Leave The Past Behind, Dont do Sadness escrita por Cathy Thesaurus
Moritz ponderava sobre a decisão que tomara quando Ilse apareceu.
Ilse contou de suas aventuras, de como ter fugido e entregado-se ao perigo desconhecido fazia mais sentido e dava mais prazer do que manter-se no perigo que ela bem conhecia.
O que ela propunha era simples, que ele a levasse a algum lugar, que só andassem lado a lado como fizeram tantas vezes para brincar de piratas, colher flores, fazer nada além de andar, lado a lado.
Ele disse não e por ser um espírito livre como um vento azul ela correu como se cada “não” fosse uma ofensa.
Quando Moritz pôs a arma contra sua cabeça vendo isso como um ato de preservação – para que jamais virasse mais um adulto que nunca saiu do lugar – ele viu Ilse em algum lugar no fundo de sua mente e era uma memória colorida como o primeiro dia de primavera.
Um milésimo de segundo tarde demais ele se arrependeu do não.
A alma de Ilse deixou seu corpo não muitos anos depois quando a doença do século tragou-lhe, como a todos os outros boêmios que viviam demais.
Quando Maureen aproximou-se de Mark a primeira vez, ela usava um chapéu de pirata feito de cartolina, faltava-lhe um dente da frente e ela sorria como se não houvesse amanhã.
Mark teve a impressão naquele instante que a conhecia, mas logo fingiu esquecer desse sentimento e aceitou brincar com a menina de volumosos cabelos castanhos.
Anos se passaram sem que se separassem. Maureen parecia trazer consigo uma força que ganhara com décadas de vida que não tinha, nada jamais a atingia o suficiente para quebrá-la a não ser o “não”.
Mark sentia-se perturbado, como se visse imagens de mulheres que nunca vira antes toda vez que fechava os olhos e usava da sua câmera como proteção, para guardar imagens de mulheres que passavam ao longe e não o viam.
No seu Bar Mitzvah, Maureen tomou a câmera de sua mão e correndo de costas derrubou-a no ponche, todos olharam para ela e riram como se fosse uma piada planejada, talvez fosse. Mark quis naquele momento, como em muitos, estar morto.
Maureen conseguiu ver seus olhos mesmo estando a certa distância, aproximou-se e estendeu-lhe a mão como quem pedia para que andassem lado a lado como fizeram tantas vezes desde quando brincavam de piratas.
- É só uma câmera Mark, você não precisa ficar assim.
- You know I don't do sadness.
E ele não entendia porque, apenas aceitou a mão daquela que parecia estar no fundo de sua mente em uma memória colorida como o primeiro dia de primavera. Ele aceitou sua mão mesmo sabendo que ela nunca seria sua, mesmo não sabendo que aquilo fez com que a vida virasse ao menos mais longa.
Só anos depois, quando já adultos que aos olhos do mundo não haviam chegado a lugar algum, Mark entendeu que é melhor confiar sua vida à uma musa que nunca foi sua do que apenas apoiar-se na realidade que fatalmente iria matar-lhe.
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