Existem duas coisas que todas as pessoas deviam saber. A primeira é que nada se constrói do nada, tudo tem um inicio, mas o fim só chega quando queremos. A segunda é que ignorar um fato não vai mudá-lo.  Annabeth sabia das duas e também sabia que era a mais pura verdade, só que, por mais irônico que pareça, ela não conseguia seguir nenhuma das duas.

E nesse exato instante, sentada num banco de uma praça observando seus irmãos, ela pensava no que fazer naquele instante. Por um lado se sentia feliz por ter a amizade da Thalia de volta, mas pelo outro se sentia uma fracassada por não poder ignorá-la e detestá-la. Talvez ela não devesse ter aceitado a amizade de volta, contudo nunca ia se perdoar por não dar a Thalia uma nova chance. Um recomeço. 

Era exatamente disso que a garota precisava, um recomeço. Uma nova vida. Se ela mudasse para Nova York tudo seria diferente, ela poderia começar do zero e já teria uma amiga do seu lado e seus irmãos também. Ia ser difícil convencer seu pai, mas não impossível. Por outro lado o que ia ser de sua mãe? Quem ia ajudar sua mãe quando bebesse? Quem iria cuidar dela quando estivesse doente? Ou se precisasse ir ao hospital, quem a ajudaria? Essa parte dava a Annabeth uma enorme vontade de se esconder e começar a chorar.  Sem contar que estaria obviamente ignorando sem problema. Mas algumas coisas têm exceção, não é? Ela poderia ser uma. Então, por que não se sentia como uma?

Mais tarde naquele dia, fez a única coisa que nunca pensaria que iria fazer num momento como aquele, ainda mais se tratando de quem era. Enquanto ligava para Percy pensava em como o mundo dá voltas. Às vezes tantas que o estômago chega a reclamar.

-Alô – atendeu Percy com uma voz sonolenta

-Oi, é a Annabeth, eu te acordei?

-Teria se eu tivesse conseguido dormir em primeiro lugar – resmungou o garoto

-Aconteceu alguma coisa?

-Eu... – ele hesitou um momento. Tantas coisas que queria contar para ela, porem sabia que aquilo era assunto para falar pessoalmente – nada que deve se preocupar – concluiu – como você está? – perguntou tentando desviar o assunto

Annabeth lhe contou tudo em que estava pensando e Percy quase pirou quando soube que ela estava pensando em se mudar para Nova York, ele não sabia o motivo disso e logo se repreendeu mentalmente, afinal se fosse o melhor para ela, ele teria que aceitar.

-Eu não sei o que fazer. Parece tão certo e ao mesmo tempo tão errado.  – concluiu Annabeth depois de um tempo falando – só que o principal problema não é esse. É a Thalia, eu simplesmente fico dividida, e sei que não posso continuar nesse meio termo para sempre. Ah, por que a vida é tão difícil?

-Qual seria a graça de viver se tudo fosse fácil? – respondeu Percy rindo um pouco – mas falando serio, você mesmo não disse que nenhum dia sequer ficou sem pensar em como seria se a Thalia fosse sua amiga mesmo que ela morasse do outro lado do país?

-Sim, mas é

-Deixa de ‘mas’. Isso é o suficiente. Uma parte sua sempre vai odiá-la, mas você não pode permitir que ela te faça desistir da sua felicidade. A Thalia te faz feliz, eu sei disso, sinto pelo modo que você fala dela. Às vezes nós temos que parar de olhar o passado e pensar no presente.  

-Então, eu devo ser amiga dela sem pensar duvidas? – perguntou Annabeth hesitante

-Não sei. Lembre-se que o principal fundamento de uma relação é a confiança. Você confia na Thalia o suficiente para ser amiga dela? E outra, quando pensa no passado qual é a coisa que mais se lembra dela?

-Pensei que fosse para esquecer o passado – Percy riu com a reação da garota

-Algumas coisas não foram feitas para ser esquecidas. Pense bem em tudo que falei. Agora, eu preciso desligar, tchau. – Percy desligou antes que Annabeth falasse qualquer outra coisa.

No momento em que desligou o telefone Annabeth estava confusa e ao mesmo tempo sabia que aquela era a hora certa para mudar tudo. Tinha que fazer isso antes que desistisse. Falou que iria sair a sua madrasta e alguns minutos depois estava tocando a campainha com medo, mas soube que não teria volta ao ver um par de olhos azuis eletrizantes abrindo a porta

-Oi Thalia. Eu posso falar com você?