Sexo, Escola e Rock And Roll escrita por Fernanda Lima


Capítulo 10
O colégio contra-ataca


Notas iniciais do capítulo

* Versão de Isabel Rigardi *



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  - Então, quem vai falar com ela primeiro?

  - A Maria. Ela que começou a ter ideias.

  - Mas vocês concordaram, então temos que ir juntos.

  - Mas você fala.

  - Tá, que droga. Apenas venham logo.

  Eu, Allen e Jack andávamos em fila indiana atrás de Maria, em direção à carteira da oxigenada. Ela lia um livro chamado "Minha Querida Sputnik", com uma capa colorida azul e rosa.

  Paramos na sua frente, como um bando de idiotas. Ela levantou os olhos do livro.

  - Posso ajudar?

  Nós quatro nos entreolhamos.

  - A gente queria discutir sobre aquele negócio... - Começou Maria.

  - Ah, sim, a banda. - Ela fechou o livro e nos olhou, com uma expressão indiferente, porém com um toque de felicidade em seus olhos.

  Nos sentamos nas cadeiras à sua volta.

  - Então, vocês quatro decidiram o quê?

  Ela realmente parecia animada.

  - Depois de muita insistência - Maria me olhou, cínica. -, conseguimos convencer todos.

  - Que bom! - Era muito estranho como sua voz era de uma garota extremamente contente, enquanto sua face continuava inexpressiva. - E vai ser aquilo mesmo que combinamos?

  - Assim, tem gente que ainda está aprendendo a tocar, mas acho que poderíamos tentar fazer alguma coisa...

  - Que tal vocês irem na minha casa depois da aula? Meu apartamento é pequeno, mas meu namorado trabalha num estúdio que fica a duas quadras de distância de lá. Ele pode alugar uma hora de graça pra gente. Tem os instrumentos e tudo. O que acham?

  Novamente, nos entreolhamos. O silêncio perdurou até que Jack resolveu dar sua opinião.

  - Acho que está tudo bem. Podemos tentar ver alguma coisa. Mas posso lhe assegurar que a única pessoa aqui que toca tão bem quanto você é Maria. 

  - É verdade. - Allen concordou.

  - Não poderia estar mais certo. - Re-afirmei.

  - Tudo bem. Eu posso ensinar você a tocar guitarra, Jack. E Allen, se você tiver qualquer dificuldade pode falar com o Sam. Ele sabe tocar um zilhão de coisas diferentes.

  - Ahm... Sam? - Allen perguntou, tímido.

  - Meu namorado. - Pensei ver um sorriso muito sutil nos lábios de Sabrina.

Depois do colégio

  - Caramba. Temos uma tonelada de dever de casa para fazer.

  - Acho que não vai dar para ir na casa da Sabrina...

  Na mesma hora em que Maria disse isso, a branquela apareceu perto de nós, com uma expressão triste, por mais indiferente que pudesse parecer à primeira vista.

  - Você tem razão... não vai dar para irmos no estúdio. Mas será que vocês podiam fazer o dever na minha casa? - Vi suas bochechas corarem. 

  - Bom... acho que sim. Vocês podem? - Jack nos perguntou.

  - Podemos. - Respondi por nós três.

  - Ah, obrigada. - Não entendi o motivo do agradecimento. - Então, moro logo no fim da avenida. Tenho comida pronta em casa, querem almoçar lá?

  - Vamos. - Jack começou a andar na direção em que ela apontou, puxando Allen e eu.

Na casa de Sabrina

  - Ahm... você mora aqui? - Allen perguntou, surpreso com o apartamento. 

  - É, tem um ano que vivo aqui. - Ela tirava alguns livros de cima de uma pequena mesa circular e arrumava pratos e talheres.

  - Alguém mora com você? - Perguntei.

  - Não. Esse apartamento era da minha mãe. Continuei morando aqui depois que era morreu. Meu avô me manda algum dinheiro para pagar os impostos e comprar o necessário.

  Ficamos todos chocados. Sabrina perdera a mãe? E agora ela vivia num muquifo de uns 20 m² com sala, cozinha e banheiro? 

  Automaticamente me senti culpada por tudo o que pensei dela na primeira semana de aulas.

  - Sinto muito... - Disseram Maria e Jack. Allen a olhou com pesar.

  - Não, tudo bem. Bom, eu ainda vou esquentar a comida. Fiquem à vontade. E me desculpem pela bagunça. O armário quebrou, então não tenho onde colocar as roupas de cama.

  Entramos no quitinete, receosos. O sofá estava coberto por uma manta cor de cobre, e tinha um travesseiro pequeno na ponta. Ao seu lado, havia um armário que estava com a porta aberta, mostrando alguns livros, roupas e cosméticos. Na porta do lado, a prateleira estava caída. No centro, havia uma mesinha onde ela punha os pratos. Na ponta, um fogão de bancada, uma geladeira pequena e uma pia com alguns armários em cima. 

  Fui ao banheiro. Era apenas um vaso sanitário, uma pia e uma duchinha escondida por uma cortina impermeável branca.

  - Er, Sabrina, desculpe ser tão inconveniente, mas como você consegue morar aqui? - Maria realmente não sabia ser discreta.

  - Ah, eu me acostumei. Estou sozinha, mesmo. Então esse espaço é suficiente para mim. - Ela colocava uma tigela de macarrão com queijo da geladeira numa panela para aquecer.

  Depois de observarmos um pouco a quitinete, nos sentamos à mesa, calados e meio desconfortáveis.

  Permanecemos todos em silêncio até Sabrina trazer a tigela com macarrão e uma jarra de limonada.

  - Sirvam-se.

  Allen pegou quase metade do que estava na mesa. Dividimos o resto, sem reclamar - já estávamos acostumados à comilança dele. Quando o último terminou de comer - eu, diga-se de passagem -, Jack perguntou, tímido:

  - Então... deveríamos começar a fazer os deveres, não? 

  - Claro. - Sabrina disse. - Deixem-me só lavar a louça.

  Quando ela disse isso, todos nós rapidamente pegamos nossos pratos e copos e formamos uma fila na frente da pia.

  - Não precisam me ajudar. É pouca coisa mesmo.

  - Tudo bem. Nós sujamos, nós limpamos. - Seria ótimo se aplicássemos essa regra em nossas próprias casas.

  Quando terminamos de limpar tudo, pegamos nossos livros e cadernos e os colocamos em cima da mesa.

  - Uau. Já são mais de duas horas. Nunca que vamos terminar de fazer isso. - Maria disse.

  - Além do mais, a casa da Bel fica bem longe, então temos que sair quando ainda for claro. - Completou Jack.

  - Tudo bem. - Sabrina falou. - Faremos o que der.

  Ela se sentou na frente de sua pilha de livros. Fizemos o mesmo.

  Cerca de vinte minutos depois, estávamos todos escrevendo feito loucos, concentrados em nossas atividades. Exceto Sabrina. Allen olhou para ela.

  - Ahm... Sabrina, está tendo algum problema?

  Ela o olhou, surpresa.

  - Hum? Ah, é que eu não sou muito boa nisso...

  - Nisso o quê, exatamente?

  - Na verdade, eu não sei nada disso..

  - Alguma coisa você tem que saber, para estar no segundo ano.

  - Isso é o normal, certo? - Ela largou a lapiseira e apoiou a cabeça em suas mãos, olhando tristemente para o livro.

  Todos nós paramos o que estávamos fazendo e a encaramos.

  - Quer nos contar alguma coisa? - Maria tocou sua mão, dando um sorriso amigo.

  Ela suspirou um pouco.

  - Não se incomodem. Eu só não consigo aprender.

  - Por que não consegue? É dificuldade de aprender, ou tem mais alguma coisa?

  Ela encarou Maria por um instante.

  - Na verdade, depois que minha mãe morreu, eu fui morar com meu avô por um ano e meio. Na época, ele morava numa fazenda muito, mas muito longe de tudo, então fiquei sem estudar. Quando ele se mudou para a cidade, depois de ver que eu não podia ficar mais tempo sem ir à escola, o único colégio que tinha era um tal de Santos Dumont, e que por acaso é um dos piores da região.

  - Ok, já entendi o problema. Você não tem base, não é mesmo? - Jack estava sério.

  - Acho que é. Eu costumava ir bem na escola, mas depois de tudo isso que aconteceu, fiquei meio que estagnada... 

  Dei um sorriso para ela. Depois de um tempo sem ter dito nada, finalmente me pronunciei:

  - Nós podemos te ajudar.

  Todos me lançaram de um olhar de "Mas você não a odiava há coisa de duas semanas?"

  - Sim. Eu sou ótima com humanas. A Maria e o Jack são os Mestres das Exatas. O Allen, apesar de gostar mais de matemática, é melhor em química e biologia. Ele também sabe algo de humanas.

  Ela olhou-nos, timidamente.

  - Tem certeza que vocês querem fazer isso? Não quero incomodá-los.

  Rimos.

  - Eu tenho um irmão de 8 anos que leva duas horas para entender uma divisão simples. - Verdade. O irmão de Allen era burro como uma porta. - Entre os dois, você é como se fosse um serafim.

  - Bom, nesse caso... eu estou tentando fazer o trabalho de história sobre o Iluminismo e a Revolução Francesa, mas eu não sei nada do que aconteceu antes disso, então não entendo.

  Arrastei minha cadeira para o seu lado.

  - Bom, só me diga o que você sabe.

  Ela pensou por um instante.

  - Sei que na Idade Moderna teve um Reforma Protestante e que teve a Revolução Industrial.

  Respirei fundo.

  - Ótimo. Temos muito trabalho pela frente. - Olhei para os três que estavam nos observando. - O que vocês estão esperando? Também têm que fazer o mesmo trabalho, então tratem de vir aqui.

  Os panacas voltaram à realidade e vieram mais para perto. Comecei um discurso que ia da Baixa Idade Média até o assunto do trabalho. 

  Depois que terminamos de escrever tudo, já eram mais de seis horas. 

  - Isabel, você não precisava ir? - Sabrina me olhou, preocupada.

  - Tudo bem. Eu durmo na casa do Jack. - Olhei-o. Ele assentiu com a cabeça. - Mas ainda temos uma lista de exercícios de matemática e um projeto de química pela frente. A propósito, trouxeram os materiais?

  Maria levantou uma sacola enorme cheia de troços que não identifiquei. Confirmei com a cabeça.

  - Bom. Maria, Jack, é a vez de vocês.

  Organizamos as cadeiras de forma que os dois pudessem ficar próximos de Sabrina. Com uma pontada de ciúmes, sentei ao lado de Jack.

  Quando terminamos tudo, já eram onze horas da noite.

  - Gente, olha a hora! - Maria estava exausta e desesperada. 

  - Minha casa é a mais próxima. Se quiserem, tem lugar para vocês dormirem lá. Minha mãe pode emprestar alguma coisa para vocês vestirem. - Jack olhou para mim e para Maria. - Allen... acho que minhas roupas vão ficar grandes em você.

  Olhei para os dois. Jack tinha mais de 1,85 m, enquanto Allen era da minha altura, talvez até alguns centímetros menor.

  - O que você está olhando? - Enfezado, Allen me encarou. Eu e Maria rimos. - Parem de rir! Ele é só um pouco maior do que eu.

  - Você bate no ombro dele, se liga. - Rimos ainda mais.

  - E você, criatura desprezível? Não tem nem 1,60 m e fica rindo de mim.

  - Mas eu sou garota. É normal. Você tem quase 17 anos e não cresce.

  - Idiotas. - Ele olhou para Jack. - Eu acho que tenho uma muda de roupa na minha mochila, não se importe.

  Jack continuou encarando Allen, como se tentasse descobrir alguma coisa. Isso fez com que o tampinha ficasse vermelho.

  - Vamos lá, Jack! Eu deixo você me trair com ele, seria tão fofo. Mas só na minha frente, ok? - Allen me olhou, muito irritado.

  - Ah é, é isso que você quer? - Jack se abaixou, segurando o queixo de Allen com o dedo.

  Meu coração acelerou.

  - Droga, Jack, para com isso! - O pequeno estava se revoltando. Porém, nesse momento, Jack deu um selinho em Allen.

  - AAAH QUE LINDO! - Eu e Maria gritamos. Me joguei em cima de Jack.

  Allen estava parado no mesmo lugar de antes, corado e em choque. Depois de alguns minutos, ele se recompôs. Deu um soco nas costas de Jack, que riu disso.

  - Droga, cara, você é idiota demais! Tá pensando que eu sou o quê, hein?!

  - Você deixou. - Jack estava totalmente tranquilo, mas Allen corou de novo.

  - Não deixei não! Imbecil, não fala mais comigo.

  Rimos bastante da situação. Eu podia ser uma garota fria, mas virava uma louca idiota com esse tipo de cena. Tive que puxar Allen pelo braço até a casa de Jack. 

  Pois é. Esse foi o nosso dia.


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Notas finais do capítulo

Reviews? =D
Dessa vez temos fanservice, huhu