meu melhor amigo. Eu era mesmo uma garota ferrada.

— O que você faz? Quando tudo caí em cima de você, Lucas?

— Acho que realmente nunca tive tempo o suficiente para calcular todos os meus desastres, as tragédias da minha vida. Descubro que sempre tive um ingresso para o inferno, mas nunca me dei conta do quanto isso me custou. Você está desesperada e amedrontada, eu também já estive no seu lugar, Annie.

— Eu não amo você, Lucas. — Poderia ser um soco no estômago. Mas ele me olhou totalmente sóbrio.

— Você está presa em um romance-doente.

Aquele foi o golpe que fez meu copo transbordar. Senti meus lábios dormentes. Lágrimas escorriam pelo meu queixo, mas eu não conseguia mover a mão para enxugá-las. Apenas vi as lágrimas molhando minha calça cinza. Ergui um pouco a cabeça para poder enxerga-lo, para ter certeza que ele estava me achando a maior pirada da face da terra. Mas sua face exibia placidez. Certamente eu não era a primeira pessoa que praticamente surtava na sua frente. Seus olhos azuis me aconchegaram. Seus lábios sem cor desenharam um riso, eu levantei o canto da minha boca em retribuição. Ele me tocou e secou delicadamente algumas lágrimas. Eu comecei a chorar ainda mais, emocionada pelo gesto. Eu estava me sentindo patética.

— Eu sou a maior doida que você já conheceu né? – Ele balançou negativamente a cabeça.

— Não tenho certeza disso. Eu vejo gente maluca o tempo todo — Nós dois brincamos.

Houve um silêncio depois disso. Meu desejo de chorar tinha passado. Eu o observei outra vez, já que seus olhos já doíam em mim. Eu tentei, mas não conseguiu esconder o ar de perplexidade e incerteza em minha expressão.

— Por que você tem que ser tão desagradável? – Eu disse.

Eu me virei. Mas ele era insistente demais. Estava claro que ele não tinha deixado seu posto de melhor amigo, para ficar naquela irresolução de nada ter. Ele queria seu galardão comigo. E estava cada vez mais difícil ignorar aquele andamento. Eu não o amava, mas ele gostava de mim e não havia nada melhor para mim ali. Anthony jamais seria aquele cara do meu passado, nosso para sempre tinha acabado, e eu não podia mais segurar as pontas, podia? Lembranças eram tudo que eu realmente tinha sobre nós. Viver era bem melhor que pensar, eu sabia disso. Eu não amaria Lucas, eu não amaria o João, ou o Bentinho. Nenhum garoto ocuparia o posto do meu coração, eu sabia disso. Eu sempre amaria Anthony, mas meu amor tinha morrido. Decidi ceder. Tristemente eu cederia a Lucas, tristemente eu me desistiria a qualquer um. Estava exausta de acreditar que as coisas melhorariam. Quis morrer ao pensar na minha decisão. Eu considerei minhas opções. Eu poderia seguir o conselho do cara que parecia estar disposto a me querer com todas aquelas cicatrizes, ou poderia ficar fingindo que eu nunca tinha estado aqui e que Anthony me amaria com a mesma posse que eu. Eram péssimas escolhas, péssimos caminhos, mas eram minhas únicas opções. Era tudo que eu tinha.

O silencio perturbador continuou. Lucas se inclinou se aproximando cada vez mais, e me beijou na bochecha. Eu fechei meus olhos, mas não me mexi. Minha postura se enrijeceu como se aquilo fosse à coisa mais aversiva que já tivesse acontecido comigo. A sensação de aperto se alastrou de um jeito iminente através do meu estomago, e não parou até atingir meus dedos dos pés. Ele prosseguiu. Seus lábios cada vez mais próximos, sua mão no meu pescoço, tão suave e tão gélida que quase não a senti. Obriguei meu encéfalo a evocar memorias de Anthony me fazendo sofrer. Mas tudo era preto. Escuridão.

Escutei seu risinho e abri meus olhos. Ele parecia desapontado.

— Você também precisa me ajudar. Aposto que você não se comporta como uma estátua frigida quando o cão farejador quer te beijar. Agora vá embora.

Um arrepio percorreu a minha pele. Gostei dele não ter ido adiante. Eu engoli a seco.

— Lucas, eu quero ser feliz outra vez – Confessei quase sussurrando. Como se fosse um pecado dizer isso a ele. Ele armou o olhar, mas não fez contato. Eu continuei.

— Você não me quer realmente... Eu não tenho sabe... Artifícios corporais como Anabella. Sou depressiva, mal-humorada e tenho mau-hálito.  – Ele riu e me olhou – Às vezes a bala de menta não resolve, é sério!

— Você está perdendo o foco.

— Está bem, você só me quer por diversão, por que estava entediado? — Eu tentei.

— Annie, nem você mesma acredita no que você está dizendo. Eu te quero por você ser incrível, maravilhosamente incrível o bastante para que eu arrisque meu pescoço. Estou correndo risco de vida ao ficar com você, ao falar que quero estar com você. Se estou indo longe demais? Estou. Contudo não posso ignorar a faísca que você provoca em mim, a culpa é toda sua. Há uma chance. Eu te darei todas as armas para você lutar contra qualquer coisa, inclusive contra si mesma. Eu sou seu maluco perseguidor, lembra? Então, fique comigo. — Aquele pedido me fez derreter parcialmente.

Ele ergueu-se e estendeu a mão para mim, o olhei totalmente assustada, mas peguei vacilante a sua mão. Minha mão tremia. Ficamos em pé, cara-a-cara. Ele deu um passo lento para frente, tentando se juntar sem me assombrar, como se eu fosse apenas um bichinho inofensivo na floresta prestes a fugir. Uma vitima. Ele se apôs, em outra tentativa de me beijar. Seus lábios tão pausados, tão imediatos chegando a mim. Não sei mais o que fazer. Quero o deixar entrar? Eu não sei. Suas mãos pousaram na minha face, uma parada para um gesto gentil. Eu tentava me concentrar no que eu sentia com aquele turbilhão azul a minha volta. A sensação era de pertencer a outro alguém, mas de certa forma querer ficar ali e ser amada.

 — Não me importo de ficar o dia todo esperando por um beijo seu, Annie. — Sua voz nunca me pareceu tão terna.

— Eu não estou pronta. — Fui franca.

— Eu percebi. Mas eu estou sempre a sua disposição, venha quando quiser. — Ele jogava sujo, como poderia ter se tornado de bizarro a hipnotizante.

De repente uma questão boboca me atingiu.

— Você e Anabel, estão mesmo “juntos”, vocês são tipo namorados?                                            

  —  Não se preocupe ...por algum motivo eu te quero mais — Seu riso cínico tinha voltado a tona.

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Notas finais do capítulo

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