Ele escrita por Borboleta Negra


Capítulo 1
Capítulo 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/103901/chapter/1

Ele hoje levantou cedo, o que é estranho, pois sempre acorda aproximadamente ás 12:00. Seus cabelos bagunçados e loiros estavam amassados, como suas roupas. Ele se levanta com a ajuda dos braços e, sentando-se, olha para a mulher morena ao seu lado com os olhos azuis apertados por causa da claridade que vem da janela entreaberta. Ele passa a mão nos cabelos, passando-os entre os dedos, dando uma visão privilegiada de seu rosto angelical.

Ele se levanta e vai até a janela, fechando as cortinas leves. Ele não sabe que seus pelos não se eriçaram só por causa do vento forte. Longe disso. Mas já que ele não tem culpa de não saber, não importa. Ele sai do quarto tirando a blusa suada, ficando apenas com a calça moletom. Seu peito definido foi mostrado. Ele está lindo hoje. Encaminha-se para o banheiro apertado e se prepara para tomar um banho, talvez uma pequena ducha.

Ele não sabe. Ele pensa que é apenas um moleque pegador e bom de cama, mas está salvando a vida de várias pessoas, sério mesmo. Quer dizer, pelo menos, pelas ultimas duas semanas. O que é muito, meus comandantes já estão envergonhados de mim, procurando desesperadamente outro ceifador para cumprir minhas obrigações. Bom, eu não ligo muito, na verdade. Deus vai me dar um espaço no céu, eu acho, mas pelo menos vou me aproveitar do pouco tempo que eu ainda tenho. As almas do inferno não são muito de trabalhar, a Morte tem de trabalhar sempre. Daqui a pouco eu vou ser demitida.

Bom, na verdade eu não me importo, prefiro ficar aqui encostada na soleira da porta do banheiro, cuja porta está fechada. A porta não interfere, na verdade eu nem a sinto. Suspiro ao ver a silhueta forte dele, agora que está sem roupa. Acho que não se importaria se soubesse que eu o estivesse vendo, não é? Porque, veja bem, uma mulher por noite o vê nu. Então sou só mais uma.

Na verdade, se eu ainda tivesse a idade de quando morri, acho que não teria pensamentos maliciosos como esses. Mas, bem, passaram-se uns bons 598 anos, então me dou ao luxo. Agora, com um corpo de adolescente eterna, posso admirar o corpo perfeitamente esculpido de um homem. Meu homem. Meu. Pois posso fazer com que a vida dele se esvaia qualquer hora.

Recebo uma mensagem. Telepatia é ridícula, odeio que vejam meus pensamentos, mas no momento não estou me importando com nada. A mensagem dizia que de hoje ele não podia passar, que teria de cumprir meu trabalho agora ou seria mandada de volta para o inferno. Ah, perdi meu passe para o paraíso. Mas assim que percebo a ameaça, meu espírito estremece. Inferno.

Não, eu não gostaria de ir para lá. Então de hoje não passa. Meu trabalho tem de ser cumprido, então começo á contemplá-lo novamente, tirar os pensamentos de rumo. Exatamente ás 23:59 eu tiro sua vida. Hoje ele não teria sua balada, hoje era segunda, teria de trabalhar, então voltaria cansado. Sua vida seria tirada enquanto ele estivesse dormindo, o que era ótimo. Eu não conseguiria ver o sofrimento em seus olhos, muito menos aquela luz de felicidade se esvaindo rapidamente, como se eu não pudesse pegá-la de novo.

Então começo á me despedir com o olhar. Sei que ele não me vê, eu não ligo, apenas quero que ele esteja ao alcance de meus olhos tristes.

Ele sai do banho, pega sua toalha e começa á enxugar o corpo perfeito. Meu corpo. Porque ele é meu. Inteiramente. Infelizmente, não posso tocá-lo. Prová-lo. Saboreá-lo. Ele não sabe que eu existo. Seu jeito malicioso e romântico ao mesmo tempo fez com que eu começasse á me perder em seus olhos tênues. O jeito de andar despreocupado fez com que eu começasse á surtar apenas olhando seu corpo. E agora tinha que tirar-lhe a vida. Era uma pena.

O inferno era o inferno. Quer dizer, eu não podia compará-lo a nada, eu não tinha nada palpável ou imaginário para descrever. Apenas poderia falar que o inferno é ruim. Um lugar de dor e ódio, de malicia, de ira, de uma luxúria suja e doída. Prefira ter seus órgãos sendo perfurados lentamente por uma estaca de madeira enfiada no seu rabo depois de ter tido seus olhos perfurados lentamente por agulhas finas e ter sua boca raspada com uma lixa de unha até sumir do que ir para o inferno. Sério mesmo. É, aproximadamente, 9385727462235 vezes pior. Bom, pelas minhas contas, quer dizer... Não sei se estão corretas, talvez seja mais horripilante, mas não estou muito a fim de me preocupar com isso agora.

Quer dizer, principalmente agora. Ele passava lentamente a toalha macia sobre sua pele úmida lentamente e o desejo foi despertado como uma lâmpada na escuridão em mim. Ah, ficaria somente no desejo. Eu nunca teria aquele corpo para mim. Essa não é mais uma daquelas frases que passam na cabeça de uma nerd quando ela se apaixona loucamente por um popular, pois ela tem mais chances que eu. Isso é a realidade. Eu nunca, mesmo, o teria para mim. Porque eu sou a morte. Porque, quando for demitida, vou para o inferno. Não há escapatória. Aqui não é Supernatural em que você pode simplesmente fugir do inferno e entrar no corpo de uma pessoa.

Eu não sei por que vocês continuam lendo, quer dizer, esses são apenas pensamentos deprimidos de uma idiota (que se chama Morte) que nunca vai poder ficar com a pessoa que ama, mas matá-la. O que é ainda pior.

Ele fez seus hábitos matinais. Tomou um café com adoçante e comeu apenas alguns biscoitos, na qual ele não sentiu nem o gosto. Olhou para o relógio e viu que estava atrasado para o trabalho. Correu para o quarto e tirou o roupão. Pôs uma roupa social azul clara, a calça social preta e pegou um casaco qualquer. Pegando a caneta preta e o papel, escreveu algo para a ‘mulher da vez’.

Correu para seu Volvo negro e fez todos os procedimentos para fazê-lo funcionar. Deu a partida e saiu da garagem úmida. Desloquei-me para a parte de trás do carro. Assim eu não teria de andar. Chegando ao trabalho, cumprimentou os amigos. Sua voz macia era como uma música para mim. Ou melhor. Eu, realmente, nunca pensei que sentiria meu ‘coração’ bater tão rápido somente por olhar ou ouvir uma pessoa. Quer dizer, eu sou a Morte!

Ele sentou-se em frente ao computador, o ligando e enquanto esperava pôs sua mão sob o queixo e o cotovelo sobre a coxa, numa posição pensativa. Ele olhava para o nada. Eu gostaria que ele estivesse pensando em mim, seria tão bom. Sentir-me amada. Porque eu não vivi tempo o suficiente para saber como é isso.

Depois do longo dia de trabalho, ele foi para a casa. Aproximadamente ás 22:00. Eu só tinha 1:59 para me despedir. Ele deitou-se na cama pesadamente e desabotoou os dois primeiros botões da camisa. Deitei-me ao seu lado, vendo o rosto angelical dele de perfil. Ele começou á cantar baixinho uma música. Á reconheci na hora, era a música favorita dele. It’s My Life, Bon Jovi. Se a conhecesse quando estava viva, eu iria ouvi-la todos os dias. Para me lembrar dele. Queria ter vivido mais.

23:10. O tempo passara rápido e eu nem havia percebido. Ele sentou-se e foi até a cozinha preparar algo para comer antes de dormir. Depois de pegar um bolo de cenoura e um suco de laranja foi até a sala para ligar a televisão. Estava na hora de seu programa favorito, um programa de auditório.

Sentei-me ao seu lado direito do sofá ainda o olhando. Será que ele não se sentia observado? Suspirei pesadamente e elevei minha mão até sua bochecha. Eu não consegui tocá-la, não senti nem ao menos o calor de sua pele. Minha energia só deixava-me tocar em objetos, não nele. Ele deitou-se no sofá depois de ter comido, ainda olhando para a televisão. Deitei-me sobre ele, observando seu rosto de perto. Suas linhas perfeitas. Ouvi o seu coração bater, sua respiração compassada.

23:55. Eu não podia fazer aquilo. Eu o amava, não conseguiria. Meu ‘coração’ bateu ainda mais rápido. Eu o queria, eu não podia tê-lo.

_Adeus, Joshua.

E assim eu fiz. Voltei para o inferno. Eu o amava, continuaria amando. E não podia matá-lo. Ele era o meu amor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não sei o que me deu pra escrever essa história .-.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ele" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.