So What escrita por Mahriana


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Oi! Me desculpem e podem conferir as explicações nas notas finais ok?!
Esse capítulo é dedicado a Kobato_Hanato por alguns motivos...
Primeiro porque ela fica me enchendo na escola para que eu escreva. Tipo se eu falo que hoje não vou escrever porque vou estudar ela fala: "Pro inferno, escreve que é melhor!" Sim ela tem sérios problemas.
Segundo: Ela não comenta aqui em todo capítulo, mas sempre que posto ela comenta sobre tudo e fica fazendo as teorias dela.
Terceiro: Eu joguei meu all star nela, então acho que pra me desculpar o mínimo que poderia fazer é dedicar um capítulo inteiro a ela correto?! E sim queridas eu joguei meu sapato nela, o porquê? Nem eu mesma sei, só me deu vontade :B Pra você Kobato-Chan...
~ Apreciem sem moderação ~



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PDV Sahra:

– Quem é você e o que está fazendo aqui?

De repente a música foi interrompida. Olhei em direção ao garoto e deparei-me com um par de olhos negros me olhando de forma zangada, mas ao mesmo tempo curiosa. O garoto continuava a me fitar e então comecei a realmente notá-lo. Ele tinha cabelos negros e meio longos, que cobriam as suas orelhas. O cabelo era partido ao meio. A pele clara fazia com que eles ficassem mais negros junto com os seus olhos.

Apesar de nunca tê-lo visto, ele me parecia familiar, mas eu tinha absoluta certeza que nunca o havia encontrado por minhas andanças. Não era como aquela sensação que tive assim que encontrei com Daniel, mas algo como quando encontramos uma pessoa que temos certeza que nunca a vimos, mas ela passa uma sensação de nostalgia e conforto. Olhar para ele me lembrava outra pessoa, a semelhança era um pouco perturbadora, mas mesmo assim agradável.

Agradável! –ironizei em pensamentos.

Estava me perguntando em como poderia achar uma pessoa, que só havia me prejudicado, agradável. Afinal só poderíamos gostar de quem nos faz bem, pelo menos era o que eu achava. Por mais que me odiasse por estar pensando nisso não pude evitar deixar que minha mente vagasse até o passado...

Flash Back:

Mais um dia ensolarado. Claro que estava me sentindo totalmente estranha naquele verão. Acho que as pessoas chamavam isso de primeiro amor ou algo assim. O fato era que nunca havia me sentindo tão bem desde que minha mãe se foi.

Estava sentada no banco do carro de Natanael –Nate como eu o chamava. Estávamos com a capota aberta enquanto apreciávamos o pôr-do-sol no horizonte. Uma das visões mais perfeitas do mundo. O vento havia ficado um pouco mais forte que uma brisa, então fechei os olhos aproveitando a leve sensação de bem-estar. Senti braços envolvendo meus ombros e o toque leve de lábios na minha clavícula. Sorri.

– Está muito pensativa hoje –a voz doce e rouca sussurrou no meu ouvido. Não pude deixar de alargar o sorriso ainda mais.

– Não é nada com o que deva se preocupar –sussurrei de volta, ainda com os olhos fechados.

–Se não é nada com o que eu deva me preocupar, posso saber no que estava pensando? –a voz não passava de um sussurro em meu ouvido. Aquilo fazia com que meu corpo tivesse várias sensações diferentes, pelos arrepiados, calor inesperado, pensamentos impróprios...

– Pensando em como você apareceu e tudo mudou de repente. –falei finalmente abrindo os olhos, encontrando os olhos negros mais brilhantes que havia visto em toda a minha vida, me olharem com curiosidade e expectativa.

– Espero que mudado pra melhor por que...

– Claro que foi pra melhor –o interrompi com um breve beijo em seus lábios rosados. –Você mudou minha vida da melhor maneira possível.  –novamente beijei seus lábios.

– Você também mudou a minha vida Sahra –ele disse seriamente. –E ainda não estou pronto pra deixar você sair dela, nem sei se posso.

– E quem falou que eu vou sair da sua vida? –perguntei divertida, passando as mãos por seus cabelos os colocando atrás de sua orelha. –Eu também não estou pronta pra deixar você.

Deixei que minhas mãos fossem de encontro a sua nuca, massageando-a levemente e puxei o rosto anguloso, de traços quadrados, e um tanto taciturnos. O beijei.

Os lábios hora delicados, hora urgentes nos meus. Aquela sensação de conforto, o vento nos cabelos, a leve carícia na base da coluna e no rosto. A minha definição de paraíso no momento era aquela.

Não estava ligando que daqui a poucas horas assim que chegasse em casa não encontrasse comida suficiente na geladeira, ou com as contas que não paravam de chegar. Naquele momento nada mais importava.

Flash back off ~

– Eu estou falando com você –a voz do garoto me despertou dos meus devaneios. Ele continuava a me olhar, os mesmo olhos negros brilhantes. Balancei a cabeça fortemente. Não eram os mesmos olhos, só eram parecidos. –Quem é você?

– Er.. Eu... –fiquei confusa e me enrolei as palavras. Respirei fundo e voltei ao controle. –Eu não deveria estar aqui –falei levantando do chão e sendo seguida pelo garoto logo em seguida.

– Não devia mesmo –ele disse me encarando seriamente. O olhei com uma sobrancelha erguida.

– Certo! E quanto a você? –perguntei invertendo o jogo. Percebi que sua confiança vacilou por um segundo. –Você não me parece ser tão especial a ponto de poder estar aqui. Acho que tenho tanto direito quanto você –falei cruzando os braços em frente ao peito. O garoto me olhou estreitando os olhos.

– Quem é você? –ele perguntou novamente e dessa vez só pude ver a mórbida curiosidade em seus olhos.

– Você não me conhece? –ironizei. Era praticamente impossível que depois do “espetáculo” com Alexia, existisse alguém que ainda não me conhecesse. O garoto se inclinou levemente para frente e me olhou com olhos mais estreitos ainda.

– Você é... –ele hesitou me olhando dos pés a cabeça. –A garota que bateu na Alexia –ele disse com um suspiro. –Vai me bater? –perguntou com ironia. Só rolei os olhos.

– Saiba que fiquei tentada a fazer isso, mas ainda tenho que terminar o ano aqui.

– Meus pêsames –ele falou.

– Agora é a minha vez de perguntar –falei. Ele me olhou com as sobrancelhas arqueadas. –Quem é você?

– Nicholas O’conner –ele disse estendendo a mão. Apertei-a levemente e aquela sensação voltou. A lembrança das mãos juntas, passeios... –Espero que me desculpe, mas não sei o seu nome.

– Sou Sahra –falei um pouco nervosa. Ele ainda segurava a minha mão. –Sahra Backers. –soltei minha mão da sua. Meu exterior estava completamente confiante, mas por dentro travava uma luta interna com as lembranças.

– Hum... Sahra –ele murmurou. Depois abriu um sorriso para mim. Parecia tanto aquele sorriso, que por um breve segundo fiquei perdida novamente. O sorriso vinha acompanhado de leves covinhas nas bochechas. –O que você acha de esquecermos que nos encontramos aqui –ele disse dando um sorriso sem graça. –Eu não poderia estar aqui... Então você fica fora de problemas e eu também.

Ele não é o Nate! –minha mente gritava. Balancei minha cabeça fortemente de um lado paro o outro.

–Está tudo bem com você? –ele perguntou hesitante, me olhando estranho.

–Tudo bem –falei com um suspiro. –Nós nunca estivemos aqui.

– Certo.

– Mas o que você estava fazendo aqui? –perguntei curiosa. A melhor coisa a ser feita era sair dali, mas minha curiosidade sempre me traia.

–Bom... –ele limpou a garganta antes de continuar. –Não gosto muito de ficar rodeado de pessoas e esse é um bom lugar pra relaxar.

– Mas você não pode ficar aqui, então provavelmente vem escondido –supus. Ele assentiu com um aceno de cabeça. –Como ninguém nunca descobriu que você vem aqui? –antes que ele respondesse eu o interrompi. –Quer dizer... Aquele portão deveria estar trancado não é?

–Bom... Sim, mas...

– Você roubou a chave na secretaria? –perguntei falsamente alarmada. O garoto arregalou os olhos.

– Não! Não fiz isso. –ele negou rápido balançando as mãos na frente do corpo.

– Claro que sim, por isso você está tão nervoso –eu sabia que não era por isso, ele estava nervoso de um jeito diferente. Vê-lo daquela maneira era engraçado. –Acho que vou ter que falar com o diretor a respeito disso. Quer dizer... Vai saber quantas chaves das portas da escola você tem por aí –falei e dei um passo rumo a porta. Os olhos do garoto se arregalaram em desespero. Sorri diante o desespero dele.

– O que você vai fazer? –Ele perguntou receoso.

– Não sei –respondi balançando as mãos despreocupadamente. –Acho que falar pro diretor seria uma opção. Talvez ele diminua o meu castigo –falei olhando para o teto. Claro que não faria aquilo, mas estava achando divertido ver o garoto entrar em pânico.

– Olha, por favor... Não conta pra ninguém... Er... Bom, eu faço...

– Pode ficar calmo eu estava brincando –falei o interrompendo. –Não vou entregar você. Mesmo se fizesse isso, eu estaria me condenando. Quer dizer “O que eu estava fazendo aqui?”

– Por um minuto pensei que você realmente fosse me entregar. –ele soltou um suspiro aliviado.

– Não... Mas como você conseguiu a chave disso aqui? –perguntei analisando a sala. Era mais como um depósito, algumas caixas, mesas e cadeiras espalhadas. Todos coberto por uma camada de poeira. Havia uma janela grande, mas esta estava totalmente imunda, a luz entrava de forma fraca no local. O deixando com uma iluminação um tanto precária. Cheguei a pensar no dias em que o sol não se fazia presente, o cômodo ficaria na completa escuridão.

– Bom... Eu conheço o zelador... Então as coisas ficam mais fáceis. Acho que você conhece o Frankie não é?

– Sim.

– Ele me deu a chave daqui, porque o ajudei com algumas coisas. Fui parar na detenção algumas vezes, então quando saia o ajudava a limpar o colégio já que nunca tinha nada pra fazer em casa.

– Então um dia ele resolveu dar à chave dessa sala pra você? –perguntei arqueando uma sobrancelha.

– O ajudei a guardar algumas coisas aqui e percebi que o lugar não era muito freqüentado. Pra falar a verdade só ele vinha aqui. Então conversei com ele e consegui a chave. Ele é um cara legal.

– Sem dúvida –falei pensativa. Eu estava em dívida com ele e conseqüentemente com Alan também. Estava em dívida com muitas coisas.

De repente fomos interrompidos pelo sinal do final do intervalo. Ficamos calados até o sinal parar de tocar.

–Acho que agora as aulas vão começar –ele falou em um suspiro.

– Tenha um bom dia –falei e me sentei ao chão perto da porta. O garoto ficou me encarando por alguns segundos, depois deu de ombros e sentou a minha frente.

– O que nós vamos fazer? –ele me perguntou com um sorriso no rosto.

Olhei em seus olhos e retribui o sorriso. Não estava com nenhuma vontade de assistir as aulas, provavelmente não prestaria atenção em nada. Então de repente ficar ali com Nicholas me pareceu muito agradável.

PDV Jason:

Eu não sabia o que estava acontecendo comigo. Talvez a mudança de estado e o novo marido da minha mãe tenham afetado a minha personalidade. Afinal nunca havia sido uma pessoa “nobre”. Pouco me importava com os outros, mas ultimamente estava me importando demais. Mais do que o necessário.

Depois das aulas rumei ao estacionamento ainda me perguntando onde Daniel estava. Minha pergunta foi respondida quando o encontrei conversando com algumas garotas, muito bonitas por sinal. As garotas riam de qualquer palavra que saia da boca dele. Me aproximei e Daniel logo me viu.

– Jason! –ele gritou. –Garotas esse é o meu amigo, quase irmão, Jason. –ele me apresentou.

– Oi Jason! –as garotas falaram ao mesmo tempo em uma espécie de coro mal ensaiado.

– Ola garotas –respondi dando um sorriso, acabei ouvindo alguns suspiros em resposta. –Será que nós poderíamos conversar Daniel? –perguntei sugestivamente para ele.

– Claro! Garotas se vocês me dêem licença... Eu já volto –ele falou sorrindo para as garotas e então caminhamos para longe da platéia. –Você viu como elas são gostosas? –Daniel me perguntou com os olhos brilhando.

– Sei... Olha onde é que você estava? Você some e depois aparece e cara você não sabe o que eu vi sobre a Sahra, ela foi a uma festa e...

– Eu sei, eu sei. –Ele me interrompeu. –Ela tentou fazer um strip, pulou em uma psicina, ficou doidona –ele falou a última parte fazendo círculos com o dedo indicador bem ao lado da cabeça. Depois disso deu uma sonora gargalhada.

– Como você sabe?

– Quem você acha que filmou? –ele falou com um sorriso grande estampado no rosto.

– Você? Você foi à festa? –perguntei incrédulo.

– Não Jason! Eu filmei, mas somente o meu espírito estava presente no momento –ele falou com sarcasmo. –Mas é claro que eu estava na festa. Ela estava tão doida que nem me reconheceu não que eu não tenha tirado proveito disso –ele completou com um sorriso malicioso no rosto.

– Como assim? O que você fez com a garota? –perguntei de olhos arregalados.

– Nada demais –disse dando de ombros. O encarei com uma sobrancelha erguida. –Tudo bem. Olha eu dei um belo amasso nela. Claro que ela já estava muito chapada, eu também estava. Essa parte eu não filmei, nem podia, estava ocupado demais me divertindo. Cara ela é muito gostosa. Você tinha que ver. Antes que você fale alguma coisa. Não. Nós não passamos dos beijos. O que foi uma pena, mas quem sabe no futuro não é? –ele riu e deu um leve soco no meu ombro. Continuei o encarando sem mostrar nenhuma reação. –O que foi?

– Você sabe o que foi. Cara você está ajudando a humilhar a garota e ainda pensa e transar com ela?

– E o que é que tem? –ele perguntou me olhando como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo. –Qual é Jason? Você não era assim! Onde anda aquele garoto que pouco se importava com relacionamentos? Aquele que não namorava porque achava relacionamento sério uma besteira?

– Eu estou aqui! Não fui a lugar nenhum e tecnicamente não estou namorando. –adicionei com uma careta a última parte. Era uma verdade, já que nunca havia feito um convite formal ou algo do tipo, falar que ela era minha namorada era somente uma conveniência.

– Não é o que a escola inteira acha. A Alexia colocou uma coleira em você e caso não saiba ela exibe você como um trofeuzinho por aí. Do mesmo modo que você fazia com as outras. Por que você acha que nenhuma garota ousa dar em cima de você? –ele disse aquilo em um tom resignado. –Vamos lá Jason. Você não pode ser submisso aquela loira, ela é muito gata, mas existem outras por aí.

– Eu não quero “terminar” com ela agora. Sei lá...

– Você tá confuso –ele afirmou. –Olha só Jason, não mandei você terminar com ela. Você mesmo falou que não está namorando, então se você ficar com alguma garota tecnicamente você não vai trair ela. Vamos lá, quero o meu velho amigo de volta. Onde foi parar Jason Sulivan?

– Quer saber? Você tem razão, eu não nasci pra ficar amarrado com ninguém. Vamos conhecer as garotas.

– Era disso que eu estava falando! –Daniel praticamente gritou de alegria. A essa altura boa parte dos alunos da escola já haviam ido embora, isso incluía Alexia.

– Mas...

– Ah não! Eu sabia que estava bom demais pra ser verdade –ele resmungou. Rolei os olhos.

– Calma! Já que você está querendo me desviar do “caminho do bem”. Você ainda vai ajudar Alexia com “o plano”? –perguntei incerto. Daniel era uma caixinha de surpresas.

– Claro! Agora mais do que nunca. Aquela garota e muito interessante, eu realmente quero saber de onde nos conhecemos. Aquela tatuagem, até mesmo as curvas dela, ela me parece tão familiar, mas eu tenho certeza que nunca “peguei” ela, me lembraria do beijo e do corpo e provavelmente de muitas outras coisas... –ele completou pensativo.

Fitei Daniel enquanto o mesmo se perdia em pensamentos. Daniel era uma pessoa conhecida, era viajado. Quando não estava “me perseguindo” ele ficava por aí, viajando e provavelmente fazendo coisas erradas, mas apesar de tudo era uma boa pessoa.

– Certo! Também fiquei curioso em saber coisas a respeito dela.

– Ok! Agora vamos porque as garotas não vão esperar o dia inteiro –ele disse isso e me puxou pela blusa, se fosse mais descoordenado teria ido ao chão.

– Espera um pouco –falei me desvencilhando.

– O que é agora? –ele falou visivelmente impaciente.

– Se você vai continuar com “o plano”, deveríamos fazer logo a cópia da chave e colocar a câmera no quarto não acha?

–Ah isso? –ele falou como se fosse algo sem importância. –Por que você acha que faltei à aula hoje? Eu já fiz isso –ele falou entediado, depois passou enumerar as coisas que havia feito nos dedos. –Fui a sua casa, entrei no seu quarto, peguei o molde pra mandar fazer a chave, entrei no quarto da Sahra, que a propósito está mais bagunçado que o seu e instalei a câmera. –ele terminou com um sorriso orgulhoso. –A câmera está ligada diretamente ao seu notebook, as imagens serão mandadas pra ele e você vai ter acesso a ela por 24hrs. Isso até parece reality show –ele terminou rindo. –E mais uma coisa –ele adicionou. –Ela é estranha.

– Como assim? –perguntei totalmente confuso.

– O quarto dela é estranho –ele disse fazendo uma careta. – Quer dizer ela tem vários pôsteres de bandas espalhados, garrafas de bebidas, alguns aparelhos de celular, notebook, instrumentos, as suas roupas estão totalmente bagunçadas dentro do closet. Achei um canivete lá também, e acho que encontrei pílulas de ecstasy. Contas espalhadas em uma mesa, algumas fotos estranhas...

– Você realmente fez uma vistoria completa pelo quarto da garota não é? –perguntei irônico.

– Quase isso –respondeu com um sorriso cínico. –Agora podemos ir com as garotas, meu apartamento está livre. Vamos logo.

Dei um longo suspiro e depois sorri. Afinal Jason Sulivan realmente estava de volta.

PDV Sahra:

– Então deixa só eu ver se entendi. Você precisa de um emprego, mesmo sendo filha de um advogado milionário. Porque você não se considera filha dele e não gosta nem um pouco de depender dos outros. É isso? –já havia se passado quase 40 minutos desde que eu comecei a tentar explicar minha situação financeira para Nick.

– É isso mesmo.

– Ainda acho mais fácil você pedir grana pro seu pai –ele falou jogando os braços para cima. Mandei um olhar mortal a ele. –Tudo bem, não está mais aqui quem falou. Mas você tem que admitir que ele não iria sentir falta do dinheiro.

Desde que o intervalo havia acabado nós estávamos sentados no chão conversando. Nicholas era um garoto fantástico. Havia chegado há um ano na cidade, também era considerado um novato. Assim como eu, ele não se sentiu a vontade de fazer parte do corpo estudantil, mas também não era tão anti-social, conhecia e falava com várias pessoas da escola. Mas sempre sumia nos intervalos para tocar violão na sala onde estávamos.

Tínhamos gostos em comum, como o estilo de roupas, assim como eu, ele não ligava muito para o que vestia a prova disso era o seu tênis surrado acompanhado, por um jeans velho e uma camiseta do The Doors. Gostávamos das mesmas bandas, tínhamos comidas preferidas e ele também era inglês. Mas eu era de Londres e ele de Portsmouth.

Seus pais eram separados e antes de vir para Tacoma ele morava com o pai. Devido ter passado por uma fase de rebeldia, foi mandado até aqui como castigo, pois não gostava da cidade. Fazia um ano que já estaca ali e ao que parecia o pai estava em uma fase importante nos negócios da família, isso fez com que seu retorno ao Reino Unido fosse adiado.

– Mas eu tenho o meu orgulho. Então cala a boca e me ajuda a conseguir o emprego que você falou –falei. Nick havia falado que precisavam de uma pessoa em um restaurante que sua mãe era dona.

– Olha o restaurante é legal, mas não é bem um restaurante.

– Ãh?! –o olhei confusa. –Mas do que você tá falando?

– O lance é que lá é um restaurante e também uma lanchonete. Vários jovens vão lá sabe?! E a maioria são alunos daqui –ele falou um pouco sem graça. Eu não tinha entendido o porquê de ele estar daquele jeito.

– E o que isso tem haver? –perguntei realmente muito confusa. –Quer dizer que por eu ser uma aluna daqui não vou poder trabalhar lá? Olha se for por isso eu...

– Não! –ele me interrompeu. –É só que... Você sabe –ele falou coçando a nuca e me olhando sugestivamente.

– Não. Eu não sei.

– Você não vai se sentir... Sei lá... Constrangida por trabalhar lá e encontrar com as pessoas daqui –ele disse olhando para o teto. Bufei alto.

– Garoto olha bem pra mim e diz se você acha que eu me importo –falei e apontei o dedo para o meu próprio rosto. Ele ficou me olhando por uns segundos e depois suspirou.

– Acho que você não se importa mesmo. Eu vou com você depois da aula o que você acha? Minha mãe vai estar lá e você vai poder falar com ela pessoalmente.

– Tudo bem –falei e dei um pequeno sorriso. Pela primeira vez desde que cheguei aqui, alguma coisa boa havia acontecido comigo. –Mas eu tenho que passar na detenção primeiro, você pode esperar?

– Claro, não se preocupe com isso, sempre...

Nesse momento fomos interrompidos pelo sinal da última aula. Olhei para o teto um instante e depois levantei logo em seguida Nick fez a mesma coisa.

– Vamos? –ele perguntou enquanto guardava o violão em uma capa de couro preto.

– Claro. Você deveria ter tocado uma música pra mim –falei e dei um pequeno sorriso. Achava incrível como meus sorrisos não eram sinceros. As únicas vezes em que sorria mesmo, era quando estava chapada, então no meu estado alterado qualquer coisa me fazia rir. Sentia falta de dar sorrisos, sorrir para o vento, sem nenhuma preocupação. Fui tirada dos meus devaneios por um Nick um pouco nervoso.

– Você me viu tocando –ele falou coçando a nuca.

– É mais eu estava escondida e você não terminou a música, então essa vez não conta –provoquei.

– Um dia talvez eu toque pra você –ele respondeu já se dirigindo para a porta. Sem mais nada a fazer o segui.

– Eu vou cobrar. Mesmo que você não toque pra mim, posso vir aqui e observá-lo escondida –disse e pisquei. Estávamos descendo as escadas.

– Acho que vou começar a trancar esse portão –ele respondeu em um grunhido.

– Fala sério? Eu vi você hoje o que tem de mais em você tocar?

– Não gosto de público, geralmente só toco quando estou sozinho –ele disse passando as mãos pelo cabelo.

Trancamos o portão e saímos rumo à sala de detenção. Nick ficaria esperando até que eu pudesse sair para irmos até o restaurante de sua mãe.

Entrei na sala e avistei Clair cabisbaixa sentada em uma cadeira. Dei um longo suspiro, provavelmente tinha magoado os sentimentos da garota, mas eu era insensível o suficiente para não me importar com isso. No fundo eu sabia que se ela ficasse com raiva de mim minha vida aqui seria pior do que ela estava sendo.

Sentei em uma cadeira atrás da que ela se encontrava, ela somente me olhou e depois virou o rosto. Esperava que ela me olhasse e dissesse algo como “Precisamos conversar”. Só então lembrei que ela era uma criança, essa era uma reação comum para ela, ignorar, talvez ela me mandasse à língua caso eu dirigisse a palavra a ela. Decidi não conversar com ela naquele momento, deixaria isso para quando chegássemos em casa.

Baixei a cabeça e a encostei na carteira em que me encontrava. Deixei minha mente vagar e voar livre sem me importar para onde ela me levaria. Fechei os olhos.

Flash Back :

– Eu não vou conseguir –falei nervosa. Aquilo era estranho, como alguém poderia ganhar a vida fazendo aquilo?

– Claro que vai. Eu ensinei você, então é claro que você vai conseguir –Nate me incentivava.

– Mas e se eu bater o carro, virar ele, ou explodir –falei nervosa enquanto estala os dedos da mãos freneticamente. Nate gargalhou alto, aquele som me reconfortou tudo nele me fazia bem, essa era a vantagem de se estar apaixonada, a pessoa é perfeita aos seus olhos.

– Explodir? –ele perguntou retoricamente. Então ele colocou as duas mãos ao lado do meu rosto e o virou para que eu o encarasse. –Nada vai acontecer, você só tem que fazer do jeito que planejamos. Tudo vai dar certo, confie em mim –ele disse com convicção e depois me deu um beijo suave, só nossos lábios se tocaram.

– Ew... Vão fazer isso em outro lugar –fomos interrompidos por Alan com um enorme sorriso estampado no rosto. –Você está pronta Sahra?

– Acho que sim –falei meio incerta, arrancando uma sonora gargalhado dos dois. –Que foi? Eu sou uma garota e ainda nem tenho carteira de motorista, eu posso estar insegura tudo bem? Tenho esse direito –respondi emburrada cruzando os braços na frente do peito.

– Claro que você tem esse direito –Alan falou. –Agora vou indo, daqui a pouco é a sua vez. Não se preocupe porque você irá correr com novatos e duvido que eles tenham uma preparação melhor que a sua. –Alan me traquilizou depois saiu.

– Vai ficar tudo bem amor –Nate me tranqüilizou também.

–Você não pode saber –murmurei de cabeça baixa.

– Claro que eu sei –ele disse e tratou de erguer minha cabeça segurando o meu queixo. –Você vai conseguir. Eu vou torcer por você –e então ele me beijou. –Amo você.

Ele disse e fechou os olhos me beijando novamente, uma onda enorme de felicidade me inundou, era cedo demais para falar que queria passar o resto da minha vida com ele?

– Também amo você –confessei em um sussurro.

Flash Back off ~

De repente acordei. Olhei em volta e percebi que todos já estavam saindo da sala, esfreguei o meu rosto fortemente. Olhei ao redor e fiquei ainda atordoada com o sonho, que era uma antiga lembrança. Conhecer Nicholas foi bom por um lado, afinal ele era uma pessoa legal e havia conseguido uma chance de emprego para mim. Por outro lado por conta da sua semelhança com Natanael, lembranças nada agradáveis foram despertadas pela minha mente.

Saí da sala e vi Nick parado ao lado da porta. Olhei paro o outro e vi Clair saindo pelo corredor. Observei até ela sumir do meu campo de visão. Era estranho, mas eu realmente gostava daquela garota era uma ligação. Tudo bem que éramos irmãs, por mais que eu odiasse admitir que Jonh fosse meu pai, a única coisa boa que consegui dele foi ter conhecido a Clair. Acho que toda a coisa de irmã mais velha estava afetando a minha cabeça.

– Sahra?! Vamos? –Nick me chamou.

– Claro –respondi apática. –Você veio de carro?

– Bom... Er... Não. –ele respondeu um pouco constrangido. –Meu motorista veio me deixar, não posse dirigir por algum tempo.

– Pais e essa mania de castigos –respondi desdenhosa. –Minha mãe nunca me pôs de castigo se você quer saber –falei enquanto caminhávamos para fora do prédio. –Sempre que aprontava algo na escola ou até mesmo na rua, ela conversava comigo me aconselhando.

– Isso funciona? –ele perguntou cético.

– Bom, nunca mais joguei pedras nas janelas dos vizinhos –respondi divertida. –Nem comi terra, ou passei cola no meu próprio cabelo.

– Certo. Você deve ter sido uma criança muito estranha –ele falou fazendo careta. –Sua mãe deve ser legal –escutar aquelas palavras fizeram o resquício de diversão que existia em mim, sumir totalmente. –Aposto que ela parece com você, poderíamos marca uma viajem até Londres. Falaria pra minha mãe que iríamos visitar a sua, então aproveitava e visitaria alguns amigos, aposto que minha mãe vai gostar de você. Assim vai ser fácil convencê-la. O que você acha? –ele me perguntou distraído, já havíamos chegado perto da minha moto.

–Atitude nobre –falei enquanto destravava o alarme da moto e pegava os capacetes, entregando um a ele, que prontamente aceitou. –Mas minha mãe morreu, o corpo foi cremado e as cinzas jogadas no mar. Ultimo pedido no seu leito de morte –falei de forma fria. –Sobe –indiquei com a cabeça o assento.

– Sinto muito –ele disse me olhando com pena.

Era isso que eu mais odiava ver a pena estampada no rosto das pessoas, todas as vezes que sabiam da minha história. Várias pessoas perdem os parentes pelo mundo, eu não era a única, então não precisavam ficar se lamuriando por mim. Que fiquem tristes por pessoas que estejam em uma situação pior que a minha. Pessoas sem comida, casa para morar, ou que estejam agonizando em uma maca de hospital. Eu infelizmente ainda me encontrava com uma saúde de ferro e muitos problemas, mas eu ainda não estava tão decadente a ponto de sentirem pena de mim.

– Não sinta –respondi indiferente. –Você não a conheceu, então não pode sentir pela perda.

– Não é is...

– Sobe garoto –o interrompi. Ele suspirou, colocou o capacete e subiu na moto.

O restaurante não ficava longe da escola, acho que por isso os alunos da escola iam parar por ali. Estacionei a moto em um pequeno estacionamento destinado a funcionários. Desci e dei uma olhada no exterior do lugar.

Havia algumas mesas com cadeiras em frente a ele, uma puxada protegia os clientes, que preferiam ficar ao ar livre, de possíveis chuvas ou mesmo do sol. Logo acima havia um grande letreiro onde estava escrito: “Restaurante & Lanchonete River”.

– O que é River? –perguntei olhando para o letreiro. Nick grunhiu ao meu lado.

– É o sobrenome da minha mãe. Ela é um pouco pretensiosa, você vai conhecê-la –ele falou e fomos caminhando em direção ao restaurante.

O lugar era lindo por dentro, todo decorado em laranja e branco. Havia um balcão onde com alguns bancos altos de estofado laranja. Uma máquina de café logo atrás do balcão e mais algumas dessas máquinas de lanches rápidos. Uma vitrine onde eram expostos os mais variados tipos de doces e salgados e algumas mesas.

O restaurante e lanchonete era bem maior do que eu imaginava, depois da parte onde ficava o balcão havia uma divisória feita por uma cortina que parecia ser feita de miçangas, depois dessa cortina vinha o restaurante, onde várias mesas foram espalhadas estrategicamente pelo piso de madeira. Alguns vasos com flores e alguns outros adereços completavam o ambiente, quadros, lustres... O lugar era muito bonito.

– Vamos –Nick falou. –ela deve estar no escritório.

– Tudo bem –respondi calmamente. Enquanto caminhávamos em direção a uma porta de madeira que parecia ser pesada.

– Sahra –Nick parou e me olhou seriamente. –Por favor, não se intimide com ela tudo bem?! E não repare muito na sala ou nela ok?! E mais uma coisa –ele deu um longo suspiro. –Você poderia, por favor, cobrir a sua tatuagem.

– Certo –falei um pouco confusa, escondendo rapidamente a tatuagem com a blusa.

Comecei a ficar um tanto temerosa. Afinal a minha nova chefe poderia ser um diabo em pessoa. No mesmo instante em que ele falou uma imagem se formou em minha mente.

Na minha cabeça assim que Nick abrisse a porta eu daria de cara com uma velha, ou com uma mulher totalmente séria, usando um terno, ela nunca sorria e me olhava como se fosse me matar. Provavelmente não me daria o emprego, iria começar a rir diabolicamente de mim e depois mandaria os seguranças me jogarem na rua.

Estava preparada para tudo, menos para o que eu vi assim que Nicholas abriu a porta. Minha cabeça pendeu para o lado tentando entender o que eu via.

Uma mulher estava com as costas deitadas no chão e as pernas estavam esticadas por sobre a cabeça. Ela estava tão concentrada no seu exercício que não notou nossa entrada, minha cabeça continuava pensa para o lado.

– Mãe! –Nick ralhou, assustando a mulher. Suas pernas caíram para o lado e ela ficou totalmente torta no chão.

– Nicholas River O’conner –a mulher ralhou. –O que você pensa que está fazendo? –ela já se encontrava de pé. –Você poderia ter me matado.

Dei uma breve analisada na mãe de Nicholas, ela estava vestindo calças de moletom cinza, uma camiseta de alças cor-de-rosa e estava descalça. Seus cabelos eram ruivos e os olhos eram castanhos, ela não se parecia nada com ele.

– Fala sério –Nick falou rolando os olhos. –Esqueceu que eu viria aqui trazer uma candidata para o emprego? –ele perguntou sugestivamente.

– Ah sim! –ela virou seu olhar para mim e deu u largo sorriso. Ela mais parecia uma adolescente do que uma mulher de negócios com um filho. –Você deve ser a Sahra. Oi eu sou Betsy River muito prazer –ela disse e logo me deu um abraço e um beijo na bochecha.

– Er... O prazer é todo... Meu? –saiu mais como uma pergunta do que uma afirmação.

– Certo querida, vamos ao que interessa agora não é mesmo? –ela falou e me puxou pelas mãos, indicou uma cadeira em frente a uma mesa grande de madeira, ela deu a volta na mesa e sentou-se em uma poltrona do outro lado.

A entrevista havia sido estritamente profissional. Diversas perguntas sobre o porquê de querer o emprego, se possuía alguma experiência. E por conta dos estudos quais seriam as horas que eu tinha disponível.

– Então é só isso –Sra. River disse sorrindo. –Você é a mais nova contratada do River. –ela completou com palminhas típicas de garotas.

– Sério?! –perguntei um pouco receosa.

– Sim. Eu não deixaria você escapar, você é perfeita tem experiência, é bonita... Tudo o que eu preciso. –ela disse sorrindo. –Mas você vai ter que me explicar essa história de serviço comunitário direito.

– Bom, não foi nada demais –rapidamente procurei uma desculpa em minha mente. –Só um acidente de moto, então sofri a pena. Nada com o que a senhora deva se preocupar –a traquilizei.

– Você tem uma moto? –ela perguntou cheia de curiosidade. Só assenti com a cabeça. –Nossa isso é tão legal! Você tem que me ensinar a dirigir.

– Mãe! –Nick novamente ralhou com ela. –Será que a senhora poderia parar com isso.

– Tudo bem Nick, mas não pense que eu vou desistir da idéia –ela falou rolando os olhos. Ainda estava surpresa com a personalidade da mãe dele, em parte lembrava a da minha mãe. Alegre, extrovertida, impulsiva...

– Acho que podemos ir não é Sahra? –Nick me chamou.

– Claro –falei levantando da cadeira.

– Não. A-cre-di-to –fui interrompida ela voz da mãe do Nick, rapidamente a olhei e segui o seu olhar, que estava fixado em minha tatuagem. Fechei os olhos apertados e soltei um palavrão baixo.

– Olha senhora River isso aqui não...

– Senhora é a sua avó garota, já disse que pode me chamar somente de Betsy, não só pode como deve –ela me interrompeu de repente com uma carranca que logo se desfez. –Você tem uma tatuagem –coloquei a mão sobre o local escondendo a fênix e já iria começar a explicar, mas novamente fui interrompida. –Eu sempre quis ter uma tatuagem –ela falou empolgada.

– Hein?! –foi a única coisa que saiu da minha boca.

– Doeu? Porque me falaram que dói muito e nossa você é tão novinha. O que você acha...

– Pára! –Nick, mais uma vez interrompeu. –Você não vai fazer uma tatuagem! –ele falou revoltado.

– Mas Nick...

– Sem “mas”. Você não vai fazer e ponto. Já discutimos sobre isso –a situação estava cômica, me controlava profundamente para não rir. Era uma adolescente brigando com um adulto e pra piorar o adulto era a sua própria mãe.

– Tudo bem –Betsy falou em um suspiro. –Mas não pense que eu desisti. Vejo você amanhã no seu primeiro dia Sahra.

– Ok! –respondi dando um sorriso de canto. Depois disso sai dali e fui para casa.

PDV Jason:

Estava tentando sair da casa de Daniel sem ser notado. Me encontrava somente com uma cueca boxer cinza. Levantei a cabeça lentamente do colchão onde me encontrava deitado vi um braço esguio por sobre o meu tórax e uma perna sobre as minhas coxas. Com o máximo de cuidado, retirei as duas garotas que estavam na cama comigo.

Olhei para as duas garotas e não pude conter um sorriso sacana. A tarde foi incrivelmente proveitosa, não havia percebido que estava necessitando tanto de uma tarde regada por sexo.

Peguei minhas roupas espalhadas pelo quarto de hóspede e as vesti rapidamente. Saí sem dar nenhum aviso a ninguém. Gostaria de ver a cara do Daniel ao ter que dispensar as garotas do seu apartamento.

Peguei meu carro e fui direto pra casa. Assim que cheguei próximo vi Sahra entrando em uma moto. A moto era muito linda e deixava qualquer um de queixo caído. Ela estava sentada na moto parada, com as pontas dos pés no chão para conseguir apoio, enquanto mexia em um aparelho celular.

Ela não havia notado a minha aproximação, estava distraída com o pequeno aparelho, não agüentando mais de impaciência buzinei a fazendo cair sobre o um dos pés, mas não parecia tê-la assustado, ela parecia só ter se apoiado melhor.

– Por que você não tira essa lata velha da frente? –provoquei. Ela só me mandou o dedo do meio, ligou a moto e entrou guardando a mesma logo em seguida.

Guardei meu carro e quando sai ela já não estava na garagem. Eu teria que me aproximar e ganhar a confiança dela, mas a provocar era algo que ia além de mim. Percebi que já era noite então subi para o meu quarto no intuito de tomar um banho e descer para o jantar.

Sai do banheiro e liguei o notebook enquanto passava a toalha por meus cabelos molhados. Vi um novo ícone na área de trabalho e cliquei nele, dentro de alguns segundos uma janela com imagens foi aberta. Eu tinha uma visão privilegiada de todo o quarto da Sahra, a câmera pegava a imagem desde a porta do banheiro e um pouco da porta de entrada do quarto, que estava vazio. Observei por um minuto todo o quarto que parecia bagunçado demais para o quarto de uma garota.

Estava distraído passeando os olhos pela imagem do quarto quando de repente a porta do banheiro é aberta e por ela passa uma Sahra somente com uma toalha enrolada ao corpo úmido. Olhei os cabelos molhados que grudavam no rosto, o corpo pequeno e a expressão cansada no rosto por alguns minutos. Vi que ela iria se trocar apertei as mãos em punhos e minha mente batalhava.

Parte de mim queria fechar o notebook e não olhar enquanto ela se despia, mas a outra parte mandava eu deixar ligado e usar aquelas imagens para planos futuros. Ainda travava essa batalha quando a porta do meu quarto é aberta, rapidamente fechei o notebook e me virei dando de cara com Drew.

– Hora do jantar –ele avisou e depois saiu.

Dei um longo suspiro e desci.

PDV Sahra:

Depois de um bom banho relaxante me troquei e desci para o jantar. Dentro do quarto ficava com uma estranha sensação de estar sendo observada, expulsei os pensamentos da minha mente.

O jantar estava sendo servido sentei a mesa e comi em silêncio, enquanto leves conversas fluíam.

– Você conseguiu o livro que queria Sahra? –fui questionada por Jonh. O olhei um pouco confusa.

– Er... Sim, claro –afirmei sem nem ao menos saber sobre o que ele estava falando.

– Se caso você precisar de algum livro e não o encontrar na biblioteca pode me avisar, eu o compro para você –Jonh disse sem me encarar.

– Tudo bem –falei. –Já terminei se você me dêem licença –falei e sai da sala de jantar levando a louça que sujei  até a cozinha.

Cheguei à cozinha e avistei Sam, o motorista e outra empregada se agarrando. Coloquei a louça em um balcão próximo de onde me encontrava. Abri um sorriso malicioso e controlei a vontade de gargalhar, para não chamar a atenção de ninguém. Dei um pigarro alto eles se afastaram assustados. Comecei a rir baixinho, meu corpo inteiro tremia, mas cobri a boca com a mão para que nenhum som fosse ouvido.

– Me desculpem atrapalhar –falei ainda rindo. –Sério. Eu não imaginava –ainda me controlava.

– Me desculpe senhora, isso não é do nosso feitio. Por favor não nos despeça –ela falava rapidamente. Arregalei meus olhos de surpresa.

– Espera um minuto –falei levantando as mãos em frente ao corpo. –Eu não vou demitir ninguém –falei fazendo uma careta. –Só vim deixar meu prato aqui. Vocês podem se agarrar a vontade, não dou a mínima. Só cuidado com os outros da casa, acho que eles não vão gostar muito, principalmente Jonh e a mulher dele.

– Me desculpe de novo senhora, eu não imaginava...

– Para com isso –falei abanando a mão no ar. –Eu é quem deveria me desculpar, afinal eu atrapalhei vocês. Vocês são tão bonitinhos juntos –falei fazendo voz de criança. –Qual o seu nome? –perguntei à senhora que vestia um vestido social preto.

Ela tinha o rosto um pouco enrugado, os olhos em um tom claro de azul e os cabelos eram um pouco grisalhos e ela tinha uma aparência tão amável. Ela era uma senhora fofa. Olhar para ela me dava vontade apertar as suas bochechas, ela realmente formava um belo par com Sam.

–Margareth –ela respondeu envergonhada.

– Certo –respondi sorrindo. –Espero que vocês sejam felizes –falei sendo sincera. Peguei a louça e me dirigi até a pia.

– O que você está fazendo? –Margareth perguntou.

– Lavando a louça que sujei –falei como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

– Você não deveria estar fazendo isso –ela me repreendeu.

– Por que não?

– Porque essa é uma das minhas funções ou das outras empregadas –ela falou tirando o prato de minhas mãos.

– Não –eu a corrigi tirando o prato das mãos delas e recomeçando a lavar. –Eu fazia isso quando morava sozinha, não vou deixar de fazer aqui. Você pode fazer isso para outra pessoa, mas pra mim não.

Ela ficou calada e se pôs a observar enquanto eu terminava de larvar a louça que havia usado no jantar e mais algumas outras que estavam sobre a pia. Assim que terminei enxuguei as mãos em um pano de prato.

– Vou pro meu quarto. Boa noite –falei sorrindo. O casal estava sentado em algumas cadeiras que se encontravam na cozinha. –Aproveita bem à noite tio Sam.

– Olha o respeito garota –ele falou fingindo irritação. Sorri e balancei a cabeça.

Subi para o meu quarto e me joguei na cama. Havia trocado mensagens com Sayuri mais cedo. Estava com sono. Troquei de roupas e cai na cama exausta. Dormi escutando o som da chuva fina que caia.

Acordei atordoada com o som de trovões e batidas fortes que pareciam vir da minha porta. Levantei com cuidado, peguei meu bastão de beisebol e rumei até a porta. Abri-a e levantei o taco, mas dei de cara com meio metro de gente parado a minha frente.

Clair estava de olhos arregalados com um cobertor e um travesseiro nas mãos. Baixei o taco e olhei para o despertador em cima do criado mudo constatando que eram 02h00min da manhã. Dei um longo bocejo, fechei os olhos e um poderoso trovão soou junto com um clarão de um raio. Olhei novamente para a baixinha esperando uma explicação, mas ela tremia feito uma vara verde.

– Não tenho a madrugada toda –falei com a voz cansada.

– Posso dormir aqui? –a garota perguntou em um fio de voz. Outro trovão ecoou e ela largou as coisas e agarrou-se a minha cintura.

– Você já não está bem grandinha pra ter medo de trovões? –perguntei entediada. –Acho melhor você ir para o seu quarto...

– Por favor –ela pediu com os olhos amedrontados.

– Você tem que aprender a superar os seus medos tá legal? Agora dá o fora do meu quarto –falei  soltando os seus braços de minha cintura e dando um leve empurrão pra que ela saísse do meu quarto.

Assim que ela botou os pés para fora fechei a porta do meu quarto. Dei um longo suspiro e minha mente me trouxe algumas lembranças.

Flash Back:

Chovia forte e vários raios e trovões ecoavam. Tremia dos pés a cabeça e não conseguia dormir de maneira alguma. Juntei toda a coragem que uma garota de sete anos de idade pode ter e fui para o quarto de minha mãe.

Bati na porta com minha pequena mão e esperei até que ela foi aberta por minha mãe. Não aguardei um minuto e me joguei em cima dela, me agarrando a sua cintura.

– O que houve meu amor? –ela perguntou amavelmente.

– Nada –balbuciei com a voz embargada.

– São os trovões? –só acenei afirmativamente com a cabeça. –Não precisa se preocupar meu amor. Eles não podem fazer nada com você. Venha –ela me pegou com dificuldade em seus braços, me levando até a cama.

– Desculpa –balbuciei com o rosto deitado sobre os seus seios.

– Por quê? Por sentir medo? Querida é da natureza humana sentir medo, ele é irracional –ela falou amavelmente enquanto acariciava meus cabelos.

– Mas eu acordei você no meio da noite e já tenho sete anos, não posso sentir medo disso –falei chateada. Então outro trovão ecoou e eu abracei a minha mãe com mais força.

– Você poderia ter vinte ou quarenta anos e eu ainda assim não me importaria de tê-la em meus braços. Não se tem idade para ter medo de trovões –ela continuou a me acalmar. –Confesso que às vezes eles me assustam –ela disse aquilo baixinho como se fosse um segredo. Ela continuava a afagar meu cabelo. –Sente-se melhor?

– Sim. Agora eu to –falei sonolenta.

– Boa noite meu anjo. Mamãe ama você.

–Também te amo mãe.

Flash Back off ~

Dei outro longo suspiro então me voltei para porta e a abri. Clair estava sentada no meio do corredor abraçando os joelhos e tremendo a cada novo trovão que ecoava.

– Ei! –chamei alto o suficiente para que ela me escutasse e virasse rapidamente para mim. Indiquei meu quarto com a cabeça, em um convite mudo para que ela entrasse.

Ela rapidamente veio e se enfiou dentro do quarto parando bem ao meio dele observando tudo, ela parecia um pouco constrangida.

– Obrigada –ela murmurou baixinho.

– Tudo bem –respondi sonolenta. –Agora vamos dormir –empurrei levemente as suas costas para que ela seguisse até a cama. Deitei em um lado e ela deitou em outro. Deitei de costas para ela e fiquei encarando a parede. –Clair?! –chamei sem saber ao certo se ela já havia dormido.

– O que? –ela perguntou.

– Por que o meu quarto? –perguntei curiosa, afinal ela tinha o quarto do pai e o da irmã.

– Meu pai tem outra pessoa na cama com ele, acho que não há espaço suficiente para mim lá –ela deu um suspiro. –E Mellany nunca acorda quando bato na porta dela, ela tem um sono pesado, você era a minha única opção.

– Hm... –murmurei e relaxei meu corpo.

– Você não vai ficar zoando por eu ter doze anos e estar com medo de trovões?

Não se tem idade para ter medo de trovões –falei a mesma frase que minha mãe me disse com um aperto estranho na garganta.

Fiquei mais alguns minutos acordada e então um novo trovão ecoou fazendo com que uma Clair adormecida inconscientemente se agarrasse a mim. Virei-me  de barriga para cima e ela continuou agarrada a mim, aquilo me deixava estranha, respirei com certa dificuldade, mas depois me acalmei e retirei seu braço de mim. Coloquei um travesseiro para que ela agarrasse quando se assustasse.

Passei as mãos pelo rosto e encarei o teto.

Onde eu fui me meter?


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Notas finais do capítulo

Eu sei que todo mundo quer me matar e tudo, mas relevem por uma coisa.
Esse capítulo saiu sem ser Betado, porque eu não sei cadê a minha Beta! *Olha de Pânico* O_O'
Sério gente eu mandei o capítulo no domingo passado e até agora ela não me mandou nenhuma notícia eu até estou realmente preocupada com ela. Relevem os erros que eu sei que tem aos quilos por aí, entendam que eu fico meio sem tempo e acabo não revisando muito bem, aposto que deve ter palavra sem alguma letra ou algum erro de concordância verbal por aí... ¬¬'
Mas...
Tem capítulo não é?! *sorriso amarelo*
Quero dizer que estou muito indgnada com o nyah *Cara de mau* Eu vi que revebi alguns comentárias das minhas queridas leitoras, mas ele simplismente sumiu com eles... Tipo sobrenatural, os reviews evaporaram... *O* Mas podem ter certeza que eu li eles, só que quando fui respondê-los eu não pude já que o sr. Nyah "comeu" eles. ¬¬'
chrikadsm Vou dedicar um cap. só pra você viu?! Não vou esquecer e não fique com ciúmes eu adoro você muitão! *-*
E isatokita eu li teu comentário, mas não pude responder ele sumiu junto com o da chrikadsm...
E Ah... AliceWinchester eu não agradeci a você no cap. anterior... *tapa na testa* então me desculpe viu?! Eu amo os seus comentários! *-*
Amo os comentários de todas! Vocês são muito especiais! *--*
Quero agradecer muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito mesmo pela recomendação maravilhosa que recebi da carolinagil querida eu amei! Fiquei olhando para tela do comutador assim -> *¬*, por uns bons minutos... Tava sorrindo feito uma retardada. E cara não quero que ninguém pense que eu gosta mais de uma do que de outra porque gosto de vocês do mesmo jeito ok?! Do 'colaxão'
E Kobato-chan ainda vou te atentar muito, não é porque o capítulo foi dedicado a você que vou parar de perturbar, pelo contrário vou continuar... E juro que da próxima vez eu vou levar uma sandália na minha mochila pra você não sair correndo com o meu sapato pela esola inteira ¬¬'

Gente e aí?! Gostaram do capítulo?
Sahra conseguiu um emprego... Eba...
Jason voltou... /lalala
Daniel também não é?! E cara que volta tensa...
Esse momento no final foi fofinhos não é?! Kawaii *--*
Próximo cap. que já está em andamento... Vai ser legal e o próximo tbm e cara vou parar de escrever as notas finais, sempre me empolgo...
Só mais uma coisinha pra ficar na cabeça de vocês... Quem é o tal Nate?! o.O /Sinistro kkkkk
A propósito os capítulos irão vir com alguns flash backs que vai mostrar um pouco de como a vida da Sahra era e tudo mais! Espero que gostem deles... :D
B'jus lindas, fofas, queridas, gatas e tudo de bom... Espero vocês nos comentários... E quem sabe uma recomendação...
Já ia esquecendo você podem passar por aqui: http://lhamaradioativa.blogspot.com/ Meu blog'zinho :De dêem opnião sobre o que vocês gostariam que fosse postado lá, assuntos e etc...
B'jinho [/de novo/] e até o próximo! *--*
@LoydeSilva