Eles estavam em casa, Asuka estava deitada no chão enquanto via TV e Shinji estava largado no sofá olhando para o teto. Era apenas mais um dia quente do verão, e essa era a rotina deles.

Shinji parecia não se importar com o barulho da televisão, ele continuou lá com os fones de ouvido até que a fita parasse e retornasse pela enésima vez.

“Ei Asuka”. Ele a chamou sem sair da confortável posição.

“O que é baka-Shinji?” Ela retrucou sem sequer virar o rosto.

“O que você acha do Kaworu?”

Asuka franziu o cenho, não era de agora que ela vinha reparando na aproximação de Shinji para com a quinta criança. Normalmente Shinji era apenas envolvido ou arrastado pelas pessoas.

“Está querendo a minha permissão para namorá-lo?” Ela teve que provocá-lo um pouco.

“O-o-o que? C-claro que não!”

“Ah é? Então por que ficou todo vermelho?”

“E-eu não estou!”

Asuka riu, mas cortou logo a própria provocação.

“Eu não gosto dele”. Respondeu séria.

“Por quê?”

Ela queria gritar “Porque sim seu idiota”, mas ele parecia realmente interessado na resposta e ela sentia que não deveria decepcioná-lo quanto a isso.

“Porque não da pra saber o que ele está pensando, é o tipo de pessoa que está sempre sorrindo pra tentar parecer amigável, mas a qualquer momento pode te apunhalar enquanto estiver desprevenido”.

Shinji ficou em silêncio, ele conseguia entender o que ela queria dizer. Kaworu as vezes sequer parecia humano.

“E qual é a sua opinião sobre ele?”

Mais silêncio.

“Eu não...desgosto dele”. Respondeu meio acanhado.

Asuka girou os olhos.

“É por isso que você é um idiota”.

Eles ficaram em silêncio.

“Às vezes...” Shinji começou com a voz baixa, Asuka ficou de braços cruzados esperando que ele continuasse. “Às vezes eu tenho medo”. Admitiu de cabeça baixa. “Ele e a Ayanami, parece que um dia eu vou chegar na NERV e eles não vão estar mais lá, eles são um pouco parecidos...”

Asuka girou os olhos. “Deveria juntá-los num jantar”. Disse debochada. “A boneca e o esquisito. Que belo casamenteiro você está se saindo hein”.

Shinji franziu o cenho e ia retrucar, mas Asuka continuou. “Com o nosso trabalho, eu não espero que a gente chegue na idade da Misato”.

O coração de Shinji começou a bater incrivelmente mais rápido. Ele olhou assustado para a segunda criança.

“O que? Vai me dizer que você nunca pensou a respeito? Eu não me vejo nesse mundo daqui há 10 anos, e às vezes eu me pergunto se vai ter um mundo para daqui há 10 anos”.

“É por isso que nós lutamos”.

“Sim, é por isso que eu vivo os meus dias como se fossem os últimos, se você começar a pensar assim, talvez tenha mais coragem”. Disse dando um tapa de leve no ombro da terceira criança.

E a rotina deles se seguiu.