Dream Land - as Cinco escrita por PerkyeFreak
Tocou o sinal do intervalo.
Observei a novata se levantando da cadeira.
É a minha chance de ter uma nova amiga. Aluna nova...talvez possamos nos dar bem. Ela gosta de desenhar, eu gosto de desenhar...já é uma boa impressão.
Fui até ela e disse:
-Oi. – As palavras formaram um nó na minha garganta. – Meu nome é Anne. Eu vi você desenhando...você desenha bem.
Ela me olhou por um tempo e disse:
-Sou Jane, e...valeu. Você também gosta de desenhar né?
-Er...sim. Adivinhou? – Eu disse sorrindo.
-Reparei pelo modo que você escreve.
Mas você senta na minha frente... – Pensei.
-Um dia gostaria de ver os seus desenhos. – Ela disse sorrindo.
Uma brisa de vento gelado atravessou o corredor.
Arrepiei-me e cruzei meus braços.
-Está frio para o verão. – Eu disse.
-É... está frio. – Percebi a mudança de emoção na voz.
Ela olhava para a janela na qual saiu o vento.
Começou a tossir.
-Está bem? – Perguntei.
-Estou... – Ela deu uma pausa. – Meio febril. – Ela disse dando uma pausa para dar ambiguidade, acompanhado de um largo sorriso.
-Ah, isso explica o casaco. – Eu disse apontando com os olhos para o casaco preto por baixo do uniforme. – Eu vou comprar o meu lanche. Tchau Jane. – Me virei em direção ás escadas.
Á caminho da cantina, encontrei a Helena.
-Oi. – Disse ela. – Conseguiu falar com a Jane?
-Como não iria conseguir?
-Sei lá...ela parece ser meio reservada.
-Só parece. – Eu disse.
* * * * * * *
Quando acabou a aula, fui para casa de costume. Acho que quando o Elliot disse ‘’temporariamente’’, quer dizer uma eternidade.
Peguei a chave do bolso e abri a porta do portão e entrei no quintal.
Abri a porta dos fundos que dava para a cozinha, que estava aberta.
-Oi Anne. – Disse a Raimunda enquanto picotava legumes.
-Oi. – Eu disse indo para as escadas.
Coloquei a minha mochila na cama e fui direto para a bancada fazer o meu dever de casa (que vem sendo a minha única atividade além do computador).
Odeio fazer dever (e quem gosta?) vai dizer de história.
Questão numero um...
01. Diga o contexto histórico de surgimento do Iluminismo.
Sei lá.
- Cite dois fatores que contribuíram para a eclosão da Revolução Francesa em 1789.
Sei lá...
03. Indique dois países europeus que caíram sob o domínio francês, durante a Era
Napoleônica.
Uh...Itália e Alemanha?
Meus ‘’estudos’’ foram interrompidos quando um rangido vindo da porta do armário.
Olhei para trás, e estava quase totalmente aberto. Não me sentia confortável me olhando no espelho do meu armário.
Suspirei e levantei da cadeira e fui até ele para fechá-lo.
Voltei aos meus estudos.
Questão número quatro?
Peguei no lápis e procurei pelo ‘’quatro’’ no exercício.
Ouvi a porta abrir novamente. Levantei de novo, impaciente, para fechá-la.
Tinha algo errado...eu sei que tinha. Olhei em meus olhos no espelho. Eles...
Eles estavam dourados?
Estremeci quando percebi que o meu reflexo estava puxando a boca lentamente, sorrindo.
Queria gritar e tirar a minha mão do espelho, mas era como se algo estivesse me segurando...
Uma sensação gelada desagradável subiu pelo meu corpo, parando na nuca e no couro cabeludo.
Cai no chão. Meio tonta, tudo girava e meus olhos se fechavam lentamente...
Elliot, Trevor...por que não estavam aqui quando eu mais precisava de vocês?
Sempre me senti fraca, sempre sou salva, sempre sou um peso, e sempre sou a primeira á cair no escuro...
Gostaria de demonstrar que eu sou forte – para mim mesma – e resistir...mas o peso era mais forte que eu.
Alice... – Sussurrei. – O que você...?
Não resisti á tonteira, e fechei os olhos.
* * * * * * *
[Nar.Elliot]
Gemi com a dor da seringa.
-Isso deve resolver. – Disse a Claire injetando a seringa de VAST na veia do meu braço.
Segurei a minha outra mão no banco com força para amortecer a dor.
-Doeu? – Ela disse dando um sorriso de implicância.
Na tentativa de rir, fiz um sorriso forçado.
-Se sente melhor? – Ela perguntou.
-Acho que sim. – Suspirei.
Muita coisa mudou em cinco meses.
-Cinco meses... – Suspirei. – Dois meses e meio para ela, não é?
-Combinamos de não falar sobre ela, não é?
Suspirei.
-O que o sedativo faz exatamente?
-Já deve estar passando o efeito do sedativo. – Ela disse fazendo uma pausa. – Ele atinge um pequeno ponto do cérebro, que permite que o espírito da Anne não se eleve o suficiente durante o sono para que alcance a fronteira. Tem um canto no cérebro dos humanos que permanece inativa e silenciosa... Pessoas como a Anne conseguem ‘’acordá-la’’. É como um defeito, ou uma deficiência. Uma doença rara e incurável...
-Se eu for ter que sair daqui. – Eu disse. – Poderei levar a seringa e VAST?
-Ainda não podemos lhe deixar sair, Elliot. Sabe disso. Enquanto ainda não concluirmos os testes...
-TESTES? QUE TESTES? ESTOU AQUI Á SEMANAS, E DEPOIS QUE CONCLUIR OS TESTES? – Eu gritei com raiva e ódio na voz.
Ai minha cabeça, minha barriga...meu corpo.
Ajoelhei no chão por causa da dor.
-Não se esforce, Elliot. – Ela disse calma como sempre.
Pegou outra seringa e injetou no mesmo braço.
Depois de instantes, não conseguia mais mover meu corpo.
Aquilo não era VAST, era anestesia... – Pensei.
Claire me puxou para o colchão que ficava no chão daquele cômodo de metal.
-Seja paciente, Elliot. Irei lhe dar alta quando perceber que você conseguiu ‘’evoluir’’.
Ouvi o barulho da porta se fechar.
* * * * * * *
[Nar. Anne]
Parece que foram apenas alguns minutos.
Ai...minha cabeça dói.
Acordei com o rosto preocupado da Raimunda.
-Ah...você acordou. Dorme como uma pedra. – Ela disse rindo. – Por que estava dormindo no chão?
Pensei um pouco, mas minha cabeça começou a doer.
Gemi um pouco com a dor.
-Ai...não me lembro. – Eu disse me sentando no chão. – Seja o que for, o chão é confortável mesmo. – Eu disse brincando.
Raimunda me ajudou á levantar.
-Valeu. – Eu disse.
-O almoço está pronto. – Disse ela.
-Ah, o que é?
-Peixe á milanesa, arroz, batata, feijão...
-Beleza. – Eu disse indo em direção á cozinha.
Por que eu estava dormindo no chão?
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