Feliz ou infelizmente, aquele sábado a tarde era um dia de folga para os estudantes de TOKYO-3. Mas Shinji nunca tinha dia de descanso, primeiramente por morar com Misato e Asuka e em segundo por ser piloto da Unidade EVA 01.

Mas os Anjos eram o menor de seus problemas.

“Por que sempre comigo?” Resmungou baixinho enquanto tirava uma folha de papel com a lista de compras.

Como se já não bastasse a comida horrível da Major Katsuragi e a preguiça de Asuka para fazer qualquer coisa para mais de uma pessoa, ele, Shinji, tinha que fazer tudo.

É claro, porque ele era o “incrível Shinji” como Asuka gostava de chamá-lo.

“Kaworu?” E foi com clara surpresa que Shinji disse o nome do garoto, alto o bastante para que o mesmo erguesse o rosto.

“Shinji-kun, que surpresa agradável”. A quinta criança se aproximou com um copo de Cup Noodles nas mãos.

Shinji não sabia dizer se era mesmo agradável a presença dele ali ou se era apenas mais uma prova da conspiração que o cercava.

“O que você está fazendo aqui?” Mesmo sabendo que era uma pergunta tola, ele a fez mesmo assim.

“Hmm? Eu lembro do que você disse outro dia, que as pessoas se tocam para demonstrar afeto”.

O rosto de Shinji subitamente ficou vermelho, algumas pessoas próximas literalmente pararam o que estavam fazendo para lançar olhares para eles.

Isso obviamente passou desapercebido pela quinta criança.

“Mas eu também vi que elas cozinham”. Concluiu de maneira razoável, o que fez Shinji suspirar aliviado quando as mulheres voltaram a tomar conta das próprias compras.

Shinji parou para pensar um pouco no assunto, era óbvio que as pessoas cozinhavam para demonstrar afeto, mas isso normalmente era o papel das mulheres... Ainda mais se fosse pensar no Dia dos Namorados.

“Sim, algumas cozinham”.

“O que você acha disso?” Kaworu perguntou com pote de cupnoodles em mãos.

Shinji franziu o cenho, ainda tentando associar o que macarrão instantâneo tinha a ver com o que eles estavam falando. Mas se ele não conhecese a quinta criança ele nunca faria a associação correta.

“Cupnoodles é instantâneo, pra demonstrar afeto você precisa preparar a comida. Compras legumes e vegetais, descascar, cortar e cozir”.

Kaworu piscou seguidamente, a informação parecia estar sendo processada.

“É isso que você está fazendo?” Perguntou sério.

Shinji olhou para a cesta já com algumas coisas. Ele não cozinhava por afeto, é claro que ele se esforçava, ou pelo menos, na maioria das vezes. Mas fazia isso para que a comida ficasse gostosa e para que ele mesmo desfrutasse do próprio trabalho.

“Acho que no meu caso eu cozinho por sobrevivência...” Murmurou lembrando de como Asuka era capaz de perceber o esforço que ele havia tido, ou a falta.

A expressão se Kaworu voltou ao normal.

“Você pode me ensinar?”

Shinji relutou. Não se ensina alguém a cozinhar tão rapidamente, aulas são necessárias, é preciso ter boas facas e panelas e ele duvidava muito que Kaworu tivesse qualquer uma dessas coisas

“Hoje não é um bom dia, eu preciso voltar e fazer o jantar”. Se esquivou erguendo a cesta e mostrando a própria compra.

“Você não vai me convidar?” A quinta criança perguntou quase que automaticamente.

“Huh?” No entanto pegou Shinji distraído.

Kaworu balançou a cabeça negativamente. “Não é nada”. E seguiu para o caixa com o pote de cupnoodles.

Shinji terminou de pegar tudo que precisava, mas foi somente na hora de pagar que percebeu que havia deixado Kaworu ir para casa sozinho. Mas não só isso, para jantar sozinho.

Ainda que tivesse algumas incertezas sobre o comportamento da quinta criança, não mudava o fato de que jantar sozinho era deprimente e assim como Rei, ele vivia só.

Agora era um pouco tarde, mas ele o convidaria numa próxima oportunidade.