Colégio Reira, Tóquio. Sala do terceiro ano, turma C. Começo do Dia.

Eram apenas duas pessoas naquela sala: Hikari, 17 anos, alto, cabelos prateados e olhos cor de mel e Yuuki: 15 anos, pequenina e com cara de boneca, e longos cabelos loiros. Yuuki estava completamente vermelha. Eles estavam ali há alguns minutos em silêncio. Ela decidiu falar.

-Hikari-kun, eu... eu... gosto de você –ela terminou num tom exageradamente enérgico.

-Desculpe-me. Não posso retribuir seus sentimentos.

Assim, direto, seco. Aquilo doía no coração da pequena Yuki.

-Mas... mas... eu sei que você não me conhece... mas eu te aprecio muito, Hikari-kun! Eu sei que posso ser digna do seu coração, Hik...

-Desculpe-me. Ainda não posso retribuir seus sentimentos.

E assim ele se retirou de sala, deixando a pobre menina de coração partido na sala para sentar-se em uma cadeira e chorar toda a manhã. Na porta, um menino de cabelos mais compridos e negros o esperava, com cara de reprovação.

-outra, Hika? Uma hora ou outra, você vai ter que ceder. Eu nunca te vi com uma garota sequer! E você é o garoto mais popular dessa escola! Não é possível –ele continuava a tagarelar enquanto o branquelo apenas caminhava pacientemente a seu lado –deve ter uma que você goste! Senão não tem razão para você rejeitar todas essas garotas.

-Não tem uma garota que eu goste, Takashi. Você sabe disso, não sei porque me perturba com isso. Simplesmente não quero sair com uma garota que mal conheço e não tenho nenhum sentimento.

-Pff, você é uma mulherzinha. Deveria aproveitar e não somente ficar com uma, mas com todas –e o menor riu, perdido em lembranças.

-Não, obrigada, não sou você –o outro replicou, pacientemente. Era comum entre a dupla essas “gentilezas”

-Ei, essa doeu. Mas vou deixar passar porquê você está doente e não poderá jogar comigo. Então sente-se e junte-se ao meu querido fã-clube e torça loucamente por mim, tá?-o outro saiu correndo deixando Hikari parado na arquibancada com dores nas costas e uma futura dor de cabeça, já que o grupinho de calouras fiéis do melhor amigo estava lá a toda para assistir o treino do time de basquete do qual Takashi era o capitão.

Depois de muitos gritos, muitos acenos de mão, muita gritaria e umas 4 cestas de Takashi para Hikari, o jogo estava quase no final. Depois que Takashi entrou no time, eles vinham melhorando cada vez mais; era algum tipo de energia que o pequenino possuía. Hikari ficara encantado com isso desde o primeiro dia em que foram apresentados e designados para treinar como um par, e os dois são grudados desde então.

Mais uma cesta de Takashi para Hikari, que inevitavelmente soltou um sorrisinho envergonhado e o jogo acabou. Hikari estava prestes a ir parabenizar o melhor amigo pelo ótimo jogo quando uma caloura correu a sua frente e o alcançou primeiro, dando-lhe um beijo de tirar o fôlego, para inveja das outras do grupinho. Todos gritaram e zoaram o jogador moreno, que agora estava completamente sem-graça e surpreso com a atitude da novata. Ele foi correndo à arquibancada comentar com o melhor amigo, e reparou que este não estava mais lá. “para onde ele foi?” o pequeno pensou, mas desistiu, trocou de roupa e foi para a aula.

Um tempo de aula e nada de Hikari. Mais um e nada. O dia tinha acabado e Takashi estava ficando preocupado. Será que o branquelo havia passado mal demais e fora para casa? Sozinho? Com esse pensamento na cabeça, ele foi o primeiro a sair de sala assim que o sinal tocou, e correu até a saída. Já tinha passado uma quadra longe da escola e ele lembrou-se que havia esquecido alguns cadernos no seu armário, e como tinha prova no dia seguinte, era melhor levá-los. Voltou o mais rápido que pôde para poder seguir para a casa de Hikari, e levou um susto ao ver este largado em um canto do vestiário, com os olhos um tanto vermelhos.

-O...O que houve...? Hika...? Hika, tudo bem? –Takashi levantava a cabeça deste e o olhava com atenção, tentando ver o quão mal o amigo estava. Hikari, por outro lado, deu um tapa na mão do menor e deu de costas, ignorando o outro que chamava por seu nome ainda parado em frente ao armário.

-O que você quer? –Hikari soltou secamente, depois do tanto que o melhor amigo chamou.

-Não me trate como qualquer garota que você dispensa Hika. Eu sou seu melhor amigo, poxa –o moreno parecia indignado.

-Melhores amigos não fazem o que você fez. –Hikari parecia completamente chateado.

-O...O que eu fiz, droga? Me desculpe! Ei... –ele agora tinha um olhar confuso –você... está falando da caloura? –e ele teve a confirmação quando o corpo do outro, ainda de costas, estremeceu –eu... não foi culpa minha, ela que veio, e...

-E você a deixou fazer o que bem entendesse, não foi? – Hikari agora estava virado de frente, e dando passos pequeninos em direção ao moreno.

-Não foi por querer. Fui pego de surpresa.

-Então –Hikari botou os braços rentes a cabeça de Hikari, e chegou tão perto que seus cabelos prateados roçavam a testa do outro –se te pegam de surpresa, você deixa fazerem o que bem entendem? –ele agora olhava o melhor amigo com um olhar misto de desejo e contradição.

-Eu... não, eu... eu...-a voz do menor foi ficando mais baixa conforme ele ficava mais vermelho, e seus olhos estavam semicerrados.

O maior não podia mais agüentar segurar o que estava entalado em sua garganta por tanto tempo –Eu acho que eu te amo, Takashi.

-Eu sei –foi tudo que Takashi conseguiu dizer antes de ser beijado com delicadeza e urgência.