Ela correu rapidamente até a porta.

-É uma casa bem simples. Por favor, não repare - disse ela destrancando-a.

Ela entrou em sua sala, e ainda segurando a maçaneta da porta, fez um movimento com as mãos para que eu entrasse no cômodo.

Acendeu as luzes e ainda com as barulhentas chaves na mãos sorriu para mim.

-Esse será o seu companheiro esta noite – me apresentou ao seu sofá.

Retribui o sorriso e calmamente caminhei até ele, e antes que eu tivesse a chance de me sentar, voltei a me virar para Katherine ainda parada no mesmo lugar.

-Obrigada por me convidar a ficar.

-Na há de que. Só lamento não ter uma roupa para te emprestar, acho que minha camisola não vai cair muito bem – disse ela e deu uma pequena risada.

-Eu acho que não – sorri.

-Que tal um chocolate quente? - ela ofereceu.

-Olha, eu vou aceitar. Porque eu estou morrendo de frio.

-Chocolate quente, cobertas e filme?

-Isso está começando a virar uma festa do pijama – brinquei – vai querer fazer meu cabelo e pintar minhas unhas de rosa?

-Não combina com a cor da sua pele, desculpe. - ela disse e começou a rir.

Eu não havia visto graça alguma em minhas brincadeiras, mas ela estava rindo de mim mesmo assim. Não pude fazer nada a não ser rir junto a ela. Sua risada provocava a minha.

Quando recuperou o fôlego e cessou suas risadas ela teve a chance de voltar a falar.

-Vou pegar as cobertas e trocar de roupa.

-Quer que eu prepare os chocolates? - me ofereci. Ela estava cansada.

-Quero sim, quando eu terminar, vou lá te ajudar.

Assenti com a cabeça e caminhei pelo pequeno corredor até sua cozinha.

Fiquei olhando aquele pequeno cômodo, assim com todo o resto de sua singela casa. As paredes tinham azulejos brancos, assim como o piso. Eu jamais usaria aquela decoração, sempre odiei azulejos, principalmente quando quebram e eu me corto com eles. Os quando o chão está molhado e sem querer escorrego nele. Acredite, não é muito bom cair sobre azulejos.

Katherine entrou no cômodo enquanto eu ainda o admirava.

-Oi? - ela disse cautelosamente atrás de mim.

Eu me virei rapidamente e sorri.

-Oi.

-Você não disse que ia fazer o nosso chocolate quente?

-A, sim! Desculpe, acabei me distraindo com seus azulejos.

-eu percebi – disse ela dando um rápida risada.

Fiquei olhando os movimentos de Katherine abrindo a geladeira, analisando suas expressões enquanto ela procurava o leite.

Eu não conseguia entender como alguém poderia ser tão bonita, mesmo vestida com moletons quentes porém velhos. Cabelos presos e sua franja bagunçada. Seus olhos, ou melhor, suas belas estrelas. Será que Katherine me daria um beijo se eu a pedisse? Seus lábios era lindos também, mas não havia nada nela, que não fosse belo o suficiente para ser chamado de lindo.

Katherine e aqueles olhos, prestando atenção no que estava fazendo. Concentrada em nossos chocolates quentes, enquanto cantarolava uma musica feliz e quase dançava no piso de azulejos da cozinha. Patinando com suas meias coloridas e um incrível sorriso no rosto.

Eu não disse nada, nem fiz nada. Fiquei admirando a pequena espoleta se divertir sozinha. Eu não precisava fazer nada. Aquela noite estaria para sempre gravada dentro de mim, assim como milhares de outras lembranças que tenho de June. Talvez sejam postas no mesmo lugar, dentro do meu coração. Onde nada que exista, possa apagar.

-Pronto – ela disse com as duas canecas em suas mãos e me entregando uma.

Eu sorri e segurei com as duas mãos a que ela me entregava, com cuidado para não me queimar com a a temperatura.

Vi a pequena espevitada se sentar no sofá com seu moletom e seu cabelo por mais preso que estivesse, ainda sim bagunçado. Ela, sem jeito algum, tentou com a mão desocupada se cobrir com o edredom que trouxe.

Minha nova pequena não tinha jeito nem com as duas mãos livres, quem diria com um das mãos ocupadas.

Um sorriso bobo surgiu em meus lábios enquanto os olhos de Katherine estavam ocupados demais para me olhar. Com sua expressão séria e concentrada. Com um tento de pena da pequena travessa eu a ajudei a cobrir suas pernas, e com seu deslumbrante e sincero sorriso ela agradeceu.

Me sentei ao seu lado debaixo das cobertas quentes. Eram quase 4 horas da madrugada, o sono já começava a tomar conta dela. Então aos poucos os bocejos eram libertos entre uma risada ou outra. Um gole e outro.

-Ai! - ela reclamou

-O que foi?

-Está quente!

Eu ri jogando a cabeça para trás.

Conversamos até as 5 horas, contando nossas histórias. Compartilhando nossas filosofias e rindo atoa. O sono nos fazias parecer dois bêbados.

-Posso te contar um segredo?

-Claro.

-Você é o primeiro homem que entra aqui - ela disse sem olhar para mim, fitando a caneca vazia.

-Por que me deixou entrar?

-Porque confiou em mim. Me deu um motivo para confiar em você.

Fiquei saber sem reação, querendo sorrir, nem que fosse um pouquinho. Ok, eu queria abrir um grande sorriso em meus lábios. Mas ai estava, eu não sabia porque tinha confiado nela.

-Se eu te pedisse uma coisa você me daria? - foi minha vez de falar.

-O que?

-Me dá um beijo?

O silêncio tomou conta da sala. A menina apenas me olhou sem saber o que dizer. Deixou o queixo cair um pouco e por fim despertou e se pôs a falar.

-Acho melhor eu ir dormir – ela disse sem jeito se levantando do sofá.

-Não – segurei-me em seu braço – Desculpe, não queria ofende-la.

Ela deu um leve sorriso.

-Não me ofendeu, é apenas a hora de ir dormir. Porém muito cedo para pensar nisso.

-Desculpe, foi impulso meu.

-Percebi que o Senhor é um tanto impulsivo, oferecendo carona a qualquer uma. Eu posso te matar enquanto dorme – ela brincou.

-Que disse que eu vou dormir?

Recebi depois de minha ultima frase, um leve risada e um beijo na testa.

-Boa noite John.

-Boa noite Katherine.

A menina andou em direção ao quarto e antes de sair apagou as luzes. Eu pude ver o contorno de seu corpo olhando em minha direção durante alguns longos segundos e logo se foi.