A Nova Vida de Ruby Menninger escrita por Between the moon and the sun


Capítulo 6
Uma nova e peculiar amizade




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-Ruby, acorde. -Percy disse com uma voz que mostrava que ele estava realmente cansado, morrendo de sono. Ele chacoalhou meu braço levemente.

-Hm... Que horas são? - Eu disse abrindo os olhos e me espreguiçando.

-7 horas.

-Ué, pra quê acordar tão cedo?!

-Café da manhã e depois temos algumas atividades no dia.

-Ah sim... - Eu disse descendo da parte de cima do beliche. Percy já estava trocado e pronto pra ir pro café. - Eu não sei se vou no café não... Não gosto de comer de manhã. - Eu estava mentindo. Na verdade eu não tinha ânimo pra comer e nem queria que os outros campistas soubessem quem eu sou e ficassem em volta de mim por ser uma novata. Não queria falar com ninguém agora.

-Ruby, você já não jantou ontem e aposto que não deve ter comido quase nada. - Ele tinha razão, eu não tinha comido nada ontem.

-Percy...

-Qual é, vamos lá, vai ser legal. Mais cedo ou mais tarde você vai ter que sair e conhecer os outros campistas, eles são bacanas. Com exceção de alguns, claro. - Eu olhei pra ele com carinha de cachorrinho. - Ah não, essa carinha não funciona comigo. Ruby, você tem que ir comer. Eu vou carregar você de pijama e tudo pro refeitório se você não vier.

-Você não teria coragem de fazer isso com sua pobre irmãzinha. Teria?

-Se for pro bem dela... - Eu fiz beicinho. -Ruby Menninger, vai ser por mal então? Ok... - Ele andou até mim e me pegou nos braços e eu me debati.

-Tudo bem... Eu já vou. Espere por mim lá no refeitório, vou me trocar. -Eu suspirei. Sabia que ele tinha razão, eu tinha que encarar os campistas mais cedo ou mais tarde. Ele me pôs no chão e sentiu que eu falava a verdade.

-Te vejo logo.

Eu fui até o banheiro pra tomar um banho. A água quente correndo pelo meu corpo, fez eu me sentir bem melhor e relaxada. Eu não queria sair dali. Respira Ruby. Você tem que ir. Não vai ser tão ruim. Eu acho. Saí do banho e me vesti com uma calça jeans, uma camiseta branca e uma jaqueta jeans, coloquei meu all star e penteei o cabelo, então fui em direção ao refeitório. Percy estava numa mesa sozinho e eu fui até ele.

-Porque você se senta aqui sozinho? - Eu disse olhando em volta. Tinham mesas grandes. Mesas lotadas e mesas quase vazias. Mas eu me concentrei em uma das mesas perto da nossa, onde um garoto sentava sozinho e eu senti pena dele. Ele usava roupas pretas, tinha os cabelos bagunçados, mas eram lisos e negros, um pouco compridos. Os olhos dele eram negros também, a pele dele era azeitonada. Ele usava um anel de caveira com olhos de rubi. Eu não senti pena só por ele estar sozinho, tinham algumas mesas com alguns campistas sozinhos também. Senti pena pelo que vi no olhar dele. Ele olhava pra baixo e raramente olhava em volta, os olhos dele eram frios e tristes, como alguém que já viu e viveu coisas terríveis. Ele parecia incompreendido, sozinho e triste.

-Nós sentamos nessa mesa. Essa é a mesa para os filhos de Poseidon, e somos os únicos. Cada um senta na mesa com seus irmãos e irmãs. - Ele percebeu que eu estava olhando pro garoto da mesa que se vestia de preto.

-Nico Di Angelo.

-Aquele que é filho de Hades e convenceu ele a ajudar vocês a derrotarem Cronos? E te deu a idéia de se banhar no rio Styx? - Ele assentiu. Eu lembrava das histórias que meu irmão me contou das aventuras dele, eu lembrava desse tal Nico. Senti mais pena dele porque ele a vida não é muito justa com ele...Ele perdeu a mãe, a irmã e o pai dele não era muito... Super-pai. Eu meio que entendia ele. Eu parei de olhar pra ele e olhei pro meu irmão que estava se levantando. -Quantos anos ele tem?

-15 anos.

-Ah... - Eu continuava olhando pro meu irmão que estava em pé, imaginando porque ele se levantou.

-Vamos. - Ele disse e segurou o meu pulso levemente, pra me conduzir a algum lugar.

-Vamos pra onde? - Eu olhei pra ele em dúvida.

-Temos que oferecer uma parte da nossa comida aos deuses. Na verdade, você escolhe pra quem oferecer e faz pedidos ou agradece por coisas. Tem que ser a melhor parte da sua comida. Aí você atira na fogueira.

-Ah tá... -Seguimos a fila e quando chegou a minha vez, olhei pro meu prato e escolhi as melhores uvas, mais suculentas e joguei na fogueira. Não sabia muito bem o que pedir. Tantas coisas... Tantos deuses... Ofereci isso ao meu pai, mesmo que ele não soubesse quem eu era. Eu pedi silenciosamente "Pai, eu quero te conhecer... Quero que saiba que eu estou aqui, quero falar tantas coisas! Espero que aceite minha oferenda." Então falei em voz alta. - Para Poseidon.

Depois do café da manhã, eu estava me escondendo dos campistas que estavam cochichando sobre mim por todos os cantos. "Quem era a menina com o Percy?" "Na mesa de Poseidon? O que ela fazia lá?" "Por que Annabeth ainda não a matou?" e coisas assim. Eu rolava os olhos cada vez que ouvia um desses comentários.

O meu irmão estava meio ocupado e eu garanti que eu ficaria viva por hoje sem ele. Ele ainda assim, parecia preocupado. Irmão super protetor... Eu até gostava da idéia de algum jeito. Ele era bem atencioso comigo, mas não ficava me perturbando. Isso era legal.

Eu estava andando pelas árvores, quando avistei uma cena que me fez rir. Eu avistei os estábulos e lá estava Nico Di Angelo, tentando montar em um dos cavalos, meio revoltado e os cavalos tirando onda com ele. Eu não devia rir disso, mas foi engraçado de ver.

-Fica quieto! É sério, eu não vou te matar! Eu bem que gostaria, mas não vou, agora pára!

Vai nessa, eu não quero virar churrasco não! Garoto, você cheira a morte, AAAH sai daqui! - disse o cavalo em pensamento, correndo de Nico, que caiu sentado e se levantou, limpando a poeira da camisa.

-Eu devia te jogar no tártaro. -Ele resmungou. -Eu desisto! - Ele saiu andando revoltado e eu corri atrás dele.

-Espere aí! - Ele olhou pra trás e eu sorri pra ele, tentando ser legal. -Hm... Os cavalos não gostam muito de você...

-Agora me conta a novidade. Eles me odeiam! Como quase todas as criaturas vivas. Como se eu tivesse culpa de ser quem eu sou. - Ele franziu o cenho.

-Eu posso tentar te ajudar com os cavalos, se quiser, é claro.

-Desista. Nem Percy, filho de Poseidon, fez eles mudarem de idéia.

-Bom... Prazer em conhecê-lo, sou irmã do Percy.

-Mas ele é o único filho de Poseidon. - Ele disse arqueando uma sobrancelha.

-Aparentemente não. Mas meu pai não sabe de mim ainda...

-Como assim?

-Vamos aos estábulos, vou te contando minha história e te ajudando com os cavalos. É uma longa história.

Eu contei toda a minha história e ele não tirou os olhos de mim um minuto. Ele parecia realmente impressionado com tudo aquilo.

-Sinto muito. Sua vida parece meio complicada... Mas a minha também é. Eu deveria estar com 85 anos e estou com 15, isso é bem complicado também. -Ele deu um sorrisinho.

-Eu sei um pouco da sua história, meu irmão mencionou isso quando estava me contando sobre as missões dele... Sinto muito por sua irmã.

-Tudo bem... Eu só sinto... Falta dela, mas ela está bem. Falo com ela às vezes.

-Nico, posso te fazer uma pergunta? - Nós estávamos tão entretidos conversando que nem lembrávamos dos cavalos.

-Claro.

-Você tem como saber se minha mãe e meu tio estão mesmo no Elísio?

-Vejamos... Bom, o último cara que entrou lá entrou ontem. Ele morreu mais ou menos aonde o sátiro te encontrou, esse hospital aí que você disse. São grandes as chances de ser o seu tio. Sobre sua mãe... Eu teria que conhecê-la pra saber, sentir a presença dela lá.

Contei pra ele sobre o sonho que tive no ônibus, sobre minha mãe e meu tio.

-Pode ser que seu sonho fosse verdade. Sonhos de meio-sangues, quase sempre são. - Eu me sentia confortável falando sobre morte com ele. Sentia como se isso fosse normal, eu conseguia aceitar isso bem melhor.

-Bom, agora vamos falar com os cavalos. Hm... - Li os pensamentos de todos os cavalos, procurando um que tivesse uma personalidade parecida com a de Nico. Talvez fosse mais fácil de convencê-lo de deixar Nico montar nele. Olhei para um cavalo preto, no canto mais distante do estábulo. Ele tinha um olhar triste e sozinho, não falava com os outros cavalos. -Venha. - Falei pra Nico e peguei seu pulso, guiando ele gentilmente.

-Hey, você. - O cavalo continuava olhando pra baixo e mastigando, como se não fosse com ele. - Você aí, o cavalo preto, no canto. - Então ele olhou pra mim impressionado porque eu tinha falado com ele.

-Ruby, você realmente acha que pode convencê-lo? - Nico disse olhando pra mim.

-Veremos. -Eu disse sorrindo. E então percebi quanto tempo fazia que eu não sorria de verdade, eu só sorria por educação ultimamente. Mas agora era de verdade. - Então, Qual seu nome? - Eu disse me dirigindo ao cavalo preto.

Eu não tenho nome, nenhum humano me deu nome e eu ainda não tinha pensado em um.

-Ah... Então, eu queria te pedir um favor.

Um favor? E por que eu o faria? Os humanos não têm sido muito legais comigo, eles só tentam me domar, nem se interessam se eu estou bem ou o que eu quero.

-Talvez você precisa de alguém que te entende.

Ah é? E quem iria dar importância pra o que um cavalo precisa?

-Escute... O favor, não é pra mim. Eu sei que você não quer ser domado. Tenho um amigo que talvez te entenda... Ele também não gosta muito de humanos. - Eu sorri e olhei pro Nico.

-Humanos são cruéis, prefiro os fantasmas. E eles só me respeitam por causa do meu pai. - O cavalo olhou pro Nico como se entendesse como ele se sentia, excluído.

Está bem, o que você quer, garota?

-Você pode deixa o meu amigo montar em você? Ele precisa aprender a montar mas os outros cavalos não... Aceitam ele muito bem.

Claro que não, esse menino tem cheiro de morte!

-Ele não vai te matar, ele podia ter matado esses seus... Amigos cavalos aí, mas ele não matou.

A maioria deles, não faria falta nenhuma. Talvez ele devesse matá-los.

-Enfim... Só uma tentativa, o que me diz?

Olha aqui, garota. Se esse seu amiguinho amigo dos mortos fizer eu me arrepender por ter dito sim, eu vou jogar ele no chão e pisar em cima e ele vai ficar bem pertinho do pai dele. E não ache que eu te respeito por ser filha de Poseidon não.

-Tudo bem, só peço uma chance pro meu amigo.

Ok então.

-Nico, pode ir. Pode montar nele. - Nico olhou pro cavalo nervoso. O cavalo assentiu, mostrando que ele podia montar nele, mas devia tomar cuidado. Nico chegou perto do grande cavalo negro e montou nele com dificuldade, apesar do cavalo tentar ajudar. Ele estava sentado no cavalo, se segurando meio sem jeito agora.

-Ruby, pergunte pra ele pra onde nós vamos agora. - Ele disse impressionado porque o cavalo realmente deixou ele montar nas suas costas. O cavalo olhou pra mim impressionado. Ele estava satisfeito porque Nico não mandou ele fazer alguma coisa e não mandou ele ir pra algum lugar, ele simplesmente perguntou.

Ele quer dar uma voltinha? Vamos dar uma voltinha.

O cavalo saiu do estábulo devagar, com Nico nas costas. Nico sorriu.

-Obrigado, Ruby. E obrigado você também... Hã... Qual seu nome?

-Ele não tem nome, nenhum humano deu nome pra ele ainda.

-Então eu vou pensar em um nome pra ele depois... - O cavalo estava feliz, apesar de não demonstrar. Ele gostara de Nico.

Garoto, quer correr?

-Nico, ele perguntou se você quer correr.

-Hã... Tudo bem.

Se segura aí em cima.

O cavalo saiu correndo, galopando como um cavalo selvagem por entre as árvores. Nico se prendeu a ele com força. Eu fiquei no estábulo, olhando pra eles. Eles finalmente voltaram.

-Isso foi muito legal, cara. Obrigado mesmo. - Ele saiu de cima do cavalo e passou a mão levemente pela crina do cavalo.

Tudo bem, isso foi divertido. 

O cavalo voltou ao estábulo.

-Tchau. E eu vou arranjar um nome legal pra você. - Disse Nico saindo dos estábulos ao meu lado, andando em direção ao refeitório. - Obrigado, Ruby.

-Não foi nada, o cavalo gostou de você também.

-Eu não quero dizer só pelo cavalo. Obrigado por falar comigo também. A maioria dos outros por aqui, tem medo de mim. Eu não os culpo, mas enfim. Obrigado, você é legal. - Ele sorriu pra mim. 

-Você também é legal, as pessoas só não vêem isso porque elas não te entendem, nem tentam. Mas elas deviam. E você devia sorrir mais, seu sorriso é bonito. - Ele corou.

-Bom, eu tenho que ir pro treino de esgrima agora. Te vejo mais tarde, tchau. - Ele disse e sorriu levemente pra mim, indo em direção à arena. E eu voltei pro meu chalé.


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