Era estranho para Tália estar diante daquele portal novamente, grande, pesads e de ferro muito antigo porém sem nenhuma ferrugem. As chamas acima dele ainda estavam acessa, elas haviam se acendido no nascimento de Hades e só se iriam apagar com sua morte.

Tália então olhou para aquela frase bastante conhecida acima do portão, "Deixai toda esperança, o vós que entrais" e encostou seus dedos gélidos sobre o pesado portão e eles se abriram ao seu toque.

Ao dar seu primeiro passo passando dos portões Tália ouviu cérbero rosnar do outro lado do Aqueronte, o conhecido rio das dores onde se encontra Caronte.

Tália continuou a caminhar por entre as rochas pequenas que havia no solo daquela espécie de caverna até que um rio se abriu a sua frente. Caronte já estava a espera de Tália na margem do Aqueronte poupando a da visão ao seu redor de onde ouvia se gritos de ajuda.

– Hades? - Perguntou o barqueiro infernal enquanto Tália subia rapidamente em seu barco.

Ele usava uma manta preta por cima de seu corpo raquítico cujo os únicos membros que dava - se para observar era o brilho de seus olhos vermelhos e o branco de sua barba longa.

– Hades - Confirmou Tália fechando os olhos para não olhar o caminho a frente e pensar que algumas daquelas almas torturadas estão ali por sua causa.

Tália havia ouvido claramente cérbero do outro lado do rio rosnando, quase como se fosse por sua espera, e claro que ela não apenas ouviu cérbero, como ouviu as almas indecisas que perambulavam as margens do começo do rio implorando para que as deixassem sair daquele lugar, e além de tudo, ela não só ouviu a todos esse lamentos, como também sentiu em seu âmago.

– Ele já está a sua espera, melhor se segurar senhorita Tália - Disse Caronte.

Durante todo o percurso Tália permaneceu com seus olhos bem fechados, ela recordava - se do submundo e não queria ve - lo novamente. Para ela apenas os gritos que ecoavam pelo submundo e chegavam aos seus ouvidos, já eram bastantes para deixa - la apavorada.

Kira não sabia da viagem da mãe, Tália havia conversado com Orfeu e o obrigado a distrair e enrolar a Kira o máximo possível, se ela soubesse antes do tempo seria péssimo.

– Chegamos vossa senhoria - Anunciou Caronte.

Então Tália abriu os olhos e saiu do barco.

– Obrigada Caronte, não demorarei, pode voltar daqui a uma hora que certamente já terei terminado o que tenho para fazer.

– Mas segundo Hades senhorita, não haverá embarcação de volta, adeus - E se foi navegando pelas águas da Aqueronte.

– Como assim? Que ordens são? Caronte seu barqueiro fajuto e putrefacto de meia tigela...eu já devia imaginar que isso aconteceria - Disse Tália passando de gritos para um lamento.

E então as altas portas pretas lisas do castelo de Hades, se abriram atras de Tália, interrompendo seus lamentos. Ela apenas se virou quando ouviu o ruido que parecia portões velhos e enferrujados de cemitério antigos.

Ela então se conformando com a ordem que Hades havia dado, deu um breve e ultimo suspiro antes de começar a caminhar rumo ao seu destino final.

Tália entrou no castelo, nem olhando para trás onde as portas se fechavam novamente sem ajuda de uma presença física, e sem olhar para os lados onde Hades conservara o estilo medieval dos castelos da idade - média. Ela apenas olhava para a frente, para o corredor iluminado por tochas nas paredes em que seguia, onde daria diretamente ao hall onde se encontrava Hades, a espera de Tália, junto a Persefóne que acariciava Hades de forma um tanto peculiar.

Ao passar a ultima curva do corredor Tália parou e tentou recuperar a respiração que a tinha abandonado na estrada do submundo. Ela ainda não havia superado Hades, ele havia sido o único que realmente tinha cativado seu coração e agora, Tália iria reve - lo novamente, e esta seria sua primeira e ultima visita a ele depois desses longos 17 anos, não somente a Hades, mas a todos, aquela seria a ultima oportunidade de salvar a o resto da moralidade de Kira.

Tália então deixou - se escorregar pela parede desmoronando no chão e sucumbindo as lágrimas que já escorregavam por seu rosto, quando uma foto da Kira caiu em suas mãos:

– O senhor Orfeu mandou - lhe esta foto senhorita como um aviso, para não esquecer o porque está aqui...e ele sente muitíssimo por vossa senhoria ter que enfrentar isto sozinha...e ele aguarda sua volta ansiosamente - Disse Hermes flutuando sobre a cabeça de Tália com as sandálias e capacete alados dele.

Hermes era exatamente como as figuras que os livros nos mostram, com o capacete com asas e as sandálias também.

Tália ficou olhando a foto da filha de longos cabelos alaranjados, de pele pálida e de olhos acinzentados.

Tália havia tirado aquela foto quando tinha levado Kira ao Central Park em um dia ensolarado, na foto, sua filha estava ao lado de uma árvore vestindo um vestido roxo rodado que Tália havia comprado para ela no dia anterior, de presente para comemorar seu décimo sexto aniversário, Kira radiava naquela foto, ela estava sorrindo enquanto a Tália tirava a foto. Aquele fora um dia feliz, sentiu Tália, e vendo aquela foto ela sentiu que precisava enfrentar Hades.

– Então...senhorita, alguma mensagem de volta? - Perguntou Hermes já um pouco impaciente.

– Sim...para Kira Sawyer, diga que a amo muito e que precisava fazer isto para o bem do futuro dela...não quis me despedir porque sabia que ela iria me impedir, mas eu só quero garantir que nada de mal lhe aconteça...diga a ela para não ficar com raiva...e que os tempos que passei do lado dela...foram os melhores de todos estes séculos...te amo Kira...

– Que comovente senhorita, mais algo?

– Só isto Hermes, obrigada de verdade.

– Adeus então - E dizendo isto Hermes saiu flutuando para fora daquele lugar maldito.

Tália se levantou, beijou a foto da filha e começou a caminhar rumo ao hall de onde começava - se a ouvir gritos.