Ele e Aquela Garota escrita por JHirako


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que viajei demais, mas eu gostei de fazer isso. Gosto muito do casal, e bem, veio do nada, de um sonho da noite passada.

Espero que alguém goste. :D



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Era um dia lindo. O céu azul, sem nuvens. Feliks havia acordado cedo, muito cedo, estranhamente. Abriu uma das janelas do apartamento no último andar - o décimo sexto - tentando apreciar a brisa, ou apenas para parecer acordado. Afinal, leu numa revista que levar vento na cara fazia bem para a pele.

Olhou para o relógio, não levara nem um minuto para acordar, abrir a janela e olhar para o relógio outra vez. Como era hiperativo. Lembrou que hoje era dia de dar mais uma de suas saidelas com Toris. Ele era sempre seu acompanhante para fazer compras. Fosse para comprar maquiagem, comida dietética ou roupas femininas. Era incrível como o polonês precisava de companhia, principalmente para se meter numa loja feminina, no provador feminino, sendo ele, um garoto loiro.

Ao mesmo tempo em que sempre o acompanhava, sempre ficava revoltado. Sempre. Quase todas as vezes, em troca de ter a companhia daquele garoto, ouvia ele falar de Natalia. Natalia, Natalia e... Natalia! O que aquela maldita bielorrussa tinha de especial? Ele era um lindo polonês de olhos verdes... Ela sempre esteve a quebrar todos os lugares possíveis de Toris, e ele ainda falava bem dela.

Pensando nisso é que se passou uma hora, mais ou menos. Tão fútil. Tão egoísta, mas afinal, ele era um rejeitado. Decidiu ir para o banheiro fazer seu ritual matinal.

Olhou para o seu rosto no espelho. Olheiras. Lembrou que havia dormido pouco naquela noite... Adivinhem, Toris havia vindo desesperado desabafar sobre aquela garota. Por um momento, por uma noite, Feliks fora gentil. Ouviu-o, viu alguns filmes com ele, comeu chocolates com o lituano. Até ele sorrir, agradecer e ir embora... Dizendo que "havia passado e tentaria outra vez" imaginou outra vez o sorriso dele falando isso. E depois que Liet havia ido embora, ficou um bom tempo acordado, desabafando consigo mesmo. Reclamando, xingando o rapaz e a garota. Comendo chocolates e vendo mais filmes melosos. Até desistir e ir dormir.

Balançou a cabeça, lavando o rosto. Escovou os dentes e penteou as madeixas louras e lisas. Voltou até o quarto, trocando de roupa. Estava com um humor horrível para por uma saia. Pôs uma calça. Apertada. Não usava calças há séculos. Uma calça apertada, de napa. Bem fetichista, como ele próprio. Uma blusa, com uma estampa feminina e com um colete listrado por cima. Colocou tênis, algo que não fazia a mais tempo do que usar calças.

Não iria usar quilos de maquiagem hoje. Passou um corretivo, e pouco lápis de olho, colocou alguns grampos no cabelo. Havia passado algum tempinho. Estava na hora de sair com Toris. Ele sempre vinha lhe buscar para irem ao shopping. Era a vez de ele fazer isso, apesar de morarem no mesmo prédio.

Saiu, sem esquecer a mochila em formato de coelho. Ele morava no décimo andar. Chegou até o apartamento dele, tocando a campainha. Ouviu os passos dele, a porta sendo aberta. O lituano não tinha olheiras, mas estava com uma expressão sonolenta. Sem camisa e com calças largas. Abriu um sorriso mais sonolento quando viu o amigo a sua frente.

- Você não acha que é meio cedo? - Brincou. - Ah, entre. Eu não me importo.

"Pelo menos isso." Pensou Feliks. Se Natalia se atrasasse ou chegasse um século antes, ele sorriria e sairia correndo, do jeito que já estava agora.

- Desculpe, eu não dormi direito essa noite. - O loiro falou, enquanto entrava e sentava-se no sofá, cruzando as pernas.

- Tudo bem, eu já disse... Aonde vamos hoje, Feliks? - Toris perguntou, adentrando-se no corredor de seu pequeno apartamento.

- Não sei... - Respondeu com um tom estranhamente baixo na voz, o que fez o outro parar um pouco, para tentar escutar. - Que tal algum lugar onde ela não... -Parou de falar. Não havia pensado no que estava fazendo. - Vamos àquele shopping que tem um fliperama enorme?

- Mas espera aí... Ela quem? - O lituano estava intrigado.

- Ninguém, ninguém... Vamos lá ou não? - Feliks tentava fugir do assunto.

- Vamos... - Entrou no corredor, em direção ao quarto, não discutiria com o polonês. Estava fingindo que acreditava nele. E Toris sabia bem quem era a pessoa que ele não queria ver.

Trocou a calça de abrigo por um jeans detonado e vestiu uma camiseta de uma banda aleatória. Levou o par de coturnos para a sala, para colocá-los no sofá. Sentou-se ao lado do loiro, que estava estranhamente quieto aquele dia, visto que ele falava de qualquer porcaria toda hora. Parecia triste. Sem um pingo de sono na expressão, só poderia estar triste.

Mas por que um garoto tão alegre como ele estaria triste?

- Polônia... Por que está triste? - Disse o maior, enquanto colocava os coturnos.

- Eu não estou triste, Liet. Só estou com um leve mau humor. - Feliks respondeu, virando o rosto. - Nada que vá te atrapalhar. Afinal, você nunca nota.

Lituânia ficou quieto. Terminou de amarrar os coturnos e a prender as fivelas que tinham em volta dele. Parecia um metaleiro. E achava estranho andar assim com o Polônia, que era tão vulgar às vezes. E até que Lituânia era certinho, mas tinha aquela mania de ser estranho junto com o outro.

Puxou Feliks pela mão, até certificar-se que ele estava realmente o seguindo até o elevador.

- Eu te atrapalhei ontem, não foi? - Disse Toris, enquanto o elevador descia lentamente.

- Eu já me acostumei. - Feliks falou com um sorriso irônico, como se quisesse dizer "você me atrapalha todos os dias". - De qualquer forma... Dormiu bem? Não ficou chorando o resto da noite? Tipo assim, eu podia te consolar mais se você quisesse... Poderia até dormir lá em casa. Eu nunca me importaria de ter a sua companhia, sabe?

- Eu cheguei em casa e dormi... - Respondeu o outro, com uma risadinha. - O ruim foi só que eu sonhei com a Belarus essa noite...

"Queria que tivesse sonhado comigo, que estivesse comigo..." Pensava o polonês.

- Você não mede suas palavras, como sempre, Liet. - Comentou Feliks. O elevador parara no subsolo.

Saíram em silêncio, entraram no carro de Toris. Não era muito grande, nem muito pequeno, nem muito velho, nem muito novo.

- Sinto falta de você falando de qualquer coisa que você vê na internet... - Disse o lituano, mesmo que não estivessem muito longe do shopping.

- Você não entende... - Continuou o outro, com um sorriso forçado. Haviam chegado no shopping. Estava cheio de gente, um sorriso de verdade finalmente apareceu na face do polonês. Amava fazer compras, amava experimentar roupas. Amava ser consumista. Eram os únicos momentos que se sentia feliz, pois Toris estaria sempre dizendo que estava lindo, e estaria comprando as coisas que queria.

O único problema era Toris, falando vez ou outra, sobre Belarus. Toris não entendia como Feliks se sentia. Feliks tentava entender como Toris se sentia, em vão. Ele odiava aquela garota.

O polonês odiava ele e aquela garota. Só via de longe as poucas vezes que se esbarraram em alguns lugares. Via de longe ele levar um xingamento e sair com algum membro quebrado. Era sempre Feliks que acabava dizendo "Não foi dessa vez", mentindo. O lituano, por sua vez, sorria, sendo ajudado pelo menor. Ele era muito tapado para entender alguma coisa.

Passaram por umas três lojas, levando algumas sacolas. Estavam numa loja mais refinada. Polônia viu um vestido lindo. Era preto. Apesar de aqueles olhos verdes gostarem tanto de rosa, aquele vestido preto era lindo. Era um vestido tomara-que-caia preto, a saia bufante, com detalhes em branco, estranhamente sem bojo. Experimentou, ficaria perfeito no seu corpo magricelo. Estava lindo, parecia uma garota de verdade. Saiu do provador, sorridente. Toris sorriu também, achando alguma fofura naquela cena. Achou bonito o sorriso inocente do menor, como se fosse uma criança. Estava prestes a fazer uma loucura, ao vê-lo com aquele vestido.

- E-eu vou levar... - Disse Feliks, com as mãos na cintura quase inexistente.

- Se você quiser, eu o dou pra você. - O lituano falou inocentemente, arrancando uma expressão espantada do loiro de olhos verdes.

- Você não pode estar falando sério... - Continuou ele.

- Fica bem em você. - Toris sorria, então Feliks entrou rapidamente no provador, saindo de lá em alguns minutos, com o vestido preto nas mãos. Mais feliz ainda. Ia ganhar aquele vestido lindo do seu amado. Parecia um sonho.

Era um sonho, até estarem na saída da loja. Lituânia estava guardando o cartão de crédito na carteira, quando viu alguém familia. Natalia e Ivan. Ele estava com uma das mãos no ombro dela, enquanto ela estava com o rosto apoiado no seu peito. Interpretou com um abraço de irmãos. Como era burro, não era isso.

- Belarus, Russia-san! Faz um certo tempo que não vejo vocês. - Disse o garoto dos cabelos castanhos. Feliks congelou, eram as últimas pessoas que queria ver.

- Você também comprou vestidos, Lituânia? - Disse Ivan, com seu sorrisinho cínico. - Minha irmãzinha pegou esse daqui.

Natalia levantou com relutância um vestido preto, igual ao do Polônia. Este agarrou a sacola, sentindo que ia ouvir algo que não gostaria.

- Que bonito, Belarus! Você vai ficar a moça mais bonita do mundo com ele! - Toris exclamou, ignorando o que pensou antes sobre Feliks. A garota, por sua vez, olhou com uma expressão emburrada e seguiu em direção ao lituano.

- Não gosto de seus elogios mal pensados... - Ela falou, dando-lhe um soco na barriga. Ainda assim ele sorria um pouco. Ela estava ao menos encostando nele.

Logo depois, o russo aproximou-se, com sua estatura enorme e seu sorriso psicótico.

- Se você quiser encostar um dedo na minha irmã, não esteja por perto... - Ele falava, enquanto torcia um dos braços de Toris, quase quebrando-o. - Vamos, Natalia. ~

Os dois saíram, de mãos dadas. Toris ainda tinha um sorriso no rosto e enquanto caía no chão de joelhos e dizer:

- Belarus... Eu te amo...

Fora o suficiente para Polônia. Era demais. Não aguentava ser trocado daquela maneira por uma garota que nem prestava atenção nele, o fazia passar vergonha desse jeito. Mas não ia dizer "esqueça ela", já tentou dizer milhares de vezes.

- Se vai cair tão bem nela, pode ficar! - Feliks jogou o pacote no chão e virou as costas, andando, prestes a chorar. Estava com pena de Lituânia.

Mas já esteve tantas vezes com pena, o consolando, o socorrendo. Fingindo prestar atenção, tentando alegrar seus dias. E Toris não fazia nada por Feliks. Só ir ao shopping, pra sempre falar da mesma coisa.

Estava com pena de si mesmo, indo embora, deixando aquele rapaz que tanto amava, ali. Parou. Olhou para trás e ele tentava se levantar. Na sua direção.

- Feliks! Volta aqui, por favor! - Dizia para o menor. Ele não sabia o que fazer. Por impulso, foi até ele e ajudou-o a levantar. - Desculpa, Feliks, eu não devia ter falado sobre o vestido, eu...

Sentiu o loiro o abraçar. Retribuiu, mesmo com o braço doendo.

- Tudo bem... Vamos pra casa... - Disse o polonês, fazendo-o o seguir.

Chegaram até o estacionamento do shopping, antes de entrarem, Toris parou na frente da porta.

- Você vai ter que dirigir... - Apontou para o braço. - Não deve estar quebrado, mas está doendo...

- Eu não dirijo. - Falou Feliks.

- Você sabe dirigir...

- Você venceu... - Entrou no banco do motorista, e ambos foram embora de carro.

Não era um caminho muito longo, mas parecia algo torturante. No trajeto, o loiro finalmente decidiu falar.

- Você sentiu falta de mim falando porcarias sem sentido? - Não tirava a atenção do volante, de alguma forma. O silêncio do outro entregava tudo. - Então vou falar uma... Você tem que parar de gostar dessa garota... Olha como ela e o Rússia te trataram... O que você vê nela? Você não pode gostar tanto assim dela...

- Eu não sei, na verdade...

- Então pensa bem com quem você pode ser feliz. - Calou-se.

Toris passou o resto da viagem até o prédio pensando. Não poderia amar uma pessoa que o odiava tanto, poderia? Mas ela era tão bonita, tão inteligente, tão... Mas ela o odiava. Ele só a importunava. Ela gostava de outra pessoa.

Realmente, ele não tinha porque gostar dela. Estava deixando de ser burro. Olhou para o lado, aquele rosto que apesar de ser masculino, era delicado. Alguém que se importava com ele. Olhando assim, Feliks parecia até uma garota normal. Ele podia falar de tudo, ser meio idiota, mas se importava. Ambos necessitavam da companhia um do outro.

E tudo que Feliks falava fazia sentido. Não era por que se importava com Toris. Era por que queria estar no lugar de Natalia. Ele queria ser amado por Toris, estava com ciúmes.

Sorriu. Alguém o amava. E ele estava sendo inteligente de notar isso. Havia coisas que o lituano sabia mesmo entender, mas a própria mente e a mente dos outros, ele não entendia.

- Não me diga que não vai querer o vestido? - Perguntou Toris.

- Quero sim. Só não vou usar. - Respondeu, num tom um pouco ofendido. - Se você ainda acha que ela fica linda nele, eu devo ficar horrível.

- Você fica melhor que ela... - Arrumava os próprios cabelos enquanto falava, com uma voz abafada, o rosto corado.

- Você disse que ela ficaria a garota mais linda do mundo.

- Se eu disse que você fica o garoto mais amável do mundo, você o usa? - Riu levemente. Feliks ficou em silêncio.

- Chegamos. - Entraram no prédio, depois no elevador. - Se você quiser ir lá em casa, eu não me importo.

- Fazer o que lá?

- Ver uns filmes, talvez?

- Feliks. - Toris suspirou. Estava na hora. - Você gosta de mim?

- Gosto. Assim como eu gosto de rosa... - Respondeu, indiferente.

- Não desse jeito...

Em questão de segundos, Lituânia havia colocado Polônia contra a parede, segurando seus pulsos, com o corpo pressionado contra o menor. Os dois estavam corados, e o polonês, surpreso.

- Desse jeito, Feliks. - Falou o maior, encarando os olhos chocados do outro. O choque que ele sentia transformou-se num olhar malicioso.

- Só agora que você...?

- Eu não amo ela. Eu te amo, Feliks. Aš tave myliu. - Aproximou o seu rosto.

- Hmpf, como se eu fosse me deixar levar tão fácil, Liet, e... - Feliks sentiu a respiração lenta dele, o perfume masculino de Toris, o seu toque nos seus pulsos magricelos. O fazia ter arrepios. A querer se deixar levar. O amava demais. - Eu... Te amo... Liet... Kocham cię... Kocham... Zbyt...

Aproximaram os rostos, num beijo profundo. Toris soltou os pulsos de Feliks, logo após segurando a sua cintura, mesmo com o braço doendo. Feliks abraçou-o pelo pescoço, com as sacolas de compras as mãos.

Pararam no décimo andar, seguiram o caminho abraçados, trocando beijos e carícias. Na porta, o lituano pressionou o outro contra a mesma e procurou as chaves, com as mãos um pouco trêmulas.

- Você sabe o que vai acontecer se nós entrarmos juntos aqui? - Disse Toris, sussurrando, com a voz e a respiração descompassadas.

- Sei... Você vai tirar minhas calças e... - Feliks respondeu, rindo. - Abre logo essa porta...

- Eu te amo, Feliks. - Beijou o pescoço do outro, abrindo a porta.

- Eu também... - O loiro falou, enquanto largava os pertences e tirava as roupas do outro, que fazia a mesma coisa com ele. Arranhava suas costas, também dando beijos no pescoço do maior. Se jogaram no sofá, juntos. O polonês tirava o jeans detonado do lituano enquanto o mesmo lhe distribuia beijos pelo corpo.

Tiveram a melhor noite de todas. Toris ficou feliz por ter ouvido aquele rapaz que amava tanto gemer pelo seu carinho, gritar seu nome. Fizeram amor no sofá mesmo, não importava onde fosse, desde que estivessem juntos.

Acordaram ao mesmo tempo. Sem vento na cara, não tão cedo. Sorriram um para o outro.

- Da próxima vai ser com aquele vestido... - Sussurrou Toris, beijando a testa do menor. Ainda estavam no sofá. - Eu te amo, Feliks.

- Agora somos só... Eu e você, Liet. - Disse Feliks, juntando os lábios dos dois. - Eu te amo muito...

Realmente eram só eles dois, e Feliks não olhava de longe.


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Notas finais do capítulo

"Aš tave myliu." - "Eu te amo", em Lituano.
"Kocham cię" - "Eu te amo", em Polonês. "Zbyt" - Muito.
Segundo o google tradutor. ;-;'

Inveja faz mal, Polônia! Todos sabem que faz, mas no fim, alguns se dão bem, não é mesmo?!