Perfeito para Você escrita por Thatah


Capítulo 6
Capítulo 6 - TEIMOSIA


Notas iniciais do capítulo

Olha, chorei lendo. Odiei a Bella a Stephane Meyer...
E este capítulo na minha opinião é a prova inexcusável de que Bella não merece nem as migalhas do amor de Jacob.

Chorei novamente postando e reformulando este capítulo.
Boa leitura.



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“Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com freqüência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar.”

William Shakespeare

- Isso tudo, é realmente necessário? – Perguntei pela décima vez a Alice.


Estava eu, sentada, diante de uma enorme bancada entulhada de produtos de beleza. Enquanto Alice puxava, em um movimento lento e ritmado, uma mecha do meu cabelo – a que eu desejava ser a última – li num torpor os rótulos de alguns produtos e espantei-me com o desperdício.


Meus pensamentos corriam soltos, tumultuando minha verdadeira compreensão dos fatos. Tentei me ligar no que Alice fazia, mas era impossível quando o único assunto que eu queria estar interada era Jacob.


Apesar do momento impulsivo ontem a noite, e dos meus sentimentos ainda estarem confusos, a preocupação com o seu estado de saúde não me escapava um só instante.


Precisava vê-lo novamente. O que eu iria dizer a ele, era secreto até mesmo para mim, mas ainda sim tinha consciência de que precisaríamos conversar. Era o mínimo que poderia fazer a Jacob.


Mas não seria assim tão fácil! Alice estava irredutivelmente insistente em manter a história ridícula de festinha do pijama. O que diante de todos os acontecimentos, parecia tão insignificante…


- Jacob ainda está inconsciente – Alice falou como se pudesse ler meus pensamentos.


Fiz-me de desentendida, Alice revirou os olhos mostrando que eu não a convenci.


- Carlisle e Edward ligarão quando ele acordar. De qualquer modo, você precisa ver
Charlie. Ele estava lá na casa de Billy, ele viu que Carlisle e Edward voltaram de viagem e ele vai ficar desconfiado se você não for para casa.


Por mais que isso me irritasse, teria que concordar. Charlie me encheria de perguntas, e eu, como boa mentirosa que sou, acabaria não sabendo me sair dessa.

- Quero estar lá quando Jacob acordar. – Falei em um sussurro, não controlei, minha ansiedade em vê-lo mais uma vez, não conseguiu ser contida pela “razão”.


- Você precisa pensar em Charlie. – Alice disse com a voz levemente áspera, o que muito me surpreendeu – Teve um longo dia… Desculpa, sei que isso não ajuda nada… Mas não significa que você possa fugir de suas responsabilidades. – sua voz era séria, quase de repreensão. – Agora é mais importante que nunca que Charlie fique no escuro.


Alice tinha razão. Ou pelo menos, eu precisava crer que sim.


- Vá para casa, fale com Charlie e alimente seu álibi. – Ordenou Alice – depois disso, faça o que quiser.


Eu me levantei, aproveitando a deixa, o sangue fluiu para meus pés, formigando como a pulsão de mil agulhas.


- Você está linda – Alice saltitava.


O sorriso de satisfação, em seus lábios de fada, me indicou o quanto eu possivelmente iria odiar o resultado desta transformação.


- Ah. Er… Obrigada novamente pelas roupas Alice – Respondi olhando algumas sacolas ajeitadas em cima da cama – a minha espera.


Iriam todas ficar no armário! – Pensei!


- Você precisa das provas. Afinal de contas, o que é uma viagem de compras sem roupas novas? – Ela se direcionou até as sacolas.


Não consegui me concentrar no resto de sua frase. Era impossível evitar que meus pensamentos se desviassem a cada segundo, como insetos correndo da luz…


- Jacob está bem, Bella – disse Alice, interrompendo com facilidade minha preocupação, e no maior estilo “Se te serve de consolo” completou. – Não há pressa. Se você soubesse o quanto de morfina Carlisle teve de dar a ele… com a temperatura dele queimando a droga rapidamente… Saberia que ele vai ficar apagado por um tempo.


Forcei um sorriso aparecer em meus lábios, respirei fundo e peguei as sacolas de sua mão – a alguns segundos estendidas em minha direção.

Antes que eu pudesse finalmente sair do meu local de tortura, Alice me deteve, mais uma vez.

- Há alguma coisa que queira conversar antes de ir embora?

A curiosidade de Alice, resplandecia em cada piscar.

Se eu tinha perguntas? Várias! Mais receio que Alice não pudesse responder as mais importantes. Mordi o lábio inferior, detendo os assuntos mais inquietantes, e tentei exprimir minha curiosidade secundária.

- Eu vou ficar daquele jeito? – perguntei a ela, a voz abafada. – Como a garota, a Bree, na campina?

A imagem de Bree preencheu minha mente. Seu rosto retorcido de desejo por meu sangue, demorava-se por trás de minhas pálpebras.

Alice aproximou-se de mim, afagou meu braço.

- Todo mundo é diferente. Mas será alguma coisa parecida, sim.

Permaneci imóvel, presa em meus pensamentos, tentando imaginar.

- Mas não é nada permanente. Logo passa… - prometeu ela.

- Em quanto tempo?

- Alguns anos, talvez menos. Pode ser diferente para você. Nunca vi ninguém passar por isso tendo escolhido de antemão.

Ela deu de ombros, como se isso não fosse lá tão importante.

E realmente não era, pelo menos não agora. Havia assuntos pendentes a serem resolvidos, o mais breve possível.

- Mais alguma coisa?

Alice me olhou questionativa, ela parecia perceber que este não era o assunto principal.

- Posso lhe fazer uma pergunta? – Titubeei, as palavras enroscadas respirei fundo tentando ter certeza de que realmente deveria consultar Alice sobre isto.

Ela de repente ficou cautelosa.

- Você sabe que eu não vejo tudo.

- Poderia tentar… - Insisti.

Ela observou meu rosto.
- Ele vai ficar bem, Bella. Não preciso de uma visão para saber disso.

Não era bem a isso que me referia, Alice levou um tempo, mas logo entendeu. Ela examinou meu rosto com os olhos insondáveis.

- Ainda pode me ver me tornando vampira? – Perguntei aflita com a sua demora.

- Ah. Claro, eu posso.

Eu assenti devagar, completamente absorta, sua voz não me convencera.

- Não sabe o que está em sua mente Bella? – Alice, ficou ainda mais próxima a mim.

- Sei, só queria ter certeza.

- Eu tenho tanta certeza quanto você. Sabe disso…

Eu suspirei.

- Eu sinto muito. – Ela me abraçou. – Não posso realmente ter empatia. Minha primeira lembrança é de ver a cara de Jasper em meu futuro; eu sempre soube que ele estava no futuro de minha vida. Mas eu posso me solidarizar. Lamento muito que você tenha que escolher entre duas coisas boas. – Sua voz terminou em um sussurro.

Afastei-me de seus braços.

- Preciso ir!

Fui para casa dirigindo, a estrada parecia ganhar vida na medida em que me aproximava de casa, onde Charlie esperava tão desconfiado como Alice previra.

- Bella! – Charlie mal esperou que eu entrasse por completo em casa.

Segui sua voz, e o encontrei sentado na cozinha com os braços cruzados.

- Oi! – sorri ao ver sua expressão “ameaçadora”.

- Como foi a viagem? – Ele perguntou avaliando meu rosto.

- Longa – disse apaticamente – Acabamos de voltar.

Charlie percebeu meu humor.
- Acho que já soube do Jake, não é?

Um nó se formou em minha garganta, lágrimas inundaram meus olhos, mas as repreendi.

- Sim. Os outros Cullens nos encontraram em casa. Esme nos contou onde Carlisle e Edward estavam.

- Você está bem?

- Estou. Apenas preocupada… - Sequei uma lágrima que escorreu pelo meu rosto. – Assim que eu fizer o jantar, vou a La Push.

Ele concordou.

Subi para o meu quarto e deixei em um canto qualquer as sacolas cheias de roupas que Alice me dera, tirou o vestido cuidando para não rasgá-lo, coloquei meus velhos e confortáveis moletons. Prendi o cabelo, me livrando em questão de segundos de horas de trabalhos árduo da parte de Alice.

Enquanto eu preparava o jantar, Charlie resmungava algo a respeito de motos – o motivo que deram pelos machucados de Jake: um acidente de moto! Eu apenas assentia.

- Não acho que precise se preocupar demais com Jake. Qualquer um que possa praguejar com tanta energia vai se recuperar logo.

Sorri da forma como Charlie falou, mas era um sorriso reflexo, movido pelas lembranças das irritações de Jake.

- O Jake estava consciente quando você o viu? – perguntei, girando o corpo para olhar para ele.

- Ah, sim, estava acordado. Devia tê-lo ouvido… Na verdade, seria melhor não ouvir. Não acho que houvesse alguém em La Push que pudesse ouvi-lo. Não sei onde ele aprendeu aquele vocabulário, mas espero que não esteja usando esse tipo de linguagem com você.

- Ele hoje tem uma boa desculpa. – Fui em sua defesa. – Como ele parecia?

- Um trapo, no real sentido da palavra. Carlisle disse que a perna direita dele está quebrada, e o braço direito. Grande parte do lado direito do corpo foi esmagado quando ele caiu da maldita moto. – Charlie sacudiu a cabeça. – Se eu souber que está andando de moto de novo, Bella…

- Fique tranqüilo, pai. Não irei andar!

- Você acha mesmo que Jake ficará bem?

- Claro, Bella,não se preocupe. – Estava começando a ter raiva dessa expressão, pois quanto mais eu a ouvia, mais preocupada ficava! – Ele estava consciente o bastante para caçoar de mim.

- Caçoar de você? – ecoei, em choque.

- É… Entre insultos à mãe de alguém e falar o nome do Senhor em vão, ele disse: “Aposto que hoje está feliz por ela amar o Cullen e não a mim, hein, Charlie?”

Eu encarei a geladeira para que ele não visse a expressão em meu rosto.

- Não tive como discutir. Edward é mais maduro do que Jacob quando se trata de sua segurança, tenho que admitir isso.

-Jacob é muito maduro – murmurei, na defensiva. – Tenho certeza de que não foi por culpa dele.

Flashes dos últimos golpes de Victoria em Jacob voltaram a minha mente.

- Dia estranho, o de hoje – Charlie falou, interrompendo minhas lembranças – sabe de uma coisa, não dou muita atenção a superstições, mas foi estranho… Era como se Billy soubesse que alguma coisa ruim ia acontecer a Jake.

Charlie prosseguiu com o relato de seu dia, e da forma apreensiva com que Billy se comportou o dia todo, chegou a ligar os pontos levemente, mas Charlie não obtinha as informações necessárias para chegar a real conclusão do que realmente havia acontecido.

Talvez assim fosse melhor, Charlie acabaria tendo um ataque fulminante ou algo do tipo, eu preferia nem cogitar essa possibilidade, só de pensar em perdê-lo já me entristecia o coração.

- Bom, pelo menos este episódio lamentável serviu para alguma coisa – Charlie se esticou um pouco na cadeira – fez com que Billy acabasse com aquele preconceito bobo contra os Cullen.

Charlie levantou para lavar as mãos e quando voltou, olhou em meus olhos.

- E Edward foi verdadeiramente… gentil. Parecia tão preocupado com Jacob quanto você… Como e fosse o irmão dele morrendo ali. O olhar dele… - Charlie sacudiu a cabeça. – Ele é um sujeito decente, Bella. Vou tentar me lembrar disso. Mas não prometo nada. – Ele sorriu para mim, sentando-se novamente na cadeira.

- Não vou cobrar isso de você – murmurei.

A conversa com Charlie foi como a que tive com Alice, mal consegui balançar a cabeça, limitando-me vez por outra a assentir. Meus pensamentos estavam insistentes em La Push.

Jacob parecia tão… estranhamente frágil quando corri para vê-lo. Seus gritos de dor, o barulho de seus ossos sendo quebrados – só de lembrar já sentia minha perna amolecer, como quando eu presencie todo seu sofrimento – Seu rosto abatido estava pálido e abatido, embora no momento estivesse inconsciente. Frágil. Tinha talas em toda parte – Carlisle me explicou que não tinha sentido usar gesso, uma vez que ele se curava rápido.

“Ele se cura rápido” ... “Tudo vai ficar bem…”

Apesar de usarem essas palavras com muita freqüência, ninguém me convenceu de que realmente terminará assim. Talvez porque elas possuem um duplo sentido…Sejam apenas obras da minha imaginação, combinada com o conhecimento de que ia ter de terminar com ele.

Novamente a palavra terminar, porque mesmo sendo tão patética, esta era a única palavra que eu conseguia utilizar para o que eu pretendia fazer com Jake?

Se ao menos eu pudesse ser atingida por um raio e dividida em duas. De preferência, com muita dor. Desistir definitivamente de ser humana… Mas estes pensamentos, ainda que viáveis – na minha condição – não me pareceram aceitáveis. Não. Até isso seria fácil demais, sem contar na covardia. Não pareceria um verdadeiro sacrifício.

Coloquei o jantar na mesa diante de Charlie, e me direcionei até a porta. Todas estas questões borbulhando em minha mente…

- Pode esperar um segundo? – Charlie segurou minha mão.

- Esqueci alguma coisa? – meus olhos avaliaram seu prato.

- Não, não. É que eu só… Queria lhe pedir um favor? – Charlie franziu o cenho e baixou a cabeça. – Sente-se… Não vai demorar.

A estranheza com que observei a atitude de Charlie, me deixou confusa, mas decidi fazer o que ele queria, me sentei de frente para ele.

- Talvez eu esteja me sentindo… supersticioso, depois de ter ficado na companhia de Billy, ele esteve muito estranho o dia todo. – Charlie sorriu sem graça, e coçou a cabeça, demonstrando o seu desconforto ao falar. – Acho que fui contagiado… - Sua tentativa de humor não me atingiu, a conversa estava tomando um rumo inesperado… - Mas tenho um… pressentimento. Parece que… vou perder você logo.

Um frio percorreu minha espinha, “vespas” circularam confusas em meu estomago.

- Não seja bobo, pai- murmurei, cheia de culpa. – Quer que eu vá para faculdade, não quer?

Acho que estava começando a ficar boa na mentira!

- Só me prometa que vai me contar antes de fazer alguma coisa importante? Antes de fugir com ele ou coisa assim?

Estava pronta para negar, mas desisti.

- Pai… - eu gemi, o olhar de Charlie era suplicante.

- Me prometa, Bella. Só te peço que me avise com antecedência. Me dê a oportunidade de lhe dar um abraço de despedida.

Como se pudesse sentir minha expressão, me encolhi mentalmente. Fiquei sem palavras, Charlie também. Olhamos-nos por um tempo, e então – louca para sair correndo na primeira oportunidade – resolvi lhe assegurar de algo, que eu mesma não possuía garantia.

- Se isso te deixa feliz – ensaiei um sorriso – Eu prometo.

- Obrigado, Bella – seu sorriso saiu um pouco mais tranqüilo – Eu te amo.

- Eu também te amo, pai. – Dei-lhe um beijo no rosto e então me afastei.

Sem olhar para trás, movimentei-me rapidamente até minha picape. Precisava sair o mais rápido possível dali.

Aquilo era simplesmente perfeito, exatamente o que eu precisava naquele momento. Resmunguei comigo mesma a viagem a La Push.
Não me permiti pensar em nada, apenas resmungava palavras inexpressivas, fiquei a viagem toda na lamentação, a mente absorta, precisaria estar anestesiada para fazer o que pretendia, ou então não sairia viva da casa de Jake.

Estacionei na frente da casa, apenas uma luz – a da varanda – estava acesa. Desci ainda hesitante, mas então resolvi encarar a realidade, precisava fazer isso, ou nada mais daria certo.

Sentir vontade de segurar a mão de Edward, precisava de seu apoio, mas sabia que isso não seria possível. Respirei fundo, e segui em frente.

Bati de leve na porta da frente.

- Entre, Bella – disse Billy. Era fácil reconhecer o ronco de minha picape.

Eu entrei.

- Oi, Billy. Ele está acordado?

- Acordou há meia hora, pouco antes de o médico sair. Entre lá. Acho que está esperando por você.

Eu me encolhi, depois respirei fundo.

Hesitei à porta do quarto de Jacob, sem ter certeza se devia bater. Decidi espiar primeiro, na esperança – por ser covarde – de que talvez ele tivesse voltado a dormir. Achei que poderia ganhar alguns minutos.

Abri o mínimo possível a porta, e espiei. Mas não passei despercebida. Jacob esperava por mim, o rosto calmo e sereno. O olhar angustiado e frágil se fora, mas um vazio cauteloso tomou seu lugar. Não havia ânimo em seus olhos escuros.

Respirei fundo, e me curvei para dentro, hesitante.

Era difícil olhar seu rosto, sabendo que o amava. Fazia mais diferença do que eu teria pensado. Perguntei-me se sempre foi tão difícil para ele, aquele tempo todo.

Entrei e fechei a porta.

- Oi, Jake – murmurei.

De início, ele não respondeu. Limitou-se a me olhar por um tempo. Depois, com algum esforço, recompôs a expressão num sorriso um tanto zombeteiro.

- É, eu pensei que seria mais ou menos assim. – Ele suspirou. – Ontem sem dúvida houve uma guinada para pior. Primeiro Leah teve de bancar a idiota tentando provar que era tão durona quanto o resto de nós e eu tive de ser o idiota que a salvou. Depois, descubro que a Victoria encontrou o acampamento e a vejo quase conseguindo seu objetivo. Consegui minha vingança, mas não fiquei inteiro fisicamente para receber o mínimo de glória.

- Como está se sentindo? – murmurei.

- Meio chapado. O Dr. Caninos não tem certeza de quanta medicação para dor eu preciso, então está apelando para tentativa e erro. Acho que ele exagerou.

- Mas você não está sentindo dor.

- Não. Pelo menos, não consigo sentir os ferimentos – disse ele, de novo um sorriso de zombaria.

Mordi o lábio. Não conseguia superar a dor de ser a culpada. Sim, porque se Jacob estava ali naquela cama agora, era por minha causa.

O humor distorcido abandonou seu rosto e seus olhos se aqueceram. A testa se vincou, como se ele estivesse preocupado.

- E você? Está tudo bem?

- Eu? – eu o encarei. Talvez ele tivesse tomado drogas demais. – Por quê?
- Fiquei meio louco de preocupação com você desde que acordei. Mesmo sabendo que ele não a machucaria isso não me impediu de pensar na forma como ele reagiu. Quer dizer… Como foi? Ele foi mau com você? Desculpe-me se foi ruim. Não queria que você tivesse que passar por isso sozinha. Pensava que estaria lá…

Precisei de um minuto para entender. Ele tagarelava, ficando cada vez mais sem jeito, até que compreendi o que dizia.

- Não, não Jake! Eu estou bem. É claro que ele não foi mau…

Seus olhos se arregalaram no que parecia pavor.
- Como é?

- Ele nem ficou chateado comigo… nem ficou chateado com você! Ele é tão altruísta que fez com que eu me sentisse ainda pior. Eu queria que ele gritasse comigo ou coisa assim. Mas ele não se importou. Só queria que eu fosse feliz.

- Ele não ficou chateado? – perguntou Jacob, incrédulo.

- Não. Ele foi… gentil demais.

Seus olhos me fitaram por mais um minuto, depois de repente ele franziu a testa.

- Mas que droga! – grunhiu ele.

- O que foi, Jake? Está doendo? – Vasculhei com os olhos seu quarto, em busca de seu remédio.

- Não – grunhiu ele num tom enjoado. – Nem acredito nisso! Ele não deu um ultimato nem nada?

- Nem chegou perto… Qual é o seu problema?

Ele fechou a cara e sacudiu a cabeça.

- De certo modo eu contava com a reação dele. Porcaria. Ele é melhor do que pensava.

Lembrei-me das palavras de Edward, sobre a esperança que Jake ainda tinha. Eu tremi enquanto isso cravava fundo. Ainda não tinha a resposta… não podia simplesmente escolher um lado…

- Ele não está fazendo nenhum jogo, Jake.

- Pode apostar que está. Está jogando tão duro quanto eu, só que ele sabe o que está fazendo e eu não. Não me culpe por ele ser melhor manipulador do que eu… Não vivi tempo suficiente para aprender todos os truques dele.

- Ele não está me manipulando!


Essa conversa estava indo longe demais, e eu não estava gostando nenhum pouco da forma como Jake estava agindo.

- Quando é que vai acordar e perceber que ele não é tão perfeito quanto você pensa?

- Pelo menos ele não ameaçou se matar para me fazer beijá-lo – rebati.

Assim que as palavras saíram, eu corei de arrependimento, mas já era tarde.

Ele respirou fundo. Quando falou, estava mais calmo.

- Cada um usa as armas que tem. Naquele momento, aquela foi a forma que eu encontrei para alcançar meu objetivo.


- Ok. Não vim aqui culpá-lo por nada… Não me importo. Não estou chateada com você.

Ele sorriu

- Eu também não me importo. Aliás, eu faria tudo de novo se fosse preciso, pois sabia que você me perdoaria, e estou feliz por ter feito aquilo. Pelo menos fiz você ver que me ama. Já vale alguma coisa.

- é mesmo? É realmente melhor do que se eu ainda estivesse no escuro?

- Não acha que deve saber como se sente… Só para não ser pega de surpresa um dia, quando for tarde demais e estiver casada com um vampiro?

Sacudi a cabeça.

- Não… Eu não quis dizer melhor para mim. Quis dizer melhor para você. Isso não piora nem melhora as coisas para você, fazer com que eu saiba que o amo? Teria sido melhor, mais fácil para você, se eu jamais soubesse?

Ele levou minha pergunta com a seriedade que eu pretendia, pensando com cuidado antes de responder.

- Sim, é melhor saber que você sabe – concluiu por fim. – Não vejo como estar enganado sobre seus sentimentos possa ser mais fácil, mais aceitável… Sem contar que se você não soubesse… eu sempre teria me perguntado se sua decisão teria sido diferente. Agora eu sei. Fiz tudo o que podia.

Dessa vez eu não resisti – não podia – ao impulso de reconfortá-lo. Atravessei o pequeno quarto e me ajoelhei perto de sua cabeça, com medo de me sentar na cama, sacudi-la e machucá-lo, e me inclinei para encostar a testa em seu rosto.

Jacob suspirou e pôs a mão em meu cabelo, segurando-me ali.

Pude sentir sua respiração quente passear em meu rosto, e o sabor doce de sua boca me inundar. Novamente o impulso de beijá-lo me preencheu, mas o repreendi. – Tinha que repreender - Vim para acertar, e não piorar ainda mais as coisas. Estava noiva de Edward, beijar Jake só prejudicaria ainda mais meus sentimentos, cada vez mais confusos.

- Me desculpe, Jake.

- Eu sempre soube que o risco era grande. Não é sua culpa, Bella.

- Nem sua – gemi. – Por favor.

Ele se afastou para olhar para mim.

- Que foi?

- É minha culpa. E estou enjoada de ouvir que não é.

Ele sorriu. Mas não com os olhos.

- Quer que eu lhe dê uma bronca?

- Na verdade… Acho que sim.

Ele franziu os lábios enquanto avaliava o quanto estava sendo sincera. Um sorriso lampejou brevemente por seu rosto, depois ele retorceu a expressão numa carranca feroz.

- Retribuir meu beijo daquele jeito foi imperdoável. – Ele cuspiu as palavras para mim. – Se você sabia que ia voltar atrás, talvez não devesse ter sido tão convincente.

Eu estremeci e concordei.

- Desculpe.

- Suas desculpas não melhoram nada, Bella. O que você estava pensando?

- Não estava – sussurrei.

- Você não está chorando, está? – perguntou ele, a voz de repente de volta ao tom normal. Ele se contorceu impaciente na cama.
- Estou. – murmurei.

Ele transferiu o peso do corpo, atirando a perna boa para fora da cama como se tentasse se levantar.

- O que você está fazendo? – perguntei entre lágrimas. – deite-se, seu idiota, vai se machucar!- coloquei-me de pé e empurrei para baixo seu ombro bom com as duas mãos.

Ele se rendeu, recostando-se com um arfar de dor, mas me pegou pela cintura e me puxou para a cama, junto a seu lado bom. Eu me enrosquei ali, tentando abafar os soluços tolos em sua pele quente.

- Nem acredito que está chorando – murmurou ele. – Você sabe que eu só disse essas coisas porque você pediu. Não falei sério. – sua mão afagava meus ombros.

- eu sei. – respirei fundo e entrecortado, tentando me controlar. Como é que acabei sendo eu que chora e ele o que reconforta? – Ainda assim é verdade. Obrigada por dizer isso.

- Ganhei ponto por fazê-la chorar?

- Claro, Jake – sorri.

O clima descontraído, fácil e natural entre a gente pareceu estar restaurado.

- Fique tranqüila, tudo vai dar certo.

Ele afagou o alto de minha cabeça.

- Não vejo como – murmurei.

Parecia injusto, mas ainda não estava totalmente certa do que estava acontecendo comigo. Casar com Edward já não me parecia tão certo, muito menos suficiente. Ou talvez tudo fosse só momentâneo... e Edward estivesse certo, essa dúvida pode ter sido obra de Jacob, somente um efeito do beijo no dia da luta, isso logo passaria…

Precisava acreditar que sim!

- Eu vou desistir e ser bom.

- Mais jogos? – perguntei, erguendo o queixo para ver seu rosto.

- Talvez. – Ele riu com algum esforço, depois tremeu. – Mas vou tentar.

Eu franzi o cenho.

- Não seja pessimista – reclamou ele. – Me dê algum crédito.
- O que você quer dizer com “ser bom”?

- Serei seu amigo, Bella – disse ele em voz baixa. – Não vou pedir mais do que isso.

- Acho que é tarde demais, Jake. Como podemos ser amigos, quando nos amamos desse jeito?

Ele olhou fixamente para o teto, como se estivesse lendo alguma coisa escrita ali.

- Talvez… precise ser uma amizade a distancia.

Trinquei os dentes, feliz por ele não estar olhando meu rosto, reprimindo o choro que ameaçava me dominar de novo. Eu precisava ser forte e não fazia idéia de como…

- Não vou mais cortá-la ao meio, Bella.

Compreendi o que ele estava dizendo. Ele queria provar que me amava mais, que sua rendição me provava isso. Por um segundo, tentei defender Edward, dizer que ele também se renderia, mas me calei, não havia sentido em começar outra discussão.

Ficamos em silencio. Ele parecia estar esperando que eu dissesse alguma coisa; eu tentava pensar em algo.

- Importa-se de ouvir uma última coisa? – perguntou ele, hesitante.

- Isso vai ajudar? – sussurrei.

- Pode ser que sim. Não vai machucar.

- Sabe qual é a pior parte disso?

Não respondi. Fiquei paralisada, esperando a dor que viria assim que ele se pronunciasse.

- O pior é saber o que teria sido.

- O que podia ter sido. – Eu suspirei.

- Não. – Jacob sacudiu a cabeça. – Eu sou perfeito para você, Bella. Teria sido tranqüilo… confortável, fácil como respirar. Era o caminho natural que sua vida teria tomado… - Ele fitou o vazio por um momento e eu suspirei.

Pude ver o que ele via e entendi que tinha razão. Mas havia um fator a ser considerado. O mundo em que vivíamos não era sadio, como deveria ser. Meu amor por Edward, era mais forte, tão mais forte que não poderia existir num mundo racional.

- Ele é como uma droga para você, Bella. Queria tanto que você percebesse isso… - Sua voz ainda era gentil e nada crítica. – Vejo que você acredita não poder viver sem ele agora. Acha que é tarde demais… Mas espero que um dia você perceba, o quanto eu teria sido mais saudável Não uma droga; eu teria sido o ar, o sol.

O canto de minha boca se virou para cima num meio-sorriso tristonho.

- Antigamente eu pensava em você assim, sabia? Como o sol. Meu sol particular. Você compensava bem as nuvens para mim.

- Poderia continuar sendo assim… se ele não tivesse voltado… - ele disse, em voz baixa.

- Mas voltou. – dessa vez, minha voz desapareceu.

O choro se formando na garganta de novo.

Ele sacudiu a cabeça devagar, beijou o alto de minha cabeça, depois suspirou.

Olhei para ele e ele sorria.

- Então você vai se casar, hein?

Ele falou sério quando disse que seria bom, percebi o esforço que ele fazia ao me perguntar determinados assuntos como: “Quanto tempo eu ainda tinha? Do que eu mais tinha medo?…” Hesitei em responder boa parte de suas perguntas, mas ele insistiu, e tentou demonstrar o máximo de apatia que fosse possível.

- Bom, de qualquer modo, há muito com que se preocupar, mas no final vale a pena.

Ele assentiu de má vontade e eu sabia que ele não concordava comigo em nada, mas estava se esforçando, ao menos para não brigar.

Estiquei o pescoço para sussurrar em seu ouvido, pousando a bochecha em sua pele quente.

- Preciso ir.

Ele suspirou, o braço apertando automaticamente minha cintura.

- Sempre estarei esperando, Bella – prometeu ele, num tom mais leve e afrouxando o braço. Afastei-me com uma sensação melancólica de perda, sentindo a separação me dilacerando e deixando uma parte de mim para trás, ali na cama, ao lado dele. – Você sempre terá esta segunda opção, se quiser.

Fiz um esforço para sorrir, as palavras queriam jorrar da minha boca, mas não encontravam passagem, fiquei estática em sua frente tentando decifrar o que estava acontecendo, porque deixá-lo estava me sufocando tanto?!

- Até que meu coração pare de bater.

Não acreditei quando a frase saiu da pior forma, não eram estas as palavras da minha mente. Eu queria ter força, coragem de enfrentar e decidir o que realmente eu sentia pelos dois, mas essa parte de mim, a parte que pertencia a Edward parecia estar mais forte, irracionalmente invencível.

Jake sorriu, sem humor.

- Sabe de uma coisa, acho que talvez eu ainda fique com você… Talvez. Acho que vai depender do quanto você vai feder.

Apesar de todos seus esforços para descontrair o momento, Jake não estava conseguindo reverter à dor que estava crescendo em meu peito.

- Volto para ver você? Ou prefere que eu não faça isso?

- Vou pensar bem e depois eu falo – disse ele. – Posso precisar de companhia para evitar enlouquecer. O extraordinário cirurgião vampiro disse que não posso me transformar antes que ele dê o aval… Isso poderia atrapalhar a calcificação dos ossos. – Jacob fez uma careta.

- Seja bonzinho e faça o que Carlisle lhe diz para fazer. Vai ficar bom mais rápido.

Ele apenas balançou a cabeça em afirmação.

Antes que eu pudesse me virar, senti-me impulsionada a questionar-lhe sobre algo, algo que irracionalmente começou a me incomodar, mesmo que eu não tivesse o direito de me sentir assim…

- Quando será que vai acontecer? – eu disse. – Quando a garota certa vai colocar os olhos em você?

- Não fique tão esperançosa, Bella. – A voz de Jacob ficou abruptamente azeda. – Mas tenho certeza de que seria um alívio para você.

- Talvez sim, talvez não. Fico me perguntando se vou sentir muito ciúme.

- Essa parte pode ser meio divertida. – admitiu ele.

- Me diga se quiser que eu volte, e eu estarei aqui – prometi.

Com um suspiro, ele virou o rosto para mim.


Eu me inclinei e lhe dei um beijo suave na bochecha, mas com uma vontade tremenda de sentir seus lábios quentes e macios nos meus novamente… Isso seria loucura! Seria o mesmo que me aproveitar dele, mais uma vez, dar-lhe esperança a qual não poderia cumprir.

- Eu te amo, Jacob.

Ele riu levemente, mas não pronunciou uma só palavra.

Levantei-me da cama, louca para ficar ali, mas precisava seguir minha vida. Jacob merecia coisa melhor e não uma egoísta como eu.

Ele me viu sair do quarto com seus olhos negros insondáveis.


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