“Não importa o tamanho da Montanha, ela não pode tapar o sol.” Provérbio Chinês.

< POV JACOB >

A tarde logo se foi. Não foi nada fácil se fingir presente, durante o almoço e mais ainda durantes as horas arrastadas em que tive que fazer o possível para não sair atrás dela.

Leah perdeu o ritmo, emudeceu desde que vira Bella, e também não ficou muito tempo, principalmente quando os meninos me convidaram para ajudar nos preparativos. Seria ótimo ter alguma coisa para fazer, mas o mais empolgante dos programas me parecia sem chama, sem brilho e não me entreteria. Não agora que aquela pequena interrupção nos meus planos estava se tornando ácida dentro de mim, corroendo minhas decisões, me fazendo voltar à estaca zero.

Topei ajudar os meninos com os preparativos, fui atrás daquilo que me pediram, sem realmente prestar atenção naquilo que me era pedido. Devo tê-los irritado, porque não passei muito tempo sem que eles decidissem dispensar minha ajuda.

Voltei para a casa, depois de vagar desorientado pela praia e acompanhar o sol se pondo, tomei um banho e vesti a primeira roupa que vi dando sopa no armário. Fiquei repassando a conversa que tive com Bella, tentando identificar o motivo de tê-la visto novamente. O porquê dela ainda não ter se casado… O que tudo aquilo significava?


Abotoei a camisa, observando – pela primeira vez a minha escolha. Nem sabia que tinha aquela roupa. Uma calça preta de um tecido leve, e uma camisa branca… Já tinha me acostumado com minha vida de lobo, onde roupas, não eram muito bem vindas. Devo ter esgotado meu armário, porque aquela era minha única opção, alem das bermudas.

Billy para variar, resolveu não ir a festa, alegando que já estava velho para tanta bagunça. Como era de se esperar, foi bater um papo na casa de Sue.

Caminhei pensativo até a festa, as luzes já aparecendo no lado norte, o som estava mostrando toda a animação do lugar. Em pensar que tudo era para mim, festejar a volta do mais recém zumbi, sim, porque era isto que eu deveria estar parecendo.

Havia, realmente, muitas pessoas, tantas que não fazia idéia de quem eram a maioria dos rostos que me olhavam. Cumprimentei a todos, lembrando de outras festas, onde me encontrava mais animado, onde não havia tantos pensamentos em minha cabeça.

Os meninos estavam, de longe, os mais animados. Quil e Embry ficaram no meu pé desde que coloquei os pés no local. Apresentaram-me a todo tipo de garota, não nego que algumas eram até bonitas, se não lindas, mas não me despertavam nada, nem mesmo interesse de conversar.

Nem havia como. Meu coração já havia sido furtado, estava aprisionado, entregue a uma pessoa que não se importava. Ele estava cativo! Não conseguiria conversar com aquelas garotas, principalmente depois de notar, em algumas, interesse, o qual eu não correspondia.

Sentei-me ao longe, com um refrigerante nas mãos, desta vez imaginando como Leah estava, e me odiando por não ter sido capaz de me comportar de forma diferente depois de ver Bella.

De repente, eles ficaram quietos, olhando alguém. Eu estava de costa, e pude reparar seus queixos ficarem suspensos, fiquei curioso para saber o que estava acontecendo. Virei-me sem ter certeza do local onde seus olhos estavam fixos, olhei inquieto e então, meus olhos a viram, compreendi de imediato o porque daquele espanto todo.

— Aquela é a Leah? – Embry murmurou.

Nem mesmo eu fui capaz de reconhecê-la. Leah estava muito diferente, seus cabelos ganharam um movimento diferente do que estávamos acostumados a ver. Pareciam mais sedosos! Suas curvas estavam sendo muito bem detalhadas em um vestido, um pouco justo e curto. Ele era estampado e todo esvoaçante, nunca imaginei vê-la vestida daquele jeito.

As meninas a acompanharam com os olhos, os olhares não distavam muito da inveja. Os cochichos logo começaram.

Leah sem se importar, porém ciente, do que sua aparição estava causando, manteve os passos firmes em minha direção. Eu me movi inquieto, tentando me livrar dos comentários indiscretos e incômodos que os dois faziam bem próximos a mim.

Ao chegar perto de mim, Leah soltou um sorriso, estendeu seus braços em minha direção pousando-os sobre meus ombros e moldurou seus lábios nos meus. No inicio fiquei sem reação, minha mente ainda tentando entender suas mudanças repentinas e suas decisões, mas então eu correspondi o beijo, aprofundando-o e a envolvendo em um abraço apertado.

Sua boca tinha um gosto impar, singularmente deliciosa. Por mais constrangedor que aquele momento pudesse parecer, não consegui tirar meus lábios dos dela. O beijo estava envolvente e de alguma forma me senti bem a beijando. Todo aquele estresse emocional vivido hoje, parecia ter sido amenizado por aqueles lábios.

De repente, nos tocamos que os murmurinhos ao nosso redor, haviam terminado. Até mesmo a música não parecia mais tão barulhenta, Leah encerrou o beijo, selando nossos lábios umas três vezes seguidas e então olhou para mim, sua respiração estava ofegante, não muito diferente da minha.

— Desculpe a demora – sussurrou ela em meu ouvido, enterrando seu rosto em meu pescoço. Não tive como controlar a reação do meu corpo, que se arrepiou por inteiro.

— Pensei que não viria. – consegui formular uma pequena, mas ainda assim era uma frase.

— Eu não perderia uma oportunidade dessas por nada. – seu sorriso, provocante, me despertou.

Olhei na direção em que ela apontava com a cabeça. Quil e Embry foram os primeiros em que vim o espanto. Eles se moveram inquietos, queriam, mas não falaram nada. Olhei para o lado e vi Seth boquiaberto, ele piscou algumas vezes e então veio em nossa direção.

— O que está acontecendo aqui?

Havia tantas emoções em seu rosto, que não fui capaz de saber se ele estava bravo, feliz, ou simplesmente desnorteado com aquela informação. Também não pude dizer se ele sentiu ciúmes.

— Foi mau cara… - tentei formular alguma coisa, mas não sabia qual era sua reação.

— O que isso parece? Jacob e eu estamos namorando, alguma coisa contra? – perguntou Leah.

O espanto foi ainda maior. Quil e Embry nos olhavam incapazes de pronunciar qualquer coisa. Sam, finalmente apareceu dentre a grande quantidade de pessoas que nos observava incrédulas, sua expressão era de longe a pior. Ele com certeza não havia gostado da informação. Pelo menos de todos, foi o único que consegui decifrar a reação.

Ele nos fuzilou com os olhos, estava vindo em nossa direção, mas parou – bufando. Emily, Kim e Rachel abriram caminho entre as pessoas que ali estavam à maioria delas mulheres, e então foi que eu a vi.

Os olhos de Bella estavam tão arregalados quanto os de qualquer um dos meninos, mas havia lágrimas neles. Ela ficou paralisada, sem conseguir desviar o olhar de nós, sem conseguir reagir. Também não me movi, não sabia o que fazer, me senti culpado, mesmo sabendo que não tinha motivo para me sentir assim. Não devia explicações a ela, ainda mais depois dela ter se negado a ter algo comigo.

Mas não consegui deixar de me contorcer inquieto, depois que Bella finalmente esboçou uma reação, as lágrimas lhe rolaram pelos olhos, encharcando a face e então cambaleando saiu do meu campo de visão.

Hesitante, olhei para Leah, seus olhos estavam fixos em Sam. Engoli seco, tentei encontrar uma direção. Eu deveria ir atrás dela, ou deveria deixá-la ir? Quando Leah finalmente virou em minha direção, ao encontrar meu olhar, sua testa se franziu, ela soltou o ar pesadamente liberou os braços ao redor do meu pescoço.

— Vá… - murmurou ela.

Leah selou nossos lábios mais uma vez, e então sentou-se onde eu estava sentado.

Passei pelas pessoas, tentando não correr e mostrar desespero. Bella estava entrando no carro.

— Bella! – Eu a gritei, mas ela não se virou.

— Ei, espere… - a detive, antes que ela pudesse fechar a porta.

Ela estava chorando. Mas não entendi o porque. Aquilo não deveria lhe causar nada além de espanto.

— Não sabia que você realmente vinha… - tentei explicar, mas eu não devia explicações.

Minha cabeça estava um caos. Bella tinha esse poder, de me deixar sem saber o que fazer. Me sentir culpado, quando na verdade não havia culpa, muito menos explicações a dar.

— Foi uma péssima decisão mesmo. Vejo que você já superou… - sua voz caiu algumas oitavas.

Aquilo me deixou irado. Fechei a porta de seu carro com força, assim que notei sua insistência em ir embora.

— O que raios você quer, Bella? Escolheu o Edward, mas não larga do meu pé. É pedir demais que você me deixe ser feliz, já que não quer fazer parte e nem ser o motivo da minha felicidade? – gritei irritado.

O choro de Bella diminuiu, ela apertava o volante com força, como se pudesse ser capaz de quebrá-lo. Seus olhos fixos no pára-brisa do carro.

— Pensei que você me amasse de verdade… - ela sussurrou – Pensei que ao te ver, tudo voltaria ao normal, mas vejo o quanto você se recupera rápido.

— Eu sou um lobo, Bella, não um cachorro. – grunhi irritado me afastando do carro.

Aquele havia sido meu limite, não acreditei naquelas palavras, muito menos na coragem que ela teve de dizer aquilo. Comi o pão que o diabo amassou, fiquei noites afins sem ter noticias sem saber como ela estava preocupada com sua escolha, com a entrega de sua alma aquele vampiro manipulador, tentado – me esforçando – a aceitar sua escolha. E agora ela me vem com essa? Como se preferisse me ver choramingando pelos cantos, por ela!?! Bella era egoísta demais, não era possível!

— Não quis dizer isso…

— Você nunca quer dizer o que realmente sai da sua boca. Mas isso não importa… Você escolheu o seu caminho, agora eu irei fazer o mesmo. – rebati.

— Não para isso que eu vim… - ela tentou dizer algo, mas eu já tinha ouvido o suficiente.

— Não importa mais! – falei ao ouvir passos bem próximos a nós, pelo cheiro do perfume, e pela agilidade dos passos pude reconhecer quem era.

Leah ficou parada, sob a sombra de algumas arvores Bella não seria capaz de vê-la, mas eu sim. Fiz sinal que ela se aproximasse, ela hesitou, mas veio. Estava de costas para Bella, não pude ver sua reação de imediato, mas notei que ela saiu do carro.

— Você como minha amiga, deveria estar feliz por mim. – ao dizer a frase, entrelacei meus braços na cintura de Leah colando-a em meu corpo. – Leah e eu somos namorados, espero que compreenda e apóie.

Bella engoliu seco, fechou os olhos algumas vezes, e então se manifestou.

— O que te deixar feliz! Até mesmo amizade à distância… - murmurou ela.

E então entrou no carro novamente.

— Por que já vai? Você não precisa ir embora. – disse, já sentindo dor em vê-la partir.

— Preciso, minha visita tinha um propósito.

— E qual seria ele? – perguntei, me corroendo

— Não importa mais… - foi tudo o que ela disse, e então o carro entrou em movimento.

Meu coração oscilou , a dor de vê-la partindo, e a impressão de tê-la magoado ameaçou acabar comigo novamente. Não gostava de ver Bella triste, odiava mais ainda saber ser eu o motivo de sua tristeza, mas eu não podia fazer mais nada, não podia mais permitir que ela continuasse abusando dos meus sentimentos.

— O que foi isso? – perguntou Leah.

Respirei fundo, tentando normalizar meus pensamentos.

— Estou tomando as rédeas da minha vida… - sussurrei em resposta, sem estar ciente do que isso realmente significava.

Leah sorriu, seu melhor sorriso, e então uniu nossos lábios novamente.

— Vamos voltar para a festa? – perguntou ela – Curtir um pouco mais o espanto dos meninos?!

Mesmo que eu estivesse indisposto para bagunça, tinha que admitir que curtir um pouco a cara dos meninos seria ótimo. Não recusei o contive. Voltamos de mãos dadas para a festa.