Anjo Caído escrita por yumesangai


Capítulo 7
14 de Fevereiro


Notas iniciais do capítulo

14 de fevereiro é o dia de São Valentim.



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Era apenas mais uma dia de check-up na central da NERV, Misato havia feito com que os pilotos se reunissem e esperassem por ela no refeitório.

“Mas que saco, ela sempre se atrasa”. Asuka já resmungava olhando impacientemente para o relógio.

“Você tem algum compromisso hoje?” Shinji perguntou sem parecer curioso. Ele de fato não estava.

Embora Asuka não precisasse de um motivo para suas explosões de humor, a terceira criança ainda se preocupava ou ao menos tentava entender um pouco sobre a pessoa com quem ele dividia o teto.

“É claro que eu tenho! Num dia como esse apenas pessoas patéticas como vocês ficam sobrando”. Ela disse arrogantemente enquanto dava um sorriso convencido. “Vou jantar num restaurante cinco estrelas”.

“Tem alguma coisa especial hoje?” Kaworu perguntou se virando para Shinji.

“Ai meu deus, você é ainda mais burro que o baka-Shinji”. Asuka disse batendo na própria testa.

Kaworu não se deixou afetar, continuou com a expressão confusa.

“Hoje é dia 14 de fevereiro”. Rei respondeu calmamente.

“O que tem dia 14 de fevereiro?” Ele perguntou com agastamento.

“Er... hoje é dia dos namorados”. Shinji respondeu tentando não parecer sem graça.

“Existe uma comemoração pra isso?” Kaworu cruzando os braços, provando sua total ignorância sobre a data.

“É claro que sim”. A resposta veio de uma energética Misato que se aproximou com pequenas caixinhas em mãos. “Hoje não é só uma comemoração para os namorados, é a oportunidade perfeita para se tornar um casal”. Ela disse piscando. “E aqui estão os seus chocolates”. Disse entregando uma mini-caixinha para cada um.

“Chocolate?” Kaworu franziu o cenho ao receber o seu presente. “Por quê?”

“Shinji, parece que temos alguém mais tapado que você”. Asuka disse dando uma cotovelada nas costelas da terceira criança que tentou não resmungar. “Eu aposto que até a nossa favorita sabe porque ganhamos chocolates”. Ela direcionou o olhar para Rei.

A primeira criança ao sentir o olhar de Asuka sobre si, ergueu os olhos do pequeno presente.

“Porque é assim que os japoneses presenteiam a quem eles gostam”. Ela respondeu com um sorriso muito discreto.

Shinji sorriu, ele fora o único a perceber o sorriso nos lábios de Rei.

“Obrigado, Misato-san”. Ele agradeceu se virando para a Major.

“Com chocolates, hãn?” Kaworu disse olhando para a embalagem em mãos.

“Ótimo, agora eu já posso ir para o meu encontro não posso?” Asuka perguntou já se afastando.

“Nee Shinji-kun, eu e a Ritsuko vamos sair como nos velhos tempos, então não espere acordado”. Misato disse lhe dando tapinhas amigáveis antes de se afastar.

Quando Shinji procurou por Rei, percebeu que ela já havia se retirado. Ele suspirou, definitivamente não estava contando que todos fossem arranjar o que fazer durante o dia dos namorados.

“Nee Kaworu-kun, você gostaria de vir lá pra casa?” Perguntou sem entusiasmo.

Afinal Shinji continuava pensando que Kaworu era um cara estranho com manias estranhas, mas naquele dia ele já havia preparado o jantar e mesmo que guardasse tudo na geladeira a comida iria acabar estragando.

“Hoje?” Perguntou ainda meio confuso.

“É, pra jantar”. Shinji tentou esclarecer tudo da forma mais simples, a última coisa que ele precisava era Kaworu interpretando aquilo de forma errônea.

“Ok..”.

—/-

Kaworu ficou o tempo todo sentado na sala, o cotovelo apoiado na mesa enquanto assistia TV, ele olhou para o chocolate que havia ganho e o tirou da embalagem, não era nada mais do que um bombom, mas ele nunca havia experimentado um antes.

Meio receoso ele deu uma mordida.

O gosto era doce, Kaworu olhou quase que maravilhado para o resto do chocolate.

“Isso é bom mesmo”. Disse antes de terminar com o pequeno presente.

Shinji retornou bem a tempo de vê-lo com uma expressão diferente. E ele teve que rir, quem diria que um cara como ele conseguia fazer aquele tipo de expressão.

“Se quiser você poder ficar com o meu”. Shinji disse tirando do bolso o chocolate e o jogando para Kaworu.

“Você não quer?” Perguntou confuso enquanto pegava a caixinha no ar.

“Eu não gosto muito de coisas doces”. Respondeu dando de ombros.

“Por quê?”

Não era exatamente uma pergunta onde se tem uma resposta elaborada, mas Shinji sabia que dizer ‘porque sim’ não seria o bastante.

Ele suspirou.

“Hmm... É pegajoso e o gosto permanece na boca por muito tempo, eu realmente não gosto muito disso, então você pode ficar com o meu”.

Kaworu apenas assentiu e já estava abrindo a embalagem. Shinji voltou para a cozinha onde terminava de esquentar a comida.

“Shinji-kun”. A voz da quinta criança estava muito próxima.

“O que--”

Ele foi pego de surpresa ao se virar, realmente de surpresa. Os lábios de Kaworu estavam sobre os seus, macios, umidecidos e com gosto de chocolate.

Não era um gosto ruim, não era uma experiência ruim, mas era errado.

“O que você pensa que está fazendo?!” Shinji gritou o empurrando, o rosto bastante vermelho.

“Experimentando algo que vi na tv esses dias”. Disse naquele tom apático que tirava Shinji do sério.

“Você não pode sair experimentando coisas! E você é um homem, não tem vergonha?”

“Do que?”

“Você não pode beijar outro cara”.

“Por quê?”

“É errado...”.

“Por quê?”

Shinji ficou em silêncio. Por causa da sociedade? Por que não estava acostumado com essa proximidade? Por causa do que seu pai iria pensar...?

“E-eu não sei”. Respondeu derrotado.

“Então como pode dizer que é errado?”

“... eu não sei”. Murmurou de cabeça baixa, sua mente agora ocupada com a ideia de que sua repulsa por proximidade e esse tipo de sentimento estivesse influenciada pela negligência de seu pai e a necessidade de aprovação que talvez nunca acontecesse se si permitisse sentir dessa forma.

Kaworu suspirou, se aproximou ainda mais, invadindo o limite permitido, e entrelaçou a mão com a de Shinji. A terceira criança não ergueu o rosto, apenas olhou para as mãos juntas.

“Isso é errado também? Você mesmo disse que era pra demonstrar afeto”.

Ainda com as mãos entrelaçadas, Kaworu ergueu a mão e a apoiou contra o peito de Shinji.

“Você está tão incomodado com isso?” Kaworu perguntou com a voz triste.

O coração da terceira criança apertou. Ele balançou a cabeça negativamente.

“Kaworu-kun--” Ele ergueu o rosto e se deparou com aqueles olhos vermelhos que buscavam desesperadamente sua aprovação.

A mesma aprovação que ele buscava de uma pessoa fria, que sequer merecia sua preocupação. Em sua mente apenas a conversa com Asuka, e se o amanhã não chegasse? Também podia se recordar de todos os conselhos de Kaji sobre ‘não deixar nenhuma oportunidade passar’

Kaworu às vezes não parecia humano e isso o assustava, assim como Rei no começo. Sempre dizendo coisas como ‘estou experimentando algo que vi/li’. Não era pra ele. Shinji se sentiu fraco. Apenas abaixou o rosto.

Kaworu recuou sem dizer nada, e eles jantaram num silêncio incomum.

Continua.


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